Amor Perfeito XIV - Versão Arthur

Totalmente inacreditável


"Cabeça diz que não, mas o coração não mente."

Arthur Narrando

Olhei para Alice assim que Kevin saiu e vi o quanto ela estava assustada e desconfortável. Aquilo me deu muita raiva do meu irmão, ele não tinha o direito de deixa-la assim.

— O que vamos fazer com ele? – ela me olhou com os olhos iguaizinhos aos de uma criança.

— Nada. – me sentei ao seu lado. – Ele só está querendo provocar, não vai fazer nada com você.

— Por que ele está voltando a ser assim?

— Alguns lidam com decepções amorosas se fechando, outros voltando ao que era antes de tudo acontecer. Com ele foi assim.

— Acha que meu irmão vai voltar a ser aquele idiota que pega todo mundo?

— Bom... Tenho minhas dúvidas, mas sinceramente acho que sim. Ele está irredutível, não quer nem conversar com Kevin. É o único caminho que o vejo tomando.

— Eu estou bem triste com ele. A gente mal se fala.

— Ele tem que aprender a lidar com as coisas que está sentindo, não deve estar sendo fácil para ele também. – ela me olhou. – O que?

— Você sempre tenta ver o lado das pessoas.

— O meu nome tem alguns significados, entre eles “o nobre, generoso”, acho que eu cumpro fielmente essas características.

— Você e o meu pai estão bem né? Vi os dois andando e sorrindo ontem.

— Sim, estamos. Por quê?

— São os dois homens mais importantes da minha vida, não os queria afastados.

— Os dois? E o Murilo?

— O Murilo não é um homem, ele é um garotinho. Perdido e confuso.

— Que só faz merda. – completei e nos olhamos sorrindo.

— Senti falta de conversar com você. – fiquei encarando aqueles olhos amarelos por tempo demais. Ela virou pra frente e abraçou as próprias pernas. – Acho melhor eu ir dormir.

— É, já está tarde. Vou te acompanhar até o seu dormitório.

— Não precisa. – ela se levantou rapidamente. – Não tenho boas lembranças de você me acompanhando. – fiquei em silêncio. – Boa noite.

— Boa noite. Alice... – ela me olhou antes de ir. – Eu sei que as coisas estão esquisitas, mas ainda estou por perto se precisar. – ela concordou gestualmente e se foi e ali eu vi que o mundo desabou. Era tão simples só evita-la, mas Kevin e Murilo nos juntaram e agora que eles se separaram parecia que a gente revivia a nossa separação na pele. E era horrível.

...

Estava atrás do Kevin, como fazia sempre nos últimos dias e não o encontrava até que achei. Não estava acreditando no que eu estava vendo. Rafael e ele sentados rindo muito. Já passava da meia noite e estavam apenas os dois. Vi Kevin acendendo alguma coisa e cheguei até eles.

— Tá apagando toda hora. – Fael falou olhando para ele. – É porque estava guardado há muito tempo.

— Que porra é essa? – perguntei olhando meu irmão. – Você agora fuma? Essa merda ainda? – ele me olhou e riu. Estava completamente chapado. Pelo menos ele não seria aquele escroto maldito. Mas estar fora de si também não era uma boa opção. Olhei para Rafael.

— Eu estava na minha e ele quis. Fuma você também para deixar de ser chato.

— Ele tá com ciúme de você. – Kevin falou e chegou mais perto dele para Fael acender de novo o cigarro.

— Acho que é de você. – ele disse e o olhou.

— Dá a minha tequila. – olhei assustadíssimo. – Tá com limão. – ele me contou e riu mais um pouco.

— Você não bebe e nem fuma Kevin, que isso?

— Hoje quem aqui habita não é o Kevin. – ele falou rindo.

— É o alter ego dele. Chama-se Kelvin. – os dois se olharam e riram.

— Kelson. - ele falou outro nome rindo mais ainda.

— Kennedy. – Fael estava quase chorando de rir. Aqueles dois retardados iriam ficar nisso a noite toda. – Caraca, eu te amo Kevin!

— Eu já não posso te dizer o mesmo. – e eles riram.

— Conhecia esse teu lado não cara, muito divertido.

— Eu tenho um sonho!

— Me pegar. – passei o olho de um para o outro.

— Ah, qual é eu não sonho tão baixo.

— Qual é o seu sonho? Transar no avião com o piloto?

— Eu disse sonho e não fantasia sexual. – ele respondeu depois de ficar quase cinco minutos rindo. – Conhecer aquela mulher da propaganda que fala com a voz escrota sabe? – pronto, eles ficaram uma eternidade rindo daquilo.

— Que porra de conversa é essa mane? – Fael perguntou enxugando as lágrimas de tanto rir. – Nunca tive uma onda dessas com ninguém. Pra que você quer conhecer ela?

— Ah sei lá, ela parece maneira. – Kevin respondeu com o cigarro na boca e o acendendo pela milésima vez.

— Você é estranho pra caralho Kevin Montez!

- Sou. – ele ficou sério. – Porra. – ele passou o cigarro rápido para o Rafael.

— Ele já viu. – falei sem entender. – Ele faz o que quer de você e você não pode sair da linha um dia?

— Não tente entender nossa relação, você seria incapaz. – ele olhou para Fael. – Já volto. – e foi até Caleb antes mesmo que ele chegasse perto da gente.

— Você consegue ouvir a conversa? - perguntei para o loiro.

— Claro que não.

— Vou ler os lábios deles. – aproveitei que eles estavam de lado. Rafael ficou me olhando. – O que foi? Eu quero saber.

