Amarras

Capítulo 13 – Mal presságio.


— Como Freya pode ter certeza de que ela está grávida se segundo Klaus ainda nem completou vinte e quatro horas desde a hora em que o conceberam?

— Magia, minha cara. Magia. — alguém respondeu.

O questionamento chegou aos ouvidos de Caroline em uma voz bem baixa e longínqua, mas que ela sabia ser de Hayley. Forçou seus olhos a abrirem encontrando a híbrida ao seu lado, lhe observando com um olhar preocupado. Quando balbuciou algo não inteligível, Hayley pareceu sentir a necessidade de acalmá-la.

— Fica calma. Você apagou depois da notícia, mas está tudo bem.

Notícia. Seu corpo retesou ao ouvir aquela palavra recordando-se a que se remetia. Era confuso, assustador, inesperado.

Percebeu que não estava mais no sofá da sala e sim em uma cama, em um dos quartos. Sentiu vontade de revirar os olhos: aquilo mal tinha começado e ela já estava sendo carregada para lá e para cá como uma inválida.

Viu um vulto passar e sair do quarto. Com certeza era a pessoa com quem Freya comentava sua inusitada situação. Quem era aquela pessoa? Não sabia. Seus olhos estavam ainda turvos demais. Tentou focar na morena ao seu lado para tentar entender a situação vigente.

— Klaus? — questionou, economizando ao máximo seu vocabulário para não se atrapalhar com as palavras e parecer uma drogada. Rezou para que Hayley entendesse que ela perguntava sobre seu paradeiro. A morena entendeu.

— Com certeza está como louco á procura das bruxas da cidade para saber quem fez isso. Você sabe, tem que ter sido uma bruxa. Ou com certeza muitas delas.

Care assentiu, sentindo pela primeira vez desde que recebeu a notícia o peso daquele acontecimento. Impulsionado por feitiços ou não, ela seria mãe novamente.

Tocou sua barriga por cima do tecido da blusa que vestia.

Um outro filho.

Um bebê com sangue Mikaelson.

Em quantas situações adversas ela se meteria pelo bem daquele pequeno ser? Muitas, tinha certeza.

— Quando caiu a ficha para mim também foi assustador. — comentou Hayley — Eu teria um bebê e ainda por cima um bebê que teria por família esse pessoal completamente doido. — as duas riam um pouco. Care achou engraçado como Hayley pensou exatamente o que ela pensava no momento — Mas sabe... Não foi o fim do mundo. Nunca é. A gente só precisa acreditar que de todos os lugares pode sair algo bom. Minha Hope me provou isso.

Caroline assentiu, respirando fundo. Tinha que pensar em um problema de cada vez ou enlouqueceria.

Dormiu outra vez e quando acordou encontrou Klaus sentado na beirada da cama, aos seus pés. Ele encarava a estampa trabalhada e discreta dos lençóis como se fosse um enigma interessante. Sua mente, no entanto, estava perceptivelmente longe dali.

— Você encontrou elas? — perguntou, baixo. Sua voz estava rouca e fraca. Parecia alguém doente.

— Não. Só alguns vestígios de feitiço. Todas se foram quando terminaram o que quer que tenham feito. — ele parou um pouco antes de completar — Eu trouxe Vicent. Ele jura que não sabe do plano delas e vai examiná-la.

— Você não o torturou para tentar conseguir informações, não é? — perguntou.

— Não. Freya não deixou.

— O que não quer dizer que você não tenha pensado nisso.

Ele apenas sorriu minimamente. Era um sorriso fraco e pequeno, mas a fez se sentir um pouco melhor. Alguém que não a olhava apenas com dó, enfim.

Á noite, naquele mesmo dia, lá estava Vicent, com suas duas mãos pairando sobre seu ventre. Ela nunca o tinha visto antes sem ser em meio a multidão, mas sempre o achara um homem misterioso. Após alguns minutos, o viu manear a cabeça. Era um claro sinal negativo.

— Sinto muito. — falou olhando diretamente para ela — O que está aí está ligado á magia que o impulsionou á ser concebido. Eu sei que pode ser difícil para você, mas eu acho que o mais prudente é matá-lo. Não sabemos para que foi feito, nem se poderemos controlar se o deixarmos desenvolver.

