Amarras

Capítulo 2 - Profecia.


Um plano devia ser traçado com mapas, certo?

Caroline trabalhava em um mapa em cima de uma pequena, mas luxuosa mesa de madeira, tentando criar estratégias para capturar ou realmente matar Julian. Não estava sendo fácil: Ela nem se lembrava da última vez em que tinha matado um vampiro ou qualquer coisa “viva”.

— Como estão seus planos, de fato um fracasso ou quase isso?

A loira levantou seus olhos e deu de cara com Hayley, encostada no batente da porta, analisando tudo de longe.

— Acho que quase. Não sou uma estrategista de guerra. Não mesmo.

— Devia chamar o especialista. Ele adora traçar planos para aniquilar, obliterar, matar, trucidar ou torturar.

— Eu sei. — riu — Mas ele já está fazendo muito me deixando protegida aqui. Acho que isso automaticamente faz a parte do “obliterar” ser comigo.

— Entendo. Só acho que ele ia gostar de te ajudar.

Depois de dar um pequeno sorriso, Hayley saiu, deixando a hóspede pensativa a respeito do quanto as pessoas perdoavam a Niklaus. Hayley, Elijah, Rebekah... Ela poderia enumerar coisas ruins que Klaus fizera a eles, e ainda assim, os mesmos ainda queriam a felicidade dele. Queriam que ele ficasse bem. Aquele comentário de Hayley comprovava isso. O que teria Klaus, que apesar de errar tantas vezes, as pessoas ainda se sentiam impulsionadas a perdoá-lo?

Mais tarde, quando desceu para sair um pouco do quarto, Caroline ouviu uma coisa que com certeza não era de sua conta:

— Se elas espalharam esse boato com certeza estão querendo nos intimidar. Uma tolice é claro! Como se pudessem! — discursava Elijah.

— É como digo, meu irmão, o melhor é matar todas. Ou pelo menos muitas para que as outras recuem. Você sabe, em toda nossa existência, bruxas são os seres que mais nos enfrentam. — Klaus parecia raivoso e entusiasmado ao mesmo tempo. Como se a raiva se acalentasse com a possibilidade de vingança. Era, no fundo, meio doentio.

Caroline parou imediatamente onde estava. Queria ouvir mais daquela conversa e se quisesse fazer isso teria de parar de fazer barulho com seus passos. Mesmo que ela estivesse á dois cômodos do lugar de onde conversavam, qualquer som externo poderiam fazer com que aguçassem sua audição, assim como ela estava fazendo para ouvi-los.

— São só algumas bruxas. Talvez se falássemos com o regente, ele poderia resolver — argumentou Hayley — Não sei se é viável comprarmos uma briga sendo que aqui agora é também a casa de Hope.

Houve um silêncio depois disso. Caroline ficou levemente surpresa por conseguir presenciar um traço da mudança de personalidade de Klaus por causa da filha. O Klaus que ela conhecia, mandaria para o inferno todas as questões e partiria de imediato contra o inimigo que ameaçava. Já esse Klaus se calava ante a possibilidade de perturbar a segurança do lar de sua pequena. Aquilo podia passar despercebido para muitas pessoas, mas para Care, que conheceu suas duas faces, foi bem nítido.

Ouviu passos e teve um susto, achando que tinha sido pega bisbilhotando. Segundos depois, arrastando suas chinelas cor de rosa, Hope apareceu em seu campo de visão, trazendo com ela um grande nó de lã.

Ao ver Caroline, a garotinha parou, como que se estivesse se perguntando se poderia ficar, já que o cômodo estava ocupado.

— Você brinca aqui?

Hope confirmou, mas sem abrir a boca.

— Então estou invadindo seu espaço. — riu — O que você tem aí? Um nó, certo? — depois de ver a menina assentir novamente, continuou — Acho que sei para que você usa; para desatar com magia. Acertei?

Hope pareceu um pouco surpresa, mas ainda assim, assentiu.

— Minhas filhas também fazem isso, sabe. Elas são gemias, e são duas bruxinhas poderosas, como você. Você não quer me mostrar como faz?

A ruivinha não respondeu, porém foi até o tapete, sentou-se com as pernas cruzadas e depois de fechar os olhos, se concentrava em desatar o nó.

Com alguns poucos minutos de esforço, o nó foi desfeito, e Hope abriu um sorriso. O primeiro que ela oferecia a Caroline.

— Você é mesmo tão talentosa quanto dizem, Hope. Seus pais devem ter muito orgulho de você.

Depois de alguns minutos de silêncio em que ela remexia a lã, a menina pareceu tomar coragem de falar.

— Você já foi namorada do meu pai?

Caroline abriu a boca, mas não saiu nem um sim nem um não. Em vez disso, respondeu com outra pergunta:

— Quem te falou isso?

— Tia Bex.

— Ah, a Rebekah... — Calou-se. Então Hope insistiu:

— Sim ou não?

— Isso incomoda você? Tem ciúmes do seu pai? Ou é por que você quer vê-lo com sua mãe?

— Mamãe gosta do tio Elijah. — respondeu ela de modo tão simples que encantou a loira — Então você era namorada do meu pai. — afirmou dessa vez, categoricamente.

Caroline riu. Ela era insistente.

— Por que quer saber sobre isso, já que não tem ciúmes?

— Para saber, ué.

— Então não, seu pai e eu não éramos namorados.

— E o que eram então?

— Na verdade nem eu sei. — murmurou, mas depois se corrigiu e falou um pouco mais alto — Acho que éramos amigos.

