Amor

Capítulo 18


Três dias depois

Assunto: Kag?

Kag? (Não estou esperando uma resposta para essa pergunta. Quero apenas lhe comunicar que me faço essa pergunta sessenta segundos por minuto.)

Dois dias depois

Sem assunto

Talvez você me despreze por cada palavra que já escrevi para você. Talvez você me odeie por cada letra que eu ainda lhe mande agora. Mas não posso fazer diferente. Como você está, Kag? Eu gostaria tanto de estar por perto quando você precisasse. Eu gostaria muito de fazer algo significativo para você. Gostaria muito de saber o que você pensa e como se sente. Gostaria tanto de pensar e sentir com você. Gostaria de lhe tirar a metade de tudo isso, por ser tão desagradável.

Dois dias depois

Sem assunto

Será que eu não devo mais lhe escrever?

Um dia depois

Sem assunto

O que isso quer dizer, Kag? Quer dizer que:

— Você mesma não sabe se quer que eu lhe escreva.

— Para você tanto faz se eu escrevo ou não.

— Você definitivamente não quer que eu escreva.

— Você não lê mais meus e-mails.

Três dias depois

Assunto: O vento do norte

Ok, Kag, já entendi, não vou mais lhe escrever. Caso (...) o vento do norte (...) então você sabe (...) sempre. Sempre, sempre, sempre, sempre, sempre! Com todo o carinho, de seu Inuyasha.

Cinco horas depois

Re: Oi, Inuyasha, você já está dormindo?

Três minutos depois

Fw: KAG!!! OBRIGADO!!! Como você está? Por favor me diga! Eu não penso em outra coisa. Eu tinha de terminar o relatório de uma pesquisa, estou sentado há horas diante da tela, olhando para o símbolo da cartinha e esperando um milagre com quatro letras. E ele aconteceu. Eu mal posso acreditar. KAG. Você está aí de novo!

30 segundos depois

Re: Posso ir até aí?

Um minuto depois

Fw: Como, Kag? Será que eu li errado? Você quer vir até aqui? Aqui em casa? Na cobertura 15? Por quê? Quando?

20 segundos depois

Re: Agora.

50 segundos depois

Fw: Querida Kag, isso é sério? Você está passando mal? Você quer falar alguma coisa? Claro que você pode vir. Mas agora são 2h da madrugada. Não seria melhor se a gente se encontrasse amanhã? Aí teríamos mais tempo e a cabeça mais fria. (Eu ao menos.)

20 segundos depois

Re: Posso ir, sim ou não?

Um minuto depois

Fw: Embora soe ameaçador, sim, claro, Kag, você pode vir!

30 segundos depois

Re: Você tem uísque ou eu tenho de levar um?

40 segundos depois

Fw: Eu tenho uísque. Tenho mais da metade da garrafa. É suficiente para você? Kag, você pode por um acaso me dizer como está seu humor? Apenas para que eu possa me preparar.

20 segundos depois

Re: Você vai saber bem rapidinho. Até já!

40 segundos depois

Fw: Até já!

Na noite seguinte

Assunto: Anticlímax

Querida Kag, eu não acho que você esteja melhor hoje, nem melhor do que ontem nem melhor do que eu. Não se diminui a própria mágoa distribuindo-a obsessivamente com cada possível causador. Quem paga na mesma moeda depois acaba ficando mais pobre. Sua entrada tempestuosa, a negação de sua timidez, de sua ansiedade, sua “ânsia eletrizante”, o seu desejo avassalador ao qual – você sabia muito bem – eu não queria nem podia resistir, seu plano perfeitamente elaborado, seu morde e assopra, como se a intimidade fosse a coisa mais sem valor do mundo, seu afastamento calculado, seu desaparecimento profissional – tudo isso não se tratou de medidas retaliativas, foi unicamente um ato de desespero. Seu olhar depois deveria dizer: “Foi isso então que você queria desde o começo. E que você obteve aqui.” Não, eu não queria isso, e você sabe disso! Nós nunca estivemos ao mesmo tempo tão longe e tão perto. Esse foi nosso anticlímax. Kag, você não consegue me enganar. Você não é a mulher soberana, poderosa, fria, que consegue transformar feridas em vitórias dessa maneira. Você realmente me puniu apenas com seu silêncio. O que até hoje havia nos unido e ligado foram – palavras. Kag, se algo em você ainda se liga a mim, então fale comigo! Inuyasha.

Três horas depois

Re: Você quer palavras? Ok, eu ainda tenho a boca cheia delas, e eu as mando para você, com elas já não posso fazer mais nada. Você tem razão, Inuyasha. Eu queria provar isso para o Kouga. Queria provar isso para você. Queria provar para mim. Agora eu sei: sou capaz de trair. Mais ainda: sou capaz de trair o Kouga. Mais ainda: posso trair o Kouga com VOCÊ. Mais ainda: o melhor disso tudo é que posso trair a mim mesma simultaneamente, sim, o melhor de tudo. A propósito, obrigada por ter “colaborado”. Eu sei, Inuyasha, que não foi um descontrole de sua parte, mas compaixão. Você havia me oferecido ficar com metade de meus sentimentos. Ontem de madrugada você deu conta dessa tarefa com bravura, dada a situação tensa. Cama dividida – metade de uma cama. Mágoa dividida – mágoa dupla. Você tem razão, Inuyasha. Eu não estou melhor hoje. Estou bem pior do que antes.

Inuyasha, você não pode imaginar o que “vocês” fizeram comigo. Eu me sinto atraiçoada e vendida. Meu marido e meu amante virtual, eles firmaram um pacto nas minhas costas: se um quiser me sentir em carne e osso, então o outro excepcionalmente faz vista grossa. Se um sumir para sempre, o outro pode me ter para sempre. Um me devolve como um achado a meu marido, o legítimo proprietário. O outro me concede por isso o “encontro palpável” – uma aventura sexual com uma (de outra maneira) figura virtual de uma fantasia amorosa, quase como recompensa. Partilha correta, divisão perfeita, plano pérfido. E a débil Kag, na mesma medida submissa à família e tomada pelo espírito da aventura, não vai nunca ouvir sequer uma palavra disso tudo. Pois é.

Inuyasha, eu ainda não consigo avaliar o que isso significa para mim e Kouga hard. Você provavelmente também não vai ficar sabendo. O que isso significa para “nós”? Isso eu posso lhe dizer já. E para você, que como nenhuma outra pessoa deveria ser capaz de ler o que se passa dentro de mim, para você não deve ter restado nenhuma dúvida, não é? Inuyasha, não seja ingênuo. Não existe nenhum “milagre com quatro letras”. Existe apenas um resultado lógico, composto de três letras. Nós já estremecemos tanto diante dele. Tantas vezes nós o adiamos tanto, trapaceamos e fugimos dele. Agora ele nos pegou, e cabe a mim anunciá-lo: FIM.