Jerry caminhava lentamente até a casa de Diana perto do meio-dia da véspera de Natal. Esqueceu de presentear Anne no anterior pois estava com muito sono, e também porque ela tinha acabado de voltar de viagem de Kingston.

Ele poderia esperar mais algumas horas e encontrá-la no centro junto com Gilbert, ou até na fazenda dele, mas sua mãe insistira para ele ir entregar o mais cedo possível para que ele pudesse ajudar os irmãos a limparem a casa antes do Natal. A famosa limpeza natalina dos Baynard. Esperava que seus pais o liberassem destes afazeres por trabalhar cinco dias por semana na casa dos Cuthbert, porém, eles não cederam a nenhum dos filhos.

Enquanto caminhava em passos lentos, pensava no que faria se visse a bela Diana Barry. Tudo o que eles tinham acabou, e eles não tinham nenhum traço de relacionamento. Porém, ele não negava a si mesmo e a seu irmão mais velho, Alexandre, que ele sentia algo por ela ainda. Seu irmão era o único que ouvia os seus sentimentos e tentava ajudá-lo. Mas nem mesmo ele via um final feliz para a relação.

— Irmão, a princesa tem outra realidade totalmente diferente da nossa. - Disse Alexandre Baynard, dois finais de semana atrás, lembrando do apelido que a irmã mais nova tinha dado à Diana quando eles a acolheram machucada - Ela pode até ter sentimentos por você, mas enquanto carregar a sina da família inteira nas costas e ter o peso de ter o marido perfeito, com a casa perfeita e filhos perfeitos, você não se encaixaria nunca. Encare a realidade, somos plebeus.

— Mas os sentimentos dela por mim não podem ser maiores do que tudo isso?

— Pode ser mais complicado do que isso, irmão. Ela teria que negar os desejos da família que a criou desde que ela nasceu para ter um futuro com alguém que eles não aprovam. Ou você se torna essa pessoa, ou não terá ela.

Ele sabia que a única pessoa que não via peso no relacionamento entre os dois era Anne. A visão dela sobre o mundo era única e simples, e para ela, todos são iguais, independente do dinheiro ou do status social. Para ela, os dois fariam um par lindo, e talvez até para Diana, mas haviam muitas barreiras no caminho.

Logo parou de andar e se viu na frente da casa dos Barry. Muito maior do que a nossa casa, pensou Jerry. Somente o térreo da casa deles tinha o triplo de tamanho de sua casa. E diferente de Green Gables, aquela casa não possuía plantações ou gado, pois o senhor Barry cuidava de negócios financeiros com outros homens, e não precisavam deste tipo de serviço. Se precisavam de carne ou de legumes, iriam comprar, não plantar em seu belo terreno de frente para o lago. A diferença entre as duas famílias era enorme.

Tomou coragem e subiu os degraus que levavam a porta da casa, e bateu. Logo ouviu os passos e alguém abriu.

A cada dia ela fica mais bonita.

Aquele rosto o trazia lembranças de dias melhores, onde tinha esperança de vê-la no final de seu trabalho para acompanhá-la até perto de sua casa, onde recebia beijos nas bochechas ou em seus lábios. Vestia um vestido rosa delicado, com mangas bufantes, enquanto ele usava a mesma roupa desde que saiu de Green Gables: uma calça surrada marrom, uma camisa bege e suspensórios. Sabia que a diferença não estava somente nas vestimentas, mas também no diálogo. Eles sentiam a diferença entre eles, mas seriam loucos se falassem que era isso que os unia?

— Bom dia, Jerry. O que faz aqui? - Perguntou Diana, cordial e com um sorriso leve nos lábios. Gostaria de tratá-lo diferente, mas com sua mãe perto, deveria fingir que não tinha nenhum tipo de relacionamento com o rapaz.

— Bonjour Diana. Gostaria de ver a Anne, ela está?

O sorriso de Diana se desfez, e no lugar, uma expressão triste tomou o lugar.

— Sim, irei chamá-la.

Diana entrou na casa, e logo Anne foi até a porta, preocupada.

— Algo aconteceu, Jerry?

— Não, só trouxe um presente para você, não se preocupe. - Tirou de sua bolsa uma pequena caixa com um laço. Anne sorriu, pois na caixa estava escrito ‘Anne’, e não ‘Ann’, como já tinha escrito antes. Sua escrita melhorou, e aquilo já era um presente para ela. - Feliz natal, Anne!

