Animos Domi

Capítulo 32 - Uma canção


–-Sinceramente... Quem imaginaria?—Comentou Rose.

–-A Liz eu até imaginaria. –Rebateu John. –Mas Holly...

–-Espere até Daniel chegar...

Isso por que Liz estava encostada na parede e Holly encostado em Liz. Era impossível saber quais mãos eram de quem.

Os dois tinham ficado assim nos últimos dias, se agarrando por toda Torchwood. Tinham contado com outros funcionários para lhes avisar quando Daniel estava vindo. O problema é que a essa altura os outros já estavam ficando cheios dos pombinhos, principalmente John e Rose, que passavam mais tempo com eles.

–-Isso não é justo... –Comentou Rose. John olhou para ela e ergueu uma sobrancelha. Rose riu. –AH, Jhonny...

–-Johnny? –Riu-se ele. –Vem cá! –E a puxou para si em um beijo. Estavam tão entretidos que não viram que Holly e Liz haviam se separado.

–-Smith, Tyler! –Soou a voz de Daniel. Os dois se separaram, assustados. Daniel havia chegado e aberto a porta. Olhava para os dois, furiosos. –Se comportem! Nada de relações intimas nas instalações!

–-Nas missões pode. –Disse Liz.

–-Nem nas missões! –Berrou Daniel. Os agentes riram.

John olhou para Liz e ela lhe jogou beijinhos sarcásticos e disse, com os movimentos dos lábios: "Vocês tem que aprender a vigiar Daniel". Daniel, enraivecido, se sentou e começou a explanar os pontos principais da primeira missão temporal que o quarteto receberia.

–-Houve uma época, no fim do século XIX que não consta nos relatos de nenhuma organização. Nem Torchwood, nem UNIT, nem O FBI ou a CIA. É o ultimo natal desse século, quando as pessoas ainda tinham medo da virada dos cem anos.

–-Como assim? –Perguntou Liz.

–-As pessoas achavam que o mundo ia acabar junto com o século. –Explicou Holly.

–-Exato. –Replicou Daniel. –Queremos documentação do que aconteceu naquele dia, por mais monotomo que possa ser. Vamos passar a frente daqueles americanos malditos! –Exclamou Daniel, e um brilho muito estranho surgiu em seu olhar. O quarteto de agentes se entreolhou. Daniel recuperou a compostura. –Vocês irão agora, disfarçados. Podem ir.

Assim que os quatro saíram da sala de reuniões, John explodiu.

–-Eu achei que íamos finalmente ter uma missão de verdade pelo tempo! Esperei sem me meter em confusões, agora recebo essa!

–-Calminha, cabelos. –Disse Liz. John soltou um suspiro triste. Rose riu.

–-Ah, vamos lá, o que custa? Não deixa de ser uma viagem no tempo.

John não sorriu.

No saguão, um grupo dos soldados de sempre os esperava.

–-Daniel mandou nos informar que no passado os hábitos eram sucintos, portanto nada de hã... Pegações durante as missões. –E olhou demoradamente para Liz e Holly.

–-Saiba que foi por causa desses dois ai –Disse Liz, apontando com a cabeça para John e Rose. –que você recebeu ordens de dizer o que disse.

O soldado encarou John e Rose avidamente. John deu de ombros, sorrindo capenga.

O soldado pareceu confuso por um segundo, mas logo recuperou a compostura.

–-Vocês estarão disfarçados de viajantes. Devem apenas descobrir se algum fenomeno estranho ocorreu ou não, e registar o que. A maioria das datas sem registro tem algum evento importante que o governo ou empresários querem esconder.

O outro soldado apareceu com uma pilha enorme de tecidos e as distribuiu entre os quatro agente. Os tecidos eram, vieram a descobrir, vestidos e ternos do seculo XIX. John olhou para os soldados, incredulo.

–-Isso é sério mesmo? --Perguntou. Os soldados riram.

–-Adoramos essa parte. --Disse um deles. --A cara dos agentes. É sempre hilário.

Eles foram se vestir, rabugentos.

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John e Holly usavam ternos simples e sobretudos; Rose e Liz usavam longos vestidos com várias camadas de tecido e casacos com rendas. John caiu na gargalhada vendo Liz arrumada. Era sempre um evento raro e diferente. Ela revirou os olhos elhe mostrou a lingua. Um dos soldados distribuiu maletas de viagem antiga entre os agentes.

–-E se comportem como adultos, por favor. --Pediu o soldado. --Certo, no trê vocês partem. Um... Dois... TRÊS!

E estavam em uma estradinha de paralelepipidos, rodeados por uma floresta. Estava nevando.

–-Bom, não há nada demais aqui. --Observou Holly.

