Algum tempo depois, assim que a aula recomeçou, Alícia foi para sua sala e eu esperei os meninos voltarem. Mas, logo eu notei que havia algo errado, pois o tempo foi passando, a aula foi junto e quando vi, Mário e Daniel não retornaram para a sala. Fiquei bastante preocupado, será que eles pensaram que agora que tudo acabou entre eles e as meninas poderiam pegar geral? Não, acho que não pode ser isso, eles mudaram mesmo.

Assim que tocou o sinal de fim de aula, arrumei meu material e dos meninos também e saí da sala meio apressado da sala à procura dos dois. Olhei pelos corredores e nada, olhei no pátio, nada. Procurei também na cantina onde aconteceu aquilo e também não os vi.

–Eles devem estar se pegando com as meninas em algum lugar.- pensei, desejando que essa teoria fosse falsa.

Então fiquei ali, no meio daquela multidão, pensando comigo mesmo pra onde os meninos devem ter ido, até que escuto uma voz atrás de mim:

–Distraído Paulo?- disse a voz, me virei, era Alícia, que vinha da sua sala de aula.

–Ué, cadê as meninas?- perguntei ao ver que ela estava sozinha.

–Foram embora. Elas voltaram pra sala passando mal por causa da cena que viram e acabaram sendo liberadas mais cedo pelo professor.

–Ah tá. Bom, mas peço que me espere no estacionamento, porque o Mário e o Daniel não apareceram na aula depois do intervalo e eu quero procurar por eles.

–Vamos procurar juntos então.

–Tá, vamos.

Passamos uns dez minutos procurando por eles, até que percebi que só havia um lugar em que não procurei: o banheiro masculino.

–Espera aqui. Vou ver se eles estão lá dentro.- eu disse à Alícia e ela assentiu. Apesar de ser diferente das outras meninas, ela não arriscaria entrar dentro do banheiro masculino. E eu acertei, chegando dentro do banheiro, vi Mário apoiado na pia olhando pra baixo e aparentemente chorando.

–Mário. Tá tudo bem?- perguntei, me aproximando.

–O que você acha?- ele perguntou entre soluços, já não chorava mais.

–Cadê o Daniel?

–Dentro de uma dessas cabines aí.

Abri cabine por cabine, mas apenas uma delas estava trancada, o que significava que Daniel estava naquela mesmo. Depois de duas batidas na porta, enfim ele abriu a porta.

–O que veio fazer aqui?- perguntou ele.

–A princípio, entregar seus materiais, vocês esqueceram lá na sala.- respondi seco. - E também vim pra levar vocês pra casa.

–Por quê?- perguntou Mário.

–Porque se não forem, vão passar a noite na rua.

Aos poucos, eles foram se recompondo e foram comigo até a porta do banheiro amparados por mim, quando viram Alícia no corredor, ela amparou Mário e nós levamos eles até em casa.

–E as meninas?- perguntou Daniel, já dentro do carro.

–Estão em casa. Saíram mais cedo.- respondeu Alícia na hora que eu ia responder.

Chegando em casa, percebi que meu quarto estava em ordem, mas os quartos das meninas estavam trancados, mostrando que cada uma delas estava trancada no quarto, se derramando em lágrimas, aliviando a dor da traição. Para não atrapalhar, segui para o quarto com Alícia e deixei que os meninos se virassem lá pra se acertarem com elas, não queria ajudá-los daquela vez, porque da última vez que tentamos ajudar, Mário jogou um abajur em nós dois e quase nos acerta em cheio, não queria que isso acontecesse de novo.

Maria Joaquina narrando

Depois que finalmente conseguimos parar de chorar, Marcelina e eu estávamos tão mal que parecia que íamos morrer de desidratação de tantas lágrimas que derrubamos. Assim que paramos, fui levá-la pra sala, já que o sinal do fim do recreio tinha tocado e quando passei pelo espelho, vi que estávamos péssimas. Olhos vermelhos, rosto super inchado, maquiagem borrada, parecíamos duas zumbis. Rapidamente ajudei Marcelina a lavar o rosto, porque ela não parava de chorar e eu tive que jogar água no rosto dela sozinha, depois joguei em mim. Quando estava razoavelmente melhor, saímos de lá.

Quando chegamos na sala, a professora ao ver nosso estado, ou melhor, o estado da Marcelina, que ainda estava muito ruim, veio até nós:

–O que aconteceu?- perguntou ela.

–Fomos traídas.- eu respondi rapidamente pra sair dali.

Ela consolou a Marcelina pegando em suas mãos e liberou a gente pra sair mais cedo. Então, peguei minhas coisas e as dela, arrastei ela até o estacionamento e a levei pra casa. Eu não estava em condições de dirigir, mas não queria que mais ninguém soubesse o que estava acontecendo. Assim que cheguei em casa, Marcelina foi direto para o quarto que ela dividia com Mário e eu fui pro quarto que divido com Daniel. Eu já não chorava mais, mas a imagem do beijo do Daniel com a garota desconhecida insistia em aparecer na minha mente.

Como não conseguia mais chorar, simplesmente fiquei sentada na cama bolando em minha cabeça umas palavras que queria dizer à Daniel assim que ele chegasse em casa. Mas será que eu vou conseguir falar? Apesar do que aconteceu, eu ainda o amo, não vai ser fácil falar isso pra ele, ainda mais porque eu nunca disse isso à ninguém. Ou será que eu deveria escutá-lo? Não sei direito, está tudo tão confuso. Mas tenho certeza que quando chegar a hora, vou saber o que fazer.

