Parece que ontem mesmo
A vida pertencia aos fugitivos
Nada para ver aqui, sem olhar para trás

Todo som monótono
Toda cor monocromática
A vida começou a desaparecer no escuro

Um animal tão simples
Esterilizado com álcool
Eu mal conseguia me sentir mais

Desesperado, sem sentido
Todo cheio de vazio
Sentia que tudo estava dito e feito

Eu deito no escuro, eu fecho os olhos
Você me salvou no dia em que acordou

Foo Fighters - Come Alive

***

Clap!

Virei-me tão rápido na cama que o mundo rodopiou. Que som fora aquele? Borrões de cor foram se misturando esquizofrênicos até que eu distinguisse uma silhueta de mulher.

"Que fofo, a Bela Adormecida acordou!" Eu conhecia aquela voz... Giane.

Filha da mãe.

Ignorei-a e tornei a deitar de bruços, apreciando a suavidade do travesseiro. Ele estava impregnado de um aroma cítrico um tanto intenso, porém não menos envolvente. Não tardei a fazer associação com frutas diversas: limão, laranja, tangerina... Gosto de infância. Eu adorava sentar no banco da praça e comer acerola até ficar com a língua vermelhinha. Era minha única vantagem contra Bento; a despeito do amor pela natureza, ele era viciado em salgadinhos e refrigerante. Tia Salma tentava apontar essa minha qualidade, mas as crianças eram tão avessas a mim que ela sempre desistia. Era mais fácil enaltecer a jardinagem de Bento que obrigar os outros a gostar da minha pessoa.

Aquele cheiro... Sabor sublime, ainda que ácido. Os lábios entreabriram-se...

Cutucões em minhas costas. Bufei.

"Não... Dormir..." falei desconexo, afundando o nariz nos tecidos. Eu mal lembrava meu próprio nome.

Aqueles dedos nervosos continuaram a batucar sobre minha camiseta.

"Você tem que tomar o antibiótico, Fabinho," ela demandou.

Podia deixar que a infecção se alastrasse. Podia deixar que ela me consumisse inteiro. Podia deixar que ela me matasse de vez.

Desespero. Não, eu não queria morrer. Viver. Sim e sim e sim.

Voltei a me revirar na cama em uma dança descoordenada de braços e pernas. A esquerda tornou-se direita. Equilibrei-me desequilibrado sobre a cama. Eu estava sentado, deitado ou em pé? Escutei boas risadas de garota solta.

"Tá parecendo uma lombriga! Toma o remédio." Estirei uma mão no ar às cegas. Senti os dedos de Giane roçarem minha palma e depositarem o comprimido. Tentei levá-lo à boca, mas ele escorregou veloz. Onde estava, aonde fora parar?

"Como você é frouxo! Anda, abre essa boca." Obedeci à sua ordem de pronto. Ela segurou meu queixo no lugar, as unhas cravando minha pele. Ela tinha essa forma própria de cuidar, sempre com traços de tortura. Afago feroz. Jogou o medicamento quase que garganta abaixo. Levou um copo d'água a meus lábios. Bebi sedento.

Percebi que ela sorria, mesmo sem abrir os olhos.

"Pronto. Pode voltar a dormir, seu bunda mole."

Atirei-me nos lençóis e agarrei o travesseiro, querendo fundir-me a ele. Que cheiro era aquele? Eu estava totalmente envolto em sensações mil, todas com um brilho inusitado para mim. Morango, também havia um toque de morango naquele perfume... Viajei em vermelho e laranja rumo ao buraco negro dos sonhos, paraíso e inferno em minha vida.

***

Socorro!

Eu beirava a fronteira da vida. Cada batida enérgica do coração anunciava a iminência da morte. Senti meus pés serem puxados; era assim que nos ceifavam a humanidade, pelos pés? Pressão contra minha carne, contra... minhas unhas? Que forma esquisita de ser assassinado!

Abri os olhos. Pisquei. Uma figura feminina mantinha minhas pernas estiradas sobre seu colo e segurava um equipamento metálico, que a visão turva não me permitiu distinguir. Encostou-o em minha pele...