Anne pegou a caixinha e abriu. Dentro dela tinha um pingente de rosa, com caule e folhas, feito de aço. Delicado e bonito. Ela pegou com cuidado em suas mãos, observando cada detalhe, com os olhos brilhando.

— Muito obrigada, Jerry! Não precisava, nem mesmo comprei seu presente ainda!

— Imagina, Anne. Este não é um presente só meu, mas dos meus pais também. Eles ficaram muito felizes que você incentivou meus estudos.

Anne o abraçou forte, e Jerry retribuiu. Diana olhava tudo ao longe, escondida em uma das colunas da casa.

— Você é muito especial para mim, Jerry! - Disse Anne, dando um beijo da bochecha de seu amigo.

Logo se afastaram, e Minnie May foi sorrateiramente até a porta sem que Diana percebesse, e logo ficou ao lado de Anne, fitando Jerry.

— Seu nome é Jerry, não é?

Jerry olhou para baixo, vendo a expressão confusa da irmã de Diana. Se agachou até a altura dela, como faz com seus irmãos, e a olhou nos olhos.

— Sim, meu nome é Jerry. E você é a Minnie May, certo?

— Certo. Então Jerry, posso te perguntar uma coisa?

Anne observava curiosa a cena, e até Diana chegou mais perto para ver o que sua pequena irmã estava aprontando.

— Claro que sim, pode perguntar. Só não posso te dizer que saberei responder.

— Por que as meninas gostam tanto de beijar os meninos? Qual é a graça nisso? É nojento!

Jerry segurou a risada, e olhou inquisitivamente sua amiga. Anne deu ombros, e Diana ficou com o rosto extremamente vermelho de vergonha.

— Beijar é uma forma de você mostrar afeto, Minnie May. Mas só quando o que você tem com a outra pessoa passa da amizade, indo a outro nível. Um dia você irá aprender melhor. - Disse Jerry, lembrando das conversas que seus pais tiveram com todos os filhos. - Quando você tem muito sentimento por outra pessoa, e você ama ela e quer passar o futuro junto com ela, é bom beijar. Essa é a graça. Não saia beijando qualquer amigo que encontrar pra ver se é bom, tudo bem? Você vai saber quando for a hora certa. - Jerry viu Diana logo atrás de Anne, e acrescentou - Mas nunca pense em beijar alguém se não possui tais sentimentos por ela. Só traz infelicidade.

— Acho que entendi, Jerry. Muito obrigada. Essas duas aqui só sabem falar de beijar, beijar e beijar, mas nada de explicar. - Minnie May pausou e olhou para Anne, apontando o dedo para ela e depois olhando novamente para Jerry - Então a Anne quer passar o futuro dela ao lado do Gilbert, certo? Ela gosta muito de beijar ele.

— Minnie May! - Agora era a vez de Anne ficar extremamente corada. Jerry riu com a reação da amiga, que logo empurrou a criança para dentro de casa. - Jerry, nem pense em falar tais coisas para Marilla e Matthew. Nem pra ninguém. Imagina se isso chega aos ouvidos da senhora Lynde!

— Seu segredo está a salvo comigo. Só não sei se está a salvo com a Minnie May.

Os dois riram, e Jerry se despediu de Anne, voltando para casa. Anne entrou na casa de Diana, fechando a porta, e encontrando a amiga logo atrás dela, com uma expressão triste.

— O que foi Diana? Aconteceu algo?

Diana olhou nos olhos de Anne, e depois olhou para seus pés. Triste, sussurrou:

— Queria que ele tivesse vindo me ver.

As duas amigas estavam novamente no quarto de Diana, depois do almoço. Logo Anne iria sair para ir até a fazenda de Gilbert e Sebastian, para que os dois fossem comprar os presentes restantes de natal. As amigas já tinham se presenteado, surpreendentemente trocando entre elas livros de romances e fantasias. Afinal, o gosto delas por literatura era o mesmo.

Anne estava sentada de frente para o espelho da penteadeira de Diana, enquanto a amiga estava arrumando o cabelo de Anne, prendendo a maior parte do cabelo em um coque e soltando alguns fios, emoldurando seu rosto.

— Diana, você quer falar sobre o que aconteceu lá embaixo?

— Não, não quero. Quero dizer, não sei. Ah, é tão complicado, Anne! Não tínhamos conversas profundas, mas ainda assim conversávamos. Os beijos eram ótimos. Gostava de ter a companhia dele. Mas mesmo assim, não podíamos seguir em frente, sabendo que meus pais seriam terminantemente contra nosso relacionamento.