Caroline franziu as sobrancelhas em clara discordância e não precisou soltar a negativa que estava em sua língua pois Hayley o fez:

— Não. Não sabemos o que é. Pode ser só uma criança. Já vimos esse filme antes, Klaus. — terminou a sentença virando-se para o hibrido que se manteve calado, mesmo diante de tal conselho.

— Quando você diz matá-lo... ? — Elijah, que também estava presente no quarto, questionou.

— Eles precisaram fazê-la humana outra vez para gerá-lo, o que denota que é necessário essa prerrogativa para o feto sobreviver. Podemos retirá-lo de lá assim que for possível. — resumiu Vicent.

— Você está mesmo concordando com isso?

A pergunta veio em meio a um rápido momento de silêncio e todos demoraram a perceber que Care se dirigia especificamente para Klaus. Quando ele virou-se para responder, Hayley tomou o braço de Elijah e fez um sinal para Vicent para que saíssem.

— Eu não estou concordando. Estou ponderando. É diferente.

— Engraçado que eu nunca vi você “ponderar” — fez o gesto das aspas com as mãos — Sobre a segurança de qualquer outro membro da sua família. — o hibrido levou uma das mãos á têmpora sabendo onde essa conversa iria dar — Sei lá, você deixaria que fizessem isso com Hope?

Ele maneou a cabeça e a encarou. Parecia irritado.

— Você não entende. Ele pode e vai matá-la se o deixarmos aí. E depois será usado como fonte de poder contra mim. Ainda que o deixemos viver, que tipo de vida você acha que ele vai ter? Ele está ligado a uma magia negra, por Deus!

Ambos ficaram em silêncio e agora Care era quem analisava a estampa delicada do lençol.

— Acha um jeito de quebrar isso. — pediu, quase em um sussurro, ainda sem encará-lo. — Por favor.

Klaus não respondeu, mas a olhou por vários segundos a fio. Ele queria que ela entendesse que sim, tentaria com tudo que estivesse ao seu alcance, mas não podia prometer aquilo. Não era como se houvesse milagres ou coisa assim a respeito disso.

Depois de um tempo, apenas se levantou e ia em direção á porta. Antes que passasse pelo batente, á ouviu chamar:

— Você pode ficar até que eu durma?

Ela não esperou resposta, apenas deitou-se de lado. Poucos segundos depois sentiu a cama ceder com um peso, e uma mão pousar em sua coxa já coberta pelo lençol. Queria poder dizer a si mesma para não se acostumar a aquela sensação de seguridade, mas deixou para depois. Seu perigoso apego á situação era o menor problema que tinha no momento.

~~ ~~ ~~

Abriu os olhos e soube que era ainda madrugada. Ouviu vozes que acreditava vir da sala que havia mais abaixo. Considerando que Klaus não estava mais ao seu lado, deduziu que estaria lá.

Tentou não fazer barulho ao descer, mesmo que soubesse que seria impossível que os vampiros ali presente não notassem sua presença, ainda que fosse o mais humanamente silenciosa possível. A conversa ficou mais contida quando se aproximou.

— Sério que estão discutindo sobre mim e quando eu chego param?

Freya e Vincent que se concentravam em um livro viraram-se para olhá-la. Klaus continuou na posição que estava, encostado na janela, observando o movimento do lado de fora. Ele a ouvira acordar desde o momento em que ela começou a se remexer na cama.

— Devia ter pego um casaco. Essa sala não tem aquecedor? — reclamou, sentando-se em uma das cadeiras enquanto abraçava seus próprios braços — Podem continuar. Não parem por mim.

— Estávamos listando todos os feitiços de quebra de elo que se há conhecimento. Até agora, nada que a gente possa considerar forte o bastante. — explicou Freya.

Care assentiu e viu, pelo canto de olho, Klaus mexer-se. Em instantes ele estava ao seu lado, lançando sobre ela a jaqueta que antes vestia.

— Você está batendo os dentes. É irritante.

Ela apresentou-lhe um sorriso exageradamente falso e vestiu a jaqueta.

— Eu sinto muito pelo que propus, Caroline. Admito ainda que é a maneira mais segura, mas você quem deve decidir isso. Vocês. — argumentou Vicent, incluindo Klaus em seu discurso.