— Acha?

— É... Mais ou menos isso.

— Então você não tem certeza. Acho que posso ajudar. Quando não tenho certeza das coisas, mamãe me faz perguntas até que eu consiga raciocinar a resposta definitiva. Você já beijou o meu pai? Acho que quando beijam são namorados e não amigos.

Caroline não sabia se ria ou se constrangia quando ouviu uma gargalhada vinda da porta. A pessoa provavelmente ouviu toda a conversa e se divertia com a perspicácia da menina.

— Minha princesa é um pouquinho curiosa.

Klaus se interessou na conversa assim que passou pelo corredor e percebeu que as vozes eram de Caroline e Hope. Quando entendeu o assunto, mais ainda se interessou, e ver a vampira embaraçada com as perguntas da garotinha estava sendo, no mínimo, cômico.

— Isso eu percebi. — riu — A conversa está boa, mas preciso voltar a planejar o assassinato de um cara mal.

Depois de fazer uma careta imitando o tal cara mal para Hope, a loira saiu, mesmo sabendo que tinha ficado na cara que aquilo era uma fuga.

Aproximadamente 15 minutos depois que chegou a seu quarto e já tinha voltado aos mapas, Klaus chegou e, sem pedir, sentou-se á mesa e pôs-se a analisar os mapas. Caroline parou e o encarou em questionamento, mas o híbrido não parecia dar atenção.

— Esta área que você delimitou é onde quer pegá-lo?— Indagou, passando o indicador sobre uma parte do papel.

Ela assentiu, ignorando por hora o quanto ele era intrometido.

— E como vai atraí-lo até lá?

— Era nisso que estava pensando antes de você entrar.

— E a que conclusão chegou?

— Acho que vou começar a aparecer nas ruas. Se ele está mesmo me caçando logo saberá que estou aqui. Então todos os dias vou até lá até que um dia ele me siga.

— Mas e se ele te seguir até aqui em vez de até lá? — Caroline ficou calada. Tinha pensado nisso, mas ainda não tinha uma solução para essa vertente — Não que eu tenha medo de um vampirinho metido, mas como você disse que não precisava de ajuda em batalha, então...

— E não preciso mesmo. Se ele me seguir até aqui, corro e ele virá atrás de mim. Simples.

— Não seria mais fácil se eu o matasse?

— Talvez. Mas não quero dever mais favores a você do que já devo. Nem sei como vai me cobrar esse.

Ele riu.

— Nós podemos discutir os termos e...

Um barulho, que com certeza vinha do portão principal, alertou os dois. Em menos de três segundos estavam lá, onde já se encontravam Elijah, Hayley e Rebekah, que observavam uma mulher escancarar o portão com uma força não humana. Ela caminhava até eles com os olhos vidrados, como se não fosse ela que os utilizasse.

— Acho que estão usando o feitiço da Dália para controlar e ver através dela. — afirmou Hayley.

Quando chegou de frente á eles, a mulher parou olhando á todos por um momento, antes de se pronunciar.

— Trouxe um recado das bruxas de Lumburgo. Queremos que devolvam nosso amuleto para que o ritual seja completo e que nossas anciãs sejam libertas do desespero.

— Para sua informação, bruxinha, eu transformei esse amuleto em cinzas há mais ou menos cem anos. Então pare de nos incomodar enquanto estamos em paz. — Klaus foi o único que respondeu. Os outros pareciam não entender do que se tratava.

— Nós sabemos disso, Niklaus Mikaelson. E é por isso que você agora é o amuleto. Você foi a última pessoa viva que esteve com ele e a última que viu as letras e símbolos gravados. Só podemos recriá-lo se soubermos a última combinação de letras gravadas, já que elas sempre se modificam. Não é difícil: você deve vir conosco, nos dar a informação e todos ficarão bem.

— Isso é uma ameaça? Seja você quem for, sabe que está se arriscando demais. — inquiriu Elijah.

— Nós sabemos. Mas há cem anos Klaus destruiu o amuleto e o ritual centenário teve de ser parado. Só podemos fazê-lo no intervalo de um século e vamos completá-lo agora em seu centenário. Há muitas coisas em jogo, Elijah. Não podemos nos dar ao luxo de temer quem quer seja.

— Pior pra’ vocês. Não lembro da última combinação que vi, então mesmo que quisesse, não poderia ajudar vocês. — Klaus sorriu de um jeito debochado antes de continuar — Juro que não poder ajudar me entristece muito.

— Não importa que não se lembre, a lembrança está aí. Você se acha muito esperto, Klaus. — a bruxa passou seus olhos em todos os presentes, mas principalmente nas mulheres — Então será você, seu irmão e suas três mulheres contra nós, não é isso?— riu, fazendo escárnio, mas segundos depois tornou à face séria, de um modo que até assustou — Escute bem. Dessas suas três mulheres, uma dará a vida por você, uma te deixará e a outra te trairá de um modo doloroso. Essa é a profecia das bruxas de Lumburgo para você, Klaus Mikaelson.

Caroline alternou seu olhar entre as duas mulheres presentes e viu que as mesmas faziam igual. Quem seria quem naquela profecia?

— Quanto ao amuleto estaremos te esperando. Quando quiser nos permitir recuperá-lo, queime um papel com a palavra “sim” e nós saberemos. Até lá, a casa Mikaelson não terá paz.

Dito isso, a mulher entrou em combustão instantânea, queimando até se tornar um monte de cinzas sobre o chão rústico do pátio.