Amarras

Capítulo 9 - Emoções e Reações


A madeira era com certeza da espécie mais cara. Era entalhado cuidadosamente e cuidado em cada detalhe para ser excessivamente luxuoso. Care passou a mão pela lateral, observando os detalhes: o verniz escuro, os arabescos discretos que o adornavam, as dobradiças e detalhes em ouro...

Era tão caro e bonito.

Mas não deixava de ser um caixão.

— Você bem que podia parar com essa besteira e levantar daí. — Brincou ela, apesar de não estar bem humorada — Já passou por coisas piores que eu sei. Estive aqui dentro, lembra-se? — perguntou, batendo levemente com o indicador em sua têmpora. — Se você ficar nessa de dar uma de princesa Aurora eu vou acabar ficando entediada. — Nenhuma resposta. Nenhum movimento. Nem se quer um mexer de pálpebra — Vamos lá... Para de frescura. Daqui a pouco Hope vai chegar... Ela gosta tanto de você. E eu também. — Riu um pouco antes de continuar — Ainda bem que você não pode me ouvir falando isso, caso contrário usaria essa informação contra mim.

Era realmente uma visão atípica: Klaus Mikaelson deitado em um caixão, impossibilitado. Morto.

Quer dizer, essa última característica Caroline custava a acreditar. Não podia estar morto, do tipo morto de verdade, podia?

Alguns instantes depois Elijah adentrava o local. Ele passou por Caroline sem cumprimentos indo direto ao caixão ver o irmão. Parecia deveras transtornado.

— Quantas horas fazem que está assim? — perguntou sucinto.

— Aproximadamente doze horas e vinte minutos. — Respondeu ela de pronto.

— Você o trouxe para cá?

— Sim, mas precisei chamar por ajuda. Freya também estava inconsciente então fiquei com medo de deixar lá um ou outro. Chamei alguns vampiros de confiança dele.

— E Freya?

— Está no quarto. Ela está indo e vindo o tempo todo. Preferi dar um calmante da última vez em que ela acordou.

Elijah tocou as mãos do irmão, parecendo concentrado em achar algo que denotasse vida. Não parecia ter sucesso.

— Já cuidei do Arbres. O destruí. – Comentou ele, ainda olhando para Klaus.

— Ah sim, claro. Para falar a verdade esqueci completamente dele. Hope e Hayley vieram com você?

— Sim. Devem estar chegando. Me separei delas no aeroporto para procurar por Rebekah e Marcel. — Elijah se apoiou no caixão e respirou fundo — Ela deve estar completamente louca. Trair Niklaus outra vez?

— Dessa vez não foi premeditado. — Comentou Care, lembrando-se do que viu na mente de Klaus sobre a traição de Rebekah no passado. — Ela não queria que isso acontecesse.

— Ainda assim, é a traidora da profecia. Outra vez.

A citação da profecia deixou Caroline agitada. Aquilo estava mesmo se cumprindo?

Não demorou para que Hayley entrasse no cômodo acompanhada de Hope. A pequena ruiva foi, ainda que um pouco temerosa, ao caixão onde achou o pai.

Todos ficaram surpresos e até assustado com o modo silencioso dela de chorar. Chamando pelo pai diversas vezes, bem baixinho e com voz embargada, ela lamentava, quase como alguém já crescido. Era de se assustar o quanto ela era diferente.

— Ele está mesmo morto? — perguntou, dessa vez dirigindo-se a Caroline, que não se alongou em ir para junto da menina e respondê-la.

— Não vou mentir para você, amor, eu não sei ainda. Não sei como ele está ou quando irá acordar e se vai. — ela viu Hope se entristecer com a resposta, mas no mesmo minuto ergueu seu rosto para que ela se atentasse novamente a ela — Mas você quer saber de uma coisa? Houve um tempo em que seu pai era muito travesso e eu e meus amigos tentamos matar ele de todas as formas. E sabe o que aconteceu? Ele sobreviveu todas as vezes. T.O.D.A.S. Nada funcionava contra ele. Não vai ser agora que ele vai morrer, não é?

Hope assentiu, limpando os olhos e nariz com a manga do casaco rosa. A ponta de seu nariz estava vermelha e seus olhinhos ainda molhados, mas agora com um fio de esperança.

~~ ~~ ~~

— Está morto ou não?

A pergunta de Hayley ficou suspensa no ar e representava o pensamento de todos, assim que se percebeu que Freya havia concluído o feitiço.

A bruxa Mikaelson assim que despertou pôs-se a trabalhar em um feitiço para se comunicar com alguma parte do subconsciente de Niklaus, que, segundo ela, ainda estava por ali.

— Não está. Mas também não está vivo. — foi a resposta dela. Caroline abriu a boca para perguntar, mas ela estendeu a mão dando sinal de que iria explicar — Há uma parte do subconsciente dele ainda vivo, mas está tão longe que apenas magia alcança. Um vampiro, por exemplo, não conseguiria se comunicar. Ele me disse que pode ouvir e sentir tudo: quando falam com ele e quando o tocam, mas que não consegue mexer-se ou fazer coisa alguma. É como um estado de coma. Como se estivesse preso no próprio corpo.