Puta que pariu!

Dei um salto quase acrobático sobre a cama. Lá estava Giane com um sorriso digno de Coringa estampado no rosto e um cortador de unha na mão.

"Bom dia, Fabinho." Seu tom era de falsa gentileza, camadas artificiais de doçura a decorá-lo. Pressionei meu tronco contra a cabeceira. "Tá assustado, é?"

Engoli em seco.

"Tira essa porra de perto de mim," falei com um aceno para o objeto, que Giane apontava exatamente em minha direção.

"O quê, isso?" Jogou o cortador no ar e capturou-o logo em seguida. "Nossa, o bad boy da Casa Verde com medo de um negocinho desse tamanho? Tsc, tsc," zombou.

"Eu não sou da Casa Verde, eu não tenho nada a ver com esse bairro." Tentei disfarçar o caráter trêmulo de minha voz com a usual rispidez. "E já falei pra tirar essa porra de perto de mim."

Giane ergueu as sobrancelhas, um risinho debochado escapando de seus lábios.

"Ui, que rebelde." Fitei-a do jeito que fere o corpo e arranca a tripa e perfura o coração. "Tá me olhando desse jeito por que, garoto?"

"Você quer me machucar," falei baixinho. Não seria algo inédito; nossa infância fora composta inteira de sadismo. Eu ainda tinha algumas boas cicatrizes de lembrança, obrigado.

Giane revirou os olhos.

"Você acha mesmo que eu perdi esse tempo todo cuidando de você pra depois te machucar?"

Contornei seu rosto com os olhos: a mirada sempre penetrante, mas fugidia. O vinco pensador na testa. Os lábios que discursavam quietos. Encontrar a verdade nos outros era difícil para alguém que apenas dissecava mentiras.

"Anda logo, Fabinho!!" Ela então se usou de toda sua força e puxou-me pelas pernas. Deixei escapar um vergonhoso gritinho, que Giane logo tratou de indicar entre risos. "Mas é um fraldinha mesmo!" Encaixou meus membros sobre seu colo novamente e arrancou metade da unha do polegar esquerdo com o cortador. Não me deu tempo de protestar, seguindo logo para o próximo dedo.

"Você é um cavalo, cara," reclamei enquanto ela mutilava minhas unhas sem piedade.

"Cavalo é você que tá com esse casco no lugar do pé!"

"Você ainda sente cosquinha no sovaco?"

O resto foi história.

***

Era só um menino. Escondi-me hábil atrás da parede, o corpo encolhido como que fosse minha postura natural. Tinha deveras uns sete anos de vida. Sete anos escondendo-se pelos cantos. Sete anos aceitando as migalhas do amor alheio. Sete anos. Era só um menino.

"Tem alguma coisa errada com esse garoto." Reconheci o timbre de tio Gilson. O coração pulsou violento. Sobre o que conversavam?

"Ele se sente rejeitado," falou tia Salma. "Não é fácil aceitar que a mãe não o quis."

Não podia ser...

"O Bento também foi abandonado e nem por isso sai infernizando a vida de todo mundo," ecoou uma terceira voz.

Gosto amargo na boca. Dor no peito, não na carne em si, mas bem lá no fundo. Era eu, eu!

"Também não precisa exagerar, Odila! Ele não inferniza..."

"Pelo amor de Deus, mulher! Você não vê o jeito que ele perturba as outras crianças? O Lucindo, o Jonas, o Douglas, a Giane, ninguém gosta dele. E a fixação que ele tem pelo Bento? Ele se morde de inveja, quer tudo que é do menino!"

Tia Salma não retrucou; minha única defensora emudecera. Os olhos arderam; que criatura patética, chorando como uma menina.

"Realmente, ele não se dá bem com ninguém aqui da rua." Tio Gilson, a razão suprema da casa a acusar-me. Cachorro imundo que eu era.

