"Dizem que o tempo resolve tudo, a questão é: quanto tempo?"

Arthur Narrando

Assim que acordei fui atrás de Rafael, ele não escaparia do meu interrogatório.

— Como que foi? Vocês fizeram o que? Foi só beijo? Você gostou? Sentiu alguma coisa? Vão repetir? – ele ficou me olhando com a sobrancelha arqueada e depois deu um sorriso irônico.

— Tá curioso também? Assim... Ele é seu irmão... Só por parte de pai, mas é né?! Acho que não seria nada aceitável e nem legal.

— Jamais. Não estou curioso quanto a isso e se estivesse nunca ficaria com ele. Pra mim ele é um irmão total. Fala logo Rafael.

— Por que você quer saber de tantos detalhes? – não consegui responder. – É por causa do Murilo né?

— É. Eu sempre estive envolvido demais no relacionamento dos dois. E eu me sinto no dever de zelar pelo que resta.

— Só que não resta nada. É isso que você não entende. Kevin é solteiro e ele não deve satisfações a ninguém. Não sou eu que vou ficar te falando o que fizemos ou deixamos de fazer.

— Tem quatro dias que o namorado o largou. Existe muita chance de voltarem. Muita. Você não tem a mínima noção da história dos dois e de tudo que está envolvido.

— Parece que assim como eu o seu primo também não tem essa noção porque ele largou um cara que disse que não vai ficar com ninguém enquanto ele não ouvir dele que está tudo acabado. – meu coração acelerou e eu suspirei aliviado. – Já pode ir. – ele mandou de uma forma ríspida e grossa.

— Essa raiva toda é por que não ficaram? A culpa não é minha. – ele ficou me olhando. Por tempo demais. - O que foi Rafael?

— Mais uma vez você sendo um amigo de merda. Eu quero o seu irmão. Um CARA. Sabe o quanto a minha cabeça tá confusa? E invés de procurar saber como eu estou e me ajudar você só quer saber de preservar o namoro dele que nem existe. Relaxa que ele tá fazendo isso sozinho.

— Você não está magoado comigo. Você tá magoado com ele. – o olhei. – Rafael... Você tá gostando do meu irmão?

— Sentimental pra caralho você hein? Não Arthur. É só que... Queria ter alguém um dia que me respeitasse a esse ponto. Até eu não querer a pessoa e ela ainda não se envolver com ninguém.

— Você pode ter. Já te disse isso.

— Respeito e aquela pessoa são duas coisas que não combinam. – ele ficou mais nervoso ainda. Era incrível o quanto Alícia o desestabilizava.

— Se eu contar a ela que você quis ficar com Kevin qual você acha que vai ser a reação dela?

— Vai ficar meia hora falando que já esperava e que eu pego até a vó dela de noventa anos.

— Se ela reagir diferente você promete dar uma chance de pelo menos parar de odiá-la?

— Como ela reagiria? – nos olhamos e eu sorri.

— Ela vai ficar triste. Primeiro não vai acreditar, mas como sou eu que estarei contando, ela vai ver que é real e vai ficar quieta... E triste.

— Não sei não.

— Vamos lá até ela.

— E se eu estiver certo?

— Faço Kevin ficar com você.

— Vamos. – ele se levantou na hora.

— Por que você o quer tanto?

— Não sei, ele sabe usar o olhar dele. Ele sabe muito bem Arthur. Você pode ser o Thor de Torres, mas o seu irmão... É ele o verdadeiro deus que tem super poderes. E eu fiquei curioso sobre o martelo mágico dele.

— Não fala desse jeito, ele é o meu irmão.

— E é o cara que conseguiu me despertar esse interesse louco. Sempre o achei estranho, seria ele um feiticeiro que tem poder pelo olhar?

— Aí, acho melhor você vim comigo, a Alice tá em perigo. – Yuri disse ao chegar até a gente.

— Como assim em perigo? – perguntei bastante preocupado. Meu irmão não mentiria sobre algo tão sério.

— Só vem Arthur.

— Vou com vocês. – Yuri parou Rafael.

— Não leve a mal, mas é pessoal. – olhei meu irmão mais preocupado ainda.

— Vai logo. – o loiro me incentivou e eu sai quase correndo.

O que poderia ser? Kevin. Mas de alguma forma ele fez com que eu e Alice conseguíssemos enxergar como estávamos sendo idiotas. Eu muito mais que ela, confesso. Precisava agradecê-lo mesmo que seu gesto não tenha sido intencional.

— E aê. – cheguei e o peguei contando dinheiro na sala do nosso pai. – Você não trancou a porta. – ele levantou os olhos, me olhou e depois voltou a sua atenção ao dinheiro.

— O que você quer? – ele se levantou e guardou as notas em um armário de ferro e o trancou. – Se for me bater por ter dado em cima da sua namoradinha evita a costela por caridade.