— Pode ouvir é? — Caroline repetiu, engolindo em seco.

— Falou algo que não devia, Caroline? — inquiriu Hayley, cutucando-a.

— Eu? Por que eu?

— Não sei. Tá' aí com uma cara estranha.

Ignorando as duas, Freya continuou a informar sobre o estado do irmão:

— Ele está muito fraco. Muito mesmo. A prova disso é o quanto o subconsciente dele está longe. — ela parou um pouco lendo no rosto de todos a dúvida coletiva — Sei o que querem saber: quando ele irá acordar. A verdade é que não há como prever o quanto de tempo ele levará para recompor por si mesmo toda energia que lhe foi roubada. Pode durar dois meses, dez meses, dez anos ou uma centena de anos. Eu realmente não sei.

~~ ~~ ~~

O sol entrava pela janela fazendo-a ficar ainda mais desperta do que já estava. Não tinha dormido nada, de qualquer modo. Levantou-se e abriu de vez a cortina, ficando de mal humor assim que viu o quanto o dia estava bonito. Era como se estivesse tudo bem no mundo, mas não estava.

Ao aguçar a audição, ouviu a voz de Hope no quarto ao lado. Ela conversava baixinho, como que se contasse uma história secreta. Caroline sabia que ela estava com o pai.

Decidiu ir até lá. Era tão cedo... Ela não deveria estar ainda dormindo?

Ao entrar no quarto a encontrou encostada no caixão onde se encontrava o pai, ainda contando a tal história. Era algo sobre os indianos serem pessoas bem peculiares e com roupas excêntricas. Vez por outra, ela pegava a mão dele, como que para dar mais ênfase a uma ou outra parte da história.

— Hope? — chamou — Acordou cedo, querida.

— Ah, sim. Não consegui dormir muito.

Care sentou-se em uma poltrona não querendo se aproximar muito para não invadir o espaço da menina. Quando a viu calada e concentrada segurando a mão do pai, a loira perguntou:

— Você já consegue fazer o feitiço de sua tia para se comunicar?

— Na verdade não. Eu só consigo sentir as emoções ou reações dele. Quando está preocupado, irritado ou achando engraçado. É um pouco estranho, mas consigo sentir. — explica.

— E como ele se sente no momento?

— Está tranquilo. Ele sempre se sente assim quando você está. Acho que por que confia em você.

Care assentiu, sorrindo um pouco. Hope deu um beijo singelo na têmpora do híbrido e avisou a ele que estava indo. Ela passou por Caroline sorrindo e dando-lhe um tchau. Era uma menina deveras forte.

Ao ver a pequena sair, a loira aproximou-se do caixão.

— Eu estava pensando em ir embora. — começou — E se você pensar faz sentido pois, o meu problema já foi resolvido e o seu também, com as bruxas. Mas essa história de você ficar aí num sono profundo... Não tínhamos previsto isso. Eu acho que é hora de ir embora, mas eu realmente não quero... Na verdade, não consigo ir sem me despedir direito. Não sem te dizer adeus e ver você sorrir de uma forma irritantemente sarcástica. — Care sorriu um pouco, mas logo parou. — No fim das contas, eu realmente sou a mulher da profecia que vai te deixar.

~~ ~~ ~~

Ele parecia dormir, mas todos sabiam que era mais que isso. Já haviam se passado três dias e todas as tentativas de Freya de fazer Klaus levantar-se novamente haviam sido falhas.

Apesar de tudo, deitado (agora em uma cama) ele parecia transparecer tranquilidade. Quem o conhecia, porém, sabia que ele deveria estar louco preso ali, sem poder mexer-se ou fazer o que quer que seja.

Caroline entrou e colocou os braços do hibrido ao lado do corpo, tirando-os de cima do tórax, como antes estavam. Ela não gostava que o deixassem assim, pois dava uma ideia mentirosa de que se tratava de um corpo sem vida.

— Desculpa. Sei que você deve estar odiando ser carregado e tocado, mas fui eu que pedi que te tirassem do caixão e colocassem na cama. Fica melhor para Hope visitá-lo e eu sinceramente também estava achando aquele paletó de madeira bem mórbido. Como pode ver, ainda não fui embora. Você pode, por favor, acordar? É serio. Sem você aqui eu fico como uma intrusa nessa casa. Não pela Hope, é claro; Nós somos bem amigas. Mas os outros... Bem, não sou muito próxima deles, apesar de todos me tratarem bem. Além do mais...

Elijah entrou no quarto e parou á frente do batente quando viu a loira sentada ao lado do irmão meio morto. Ele ia dar meia volta, quando foi parado por Care:

— Não, Elijah. Pode ficar. Eu já estava indo mesmo.