"De vez em quando acho que foi até bom pra mãe dele não ter criado um moleque desses." Tapei os ouvidos em desespero. Não, eu não queria ouvir, não queria, não! Precisava correr e fugir e sumir e apodrecer longe dali. "Ela não merecia ter um filho como o Fabinho."

Um filho como o Fabinho.

A alma escorregou-me entre os dedos, finalmente desatada desse lar indigno: corpo de menino mole, nojento. Um verme por inteiro. Queria liberdade; do que, se não estava preso? Sempre me sentira enclausurado, como que o céu fosse supremo carcereiro. Mexia e remexia, iria transcender a capa que me escondia do mundo. Fato consumado que dos repugnantes casulos saíam as borboletas. No que eu poderia me transformar? Talvez se guiassem-me firme pela mão seria capaz de descobrir.

No entanto, não havia ninguém. Gritei por socorro, mas os adultos ignoravam minha presença. Tentei agarrar-me à parede, mas as mãos eram fracas em demasia. Por fim, deixei-me ser sugado pelo buraco negro de minha insignificância. Rodopiei e contorci e retornei à existência.

Estava deitado. Sozinho. Adulto. A escassa luz da lua adentrava o quarto.

Movido por um ímpeto desconhecido, virei-me na cama até que o porta-retrato da mesinha de cabeceira entrasse em meu campo de visão. Bento e Giane, Giane e Bento. Pareciam felizes. Estendi os dedos para segurar a foto, mas parei na metade do caminho. O que eu estava fazendo? Em nada me interessava a amizade alheia, especialmente daqueles dois.

Eu estava prestes a cerrar os olhos quando vi de relance um objeto diferente. Não podia ser...

Tomei-o afobado entre as mãos. Sim... Era nosso walkie-talkie. Inicialmente, seu Silvério tinha comprado o brinquedo para Bento, mas ele pouco o utilizava, então fui o escolhido final. Giane e eu alternávamos momentos de paz e guerra: por vezes usávamos o aparelho para convocar partidas de futebol de última hora. Já em outras, continuávamos nossas brigas mesmo quando separados fisicamente.

Por algum motivo incógnito para mim sorri. A infância não era lá uma fonte de boas memórias, mas senti um calor confortante no peito ao olhar para o walkie-talkie. Tinha um adesivo um tanto gasto do São Paulo, enquanto o de Giane carregava o emblema do Corinthians. Grudada ali também estava uma notinha de papel. Li com dificuldade:

Fraldinha,

Se você se cagar enquanto dorme ou ficar com medinho do escuro, pode me chamar. Só não garanto bater uma bolinha com você, não jogo com amador.

Giane.

Ri malicioso. Hora de testar se realmente estava funcionando. Pressionei um botão na lateral e comecei a gritar:

"Socorro, Giane, socorro, ajuda!"

Ela tardou alguns segundos para responder, e quando o fez sua voz portava um misto de sonolência e medo que os ruídos do aparelho não conseguiam acobertar.

"O que foi, seu maluco? Aconteceu alguma coisa?"

Mordi o lábio para não gargalhar alto. Era sempre bom escancarar as fraquezas de Giane.

"Se cagou de medo?"

"Escroto. Não tem mais coisa pra fazer não?"

"Sinceramente, não."

"Percebi. Não conseguiu dormir?"

Paralisei por um instante, lembrando o sonho que me atormentara poucos minutos antes. Tentei camuflar o tom mais sóbrio de minhas palavras quando falei novamente.

"Não. Você?"

"Estava até sonhando com o Corinthians quando você fez aquele escândalo, babaca. Amanhã vou te dar umas boas porradas pra você aprender."

Tornei a rir. Giane continuava a mesma criatura incorrigível de quando ainda brincávamos com um walkie-talkie.

"Por que amanhã?"

"O quê?"

"Por que você não vem aqui agora?"

Ela demorou mais para responder.

"Você tá pedindo pra apanhar, é isso mesmo?"

"Não. Só quero entender porque o machão da Casa Verde não me bate de uma vez. Tá com medo de quebrar a unha?"

Agora sim minha provocação estava completa. Mordisquei uma unha enquanto aguardava o ressoar agudo da voz de Giane.

