Amarras

Capítulo 10 - Menos Cinzento.


Era bom o modo como o quarto dela nunca era mexido ou modificado. Era como se fosse dela, mas ao mesmo tempo não. De qualquer modo, aquela era a cama que lhe acomodava todos os finais de semana.

Como já era costumeiro, ninguém mais estranhava suas saídas e chegadas: sempre indo no domingo e voltando na sexta. Tinha se tornado uma viajante.

Naquela tarde de sexta no entanto, Caroline parecia mais cansada. O voo tinha sido péssimo, cheio de turbulências e ela ainda teve de aguentar as lamúrias de uma senhora até a aterrissagem. Certo que ela estava enjoada, mas ainda era uma situação irritadiça.

Já haviam se passado treze meses desde o fatídico dia em que Rebekah havia deixado Klaus sozinho no círculo. Exatamente um ano e um mês que ele não se movia, falava ou obliterava ninguém.

Neste meio tempo, por sentir falta das filhas e delas receber reclamações, Caroline alternava seus dias, o que resultava nos dias da semana em Mystic Falls e os finais de semana em New Orleans. Era cansativo viajar toda semana, mas ela não via outro jeito. Não queria ficar longe nem de cá nem de lá.

Com toda essa confusão Hope havia se aproximado muito mais dela. Elas passeavam todos os sábados e aos domingos Hope contava tudo que fizeram ao pai. Era admirável o modo como ela era conectada, mesmo estando ele naquelas condições.

Os outros continuavam na mesma: Freya tentava formas de fazer o irmão levantar-se, ainda que em vão; Elijah continuava ao lado dele como fiel escudeiro que era; Rebekah e Marcel estavam escondidos em alguma parte do mundo, fugindo de Cam, muito provavelmente. Nada havia definitivamente mudado. Até aquela tarde de sexta.

— Contatei uma pessoa e ela me disse que acha que pode ajudar Klaus. — foi o que Freya disse assim que Caroline chegou ao quarto onde Klaus permanecia deitado, como se o tempo não tivesse passado. Ela estava com Elijah e Hayley e parecia agitada.

— Quem é? E o que disse? — Hayley a instigou a falar.

— Uma bruxa, é claro. Ela mora na Somália, e eu ouvi por outras bruxas que ela já fez feitiços que retirava e recolocava magia em vampiros. Liara a conheceu e a viu fazer tais feitiços — Freya apontou para o outro lado da sala, onde estava uma moça que Caroline não havia percebido a presença antes. Ela tinha olhos verdes bem chamativos e um cabelo castanho escuro. A moça apenas concordou balançando a cabeça uma ou duas vezes — Ela me disse algo que poderia dar certo... Eu sei que sim...

— Freya, você falou isso nas últimas trinta e nove tentativas. — Falou Hayley em tom comedido, se aproximando devagar dela — Você está exausta, nada que tenta consegue fazer ele mexer se quer um dedo, e a cada vez que falha você se frustra tanto que chega a sentir dor física por consequência da aflição interna. Talvez, só talvez, o jeito seja apenas esperar, minha amiga. Dez, cinquenta, cem anos. Quem sabe? Mas você já fez tudo o que podia.

Antes que terminasse seu discurso, Hayley viu um vulto ruivo correndo a sua frente, e em um segundo jogar-se por cima do homem estirado à cama. Hope chorava, provavelmente por ter ouvido a conversa, e soluçando bem baixinho ela sussurrava para o pai o quanto estava triste por sua tia não poder trazê-lo de volta e o quanto sentia a falta dele. Em um dado momento, ela pegou-lhe a mão em silêncio, com certeza sentindo as reações dele.

— Hope, meu amor... Seu pai, ele...

— Eu ouvi o que disseram, mãe. Por favor, não falem mais essas coisas aqui. Ele está tão triste e perturbado... — Voltou a, silenciosamente, chorar — Acho que ele também acha que não irá acordar. Pelo menos não a tempo de me ver ainda viva.

Houve um silêncio no quarto. Ninguém ousava dizer uma palavra. O que quebrou o silêncio foi a despedida de Hope.

— Não tem problema, Papai. Vou ficar aqui junto com você. Até eu morrer.

Depois de beijá-lo no rosto ela saiu.

— Não devia ter dito essas coisas, Hayley. Se você não quer mais tentar, não devia tirar as esperanças de quem ainda tem. Além do mais...