— Mas amiga, é a sua vida, não a do seus pais. Lembre-se disso. E tenho certeza que Jerry ainda nutre sentimentos por você!

— Pode não ser a vida deles, Anne, mas imagina você estando com Gilbert e Marilla não aprovar nada que venha da família Blythe?

Anne parou para pensar por alguns segundos. Definitivamente, seria difícil, mas ainda faria algum esforço para que as duas famílias virassem amigas. Sabia que seria possível. Mas tendo a família Barry, seria incrivelmente difícil.

— Você o ama, Diana?

Diana travou as mãos nos cabelos de Anne.

— Amar é algo muito profundo, não é? Acho que não estou preparada para saber se amo ou não alguém.

Anne pôs sua mão nas mãos de Diana, olhando os olhos da amiga no reflexo do espelho.

— Diana, quando você souber que ama alguém, você estará disposta a lutar por ela.

Gilbert esperava Anne na fazenda. Sebastian estava com Delphine nos braços, e Hazel estava lavando as roupas dos moradores da casa.

Ele estava arrumado desde que almoçaram para saírem, mesmo sabendo que Anne ficaria lá por algum tempo visitando Delphine. Estava com calças pretas e camisa social branca, e pretendia colocar seu casaco preto longo quando saíssem.

— Que bom que com a Anne, não vou ter que enfrentar seus desfiles para saber com qual roupa você quer sair. Ninguém merece aquilo.

Gilbert revirou os olhos vendo a expressão aliviada de Bash, mesmo sabendo que tudo o que ele falou era verdade. Nem mesmo ele queria passar pela indecisão do que usar quando fosse sair com Anne.

— Sebastian, com a Anne tudo é incrivelmente mais fácil. Conquistar ela que foi difícil. Sei que não importa o que eu vista, ela não vai se importar, nem Marilla ou Matthew.

— Mesmo com essa camisa manchada?

— Onde está a mancha? - Sebastian ria enquanto Gilbert tirava a camisa e procurava onde estava a mancha. Logo colocou a camisa novamente, olhando cínico para o amigo - Você se acha tão engraçado.

— Não me acho engraçado, eu sou engraçado assim como você é vaidoso.

Logo ouviram alguém bater na porta, e Gilbert andou rapidamente para abrir. Lá estava Anne, com um sorriso no rosto.

— Olá Anne. Você está linda. - Gilbert segurou as mãos de Anne e depositou nelas um beijo. Anne ruborizou, feliz.

— E você está muito elegante, Gilbert.

— Ele está arrumado desde que o galo cantou, Anne! - Disse Bash, indo até a porta com Delphine no colo - Ele está tão ansioso pra te ver novamente que aposto que sonhou com o que vestiria.

Gilbert um soco leve no ombro do amigo, que riu. Anne logo deixou o casaco perto da porta e segurou Delphine nos seus braços. Eles foram até a sala, onde Anne sentou lentamente.

— Ela já está balbuciando algumas palavras, não é mesmo?

— Logo ela já vai falar papai. Não é, minha filhinha linda?

Delphine sorriu e esticou seus bracinhos, encostando no rosto de Anne, que sorria enquanto brincava com a neném. Gilbert observava as duas com um sorriso bobo surgindo nos lábios. Sebastian sentou ao lado de Gilbert, e logo sussurrou:

— Está observando a futura mãe de seus filhos?

— Com ela, Sebastian, não importa se for um ou sete filhos, desde que ela esteja comigo.

Gilbert e Anne estavam no centro de Avonlea procurando o último presente para comprar. Não andavam de mãos dadas, mas um perto do outro o suficiente para se sentirem juntos. O acordo que tinham feito estava implícito, mesmo que quisessem dar as mãos ou andarem abraçados para que todos vissem seu amor. Mas mesmo sem demonstrar nada, ainda ouviam cochichos dos moradores locais.

Já tinham encontrado os presentes de Delphine (um vestido rosa que ficaria extremamente fofo nela, segundo Gilbert), Bash (uma vara de pesca, já que recentemente tinha adquirido o hábito de pescar no rio próximo a residência), Hazel (um conjunto de potes com temperos variados, que a fariam lembrar de sua terra natal), Matthew (um par de botas novas bem quentes) e Marilla (um par de botas novas também, pois Anne lembrou que ela só tinha um par para o inverno). Faltava o presente de Jerry.