— Tudo bem. Só não sabia que você era tão hábil.

— Hum... Por que o Kevin é tão inteligente eu sou um merda agora?

— Vai ter... – tampei a boca dele.

— Preciso me concentrar.

“O que eu te disse sobre não ficar com homens?”— Caleb perguntou vagarosamente não me dando muito trabalho. Seu corpo estava tenso e reto.

“Cadê? Não tô vendo.”— Kevin sempre debochado.

“Você não vai resistir àquele rosto másculo e eu vejo a curiosidade nos olhinhos azuis dele daqui.”

“Ele é amigo do Murilo. Você tá louco.”— olhei para Rafael involuntariamente.

— Você quer ficar com o meu irmão? – perguntei e ele me olhou assustado.

— Seu pai mexe com drogas pesadas.

— Não. Todas às vezes que eu duvidei dele eu estava errado. Você tá curioso não tá?

— Talvez eu esteja.

— Não faz isso com o Murilo. E o Kevin tá vulnerável.

— Até onde sei eles terminaram.

— Não era você que era preconceituoso caralho?

— Vai dizer que nunca teve curiosidade?

— Vou. E eu nunca tive. É igual droga, eu nunca quis experimentar.

— Mas acabou experimentando. Cala a boca Arthur, vai prestar atenção na conversa deles.

“Você está cheirando a maconha e álcool. Nunca aconteceu isso e você sabe o que vai acontecer amanhã né?”

“Sei. Você vai me mostrar que eu não devia ter feito isso e que eu devo lembrar-me de não fazer mais.”

“Sabe os drogados? É o auto controle que nos difere deles.”

“Você já me disse isso.”

“Então se controle, fique longe desse garoto e não use mais nada. Tá entendendo Kevin?”

“Estou.”

“Agilize as coisas. O Kemeron sabe que vamos sair daqui em breve.”

“Ok.”— ele veio em nossa direção e Caleb voltou para dentro do abrigo.

— O que você tem que agilizar que seu ex namorado tem a ver com isso? – perguntei assim que ele chegou. Rafael entregou o cigarro que estava apagado a ele e Kevin negou.

— Já basta ele Arthur. Me deixa em paz. – fiquei olhando pra ele. – Tem energético aí não tem? – Fael o entregou a latinha.

— Você vai ficar acordado a noite toda.

— Naturalmente eu já fico. – ele respondeu o loiro e depois me olhou. – Não sabia que você conseguia fazer leitura labial.

— Devo dizer que tem muitas coisas que você sabe fazer que também sei?

— Complexo de inferioridade é algo novo vindo de você.

— Não é? – Fael perguntou e riu. – Também fiquei chocado.

— Vocês são dois idiotas.

— É que ele estava acostumado a ser o fodão. Daí o pessoal começou a te dar atenção e notar suas qualidades, ele ficou de escanteio. - Kevin riu.

— Só você para tirar essa coisa ruim que meu pai me traz. – ele disse olhando para Rafael. – Ele quase me bateu por eu estar chapado. – ele contou e riu.

— É a sua primeira vez. Nem se seu pai fosse legal seria diferente. - percebi os olhares dos dois. Ainda bem que eu estava ali.

— Rafael quanto tempo você não transa? – perguntei e ele me olhou sem entender.

— Se eu tivesse legal poderia até fazer as contas... – ele respondeu rindo.

— Eu sei que tem muito tempo! E você precisa de uma mulher. Vem, vamos ver se tem alguma acordada por aí que te quer. – me levantei.

— Eu to de boa. Pareço desesperado?

— Sinto que você precisa transar com alguma mulher.

— Você tá se achando o informado sobre a minha vida sexual né?

— Tô não ue. Você se masturba? – os dois riram iguais loucos. – Vai ser melhor do que você fazer o que está pensando em fazer.

— Você realmente conseguiu ler tudo que nosso pai disse. – Kevin comentou e dessa vez sério.

— O que ele disse? – olhei para Fael.

— Foi fácil de ler, ele fala devagar.

— Acho que deve ser uma das características básicas dos psicopatas.

— Ninguém vai me contar o que ele falou?

— Você sabe muito bem. – encarei Rafael com um pouco de raiva.

— Ah, qual é Arthur, eu estava tirando com a sua cara. Você conhece alguém mais hétero que eu?

— Sim, o Murilo e olha com quem ele namorou.

— Ficou difícil se defender hein? – Kevin perguntou após ele ficar calado e depois deu uma risadinha. – Bom, vou indo. – ele se levantou. – Já que parece que eu sou um grande risco para os héteros.

— Como é ser gay Kevin? – olhei totalmente desacreditado para Rafael.

— É como ser você só que eu olho para os caras e você não.

— Mas você sempre foi assim? Ou é um processo?

— Não! Você não tá achando que é gay porque quer ficar com meu irmão né? – ele não respondeu, mas a expressão dele dizia que sim. Fechei meus olhos os pressionando com o indicador e o polegar. – Você tá adorando né? Tá se sentindo desejado, mas saiba que esse desejo é tudo carência.

— Você quer dizer então que ninguém pode sentir desejo por mim?

— Estou falando apenas desse caso. O Murilo te desejou. E é exatamente por ele que eu não vou deixar isso acontecer.

— Novidade: ele está pouco se fodendo. Boa noite irmãozinho. – vi Rafael se levantar. Eles conversaram por olhares, ótimo. – Não tente controlar tudo Arthur, algumas coisas não tem controle.

"Bebendo pra esquecer teu rosto
Fumando pra tirar teu gosto
Transando só por vaidade
Mas na verdade eu só que queria estar com você."