Freya engatou uma discussão com Hayley, que acabou por fazer Elijah intrometer-se também. Em meio ao barulho, Caroline olhou para Klaus e percebeu o exato momento em que uma lágrima escorreu pelo canto de seu olho. Era por causa de Hope, ela sabia.

Discretamente e sem demora, ela encostou-se perto dele, e a secou rapidamente de sua face.

— Ninguém pode te ver chorar, certo? — murmurou.

Como previsto ele não pôde reagir, mas ela ficou perto, como se estivesse ouvindo a resposta. Como se tivesse vendo-o contornar a situação com um comentário irônico.

Do outro lado da sala, Liara prestava atenção. Não na discussão entre Freya, Hayley e Elijah, mas em Caroline e sua ligação com o híbrido. Era curioso e totalmente interessante.

~~ ~~ ~~

O que se ouviu primeiramente foi o estrondo; estavam todos reunidos conversando em uma sala do primeiro andar quando aconteceu. Elijah e Hayley correram para saber o que estava acontecendo e nenhum dos dois voltou.

Haviam se passado um dia e meio desde o dia em que Freya trouxera Liara e discutia com ela uma solução. Elas conversavam horas e horas, mas tudo que planejavam fazer demandava muito poder, coisa que não tinham. Era, como tudo no ano vigente, frustrante.

Ao ver que o barulho persistia, Caroline entregou Hope, que estava agarrada à suas pernas a Freya e decidiu descer para ajudar.

Percebeu que era um feitiço de bruxa assim que chegou: os objetos se movimentavam no ar com uma força estrondosa, batendo-se um no outro fazendo quebrar a maioria. Pouco depois elas apareceram: Não era muitas, mas com certeza passavam de duas dúzias. Hayley matou três delas antes que um feitiço lhe fosse lançado e ele caísse.

Care nem teve tempo de olhar para Elijah, pois uma bruxa de aparência velha e hostil, que se sustentava com uma bengala estranha, se dirigiu á escada. No segundo em que o nome “Hope” passou por sua mente, ela não hesitou em correr para impedi-la. No entanto, assim que se aproximou, a velha enfiou em seu peito a bengala de madeira, retirando-a logo em seguida.

No segundo em que Caroline caiu, ouviu um som como de um alarido e depois mais nada.

Sentiu que iria despertar algum tempo depois, mas estava ainda muito debilitada. Sabia que havia sido transportada para um outro lugar, pois sentia que estava deitada em algo aconchegante como um colchão. Antes, porém, de sua consciência ir embora novamente, conseguiu ouvir o que parecia ser as vozes de Hayley e Elijah.

— ....São loucas! O que podem querer nos atacando novamente? Mais de um ano sem aparecerem e quando o fazem é para atacar sem motivo aparente? Elas sabem que o Arbres foi destruído... Isso é muito estranho, Elijah.

— Não apenas isso, mas também a duração do ataque. — pelo tom baixo da voz, Elijah parecia pensativo. — Atacaram e foram embora em menos de vinte minutos. Qual seria o propósito disso? Nada foi levado, ninguém foi morto. É deveras estranho...

Em seus botões Caroline concordou. Foi a única coisa que sua mente conseguiu fazer antes de ser puxada para a escuridão mais uma vez.

~~ ~~ ~~

Quando Care chegou à casa Mikaelson no final de semana seguinte, as coisas estava agitadas.

Mais de duzentas bruxas se aglomeravam no salão principal da casa, e isso era apenas o número que ela deduziu de acordo com o que via.

Passou por entre aquelas mulheres, buscando o caminho da escada para subir. Haviam homens, mas eram, no entanto, minoria.

— O que tá’ acontecendo? — perguntou á primeira pessoa que encontrou no andar de cima, no caso, Hayley. — Tem umas duzentas bruxas lá embaixo...

— Na verdade, são 248. Elijah está negociando com elas.

— Negociando? Negociando o que?

— Elas estão sendo mortas, Caroline. Vinte e duas delas em apenas 3 semanas. Foi por esse motivo que nos atacaram. Acharam que éramos responsáveis. — Hayley se dirigiu à sacada para observar o andar de baixo, onde estava Elijah e as bruxas. No meio de tanta gente, Care não tinha percebido a presença do original quando entrou — Elas estão sendo mortas por alguém que quer tomar o poder da cidade. Instalar novamente a monarquia.

— E os lobos? Como estão reagindo a essa ideia?