Enquanto Gilbert carregava todos os presentes com um certo esforço, Anne andava livremente olhando cada vitrine. Ela tinha oferecido ajuda, mas como um bom cavalheiro que Gilbert é, recusou para fazer a tarefa sozinho.

— Gilbert, olhe!

Logo em frente tinha uma loja de livros escolares. Deve ser a mesma que Matthew comprou o livro do Jerry, pensou Anne quando via a quantidade de livros expostos na vitrine, assim como canetas e livros vazios, para que pudesse escrever dentro.

Entrou animada na loja, com Gilbert logo atrás dela.

Gilbert e Anne estavam indo até a casa de Jerry para dar-lhe seu presente de Natal, e logo em seguida iriam direto para Green Gables, para jantarem. Esperavam que Sebastian, Hazel e Delphine já estivessem lá pelo convite que Marilla tinha feito.

Andavam de mãos dadas em um trecho vazio do caminho, trocando sorrisos e conversando sobre o futuro. Gilbert mal esperava que a faculdade terminasse e tivesse conhecimento o suficiente para trabalhar na área, e Anne estava ansiosa para que chegasse o fim de julho para que pudesse ser professora, talvez até na escola de Avonlea.

— Mas por enquanto, vamos aproveitar o que o dia nos dá, não é? Andar de mãos dadas, passear juntos, poder estudar todos os dias assuntos que nos cativam. Nem todos os assuntos nos cativam, mas são necessários.

Gilbert parou no caminho e puxou a mão de Anne para si, dando um beijo em seus lábios. Leve e rápido, para que se alguém os visse, pudesse pensar que foi apenas um beijo na bochecha.

— A sua forma de ver a vida já me cativa o suficiente.

— Então você será cativado por toda a sua vida, senhor Blythe.

— Se isso significa que você será a futura senhora Shirley-Cuthbert Blythe, concordo com você.

Os dois sorriram um para o outro, chegando perto da casa de Jerry, já com as mãos separadas. Jerry estava do lado de fora da casa, sacudindo um tapete empoeirado na rua. Estava todo sujo de poeira, e com a barra das calças molhada.

— Limpando a casa, Jerry? - Disse Anne, chegando perto do amigo.

Jerry, logo que percebeu a presença da amiga, parou de sacudir o tapete, deixando-o no chão e bateu na roupa, para soltar um pouco da sujeira. Envergonhado, disse:

— Perdão pela sujeira, Anne. Estou limpando a casa com os meus irmãos. Minha mãe tem mania de limpeza assim que chega o natal.. Se fosse que nem Marilla, a casa já estaria limpa quando chegasse essa data.

— Não tenha vergonha, Jerry! Você deve ter orgulho de ajudar os seus pais.

Jerry sorriu para a amiga, e logo percebeu o pacote que ela pegou dos braços de Gilbert, que estava logo atrás dela, acenando. Acenou de volta, e olhou para Anne.

— Já estão saindo juntos em público? - Perguntou Jerry, arqueando as sobrancelhas - Quem diria Anne!

— Jerry, se você brincar comigo outra vez, pego seu presente para mim. - Anne estendeu seus braços em direção ao amigo, com o presente - Feliz natal!

Jerry pegou o presente e o desembrulhou. Viu que dentro tinha uma caneta, um bloco de folhas grande e um livro, aparentemente usado. Pronunciou vagarosamente o título.

— Direito civil?

— Achei que poderia gostar. Já que está estudando livros de algumas matérias, esse pode ser interessante para você.

Abriu um grande sorriso com as palavras de Anne. Foi em direção dela com os braços abertos, mas parou no caminho porque lembrou de suas roupas sujas. Então estendeu sua mão até ela, que apertou sua mão.

— Muito obrigado, Anne. Nunca me esquecerei deste gesto

Anne se virou de costas e caminhou até Gilbert, que deu tchau para Jerry. Não sem antes apontar para seus próprios olhos semicerrados, e depois, para os olhos de Gilbert.

Anne e Gilbert chegaram em Green Gables perto do pôr do sol. Anne correu para dentro de casa, enquanto Gilbert andava em passos lentos até Matthew, que estava na frente de casa, sentado em sua cadeira de descanso.

— Olá, senhor Matthew. Um ótimo dia, não?

— Sim, um ótimo dia.

Matthew olhou no fundo dos olhos de Gilbert, que estava apreensivo.

