Amarras

Capítulo 15 – Sacrifício falho.


— Estamos de luto, Klaus. Vamos deixar a vingança para mais tarde. — sussurrou no ouvido dele.

O cenário de silêncio permanecia enquanto todos observavam a loira cochichar no ouvido do hibrido. Quando ele olhou para todos novamente, apenas estendeu a mão, indicando que ela devia repetir o que lhe disse á todos que esperavam por uma orientação. Ele ergueu as sobrancelhas esperando que ela dissesse algo, e essa espera teve um clímax de tensão quando alguém do meio da multidão gritou em alto e bom som a palavra “Retaliação”.

— Eu agradeço que estejam dispostos a lutar por causa de nossa perca, mas vamos ter de esperar. A casa Mikaelson está de luto e um luto deve ser guardado com lamentações e não com derramamento de sangue. Nós retaliaremos e eliminaremos essa escoria que é capaz de se utilizar da vida de uma criança pelo poder, mas não agora. Espero que estejam prontos quando essa hora chegar.

Sem mais, do mesmo modo silencioso que chegou, ela saiu. Não se sentia ela mesma quando prometeu um derreamento de sangue, isso na verdade era coisa de Mikaelson.

Mas por um lado se sentia uma Mikaelson naquele momento e não era por ter parido um, mas sim pelo ódio que sentia. Queria o derramamento de sangue, mais que isso, ansiava por ele. Guardaria seu luto, e quando chegasse a hora, vingaria a morte de seu filho, seu menino. O menino ao qual decidiu chamar de Kael assim que viu seu rosto.

Nunca o chamaria pelo nome.

Não se sentiu mal por estar consumida pelo ódio como um Mikaelson. Seu Kael não viveria, não veria o mundo, não aprenderia, não sentiria, não seria alguém. Seu Kael era agora um monte de cinzas.

E era nisso que se transformariam os que tinham feito aquilo.

~~ ~~ ~~

— Acho que você deveria ficar com ela.

Klaus revirou os olhos engolindo de uma vez a dose de bebida de seu copo. Hayley por outro lado olhou-o com preocupação.

— Você acha que já não tentei?

— Já faz três dias, Klaus. Eu já tentei, Freya já tentou, até as crianças ela ignora. Voltou ao estado catatônico e se você não conseguir tirá-la disso então a esqueça, pois ninguém tirará. Isso se não ressecar, já que também não se alimenta.

— Você não entende. Eu já fui várias vezes lá, mas é inútil se eu não tenho o que dizer. E o que diria? Que o filho dela está em um lugar melhor quando foi assassinado provavelmente sentindo muita dor? Que esse mundo não o merecia? Ela o merecia, porra! Sem contar que se o pai não fosse eu ele estaria muito bem ao lado dela o que faz de mim culpado disso também.

Hayley o ouviu calada, aceitando a veracidade daquelas palavras. A verdade nem sempre é bonita e boa, às vezes é feia e brutal, mas não deixa de ser verdade. Quando terminou sua linha de raciocínio, concluiu então, antes de sair e deixá-lo com seus pensamentos:

— Então não diga nada. Apenas esteja lá.

~~ ~~ ~~

A porta fez um barulho irritante quando ele a abriu. Talvez já fizesse antes, mas nunca tinha percebido.

Care não se mexeu, nem ao ouvir a porta, nem quando ele se aproximou da cama. Estava acordada, ele sabia, mas mantinha-se deitada de lado, com os olhos e os punhos firmemente fechados.

Depois de cinco minutos observando-a, deu a volta na cama, deitando-se atrás dela devagar e deixando uma das mãos sobre sua cintura. A loira tampouco mexeu-se ou abriu os olhos, o que o fez suspirar pesadamente, mas ainda assim, continuou lá.

Demorou um pouco, mas em algum momento sentiu a mão pequena dela tomar a sua, puxando-a para que rodeasse seu corpo, fazendo-o ficar mais perto. Não esboçou reação no inicio por medo de inibi-la, então ficou por um tempo assim, apenas abraçando-a enquanto sentia sua mão ser fortemente segurada.