— Do mesmo jeito que nós. Estão encabulados, mas esperando para ver o que acontece. Detestam a ideia de um desconhecido tomar o poder. O que se sabe é que quem quer que seja que está planejando isso, tem o apoio dos vampiros, que, muito provavelmente são quem está matando elas. Você sabe, eles são fáceis de convencer.

Caroline assentiu e calou-se afim de ouvir a conversa que se passava no andar de baixo.

— Nós precisamos de alguém que tome o poder e que esteja disposto a fazer um pacto de sangue com nossos termos. — falou uma bruxa loira. Aparentemente, ela tinha a confiança dos outros para falar por eles, porém não aparentava ter mais que 40 anos.

— Posso fazer isso. — Ofereceu-se, Elijah.

— Nós pensamos em você, mas infelizmente não bastará. Nós precisamos de alguém com uma fama que deixe os vampiros assustados. Que os façam ter medo de ficar contra. Com todo o respeito, você é respeitado e conhecido por sua força, mas não temido. Pelo menos não da forma que precisamos que temam.

— Quem sugerem então? E o que ganhamos ajudando a arrumar essa bagunça? Não está nos afetando em nada, se quer saber.

Antes de falar a mulher sorriu, mesmo com uma expressão preocupada, e olhou para uma companheira ao lado que assentiu.

— É aqui que entra o bônus de vocês. A nossa sugestão é que Klaus Mikaelson volte ao poder. — Elijah ensaiou uma fala, porém foi interrompido pela a bruxa loira que continuou — Sim, Klaus. Nós o despertamos, e vocês fazem um pacto de sangue conosco para que ele cumpra os termos.

— Klaus? — indagou Elijah, ainda surpreso — Como?

— Vou te explicar o que está acontecendo com ele. — a bruxa caminhou até chegar a um sofá e sentou-se, de pernas cruzadas — Foi tirado dele mais energia vital do que ele poderia, naturalmente repor. E não, não esperem. Ele não vai acordar em dois ou três anos se for esperar o processo natural. Talvez nem neste século. Porém, se um grupo de centenas de bruxas, fortes e dispostas, emanar energia para ele por horas a finco sem interrupção...

Houve um silêncio por um breve momento. Caroline, sem perceber, prendeu a respiração. Poderiam mesmo, depois de tantos meses, acordá-lo tão rápido? Tipo, hoje?

— Complete a barganha. — foi a resposta de Elijah, depois de algum tempo.

— Bem, nós podemos atestar que ele acordará. Por isso, para termos certeza de que ele cumprirá os termos, precisaremos fazer um feitiço, como um pacto de sangue, que nos dará poder sobre a vida da pessoa que o fizer. Caso o acordo não seja cumprido, esse alguém morrerá.

— E o que querem ?

— Nada demais. Apenas que ele subjugue os vampiros e divida a cidade ao meio. Metade para nós, metade para os vampiros e lobisomens. Nós já tentamos e sabemos que não há harmonia. Queremos viver em paz.

— Certo. Qual seria a duração desse pacto? A pessoa ficaria preso a ele para sempre?

— Boa pergunta, Elijah, — ela sorriu — mas não. Quando o acordo for cumprido, o pacto se desfará. No entanto, no caso de uma traição futura, ainda poderemos se utilizar da matéria do pacto contra tal pessoa com um feitiço diferente. Pode não matar, mas causará um dano irreversível. Uma vez disponibilizado, esse sangue nunca se perderá. Sobre a escolha da pessoa, a única exigência é que seja alguém que importe para Klaus. No caso, um Mikaelson, ou uma daquelas duas. — ao finalizar a fala, apontou para Caroline e Hayley, que ainda observavam da sacada.

Houve ainda meia hora de deliberações e conversas, mas no final, como previsto, o original aceitou, oferecendo seu próprio sangue para o pacto.

No outro dia, 248 bruxas rodeavam o leito de Klaus. Elas emanavam tanta magia que apenas bruxas conseguiram acompanhar o processo. Caroline, Hayley e Elijah mal conseguiam ficar no mesmo andar que o cômodo, pois a magia os faziam sentir tonturas ou até dor, caso se aproximassem demais.

Por consequência disso, Hope e Freya foram quem ficaram durante o processo: uma observando, procurando qualquer sinal de traição ou quebra de acordo, e a outra segurando a mão do pai, ansiosa pela hora em que ele acordaria.

Começou mexendo um ou outro dedo das mãos. Mais adiante, ele estava ficando mais claro, menos cinzento.

Por fim, depois de 26 longas horas, sem interrupções, Klaus Mikaelson abriu os olhos.