Amor Perfeito XIV - Versão Arthur
Cérebro aquece e o coração esfria
"Quanto mais séria fica a brincadeira mais eu me divirto"
Arthur Narrando
Procurei Kevin em todos os lugares e o vi sair de onde eu menos queria.
— O que estava fazendo? Você não disse que ele já arruinou sua vida e que pra você ele morreu? Vamos ignora-lo completamente agora. Esse não é o plano?
— Os planos mudaram. – ele me olhou por um tempo notando o quanto fiquei chocado com sua resposta e saiu andando.
— Não. – puxei seu braço. – Isso não vai acontecer! Essa merda toda não vai continuar. Isso é doentio. Eu fui uma vitima dele e sei o quanto ele mexe com a nossa cabeça. Você não é igual a ele, você tem escolha.
— Não sou uma alma que você precisa salvar. Cuide dos seus amiguinhos.
— Kevin! – tentei impedi-lo.
— Se continuar me enchendo o saco vou voltar a fazer da sua vida um inferno. Você tem duas amiguinhas e um amiguinho que precisam voltar bem para casa. – seu olhar era frio, carregado de um ódio incomum, que eu conhecia bem, mas que fazia tempo que eu não via.
— Amo Alice há três anos. Tentei esquecê-la tanto, com todas as minhas forças e nunca consegui. E quando ela sentiu algo por mim você simplesmente destruiu isso. Ainda assim fui capaz de te perdoar, de verdade e de coração. Por favor, Kevin, eu te peço, seja capaz agora de perdoar seu pai, Vinicius e principalmente Murilo. Ele te ama muito e vocês vão ficar juntos.
— Não acredito em conto de fadas. E eu e Murilo foi um erro. O destino provou isso. – o peguei pelo braço novamente.
— Não faz isso. – não tinha como não me emocionar. Nunca fomos próximos e agora eu iria perdê-lo. – Estou sendo egoísta, mas eu te quero pra mim como o meu irmão e não um inimigo de novo, te quero comigo.
— Se fosse preciso você escolher entre eu e Alice quem você escolheria? – o olhei confuso. Fiquei sem entender e sem saber o que responder. Ele arrancou o seu braço da minha mão. – Foi o que imaginei. É por isso que é melhor assim. – e ele se foi levando com ele a minha certeza de um dia tê-lo de volta.
Kevin Narrando
Estava na ponte meditando havia um bom tempo e notei quando alguém se sentou ao meu lado. Mas não me incomodei com isso. Pensei que era Arthur, mas senti o cheiro de Alice.
— Não sabia que meditava. – ela me olhou surpresa quando abri os olhos.
— Há muitas coisas sobre mim que você não sabe.
— Queria ser como você. – ela ficou ainda mais ereta e sorriu. – Você soube superar. Quer dizer... Talvez esteja sofrendo ainda, mas não é isso que demonstra.
— Deve ser tão ruim ser como vocês meros seres medíocres. – dei uma risadinha. – Nem tudo é o que demonstramos.
— Eu sei. – ela suspirou e se deitou. Deitei também. Não iria aproveitar da sua presença para testa-la de qualquer forma que fosse. Ali éramos apenas amigos e de uma forma ou de outra cunhados. – Como você consegue? – nos olhamos. Voltei a encarar o céu.
— Por incrível que pareça meu pai me ensinou a ser assim.
— Como?
— Conexão mente corpo, a mente controla o corpo, o corpo controla nossos inimigos. Nossos inimigos não controlam nada quando acabamos com eles. Tem que controlar seus sentimentos.
— Nossos inimigos?
— Sim. Pode ser um sentimento ou alguém. Ou alguma coisa. No caso do seu irmão, por exemplo, a ansiedade é o maior inimigo dele.
— Mas como a gente consegue controlar o que sentimos?
— Medite. Seja receptiva, aprenda, torna você mais forte, mais focada, até cura suas piores feridas, acredite.
— Se eu meditar eu vou conseguir esquecer o Arthur? – dei uma risada.
— Provavelmente não. Mas vai conseguir controlar suas reações diante desse sentimento que tem por ele.
— Mas se controla o que sentimos...