–-Voto por andarmos um pouco. --Sugeriu John.

Liz e Rose concordaram. O quarteto andou por quase uma hora, então, quando as garotas já estavam reclamando dos saltos, avistaram uma cidadezinha.

–-Ah!

Não estava muito longe e certamente teria uma hospedaria ou algo do tipo. John torceu para que os soldados tivessem tido o bom senso de deixar dinheiro nas maletas. John e Holly destaram a correr na frente, mas pararam com os gritos das meninas, que não conseguiam acompanhá-los com os saltos e os vestidos. Acabou que foram os quatro de braços dados, lembrando, sabiamente, de guardar os manipuladores de vortex nas maletas.

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Era uma cidade realmente muito pequena, mas não tão pobre quanto eles acharam que seria. Haviam pequenos comércios de tecidos, linhas, temperos, frutas e outros alimentos, uma escola e...

–-Uma hospedaria! --Gritou Holly. Várias crianças que corriam para lá e para cá pararam para olhar quem gritara. Os quatro disfarçaram e trataram de ir para a hospedaria, um prédio marrom com uma placa escrita: "Smith's".

–-Sua hospedaria, John. --Brincou Rose.

O plano era simples. Procurariam uma hospedaria e ficariam lá pelo tempo nescessario para esquadrinhar a época. Se passariam por dois casais que viajavam juntos.

Quando abriram a porta, um sininho retiniu e uma mulher magra e ruiva apareceu na porta. Aparentava ter seus cinquenta anos.

–-O que desejam? --Perguntou ela. Tinha uma voz muito meiga.

–-Dois quartos, por favor. --Pediu Rose.

–-Certo. Casais, suponho?

Liz assentiu.

–-Ótimo. São vinte euros cada quarto. --Sorriu a ruiva.

John e Holly abriram as malas para pegar o dinheiro, que por sorte estava bem em cima das outras coisas.

–-Seus nomes, por favor.

–-Hã... John Smith, e essa é minha noiva, Rose Tyler. Aqueles ali são Holly Peterson e Liz Walker.

–-Muito bem. --DIsse a mulher. --Me chamo Gill, se precisarem de mim, me chamem. fiquem com os quartos dois e três, que ficam no segundo piso. A cozinha é por ali. --E apontou. --O almoço será servido a uma e o jantar as sete. O lugar fecha as sete e meia, estejam aqui antes disso ou vão dormir em algum monte de neve ai fora.

O quarteto concordou em unissono, depois subiram. John e Rose se despediram de Liz e Holly e foram para o quarto dois.

O lugar era constituido por uma cama, um armário, uma escrivaninha, uma penteadeira, um cabide, uma comoda e uma janela. Em cima da comoda havia uma tigela com maças e uma jarra de água com dois copos. John abriu a mala e tirou o manipulador de vortex. O horário original exibia dez da manhã, no horário da época em que estavam eram quatro e meia da tarde.

–-Vamos ficar aqui um pouco, para não levantar suspeitas. --Disse. --Então podemos ir para a rua e perguntar se alguém viu algo estranho.

–-Certo. --Respondeu Rose.

Para matar o tempo, John abriu sua mala e viu o que tinha dentro. Várias roupas, um barbeador e uma loção. Nada demais. Uma bagagem normal para a pessoa normal que ele precisava ser na missão. Ele se sentou com Rose e os dois jogaram conversa fora por meia hora, então decidiram que já estava na hora de saírem. Bateram no quarto de Liz e Holly e John lhes narrou seu plano.

–-Certo, somos apenas viajantes, como Daniel disse. Vamos sair e andar por ai, olhando as coisas e as pessoas e fazendo comentários bobos. Entre um comentario e outro, podemos deixar escapar perguntas sobre eventos enstranhos. É só parecer natural.

–-Nada mal, cabelos. --Disse Liz. --Eu sugiro que nos dividamos. Vocês para um lado, a gente para o outro.

E foi assim. John e Rose foram primeiro para umas barraquinhas de artesanato e olharam as coisas. Entre o papo-vai-papo-vem com a vendedora, perguntaram se ela havia visto algo estranho, em tom descontraido. O rosto da mulher voltou-se para o chão e ela ordenou que os dois saissem dali, que falar sobre eles dava azar.

–-Agora fiquei curioso. --Disse John.

–-Podiamos tentar outras pessoas. --Disse Rose. --Ela parecia bem supersticiosa, mas aposto que os outros não são assim.

Os dois tentaram uma barraquinha de comida, mas o vendedor era meio surdo, de modo que desistiram. Obtiveram algum sucesso com um bando de crianças que brincavam por ali.

–-Eu conto sobre eles se vocês nos comprarem doces. --Disse uma menininha de marias chiquinhas loiras. As outras crianças riram.