Care limitou-se a assentir e observar Elijah entrar na sala com alguns livros velhos e grossos em suas mãos.

— Vamos esperar para ver no que dá. Enquanto isso — ergueu os livros — Vamos nos preparar para qualquer coisa. E quando digo qualquer coisa é qualquer coisa mesmo: acolhê-lo, atacá-lo, exilá-lo. O que for preciso. Certo, Caroline?

— Certo. — balbuciou.

Elijah começou a listar as possíveis atribuições que as bruxas podiam dar ao feto quando Care, mais uma vez, percebeu Klaus se aproximar.

— Tira a jaqueta. — ordenou simplesmente.

A loira o olhou confusa, mas começou a compreender assim que ele retirou a camisa de algodão com mangas cumpridas que vestia.

— Eu nunca vi um humano tão friento.

Ele passou a camisa para ela fazendo-a vestir e colocar a jaqueta por cima. Ninguém na sala pareceu se incomodar com sua parcial nudez, muito menos ele. Olhando-o debruçado sobre a mesa, com aquela tatuagem à mostra e um olhar sério sobre um livro de feitiços mostrado por Elijah, Care desejou saber pintar, para emoldurá-lo em uma pintura e chamá-la de “O Estrategista”. Ela compraria aquela obra.

Percebeu Hayley na porta rindo silenciosamente dela e de seu olhar fissurado.

~~ ~~ ~~

Era estranho como, mesmo já tendo passado por aquilo, tudo era tão diferente. Sempre que o sentia virar-se tinha um susto com a intensidade do sentimento que causava em si.

Acariciou sua barriga já grande tentando acalmá-lo. “shiii!” fazia de vez em quando, o repreendendo quando seu movimento a machucava. Não era por mal, ela sabia. Seu bebê não queria machucá-la.

Sentiu Lizzie tocar-lhe o ventre rindo das cambalhotas do que ela, firmemente declarava, ser seu irmão. Sim, irmão. Lizzie e Josie, assim como Hope acreditavam se tratar de um menino, mesmo que ninguém tivesse essa informação ainda. Alaric sempre que a visitava ria, dizendo que um Mini Klaus partiria o mundo ao meio se quisesse.

Ela também ria, mas torcia intimamente que essa afirmação nunca se realizasse no sentido literal.

Para sua total preocupação, até o presente momento nada funcionava quando o assunto era cortar o laço do bebê com a magia que o possibilitou ser gerado. Todos os meses Klaus e Elijah traziam incontáveis bruxos e bruxos de todas as partes do mundo, mas nada parecia funcionar contra aquilo, o que deixava á todos cem vezes mais preocupados e alertas. Afinal, que diabos de feitiço era aquele?

— Já estava assim antes?

A pergunta veio de Hayley, que penteava pacientemente os fios de Caroline. Elas haviam ficado muito mais próximas depois do bebê.

— O que? — perguntou confusa.

— Essas manchas. — Hayley afastou a gola do robe azul royal que ela vestia, deixando a região de sua nuca á mostra — Há algumas manchas aqui.

— Manchas? Não, não vi manchas. Me mostra.

Hayley pegou um outro espelho posicionando por trás dela para que a loira pudesse visualizar utilizando o espelho da penteadeira que estava à sua frente. A grande mancha roxa em sua nuca a fez abrir sua boca e um “O” de tamanha surpresa.

— Espera. — pediu a morena, largando o espelho e retirando então o robe e deixando suas costas livres, tendo como roupa apenas o sutiã branco. — Meu Deus. — foi apenas o que conseguiu dizer.

Klaus entrou nessa hora no quarto, sem bater como sempre. Care estava preparada para reclamar, mas parou ao ver o reflexo do rosto petrificado dele ao encarar suas costas.

— De dentro pra fora. A está machucando de dentro para fora.

Ninguém podia responder a aquilo. No fundo todos sabiam que era verdade, mas ninguém ousava falar em voz alta.

Era bem verdade que a aparência da loira á dias não estava das melhores: seus olhos estavam com olheiras e sua pele opaca. Ela até podia contar uma par de costelas á vista decorrente de sua má alimentação. Raramente tinha vontade de comer.