— Você precisa se alimentar. — murmurou depois de algum tempo. Klaus ergueu seu braço, deixando perto de seu queixo, deixando claro que o oferecia — Ou eu posso descer e pegar uma bolsa de sangue para você. Pode escolher. A opção “não se alimentar”, porém, não é uma escolha.

— Desculpa.

— Não entendi.

Caroline virou-se, deitando de frente para ele, encarando seus olhos claros diretamente, coisa que não fazia há muito tempo.

— O jeito que me alimentei de você aquele dia. Não foi gentil e eu sei que machucou. Me desculpe.

— Bem, eu gosto do cheiro do seu cabelo. — ele riu um pouco, ela porém permaneceu séria — E ele estava bem perto então não me importei muito.

— Causei dor. — insistiu.

Klaus sorriu e ia responder quando ela o interrompeu:

— Já sei. Vai falar que tem mil anos e já sentiu dores piores, mas não é assim que se tratam os aliados.

Em algum momento ele parou de sorrir e ficaram ambos calados, apenas observando um ao outro. A proximidade permitia que sentissem e ouvissem bem o som da respiração um do outro e por vários minutos a fio era a única coisa que se ouvia, até que Klaus sussurrou, quase de modo inaudível:

— Era exatamente o que eu ia falar. Exatamente.

Ela sorriu minimamente dessa vez e o viu pular da cama em direção à porta. Antes de sair, porém, ainda gracejou:

— Sobre meu sangue, disponha.

Se permitiu sentar quando ele saiu. Esperaria pelas bolsas de sangue, se alimentaria, sairia daquela inércia. Os que ficaram mereciam tê-la de volta.

~~ ~~ ~~

Depois de alimentada, Care desceu á sala e encontrou todos lá: Klaus, Elijah, Hayley e Freya. Se sentiu bem em ver que a bruxa Mikaelson parecia inteira, pois soubera que ela demorara a se recuperar. Não tinha sido fácil para ninguém.

— Não sei se atacar é viável, acho que deveríamos sondar primeiro. Saber o que nos espera. – ponderou Elijah. Estavam deliberando sobre atacar ou não e quando fazer isso, percebeu. Não pôde deixar de interromper:

— Não precisamos atacar. O sacrifício de Kael deu a elas muito poder, e se têm poder para matar um original, com certeza o farão. Mais de um até, se forem bem sucedidas. A presença de vocês em New Orleans às inibe, controla, estagna. Com certeza são quem elas irão querer se livrar primeiro para ter liberdade e tempo suficiente para seus rituais sem o perigo de serem brutalmente interrompidas, se é que me entendem.

— Na verdade, só podem matar apenas um e era sobre isso que eu queria falar quando chamei vocês aqui. — informou, Freya. — Quando tudo estava acabado eu às ouvi conversando quando saíam. Eu não estava nada bem, mas minha audição funcionava e ouvi claramente quando uma delas disse que o bebê viveu pouco demais, que o plano era que ele vivesse pelo menos algumas horas para que fosse uma fonte melhor. O poder que tiraram da vida de Kael é suficiente para matar apenas um original. E com certeza tentarão.

— Falando nesse tom me parece que você já tem um plano. — pronunciou-se Klaus.

— E tenho. Há um feitiço antigo que há muito não uso que pode nos servir para fazer o que Elijah sugeriu: sondar. Funciona quase como a projeção astral que você já me viu utilizar para estar na presença de alguém com que eu queira conversar. — explicou olhando para Klaus — Só que nessa versão do feitiço elas não poderão ver minha presença, em compensação eu também não terei visão, apenas audição.

— Do que precisa? — perguntou Elijah, já afastando da mesa tudo que havia sobre ela, deixando um espaço livre.

— Vou fazer uma lista. Se tudo der certo, ainda hoje saberemos qual é o trunfo que elas têm.

~~ ~~ ~~

— Mas Hope, Lizzie e eu planejávamos uma festa do pijama para hoje, mamãe.

— Eu sei, querida. Mas não será mais seguro aqui e vocês não precisam cancelar a festa apenas adiá-la. Hope vai com vocês e seu pai para Mystic Falls até tudo voltar á normalidade por aqui e vocês podem fazer isso lá.