"Você tá louco pra voltar aos velhos tempos, né?”

"Velhos tempos?"

"É, quando eu te dava uns bons chutes no saco.”

“Saudades de ver o Capitão Nascimento da Casa Verde em ação.”

“Pois me aguarde que é ele mesmo que você vai ter. Agora para de encher a minha paciência e deixa eu dormir.”

"Boa noite pra você também, madame."

Coloquei o walkie-talkie no mesmo lugar onde ele antes jazia. Ainda admirado com a atitude de Giane, cedi ao cansaço. Qual seria a surpresa do dia seguinte?

Tive sonhos limpos naquela madrugada.

***

Com o banho iam-se os pesares, tal como purificar a essência mais profunda. A sensação de estar sempre deslocado no universo persistia, mas de forma diferente. Não era mais um instinto comburente; a água apagara essa motivação. Restavam sim as cinzas e a fuligem que sucediam um grande incêndio. Eu não sabia avaliar se conseguiria me livrar de tamanha sujeira.

Pelo menos o corpo estava limpo. Já era um começo.

Despedi-me do calor do chuveiro com certa melancolia. Fora uma meia hora muito pessoal; eu redescobrira os limites de meu corpo. Pois bem, ele era limitado, e talvez eu devesse tratá-lo como tal. Usar-me de meus membros para perseguir anseios de grandeza culminara apenas em podridão, como bem exemplificava minha perna direita. Se eu conseguisse admitir minha pequenez diante da trama geral da vida... Parecia tão libertador e doloroso ao mesmo tempo!

Ah, a dor. Eu conhecia seu significado. Os crédulos garantiam existir felicidade em sofrer, pois para eles tudo era aprendizado. Eu nunca dera muito crédito a tais ideias. Fé era sinônimo de fraqueza.

Algumas lágrimas teimaram em nascer e fingi que era a água do chuveiro. A vermelhidão dos olhos não me permitiria mentir, mas eu convencera a mim mesmo.

Enrolei-me na toalha e rumei para o quarto. Dispostas sobre a cama estavam minha cueca e uma calça velha de seu Silvério. Vesti-as de pronto e esperei. Giane dissera que talvez tivesse de penar um pouco para encontrar uma camiseta confortável para mim. Porque exatamente ela não me dava uma peça qualquer era além de minha compreensão. Talvez existisse gente no mundo que se preocupava com o bem-estar alheio.

Tomei a bola sobre a cama e girei-a. É, existia sim.

Um ruído desagradável alertou-me que a porta do quarto fora aberta. Não precisei olhar para saber que era Giane; ela não conseguia ser delicada nem ao girar uma maçaneta.

"Parece um rinoceronte entran..." Fui interrompido quando ela jogou a camiseta que segurava bem na minha cabeça.

"Veste logo isso aí," ordenou, a entonação mandona como sempre. Atirei a bola às cegas, esperando atingi-la. Um gritinho estridente anunciou que eu acertara bem no alvo. Tirei a roupa que tapava minha visão e encontrei Giane esfregando o queixo com dramaticidade

"Ih, foi na cara? Que dó!" falei, falseando preocupação.

Uma luz travessa brincou no rosto dela. Não tardei a perceber que estava à mercê de suas tramoias, algo que a rotina provava ser natural. Engraçado como tal prospecto tornava-se menos assustador dia após dia. Naquele instante, a existência resumia-se a aguardar o passo seguinte de Giane; ela era imprevisível, sempre fora.

Correu em minha direção. O segundo que tive para registrar esse movimento foi mal aproveitado. Merda de perna! Eu nem começara minha fuga e já estava estirado sobre a cama, culpa da maldita gravidade.

“Nem precisei fazer esforço,” Giane disse, sua cabeça flutuando sobre a minha. Seus olhos desenharam meu peito, como se buscassem algo. O que, exatamente? Beleza ou imperfeição? Ela tentava me enxergar como criança ou mulher? Eu apenas sabia que já estava começando a me sentir inquieto. Giane parecia ignorar minha batalha interna; regalou-me um sorriso torto de súbito, que eu estava perdido demais em dúvidas para compreender. Apenas acordei quando ela tornou a se pronunciar. "Essa cicatriz aí fui eu que fiz, né?"