Sentiu uma mão passar por entre suas costas e se surpreendeu ao constatar, pelo reflexo do espelho, que era Klaus. Ele não tinha tocado outra parte de seu corpo se não o rosto ou as mãos desde o dia em que descobrira a gravidez. Ela nunca tinha dito para ninguém, mas sentia muita falta.

Lembrou-se rapidamente de uma vez que, já com uma pequena barriga se formando, sonhara com ele. Em seu sonho, ele estava deitado ao seu lado, naquela mesma cama, e a olhava de maneira calma, mas sem dizer nada. Ele a tocava nos ombros, passando seus dedos por seu pescoço e braço, para então descansá-la em sua cintura. Care lembrou que quando acordou ainda sentia sua mão quente sobre si.

Ela sorriu ao despertar, mas nunca contou isso para ninguém. Era vergonhoso demais.

Por Deus, parecia uma adolescente com seu corpo inteiro em chamas apenas por um par de toques.

Afastou esse pensamento quando sentiu a mão dele mover-se suavemente sobre sua pele e a sentiu arrepiar. “Droga”, pensou “Que ele não perceba... Que ele não perceba...”

— Temos que agilizar o processo de desenvolvimento dele. — sentenciou depois de ponderar em silêncio, analisando as marcas. Hayley apenas observava, á três passos dos dois. — Temos que fazê-lo ficar pronto para nascer em menos tempo. Vou falar com Freya sobre isso.

Care suspirou de alívio quando ele mesmo subiu o robe, passando pelos seus braços e vestindo-a nele. Quando enfim já tinha comemorado internamente por não ter sido denunciada por sua libido adolescente, sentiu quando o hibrido abaixou-se para sussurrar algo em seu ouvido para que apenas ela ouvisse:

— Isso era frio, amor? Algo me diz que não.

Dando-lhe um beijo estalado na nuca ele foi-se, tão sorrateiramente quanto tinha chegado.

O desgraçado a tinha deixado ruborizada e isso a fez revirar os olhos.

Malditos hormônios.

~~ ~~ ~~

Seis horas direto. Esse era, aproximadamente, o tempo em que Freya se encontrava com as mãos sobre sua barriga fazendo qualquer feitiço que fosse. Ela revezava com Hope, mas por ser ainda muito menina, não aguentava mais que vinte minutos, fazendo com que passasse logo o bastão para Vicent, que à pedido de Freya, tinha aceitado ajudar.

Care evitava pensar no quanto aquilo era louco: fazer com que uma criança crescesse, se desenvolvesse com a ajuda de um feitiço não lhe parecia uma boa ideia, mas ela sabia que não tinha outro jeito: o corpo dela não aguentaria seu pequeno hospedeiro por muito mais tempo. E também não é como se fosse a primeira vez: ele havia sido concebido em um método parecido.

Quando doze horas se passaram Freya estava exausta mas, segundo ela, precisava ainda fazer mais. Vicent já tinha saído por uma emergência e Hope já tinha emanado magia demais para sua idade. Quando suspirou, pronta para voltar ao trabalho mesmo estando a ponto de cair, viu Klaus chegar ao seu lado oferecendo-lhe sua mão.

— E nós ainda temos Elijah, se precisar, irmãzinha.

Ela sorriu e tomou a mão dele, utilizando-o como canalizador. Olhando-os ali, de mãos dadas, com Klaus apertando firmemente seu maxilar pela quantidade de energia que lhe era tirada, fez Care entender algo sobre ser um Mikaelson:

Sempre fariam qualquer coisa um pelo outro.

E de alguma maneira, naquele momento, se sentia parte daquilo.

— Tudo bem aí, amor?

A pergunta vinha dele, ela sabia, apesar de estar com os olhos fechados. Sentia uma pontada ou outra, mas ainda assim assentiu.

— Ótimo, pois estamos quase lá.

Não muitas horas depois começou a sentir dores que sabia que eram de parto. Quase sorriu ao ver que o feitiço de Freya tinha realmente dado certo e seu bebê estava próximo a nascer.

~~ ~~ ~~

A garganta estava em frangalhos, assim como seu corpo inteiro. Definitivamente tinha esquecido o quanto era dolorido parir, e agora tudo estava pior: era humana. Sentia dez vezes mais dor que da outra vez, já que seus músculos não se regeneravam.