— Por quê? – peguei em seu corpo e ele gemeu de dor. Levantei sua blusa e não vi marca alguma.

— Tira a mão de mim. – ele tirou meu braço com violência. – Já que não vai me bater então o que foi?

— Quem te bateu? E por que você não está com hematoma? Foi ele né? Por causa de ontem?

— Você realmente não sabe dar um soco sem deixar marcas? – ele franziu a testa como se fosse a coisa mais normal do mundo. – O que você quer Arthur?

— Queria te agradecer. O que você fez resultou em que finalmente Alice e eu conseguíssemos nos acertar. Você sabia disse e fez por querer não foi?

— Sua esperança é algo invejável. – ele se encostou à mesa e começou a mexer em seu celular.

— Sei que dentro de você ainda existe um Kevin bom.

— Eu o assassinei. Agora se você puder me deixar em paz, agradeço.

— Murilo me ligou hoje. – observei suas reações. Ele não parecia nada balançado. Ou era um ator nato. Mas se ele voltou mesmo a ser o que era antes não iria dar nunca para saber o que ele sentia ou pensava.

— Arthur vaza.

— Você sabe por que ele te evita? Por que ele não te atendeu e ignorou suas mensagens e te bloqueou depois? Ele não resistiria. Eu sei que ele quer voltar, mas tem algo muito forte que o prende. O demônio do nosso pai fez uma chantagem das piores. – ele levantou os olhos do seu celular e me olhou.

— Sai daqui. – vi que ele me agrediria se eu não saísse. Poderia ser algo bom.

— Não. Você não devia perdoa-lo assim. Ele tirou Murilo de você. – olhei em seus olhos. – Por que cedeu tão fácil?

— Um dia você vai entender. Agora sai daqui.

— Já sei que você não ficou com Rafael, quer ouvir do Murilo que ele não ter quer mais, então liga pra ele. Duvido que ele vai resistir a ouvir sua voz. – entreguei a ele meu celular.

— E quem garante que eu disse a verdade? - ele deu aquele sorrisinho que me matava de raiva.

— Você não queria Rafael! Nunca o quis! Era só uma distração. - fiquei mais irritado ainda. - De qualquer forma ligue pra ele.

— Se eu conheço o Murilo e eu conheço bem, ele desligaria. – ele parou de falar e ficou olhando para o telefone parecendo estar hipnotizado. Cheguei ao seu lado e vi que era uma foto do Murilo na tela.

— Ele te desbloqueou. Não precisou nem ligar.

— Veja. – ele mostrou que estava bloqueado para mandar mensagens.

— Mas ele desbloqueou em algo. Ele tá arrependido. Só não sabe como dizer isso. E com certeza está com medo de você ter regredido muito.

— Essas coisas acontecem quando você está perto. Eu odeio a sua presença. – o ódio em sua fala aumentou dez vezes mais.

— Pode me bater. Eu não ligo. Eu quero que você sinta alguma coisa. Nem que seja ódio por mim. Porque nem a porra da atração que você fingiu sentir por Rafael era real!

— Para de tentar Arthur. Nas últimas semanas foi só o que tem feito e não deu certo. Não vai dar. Vai lá, aproveita sua namorada. E toma cuidado, se ela for idiota igual ao irmão ela vai te largar fácil.

— Você foi sincero agora! – exclamei mostrando a minha surpresa.

— Não sou um monstro. Tenho emoções. Só decidi não demonstra-las mais. Agora quero que saiba de uma coisa... – o olhei com atenção. – Eu irei voltar para o meu ex namorado. Quero que deixe isso claro para seu primo. Não existe mais a possibilidade dele voltar atrás.

— Oi filhos. – o demônio chegou e sua voz fez meu estômago embrulhar. Nunca me dei bem com ele e não era atoa. Sabia da sua falta de caráter. Sai o ignorando como de costume, mas ele me parou. Fiquei o encarando com todo ódio que eu podia.

— Nunca quis que você me odiasse assim. Eu me abri com você, contei tudo. Exatamente tudo. Confiei em você. Eu te fiz semelhante a Kevin. E você não deu nenhum valor a isso. Invés de estar ao meu lado você o tirou de mim. Ele acha que eu sempre te preferi, mas a verdade é que ele é que é o meu preferido. Você é difícil demais, é um idiota movido por emoções, só me atrapalhou a minha vida toda. Kevin sou eu mais novo, ele é o cara mais frio que eu já vi, além de ser muito esperto e inteligente, Kevin ser emotivo seria um desperdício de potencial porque ele consegue mexer com a mente de qualquer pessoa. Não tente mudar isso Arthur. Não fique enchendo a cabeça dele com papinhos de emoções ou lições de moral, se não vou ter que começar a esquecer que você é meu filho.

— Você nunca soube o que é ter um filho! – sai antes que eu chorasse com aquelas palavras tão duras e horríveis.

"Ás vezes um minuto destrói vinte e três horas e cinquenta e nove minutos."