Onde, como, por quê? Meu cérebro deu um estalo. Cicatriz... Ah, sim. Ela ficava na lateral esquerda de meu abdômen. Era grande e com marcado relevo. A tensão do meu corpo dissolveu-se com lembranças certas que insistiram em retornar: um garoto de dez anos chorando escandaloso, mostrando para todos da rua a barriga melecada de sangue. Uma menina magrela e descuidada dividida entre zombar seu amigo ferido e defender-se com propriedade. Como éramos bobos! Quando dei por mim estava rindo abertamente, Giane em meu encalço.

"Acho que a gente tava brincando de polícia e ladrão," falei.

"Foi! Eu consegui te alcançar, falei que tinha pego o bandido e aí..."

"Aí você me empurrou com força e eu acabei caindo em cima da mesinha de vidro da casa do tio Gilson," continuei com perfeita sintonia. Uma ideia repentina dominou-me. "Mais ou menos assim." Em seguida, agarrei a mão de Giane e puxei com determinação. Ela mal teve tempo de raciocinar; em milésimos de segundo estava caindo sobre a cama, bem ao meu lado. Sua reação resumiu-se a soltar exclamações que misturavam uma voz absurdamente aguda e palavrões diversos.

"Cretino!" Giane gritou. Sentou-se no colchão e desatou a desferir socos brincalhões em meu braço. Gargalhávamos até o ar faltar e os músculos doerem. Éramos crianças novamente.

Bem, talvez nem tanto. Os golpes desorientados de Giane logo alcançaram meu peito, e quando isto aconteceu... Foi o lembrete mais invasivo possível de que eu ainda estava com o tórax desnudo. Ela se pintou toda de vermelho e mordeu o lábio e retirou a mão.

Vesti a camiseta antes que outro momento constrangedor ocorresse. Nunca fora de meu feitio sentir timidez diante de ninguém, mas nada em minha vida parecia ser mais como era antes.

"Bem," Giane comentou ainda um tanto ofegante, mas já recostada na cama. "Essa cicatriz é pra você lembrar de nunca mexer comigo."

"Ui, nervosinha." Virei-me de lado para encarar Giane e surpreendi-me ao ver que suas bochechas ainda guardavam certo rubor. "Com essa delicadeza toda nunca vai desencalhar. O Caio já te largou, melhor ficar mais melosinha senão ele vai ser seu primeiro e último namorado."

Ela se limitou a girar os olhos.

"Tem outros que gostam."

Soltei um riso estranho pelo nariz.

"Faz uma lista, então. Deixa eu ver quem tá querendo... Caio, Caio e Caio. Acertei?"

"E você passa o rodo na mulherada, né?"

"Modéstia a parte," comecei, recobrindo minha expressão de nostálgica altivez "já peguei muita mulher gostosa nessa vida."

"Ah sim," Giane assentiu sarcástica "não sabe nem jogar bola e vem me dizer que é fodão."

"Futebol é coisa de molequinho de rua, tipo você. Minha especialidade é outra, se é que você me entende." Pisquei um olho para ela.

"Claro, eu mesma tô doidinha pra sentir sua pegada." Ela se levantou e a cama repentinamente pareceu bem mais fria.

"Sempre soube que por mim você virava até menina de verdade. Ei, tá indo embora?"

"Tenho que lavar sua cueca fedida."

"Calma aí," pedi enquanto lutava para ficar de pé, pois o joelho ainda estava um tanto imóvel. Giane parou bem na porta, aguardando que minha perna manca permitisse que eu a alcançasse. Quando o fiz, descansei minha mão sobre os ombros dela, como que montássemos um trenzinho.

"Me mostra seu book? Quero ver se te deixaram igual drag queen nas fotos."

Saí do quarto com alguns hematomas a mais no corpo.