Amarras

Capítulo 12 – Boa e Má notícia.


Já era dia, ela sabia, porém não tinha vontade de abrir os olhos. Suspirou, buscando todo o ar que podia, sendo inundada pelo cheiro dele.

Klaus sempre teve, na mente de Caroline, um cheiro particularmente dele. Era amadeirado e suave, porém marcante. Ele cheirava a gente rica, ponderou.

Riu com esse pensamento.

Quando era pequena ela desenvolveu em sua mente essa história de cheiro de gente rica. Hoje, tinha o discernimento de saber que sua mente infantil apenas colocou nesta categoria as pessoas que tinham um perfume parecido com o do seu falecido padrinho, um homem jovem e muito rico ao qual ela nem se lembrava muito por ter falecido antes que ela completasse os sete anos, mas que seu cheiro e risada característica nunca haviam ido embora de sua mente.

Ela riu por incluir, mesmo que internamente e involuntariamente, Klaus em suas brincadeiras de menina. Talvez contasse a ele um dia. Talvez.

— Sorrindo? Acho que dormiu bem. — ele murmurou, erguendo-se. Care sabia que ele estava acordado. Aliás, sabia que dificilmente dormia.

— Poderia ter sido melhor, não é? Só por que é felpudo, isso aqui não deixa de ser um tapete.

Klaus abriu um sorriso e se preparava para responder com uma gracinha, mas foi interrompido com um chamado e uma batida na porta:

— Klaus? Podemos entrar?

Era uma voz masculina, mas não conhecida.

— Quem é? — Perguntou Niklaus, de pronto.

— Cinna.* Gartt e eu viemos para ouvir suas instruções, como pediu. Todos os outros estão esperando no pátio.

Klaus estreitou os olhos para o elegante relógio de parede, murmurando um “já é essa hora?” assim que percebeu que eram quase onze.

— Podemos entrar? — a voz insistiu do lado de fora, ao ver o silêncio.

Care o olhou com cara de desespero, juntando o indicador aos lábios em claro pedido de que sua presença não fosse denunciada. Se divertindo com a situação, o hibrido gritou para os visitantes:

— Nem morto.

— O que eu faço pra sair daqui? — sussurrou Caroline, ainda agitada.

— Bem se você é a rainha como dizem, não deve satisfações. Percebeu? Eles me chamam de Klaus. Mas quando se referem a você nunca falam seu nome. Sempre comentam sobre a senhora ou a rainha.

— Acho que é ironia. Eles acham que durmo com você.

— Mas você dorme. — respondeu com um sorriso aberto. Como alguém que já tinha matado tantas pessoas podia ainda ter um sorriso de menino escondido para ocasiões intimas? Antes de dar-lhe dois ou três tapas, Care permitiu se sentir bem por ter a oportunidade de ver esse sorriso. — E não acho que seja ironia. Acredite, eles não se sentem tão confortáveis perto de mim a ponto de se permitirem serem irônicos. E já te chamaram assim na minha frente duas vezes. — concluiu.

— Claro. Ninguém quer se vítima da ira do horripilante Klaus Mikaelson. — debochou.

— Algo assim. — Gabou-se.

Ela riu, dessa vez não segurando uma risada sonora, ignorando os vampiros que com certeza ainda estavam do lado de fora. Quando parou, se constrangeu um pouco. Só agora tinha percebido que continuava agarrada ao tronco dele. Klaus percebeu, porém decidiu por não constrangê-la ainda mais.

— Vou indo.

Vestiu as roupas numa rapidez invejável, ainda sob o olhar de Klaus, que não fez outra coisa a não ser cruzar os braços e observá-la. Rolou os olhos com seu ar pretencioso.

Quando passou pela porta, os dois vampiros ainda estavam lá. Um era alto e negro, e lhe chamou a atenção o delineado dourado em seus olhos. Ele era diferente. Mais adiante descobriria que aquele era Cinna.

Cinna, assim como o companheiro esguio e alto, curvaram rapidamente a cabeça quando ela os cumprimentou. Caroline passou, ainda um pouco sem jeito, mas antes de sumir pelo corredor, conseguiu vislumbrar um ultimo sorriso de Cinna.

Não era um sorriso de deboche.

~~ ~~ ~~

Por algum motivo, Caroline não teve vontade de sair do quarto o dia todo. Ela geralmente não era tão sedentária, e poderia parecer incrível se tratando de uma vampira, mas ela jurava que se sentia cansada.

Seus olhos pesavam em algumas partes do dia e seu corpo parecia mole. Era estranho.

Não contou nada a ninguém. Não queria que se preocupassem ou pior, que fizessem disso uma oportunidade para constrangê-la perguntando sobre a noite anterior. Ela tinha certeza que Hayley estava esperando ansiosamente para fazer isso.

Já era noite e continuava na mesma. Uma indisposição que não passava, agora acompanhada de uma inquietação, irritação até.

Sentiu fome.

Fazia anos desde que tinha sentido uma fome tão grande, então tratou de descer para procurar alguma bolsa de sangue em qualquer lugar daquela casa. Alguém devia usar, certo?

Errado.

Estava há pelo menos quarenta minutos andando de um lado para o outro, procurando sentir algum cheiro que remetesse a sangue e nada. Quando ponderou sair, para entrar sorrateiramente no hospital mais próximo que encontrasse, viu Klaus se aproximar. O híbrido estava na sala ao lado e não conseguiu ignorar os passos impacientes dela pela casa. Quando ele questionou, com as sobrancelhas levantadas, o que ela estava fazendo, a loira não perdeu tempo:

— Preciso de uma bolsa de sangue. Estou com fome. Muita.