–-Certo. --Disse Rose. --Doce, hein?

O casal comprou balas por ali e distribuiu entre as crianças. Mais algumas delas chegaram, atraidas como formigas. Quando todos tinham balas, John resolveu que era hora de perguntar.

–-Então, o que tem acontecido de estranho aqui?

Todas as crianças começaram a falar ao mesmo tempo.

–-Calminha! --Disse Rose, alto. -Você pode nos contar, por favor?

E puxou um garotinho que tinha mais sardas do que rosto.

–-Algumas pessoas estão sumindo. --DIsse ele, a voz dificil de entender por causa da bala na boca. --Simplesmente somem e nunca mais voltam.

–-Quando isso começou? --Perguntou John.

–-Há alguns dias. --Respondeu a mais magricela das crianças.

–-Eu sei de uma coisa! --DIsse a garotinha com marias chiquinhas loiras. Era muito astuta. --Sei que todo mundo que morava junto com as pessoas que sumiram, dizem ter ouvido uma canção.

–-E dizem que não conseguiram se mexer! --Gritou alguém no fundo do grupo.

Rose viu, pelo canto do olho, que John parecia reflexivo. Era sua chance de descobrir algo. Decidiu coletar mais informações para seu humano.

–-Você não sabem o que acontece com as pessoas que somem? --Perguntou.

–-Não exatamente... --DIsse um menino maior. --Mas, quando eu estava andando pela floresta com meus pais, senti um cheiro ruim, parecido com um animal morto. --Ele estremeceu. --Meus pais foram ver o que era e não me deixaram ver. --Todas as crianças olhavam para ele em silencio. --Depois a policia bateu lá em casa. Minha mãe me mandou não ouvir, mas eu ouvi. E disseram... --Então ele encarou o chão, hororrizado, e emudeceu.

–-O que eles disseram? --perguntou Rose, pegando uma das mãos do menino.

–-Disseram que era o terceiro corpo humano que encontravam na floresta, destroçado como se tivesse sido meio comido por algum bicho. --Sussurrou ele depressa, como se assim fosse menos assustador. --Mas disseram que não parece nenhum bicho que alguém já tenha visto. É assustador.

Rose sorriu para o menino e lhe deu mais uma bala. Ele continuava de olhos arregalados.

–-E a canção? --Perguntou John de repente, saindo de seus próprios pensamentos.

–-Ouvi dizer que enquanto você ouve ela não consegue controlar seu corpo. --Disse uma garotinha que não devia ter mais de três anos.

–-Você não age conscintemente. --Explicou o garoto que a trazia pela mão, provavelmente seu irmão mais velho.

John se levantou, os braços cruzados, novamente absorto. Rose continuou abaixada e distribuiu mais uma rodada de balas.

–-Você tem que prometer que não vão contar para ninguém que nos contaram isso. --Disse ela ao bandinho. Ouve um coro alto e desincronizado de concordância. --Então agora vão! --E todas as crianças correrram, segurando as balas nas mãos.

Depois que todos se afastaram, Rose se levantou e ficou em silencio por algum tempo. Sabia que John era do tipo que se perdia dentro da própria cabeça e que quando isso acontecia, ele precisava de um tempo.

–-Então, o que você suspeita? --Perguntou ela, depois de alguns minutos.

–-Olhe, não sei como vieram parar aqui, já que vivem do outro lado do universo. Pode ter sido um acidente, eles podem ter fugido das naves das universidades que os pegam as vezes para pesquisas, isso é bem possível. Devem estar com medo e famintos, depois de uma jornada dessa e são carnivoros. Mas não queisquer canivoros, gostam de tipos especificos de carne, que lhe agradem mais. Acho que gostam de carne humana. --E estremeceu. --Devem estar fazendo um banquete, um corpo por noite, suponho. Humanos tem todas as vitaminas que eles precisam. É, acho que definitivamente são eles. Acho por causa da canção. Eles tem isso, fazem sons em frequencia que ondula no seu cerebro. É quase como programar um computador, sabe? Ligado e desligado. Podem meio que te hipnotizar, te impedir de se mexer, te adormecer... Eles usam uma canção hipnotica. E portas ou janelas fechadas não são impecilhos para eles.

–-Eles quem? --Perguntou Rose, impaciente, se pedurando no braço do humano quando ele parou para tomar folego.

–-Zaree. --Respondeu ele simplesmente. Oras palavras de mais, ora palavras de menos. Rose perdeu o compasso da respiração por um segundo. Carne humana?

–-E o que fazemos? --Perguntou ela.

–-Eles são bem dificeis de matar. --Respondeu John. --Eu sinceramente não sei. Por hora, voto por contarmos a Holly e Liz.