— O amor é único sentimento incapaz de ser controlado. Até o ódio é controlável com bastante prática.
— O que mais o seu pai te ensinou? Além de ter uma mente incrível.
— Nada que eu possa te dizer. Foram anos de práticas absurdas. – respirei fundo. – Não devia estar aqui tendo essa conversa contigo.
— Ele não deixa você dizer essas coisas?
— Não sou mais o Kevin do Murilo Alice. – desviei o olhar. – Estou voltando a ser o que eu era antes. Não precisa ter medo de mim. Só entenda que eu não consigo ser de outro jeito.
— Você não quer ser de outro jeito. – nos olhamos. – Não vou te julgar. Se doer menos assim, faça isso. Retroceda.
— Diz que não vai me julgar e em seguida afirma que vou retroceder. – ri.
— Sabe o quanto Murilo ficaria chateado se soubesse que você tá fazendo isso?
— Sei. Mas ele não está aqui. E ele não me quer mais. Tenho motivos suficientes para não levar o que ele sentiria em consideração.
— Não aceito que vocês dois se separem. – ela disse brava. Dei um sorriso.
— Alice vou repetir uma pergunta que o seu pai me fez, mas para o seu caso. Quem é o Arthur pra você?
— Ele é alguém que não consigo arrancar de mim. Mas eu quero. Já faz um tempo que eu quero. E tentei quando fiquei com você.
— Quer tentar de novo? – ela deu uma risada.
— Deixa de ser idiota, ridículo.
— Hoje é brincadeira. Mas só hoje. Se algum dia eu voltar a falar disso leve a sério. – ela franziu a testa e ficou me olhando.
— Independente de ter ido embora porque quis, de te ignorar e não te querer mais, Murilo não merece isso. Se você der em cima da irmã dele você nunca mais terá qualquer chance de tê-lo novamente.
— Estou bem ciente disso.
— Você o machucaria tanto assim? Acha mesmo que ele não está sentindo dor sem você?
— Acho. Ele não está. Ele está em outro País conhecendo pessoas novas e eu sinceramente me arrependo de ser tão idiota e ama-lo tanto.
— Kevin... – ela não tinha o que dizer. Dei uma risadinha amarga.
— Eu sou o mocinho nessa história Alice, não o vilão.
— Vocês se amam Kevin.
— Você e Arthur também.
— É... E você interferiu nisso. Assim como o seu pai interferiu entre vocês dois. Parece que aqui em Torres não se pode ser feliz.
— Sugere que a gente se mude? – a olhei sorrindo.
— Não seria má ideia. – ela ficou um tempo em silêncio. – Kevin.
— Oi. - a olhei.
— Você não tem esperança de que quando Murilo voltar vocês fiquem juntos?
— Tenho. – admiti totalmente vulnerável. – Acha que não enlouqueci ainda por quê? – nos olhamos.
— Está ao lado do seu pai para controla-lo quando isso acontecer?
— Não. Estou porque é preciso. Tirar Murilo de mim foi só o começo. Caleb é incisivo e sempre consegue o que quer. Ele me infernizaria se eu não voltasse a ser o filho de sempre.
— Tenho medo dele. E sinceramente não quero ter medo de você. – ela segurou minha mão e me olhou com carinho.
— Nunca vou me perdoar por ter feito aquilo tudo contigo. – vi que Arthur estava vindo, me aproximei mais de Alice. Nossas mãos ainda estavam juntas. Ele vinha rápido e ela tentou tirar a mão, mas não deixei. Ela me olhou assustada e ficou ainda mais ao encarar meus olhos, pude senti seu pavor. Meu olhar havia mudado totalmente.
— Procurei você pelo abrigo todo. – ele disse me olhando ao chegar.
— Achou. – sorri o provocando. – Que olhar dramático Arthur.
— Eu já estive do seu lado da história mais vezes que eu queria e eu admito, é uma merda. Mas não deixa que isso te controle. Eu te disse que passaríamos por isso juntos. E vamos.
— Não, não vamos. – me levantei. – É sempre um prazer estar ao seu lado Alice. – pisquei para ela e sai andando. Esperava que isso servisse para os dois idiotas irem se aproximando pelo menos.
"Rindo de quem acha que entende."
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