— Bem nós não...

— Não, não me digam que toda vez que sentem fome saem e atacam um pobre desconhecido na rua.

— Na verdade nós nos servimos em um bar, aqui perto. É um lugar com particularidades.

— Pois me diga onde é. Preciso ir até lá. Agora. — respondeu com urgência. Estava assustada. Ponderou rapidamente e concluiu que nunca, de fato, havia se sentido com tanta fome assim. Parecia que ficava pior a cada segundo que se passava.

— Está fechado. Houve uma briga lá mais cedo, então dei um toque de recolher. — Klaus a encarou achando-a um pouco pálida — Você está bem? Nunca te vi desse jeito. Podemos pegar um civil na rua. Não vamos matá-lo.

— Não, nada de civis. A que distância fica o hospital mais próximo?

— Á 10 km...

— Dez? — respondeu sentindo sua voz afinar. Estava desfalecendo, era isso? Que fome dos infernos era aquela que a estava fazendo desfalecer?

Ao ver a careta que ela fez ao ouvir a distância da emergência mais próxima, Klaus entendeu que ela não podia esperar tanto. Havia algo errado, com certeza.

— O que foi? — ela perguntou quando o viu levantar a manga comprida da camisa. Entendeu logo depois quando ele mordeu o próprio pulso.

— Toma.

Care relutou por pelo menos vinte segundos, mas não mais que isso. Antes que pudesse pensar melhor já tinha tomado o braço dele e sugava com força o líquido viçoso que lhe saía. Nenhum dos dois esperava, no entanto, que ela fosse vomitar tudo em cima dele depois. Completamente assustada e sem reação, murmurou, ainda com os lábios vermelhos, banhados com o sangue de Klaus:

— Que diabos está acontecendo comigo?

Klaus ia respondê-la, mas a urgência de ampará-la lhe interrompeu. Em fração de segundos a loira tombava sobre uma mesa de vidro que estava atrás de si. O hibrido a impediu de cair, mas não de segurar com força na ponta de mesa, o que ocasionou um pequeno corte no interior de sua mão. Ele chamava seu nome, mas ela não parecia conseguir firmar seus pés, reclamando de estar vendo tudo girar. Sem saber direito o que fazer, Nik a pegou nos braços levando-a em direção á sala, gritando pelo nome de Freya.

— Estranho. Muito estranho. — foi o que a bruxa disse quando o irmão lhe contou o ocorrido. Ela observava a loira deitada no sofá, suando frio. — Vampiros não passam mal do nada.

— Eu não te chamei pra’ você me dizer o que já sei, Freya. — retrucou Klaus, mal humorado.

— Dá um tempo, eu estou pensando. Tem certeza que não foi verbena?

— Caroline é vampira há tempo suficiente para conhecer o efeito da verbena em seu organismo.

— Klaus. — a voz de Caroline os interrompeu. Klaus olhou em sua direção, mas ela não disse nada, apenas estendeu a mão em sua direção, mostrando-a.

— Não cicatrizou. Não está cicatrizando. — era a voz de Elijah, que tinha ouvido toda a conversa e chegava á sala. — Está humana, Klaus. De alguma forma, ela é humana de novo.

O rosto de Care se petrificou diante da afirmação, enquanto o entendimento chegava á todos na sala. Por um par de minutos ninguém disse nada, todos confusos demais.

— Como? Isso é realmente possível? Quando conseguiram fazer algum feitiço nela? Em que momento...?

As perguntas de Klaus pairaram no ar antes que a própria Caroline conjecturasse:

— Eu fui sequestrada e depois deixada para trás como que para que vocês me encontrassem. E depois teve aquele ataque rápido e sem sentido que nunca compreendemos... Enfim, eu só vi uma coisa transformar um vampiro em um humano e era uma coisa milenar, de uma bruxa milenar. Não acho que haja a possibilidade de recriar algo assim... Transformar um vampiro em humano outra vez demanda muito poder e...

— A não ser que seja temporário. — Freya interrompeu.

Elijah a olhou e assentiu, como que dizendo que tinha pensado a mesma coisa. Ele olhou para Klaus que encarava a loira deitada no sofá, agora calada e com os olhos fechados, apenas ouvindo.

— Mas para quê fariam isso? — indagou, ainda olhando-a.

Freya não respondeu, em vez disso, aproximou-se de Caroline, ajoelhando-se ao seu lado e colocando sobre si suas duas mãos. Por alguns minutos a bruxa permaneceu com os olhos fechados, e por incrível que pareça, até Niklaus calou-se diante da tentativa mística dela de descobrir qual era a alteração no corpo da moça. Ela soltou um fraco riso quando abriu os olhos.

— A notícia boa é que já podemos ter uma noção de quanto tempo ela vai ficar humana. — Klaus franziu o cenho para a irmã procurando compreender. — Por que eu posso apostar toda minha magia de que há um bebê aí dentro.

Caroline abriu os olhos e ergueu-se em um ímpeto, mesmo estando ainda um pouco zonza. Klaus parecia catatônico.

Elijah sentou-se na primeira cadeira que encontrou.

— E pela sua cara irmãozinho, tenho certeza de que é outro sobrinho meu. — completou Freya, se permitindo rir um pouco do impacto da notícia no irmão antes de falar a parte ruim daquilo tudo — A má notícia é que o intuito de quem fez isso com certeza não é nada bom.