Daniel narrando

Eu estava completamente sem chão. Nem mesmo eu havia acreditado que tinha feito aquilo. Meu deus, como eu fui ter uma recaída? Como eu não pude me segurar? Depois de tanto tempo sem pegar nenhuma garota acabou acontecendo isso. Mas será que isso é normal com homens que deixam de ser pegadores? Não importa agora, depois que eu ouvi o grito de Maria Joaquina após ser flagrado por ela, a primeira coisa que fiz foi empurrar a Maíra pra longe e foi correndo atrás de Maria Joaquina enquanto Mário, junto comigo, ia atrás de Marcelina, mas quando eu percebi que ela e Marcelina entraram no banheiro, não me atrevi a entrar lá, só o que fiz foi cair em prantos. Chorei muito, tanto de arrependimento quanto de tristeza, porque na certa, Maria Joaquina jamais me perdoaria. Entrei então banheiro masculino e Mário também. Me escondi dentro de uma das cabines e chorei muito enquanto Mário ficou chorando do lado de fora. Só voltei à realidade quando escutei uma voz entrar lá:

–Mário. Tá tudo bem?- era Paulo.

–O que você acha?- Mário falou irônico, entre soluços.

–Cadê o Daniel?

–Dentro de uma dessas cabines aí.

Nessa hora, tentei permanecer quieto pra não ser descoberto, encolhi meus pés para não deixá-los aparecer debaixo da porta, mas me surpreendi quando vi Paulo aparecer por cima da cabine de onde eu estava e ainda destrancou a porta.

–O que veio fazer aqui?- perguntei seco.

–A princípio, entregar seus materiais, vocês esqueceram lá na sala.- ele respondeu também seco. - E também vim pra levar vocês pra casa.

–Por quê?- perguntou Mário.

–Porque se não forem, vão passar a noite na rua.

Aos poucos, conseguir me acalmar assim como Mário também, mas ainda estávamos mal e tivemos que ir amparados pelo Paulo até a saída do banheiro, mas quando chegamos na saída, Alícia amparou Mário. E fomos andando assim até o estacionamento, já que o sinal de fim de aula havia acabado.

–E as meninas?- perguntou Daniel, já dentro do carro.

–Estão em casa. Saíram mais cedo.- respondeu Alícia.

Chegando em casa, vimos que as meninas estavam cada uma em seu quarto. Marcelina estava no quarto que dividia com Mário e Maria Joaquina no quarto que dividia comigo, mas o difícil mesmo foi entrar no quarto, que sem dúvida estava trancado.

–Agora é com vocês.- disse Paulo, indo com Alícia para o quarto deles.

Dei duas batidas na porta primeiro.

–Maria Joaquina. Sou eu, vamos conversar.- eu disse.

–Vai embora!- a voz dela saiu meio abafada pela porta, mas deu pra ouvir claramente.

Continuei insistindo, mas ela não abriu. Já estava ficando desesperado quando lembrei que tinha a chave reserva, sorte que a minha estava no bolso da calça, porque com certeza, se tivesse no porta-chave, Maria Joaquina teria pego só pra eu não poder abrir a porta.

Então, com a chave reserva, destranquei a porta e a abri, mas tranquei de novo só pra que ela não fugisse. Quando Maria Joaquina percebeu que eu havia entrado, pegou a almofada e colocou nos ouvidos para não me escutar.

–Agora você vai me escutar.- eu disse, tirando a almofada dos ouvidos dela.

–Não quero ouvir nada! Como você tem coragem de vir aqui falar comigo depois do que fez?- ela perguntou gritando.

–Eu sei que foi errado amor, mas não fui eu que comecei aquilo.

–Não interessa, você cedeu, eu vi muito bem quando você agarrou a menina pela cintura com bastante vontade!!- ela gritou, descontrolada.

–Mas naquele dia no parque você também fez a mesma coisa com aqueles dois estranhos né? Você e Marcelina beijaram dois rapazes.- eu ainda falava normalmente.

–FOI DIFERENTE!! Ele que me agarrou e me beijou à força e você viu na hora, só que eu reagi e o empurrei!! Você não, agarrou ela.

–Eu sei Maria Joaquina. E é por isso que estou aqui, pra te pedir perdão. Eu tive uma recaída, todo mundo tem, mas não vai acontecer de novo.

–Ah não vai mesmo, porque tudo que passamos acaba aqui!!

Ela já ia em direção à porta, mas segurei seu braço.

–Você não pode fazer isso comigo!!- dessa vez eu gritei.

–POSSO SIM, POSSO E VOU, ME LARGA!!- ela berrou de volta.

–De jeito nenhum.

Então, ao ver que eu realmente não a soltaria, ela levantou o braço que estava livre para me dar um tapa, mas eu segurei ele também.

–ME SOLTA!!- ela gritou, se debatendo e tentando se soltar, mas eu não soltei.

Foi então que aproveitei para lhe dar um beijo à força. Sei que é errado, mas tive que fazer aquilo. No começo ela até tentou resistir, fez uma força pra me afastar, mas eu sendo mais forte consegui sustentar o beijo e pouco depois ela parou de fazer força. Foi quando comecei a soltá-la levemente e então ela aprofundou mais o beijo agarrando meu pescoço. Fiquei feliz por ela ter correspondido, mas ao mesmo tempo também fiquei bem impressionado em como as coisas são. Em um segundo estamos de bem e depois passamos por uma situação ruim, mas volta e meia já estamos de bem novamente. É uma coisa tão inacreditável que não dá nem pra explicar, mas preferi nem pensar nisso, apenas aproveitei o beijo. Quando paramos pra recuperar o fôlego, eu a abracei e ela apenas ficou parada, mas não me importei, só queria que ela visse o quanto eu a amava e estava arrependido pela pulada de cerca.