Mais um dia. Desta vez tinha tudo para correr bem. Eu não ia desistir do meu sonho.

- Break… bom dia, acorda… - disse eu com voz baixa, porque sabia que ele estava muito cansado e não queria que ele reagisse mal. – Amor… Estou à tua espera. – Nada. Mas ele estava a mexer-se muito. Estaria a sonhar?

Enquanto indagava fui até à cozinha, e preparei o nosso pequeno-almoço, um chá bem quente e umas fatias de bolo para o Break e torradas e café para mim. Fiz tudo rapidamente e debaixo da chávena do Break coloquei um bilhete a dizer “Não me vou separar de ti, aconteça o que acontecer.”, e dirigi-me para o nosso quarto. Assustei-me porque ouvi de longe a voz do Break. Estava a gritar… Preocupada, pus o tabuleiro com a comida na pequena mesa perto do espelho. Olhei para o corpo dele, estava estranho, com movimentos muito irregulares. O que eu não entendia era o significado daquelas palavras: “deixa-me”, “eu podia…”. Estava a ficar um pouquinho tarde para o que tínhamos de fazer, e então decidi que tinha mesmo de acordá-lo.

- Querido Break… - comecei, pegando na mão direita dele – anda, está a ficar tarde. Break, vá lá, acorda!! – tive de fazer um forte gesto no peito para que finalmente ele acordasse.

- Bom dia, querida… Que horas são? Tens aí alguma comidinha?

- Então amor, é tardíssimo!!! Já não podemos ir tratar do jardim. Haha, sim tenho aqui a tua comida Break, toma. Vou à casa de banho. Bebe o chá todo! – disse, para garantir que ele leria a minha mensagem.

Continuava a pensar naquela situação. Será que o Break estava bem? Namorávamos há pouquíssimo tempo, mas eu faria tudo por ele e já o tinha escolhido como sendo meu futuro companheiro de vida, ou marido. Eu tinha de ajudá-lo!

- Oh, não era preciso tanta coisa, querida… Adorei a tua mensagem, mas às vezes não sei se eu conseguirei também dizer-te estas palavras. Não importa, vem cá. Vamos ao parque? – disse Break, com uma expressão muito sensível. Sentei-me ao lado dele na cama, ele tentou pentear-me o cabelo e a seguir roubou-me um beijo.

- Break, és mesmo maroto! Ainda agora acordaste, come… Eu ajudo-te, vá… - e assim foi, pus o chá como ele gostava e dei-lhe uma fatia de bolo, que ele quis partilhar comigo. – Não sou como tu, não tenho assim tanta fome, mas vá anda, come tudo, assim podemos depois ir ao parque. Posso ir vestir-me? Já comi tudo, vês?

- Podias ir assim, amor. Eu sei que tu gostas destas coisinhas, não o negues.

- Sim Break, é verdade! Venho já!

Escolhi uma roupa simples, um vestido branco com rendas de flores azuis claras, até aos joelhos. Escolhi umas sandálias brancas lisas muito especiais, ele tinha-me oferecido aquele par na semana anterior. Pus um perfume exótico e escolhi um colar também com flores. fui assim toda contente para o quarto. Para minha surpresa, Break estava na mesma.

- O que se passa, Break? Não te vestes?

- Estou sem forças…

- Anda, eu escolho-te o fato que podes levar, ok? Levanta-te e veste o que eu te der.

- Está bem amor. Podes ir.

- Estou na sala à tua espera, vou preparar umas coisinhas para comeres.

E lá fui eu, fiz umas sandes, tirei uns sumos da prateleira e pus doces e bolos numa caixa, separados para o Break. Estava ainda a pensar no que tinha ouvido… Eu tinha de o confrontar, e ia ser hoje!

- AMOOOOR! ANDA CÁ!!!! – chamou Break do quarto. Larguei tudo e corri ao encontro dele. – Não me escolheste nem sapatos nem cinto. Faz lá isso, por favor.

