Sarah pegou o celular, enquanto seu irmão ia tomar banho. Foi para a área externa da casa, mas sabia que um dos meninos a vigiava. Discou o número já conhecido, tendo de esperar até o sexto toque para ser atendida.

—Sah? O que foi? Você nunca me liga...

—Não ligo porque você não atende.-Devolveu, quase vendo a ruiva abrindo um sorriso sem graça.-Emelyne... Eu... Nós...- Respirou fundo.-Jake sabe. Ele ainda não se lembra. Mas ele sabe.

Um soluço baixinho, e o silencio do outro lado da linha.

—Eu... Eu... E se... E se ele ficar doente? E se ele tiver outra crise quando olhar pra mim?

—Ele quer que você venha até aqui. Quer ver você. Já falei pra ele das consequências... Do que aconteceu da última vez... Mas ele não se importa. Está furioso por termos decidido isso sozinhas.

—Por eu ter decidido isso. Tia Carolyn foi contra todos esses anos.-Mais um soluço baixinho.-Se... Se eu for... Você promete que vai ligar pra emergência se ele manifestar qualquer sinal de desconforto?

—É claro. Vou ficar com o numero discado. Mas, Ame... A esposa dele está aqui.

—Não vai fazer nenhuma diferença. Eu amava, e ainda amo, Jake. Mas isso nunca foi recíproco. Ella não tem com o que se preocupar.

—Você e minha mãe falam o nome dela com o mesmo desprezo.

—Ela casou com o homem que eu amo. Se aproximou dele num momento de fragilidade, no qual eu fui totalmente distante e impotente. Não importa o quanto ela o faça feliz... Nunca poderão exigir que eu goste dela.

A loira acabou rindo baixinho.

—Eu vou passar um café pra nós.

—Tudo bem.-Um suspiro pesado.-Devo chegar em uns 40 minutos. Pode me passar a localização?

—Agora. Até já, Ame.

—Até já, Sah.

•~☠~•

Jake desceu para a cozinha, logo depois de tomar banho. Encontrou sua irmã terminando o café, e colocando algumas coisas na mesa.

—Ela... Vem mesmo?

—Não era o que você queria? Aviso que é tarde demais pra mudar de ideia.

—Não mudei de ideia.-Arrastou uma cadeira, se largando nela.-Você acha que fiz errado?

—Onde está sua esposa, Jacob?

—No quarto. O que minha esposa tem a ver?


—Nada. Você sabe que eu não tenho nada contra a Ella. Mas eu acho melhor ela estar longe dessa conversa. Ela e Emelyne não se suportam.-O homem se encolheu na cadeira, pressionando as têmporas.-Jake?

—Minha cabeça está doendo.

—Amelyne não pode vir aqui. Vou ligar pra ela. Se você tiver uma crise ela vai me matar.

—Não! Ela vai vir aqui, e eu vou tirar isso a limpo.

Se calou sobre as dores de cabeça, até que uma batida tímida na porta se fez ouvir. Sarah lhe deu um último olhar, antes de receber a visita.

A ruiva, visivelmente, havia chorado bastante depois do telefonema. Os olhos cinzentos estavam apagados pela vermelhidão. Assim como suas sardas do nariz havia sumido por estar vermelho. Havia um machucadinho no canto do lábio, e Sarah sabia que ela havia mastigado o local até chegar ali. Eram três bairros de distância. E Los Angeles era grande até demais.

—Obrigada por vir.

—Eu... Eu não quero...-A ruiva deu um passo pra trás, ao invés de entrar na casa, e Jake sentiu sua cabeça latejar.-Não posso... Não com ele. Não posso ver Jake sofrer.

—Essa escolha não é sua. É minha.

Ele não havia levantado da cadeira. Ou olhado pra ela. Estava com medo do que iria encontrar. Sabia que tinha amado aquela mulher. Tinha amado por muitos anos. Mas ele não conhecia ela. Não reconhecia. Mas estava cansado de viver com aquele vazio estranho, que nem sua esposa era capaz de preencher.

—Não, não é. Você não entende as consequências disso. Se você ficar doente outra vez... Vai ser minha culpa.

A voz dela murchou, e ele ouvir ela dar outro passo, mais distante. E também ouviu a porta ranger baixinho, como se sua irmã fosse fechá-la.

—Você prometeu que não ia intervir, Sarah.-A loira gelou onde estava.-Por favor, não se intrometa. Isso é entre nós dois.

—Jake, é sério... Você não sabe o que está fazendo.

—Sarah. Pela última vez.-Levantou da cadeira, virando para a porta. Ele ainda não via a ruiva daquele ângulo, mas olhava ferozmente para a irmã mais velha.-Não se meta.

•~☠~•


Do outro lado do batente, a ruiva prendeu a respiração. Aquilo era errado. Aquele tom, aquela mágoa... Aquilo não era Jacob Mark Pitts. Não se parecia nem um pouco com seu Jake.

Olhou para a loira. Sarah estava pálida. E acabou dando um sorriso triste.

—Ele tem razão, Sarah. Por favor, pode se sentar no sofá?

Sentada no sofá, Sarah teria uma excelente visão dos dois, e poderia ser imediata em ligar a para a emergência.

—É claro, Ame...

Jake ouviu os passos voltarem para perto da porta, assim que sua irmã se sentou. Uma respiração pesada, que lê acabou imitando. Sem saber o que fazer, acabou fechando os olhos. Ele tinha medo de ver.

Com a respiração suspensa, Amelyne ficou a três passos daquele que fora seu melhor amigo, e era seu grande amor. Se esticasse os braços, poderia fazer no rosto de traços finos aquela carícia. A favorita dele. Se lembrava de todos os detalhes de que ele gostava.

—Amelyne...-Em cinco anos, era a primeira vez que ouvia seu nome ser chamado daquela forma. Só Jake a chamava daquele jeito, naquele tom tão brando e inseguro. Era parte dele, a parte que exigia cuidado, e que ela amava proteger.-Amelyne...

O cheiro dela havia lhe rodeado por completo. Menta, café e coco. Fundo do perfume, bebida favorita, essência do shampoo. E havia um fundo muito leve de castanhas. Seu hidratante.

O velho Jake, de antes do acidente, havia descrito o cheiro dela tantas vezes nos diários... Ele nunca havia imaginado como aquela combinação seria. Agora podia sentí-la. Bailando ao seu redor.

—Por favor, Jake...-Um arrepio passou por sua nuca. A voz dela... A dor na voz dela. Era errada.-Não faça isso... Não abra os olhos... Não olhe pra mim.

Procurou pelas mãos longas. Mãos de pianista. Carolyn dizia isso. Ele havia escrito isso em algum dos velhos diários. Se ela havia escolhido sumir de sua vida, por que naonsuniu com os diários? Eles estavam em posse de seu psicólogo até aquele dia. Será que ele havia escondido isso dela?

Mais rápido do que esperava, ela lhe segurou as mãos, transmitindo um estranho tipo de aconchego. Abriu os olhos, diretamente para as mãos entrelaçadas. O toque dela era familiar.

Então ergueu os olhos castanhos. Diretamente para o rosto delicado da ruiva. Os olhos cinzentos o analisavam, como se ela estivesse pronta para agir, se as coisas saíssem do controle.

Mas nada aconteceu.

Sem dores de cabeça.

Sem desmaios.

Ele não lembrava.

Ela não era nada em sua mente.