— Você quer ter aquela conversa agora?

— Sim, se não for incômodo.

Matthew levantou da cadeira, e foi caminhando ao lado de Gilbert até o celeiro. Anne já tinha entrado dentro de casa, sendo recebida por Marilla, Bash e Hazel. Delphine estava alegre dentro de uma cestinha, brincando com os dedos de Marilla. O cheiro da comida de Marilla emanava por toda a casa, atiçando o paladar de todos. Logo percebeu que Gilbert não tinha entrado, e foi até a janela, observando Gilbert e Matthew caminhando. Bash foi até o lado dela, e perguntou:

— Matthew não tem nenhuma espingarda guardada lá, tem?

— Matthew, respeito muito Anne. - Disse GIlbert, assim que chegaram até o celeiro. Praticamente o escritório de Matthew, onde poderiam ter uma conversa sem ouvidos curiosos nas paredes - Quero viver um futuro com ela, e por isso - Ouviu um pigarreio de Matthew,

— Não querendo interromper, mas já interrompendo. Você ama a minha Anne?

— Amo como nunca amei alguém antes. - Disse Gilbert, olhando no fundo dos olhos de Matthew, falando com convicção.

— Já é o suficiente rapaz. Conheço sua família, e sei que você cuidará dela. Só casem assim que puderem, depois dos cursos que estão fazendo, para não causar nenhum falatório. Não quero minha Anne sendo vítima de fofocas.

— Com certeza, senhor Matthew!

Gilbert estendeu sua mão ao Matthew, que, ao contrário dele, o puxou para um abraço, dando tapinhas em suas costas.

— Além de ganhar uma filha por acaso, ela também me trouxe um novo filho. Bem vindo à família, Gilbert.

Anne arrumou a mesa rapidamente e trocou de roupas, colocando um vestido leve marrom claro, que Marilla tinha presenteado ela. Desceu e logo viu Gilbert e Matthew entrando na casa, se direcionando à mesa. Sentou-se de frente para Gilbert, apreensiva, mas o rosto de seu amado não passava nenhuma informação de como tinha sido a conversa. Observou Matthew, que estava com a mesma expressão de sempre.

Homens.

Logo Hazel e Marilla entraram, colocando toda a comida na mesa, e se sentaram para se servirem. Porém, logo em seguida, Gilbert levantou, chamando a atenção de todos.

— Boa noite. Gostaria de oficializar meu relacionamento com Anne para vocês, nossas famílias. - Gilbert olhou para Anne, que sorria, surpresa. - Estamos juntos, e noivaremos assim que minha faculdade de medicina terminar, não tardando para casar-nos.

Marilla sorriu, olhando para sua Anne. Tão bela e crescida, assumindo relacionamento com um Blythe, assim como gostaria de ter feito a alguns anos atrás. Ela é sua filha da cabeça aos pés.

Matthew concordou com a cabeça, e Marilla fez o mesmo. Bash levantou e abraçou seu irmão, feliz com a atitude que tomou.

— Finalmente, irmãozinho!

Gilbert pegou as mãos de Anne e depositou um beijo, selando a união que ali foi estabelecida.

Já era noite quando Anne e Gilbert caminhavam pela Alameda dos Amantes, logo atrás de Green Gables. Tinha apelidado a alameda logo que tinha chegado à casa dos irmãos, pois ela era muito bonita e romântica, principalmente junto com a luz do luar.

Os dois andavam de mãos dadas, logo após Gilbert ter pedido permissão de passear com Anne depois do jantar, antes de ir de volta à fazenda com Bash, Hazel e Delphine. Estavam muito felizes porque o pedido de Gilbert deu certo, e agora estavam oficialmente juntos.

Nada de receber pedidos de cortejos de outros rapazes ou de moças. Logo que fosse contado à senhora Lynde, todos saberiam.

— Agora você é oficialmente minha futura noiva, senhorita Shirley-Cuthbert.

— Mas vai demorar tanto tempo. Três anos, não? Você terá que me conquistar todos os dias para que dê certo.

— Não seja por isso.

Gilbert puxou Anne para um beijo lento, abraçando ela pela cintura, enquanto ela estava com as mãos pressionadas em seu peito. Anne tinha certeza que Gilbert não notara, mas sentia que a noite abençoava a união com uma dança das suas mais brilhantes estrelas e o vento com o farfalhar dos arbustos, fazendo cócegas enquanto balançava seus cabelos.