- Ok, desculpa… - suspirei, e escolhi uns sapatos castanhos muito bonitos que ele já não usava há algum tempo e um cinto também castanho.

- Podes pôr em mim essas coisas? – pediu, com um olhar de tal forma penetrante que fiquei toda vermelha.

- Claro, é para já! – ajoelhei-me e calcei os sapatos nos pés dele, que estavam muito frios; ao chegar à parte do cinto, ele pegou-me na mão e guiou-me nos movimentos. Fiquei petrificada quando ele me olhou, no momento de apertar a fivela. – Break… - supliquei, numa voz trémula, que ele logo silenciou ao me abraçar com carinho. – Faz tu isso, vá, eu não sou precisa. – quis desculpar-me, estando ainda muito envergonhada.

- É só um cinto, tem calma… Agarra a minha mão. – disse ele, e eu confiei. Acabei por não ajudar nada, nem conseguia olhar para as mãos dele. Desviei o olhar. – Porque estás assim? – perguntou Break, antes de dizer algo que mudaria tudo.

- Eu gosto muito de ti, tu sabes. Mas eu fico com vergonha destas intimidades…

- Mas não fiques. Só tu me completas, preenches o vazio que ainda sinto em mim. Nunca digas que não és precisa, eu preciso de ti para ter a coragem de continuar a viver. Se não fosses tu, ou aquele dia, eu já não estava vivo… Tu salvaste-me depois de eu ter feito aquilo de novo, quase sem razão. – afirmou ele, estando já a chorar.

- Break, vá lá, não penses nisso. Tudo se resolveu, não foi? – assegurei eu, tentando sorrir para ele. – Mas, meu amor, há coisas que eu ainda não entendo em ti… Há bocado estavas a sonhar, e disseste umas coisas muito estranhas. Eu queria saber.

- Esta noite foi horrível, a pior desde que estamos juntos… Lembrei-me de muitas coisas passadas. Por isso é que estou assim, sem forças. – lamentou-se, estando claramente afetado.

- Não fales assim! O presente é que importa! Anda comigo, vou limpar-te a cara. E depois vamos ao parque, vou animar-te!!! – disse eu, toda contente a pensar no passeio.

- Princesa, eu não sei se vou conseguir… ir até ao fim. Falamos depois, não te quero chatear com isto. – depois de dizer estas palavras, puxou-me para si, e, com a cara ainda com lágrimas, beijou-me como se não houvesse amanhã.

- Amor, tem calma. Eu estou aqui. – levei-o pela mão até à casa-de-banho. Eu não percebia o que se passava, este Break era diferente do Break de há alguns dias atrás, que era independente. Mas ainda não consegui saber nada… Peguei num lenço de papel e desviei a porção de cabelo que lhe tapava o olho esquerdo.

- Ugh… não quero… tu não gostas… - gemeu Break, voltando a produzir mais lágrimas.

- Não te preocupes, meu lindo. Deixa-me acabar. Eu não gosto de ti, eu AMO-TE! é verdade que ainda me faz impressão,mas não podes ir assim para o parque, não é? – sorri, beijando-lhe a bochecha esquerda, muito perto do olho.

- Amor… Tu não podes… - ele não se continha, e eu estava a ficar desesperada.

- Eu faço tudo por ti! Nunca duvides disso. E estou aqui para tratar de ti da maneira como tu mereces. Eu amo-te. Vou limpar, fica quietinho, vá.

Break acabou por sucumbir. Com o papel limpei-lhe primeiro a zona do olho que estava a chorar. Depois peguei-lhe na mão e sussurrei-lhe ao ouvido “Amo-te. Confia em mim.”, e com muito cuidado passei o lenço no olho esquerdo. Ele abraçou-me inesperadamente, e eu percebi porquê. Dei-lhe um beijo suave na boca. Acabei de lhe limpar a cara, as bochechas e a boca. Depois voltei a pôr o cabelo a tapar e dei-lhe um jeitinho.

- Break, vou acabar o nosso lanche, senão nunca mais vamos.

- Está bem. Eu fico bem. Obrigada por me aceitares.