Era um pensamento egoísta, mas no meio daquela dor, suor, grito e sangue ela queria morrer. Talvez no fundo não quisesse mesmo morrer, tipo de verdade, mas falando de modo superficial, sim, estar morta era uma boa ideia.

Por misericórdia, queria ser vampira de novo.

Gritou pela milésima vez enquanto fazia força para aquele ser humano nascer. Cacete, estava sendo rasgada ao meio.

Ouviu a voz de Hayley a encorajando juntamente com Freya e sabia q elas estavam tentando ajudar, mas se sentia tão irritada que tudo que queria era socar a cara de alguém.

“Foco, Caroline. Não é socando rostos que se põe um bebê para fora", repreendeu-se.

Gritou e fez força por aproximadamente duas horas e meia, e quando o médico avisou que já o via, foi quando ouviu o primeiro barulho. Mesmo com a vista turva, viu Hayley trocar um olhar cúmplice com Freya e murmurar para si que voltaria. Algo estava errado.

A intensidade do barulho foi aumentando assim como suas contrações e mesmo tendo perguntado mais de dez vezes, Freya não lhe contava o que estava acontecendo. Quando viu que Hayley não voltaria a bruxa Mikaelson se despediu rapidamente da loira, repetindo o que a híbrida havia falado e saindo às pressas pela porta branca da sala, deixando Caroline nos cuidados dos médicos e enfermeiras.

Não demorou mais que dois minutos e um choro se ouvia, seguido da voz do médico de meia idade que alegremente dizia :

— É um menino! Um bonito menino, aliás.

Care enfim sorriu e estendeu as mãos para pegá-lo, querendo vê-lo de perto quando o grito de uma enfermeira a tirou de seu estado aturdido.

A carótida do doutor Sanz estava furada e o sangue jorrava por seu jaleco. Ele demorou três segundos antes de começar a tombar, e foi o tempo que Care levou para tirar o menino ensanguentado de seus braços. Aquele devia ser o primeiro menino do mundo a nascer banhado de sangue. De um sangue que não era de sua mãe, mas sim do pescoço de um terceiro. Isso em lugar ou dimensão alguma poderia ser visto como um bom presságio.

Os gritos das enfermeiras, a dor a confusão. Care abraçou seu bebê que chorava ninando-o enquanto chorava com ele, em desespero, sentindo que algo ainda pior podia acontecer.

— Klaus! — gritou, molhada de suor e lágrimas. Precisava que ele entrasse. Precisava se sentir segura e sabia que ele estava no corredor, como prometeu quando ela chegara ao hospital — KLAUS! — gritou mais alto.

Um som horrível anunciou o início do pior. Em fração de segundos viu o corpo de Klaus ser arremessado, de modo que atravessou a porta, quebrando-a quase que por completo. Ela só tirou o olhar atônito dele jogado ao chão quando ouviu a voz de Liara.

— Desculpe a demora. Ele te ouviu, só que estava ocupado...

— O que...? Por que...? Onde estão...? — Caroline não conseguia completar nenhuma das perguntas. Estava em choque.

— Já sei tudo que você quer perguntar, mas devo dizer que saberá tudo depois. Por hora, só vim buscar o que é meu.

Antes que qualquer questionamento fosse feito, a bruxa começou a dizer palavras estranhas, com uma das mãos no pingente do colar que descansava em seu pescoço.

Care ia desmaiar, tinha certeza. Ela chorava por não conseguir fazer nada, por não conseguir ficar em pé, por não estar vendo nada direito como consequência de estar a ponto de perder os sentidos.

As coisa só fizeram sentido quando ouviu Liara agradecer e sair.

No início, não, não entendeu. Mas depois, percebendo o quanto estava quieto, forçou seus olhos para olhar para o menino. Não precisou de mais que dois desesperados minutos para constatar.

Ouviu um barulho e algum tempo depois percebeu ser Klaus, retomando os sentidos e levantando-se.

Ao contrário dela, ele não precisou de dois minutos. Encarou a criança no colo da loira e se permitiu apoiar-se na parede, escorregando de volta ao chão logo em seguida.

Estava morto.

O menino estava morto.