Josie coçou a cabeça antes de, ainda relutante, concordar abraçando a mãe e voltando seu olhar a Hope que se despedia dos pais. Não fora fácil para ela: iria para um lugar estranho sem seu pai ou sua mãe, mas estar com as gêmeas de alguma maneira á confortava.

Quando elas se foram, todos se reuniram na sala á espera de Freya e de respostas.

— Colocaram o poder em uma adaga. — informou a bruxa assim que viu seus irmãos entrarem na sala com Hayley e Caroline.

— Que clichê. — reclamou Hayley.

— Pois é, mas não menospreze minha informação... Foram horas ouvindo conversas inúteis até chegar a ela. Enfim, isso não é tudo: como previ, só poderão usá-la uma vez, então, Elijah e Klaus, caso acertem vocês vai ser o fim de mil anos de bebida alcoólica. Assim que a estaca atingir o coração a magia vai ser dispersada e a partir daí vamos contar até dez até que morram. Não temos como vencer sem vocês, então terão que lutar mesmo com esse perigo já que elas virão atrás de nós, inevitavelmente. Precisam tomar cuidado.

— Ouviu algo sobre quando seria o ataque? — perguntou Klaus, inquieto.

— Não exatamente. Mas não vai demorar. Podem ser horas ou no máximo dias. Estão tratando o assunto como urgente.

— Ótimo. Elijah, convoque todos os vampiros e lobisomens que ainda estão do nosso lado. Quero todo mundo aqui dentro do complexo e ninguém vai sair até segunda ordem. — Elijah assentiu e saiu, com certeza para atender ao pedido do irmão — Estaremos esperando-as quando chegarem, seja qual for a hora em que virão.

De fato, foi a melhor escolha.

Era aproximadamente duas da manhã quando Care abandonou o álbum de fotos que olhava e correu para a janela ao ouvir um barulho. Era algo como ferros contra paredes e baques surdos do que parecia ser corpos caindo direto ao chão.

Correu por entre os corredores encontrando Freya, que se limitou a assentir e continuar, como que afirmando que sim, tinha chegado a hora.

Quando chegou á entrada a visão não era das melhores: corpos eram arremessados enquanto um grupo de aproximadamente 30 bruxos e bruxas avançavam. Care capturou o exato momento em que um vampiro fazia jorrar sangue da jugular de uma bruxa jovem. Sua vingança tinha começado afinal.

Encontrou Klaus no meio da batalha e decidiu ir até lá, já que conseguiu identificar Hayley ao lado de Elijah no canto esquerdo. Era estranho um original precisar de cobertura, mas com certeza precisavam. Nada podia dar errado ou algo bem ruim podia acontecer.

A loira já estava à poucos metros dele quando avistou, de longe, Liara se aproximar com uma adaga flutuando sobre suas mãos estendidas, enquanto ela, aparentemente, pronunciava palavras em tom baixo.

Naquele instante Care soube que não tinha mais que dez segundos, pois quando viu a estaca se mover pelo ar numa velocidade absurda em direção a Klaus, não havia outra opção se não testar a teoria na hora, sem testes prévios.

Passara toda a noite pensando no que Freya havia dito sobre a estaca ter capacidade de ser usada apenas uma vez, e deliberou com sigo mesma o que aconteceria se a estaca acertasse não apenas o alvo errado, mas também um local errado, um órgão não vital para vampiros, por exemplo. Antes que ela pudesse apresentar ao outros seu plano, no entanto, o ataque começou e lá estava ela, executando algo que não sabia se daria certo.

A quem estava querendo enganar? Não se arrependia de fazê-lo, mesmo sabendo que podia dar muito errado. Mesmo sabendo que podia cair morta, um segundo depois. Queria dizer que pensou em suas filhas, mas na verdade não teve tempo. Pensou na direção da estaca no coração de Klaus, e ponderou que, sendo eles de estaturas diferentes, talvez não lhe atingisse direto no coração, como seria de certo no híbrido.

Klaus só notou o que acontecia quando visualizou um vulto loiro à sua frente. Ele entendeu um pouco mais quando Caroline caiu totalmente inerte sobre ele, com uma adaga fincada nas costas.

É até irônico o quão falho pode ser um plano.