Amarras

Capítulo 11 - Excepcionalmente Humano.


— Quer dizer que não aconteceu praticamente nada enquanto eu estive fora do ar? A vida é mesmo sem graça sem mim.

Care o observou e era como se ele nunca tivesse “morrido”. Sua cor voltara ao normal, seus cabelos pareciam do mesmo castanho claro e viçoso de sempre e seu ar de cansaço já tinha se dissipado assim que se alimentou. Até seu sorriso tinha voltado e desse, teve de confessar, tinha sentido falta.

Hope estava sentada em seu colo. Ela não havia desgrudado se quer um minuto desde que o tinha visto abrir os olhos. Vez por outra ele a abraçava e lhe beijava os cabelos, parecendo até meio emocionado de poder fazer isso novamente.

Das 248 bruxas participantes do ato, apenas Liara ficara. Ela estava, como de costume, observando um pouco afastada, preservando para a família e os mais chegados tal momento. Elijah, Freya e Hayley o rodeavam, falando com ele e sendo ouvidos. Era perceptível como Elijah estava diferente: como se tivesse voltado á ele, naquele instante, uma essência perdida. Ele estava genuinamente feliz com a volta do irmão.

Klaus explicou que esteve consciente esse tempo todo, o que fazia de tudo ainda pior: as horas eram intermináveis e não havia nada que pudesse fazer além de perpassar por suas lembranças para passar o tempo. Nem sempre, no entanto, era uma boa ideia, considerando o volume de lembranças ruins.

Ele logo quis saber como o trouxeram de volta e Elijah tratou de contar-lhe em detalhes. No fim de tudo, lhe restava o agradecimento de poder ver novamente os familiares e a filha. Não obstante, olhou também para Care, encostada no batente da porta, dando espaço á família para aquele primeiro momento de reencontro. Quando seus olhos se encontraram, ele sorriu e pela experiência que ela tinha sobre seus sorrisos, sabia que não era um sorriso irônico, pretensioso, ou exibido. Era um sorriso que denotava algo como “estou feliz em ver você”. O sorriso que ela usou para retribuir, de certo dizia o mesmo.

Achou por bem se aproximar nesse momento, sentando-se ao lado dele e da filha na cama, de um jeito sem cerimônias. Não queria dar a impressão de que qualquer coisa tenha mudado.

— Obrigada. Por ficar. — ele murmurou, em tom baixo, cobrindo uma das mãos dela com a sua.

Care sorriu como resposta, um ato simplório, mas que respondia bem ao agradecimento.

Em meio ao carinho trocado entre eles, Hope observava outra coisa. Era curioso, mas ela tinha certeza que naquele momento havia visto um fraco ponto de luz surgir na grande pedra verde do colar de Liara.

~~ ~~ ~~

Foram dias longos a partir daí; Klaus iniciou seu processo de tomar New Orleans novamente e transformá-la, como dantes, numa monarquia.

Às vezes Care o via chegar coberto de sangue e passar direto para os cômodos dos fundos para se lavar, provavelmente temendo encontrar a filha e ter de lhe explicar o inexplicável.

Ele conseguiu, porém, o apoio de uma parte sem utilizar a força. Ao contrário do que as bruxas pensavam, nem todos os vampiros eram simpatizantes da ideia de servir ou ser comandado por um desconhecido, talvez sádico.

Não que Klaus não fosse sádico, mas fazia sentido para eles seguir um sádico já conhecido.

Os que não quiseram tomar partido tiveram que ir embora. Nenhum dos dois lideres os queriam por os acharem sem ideais. A punição por ficar sem estar em lado algum seria a morte. Ás vezes rápida, às vezes nem tanto.

Ele precisou de um pouco mais de um mês, uma par de mortes, um outro monte de prisioneiros e uma aliança com os lobos para tomar o poder. Ao conseguir tal feito, de imediato dividiu a cidade como havia sido acordado com as bruxas, temendo pela vida do irmão que estava ligado ao feitiço do pacto.

New Orlens desfrutava de uma falsa paz entre as facções no comando dos Mikaelson. Fofocas corriam os becos sobre possíveis traidores tramando algo contra Klaus, mas sem sucesso aparente. As bruxas pareciam satisfeitas com o espaço que lhe fora outorgado, ainda que tivessem sido ameaçadas por Klaus, que avisou que a trégua duraria apenas se não houvesse sinais de traição.

Care tentava ao máximo se manter fora de tudo isso. Ela não queria e não precisava se meter naquela briga por poder já que não tinha nada a ver com aquela cidade. Pelo menos era o que pensava.

Era uma sexta à noite quando ela chegou á casa dos Mikaelson. Havia ido a Mystic Falls e agora com Klaus já acordado e envolvido em governar Nola no meio do sangue e do ódio, ela decidira ficar mais tempo em casa, por não achar ser tão necessária. Ainda assim, não conseguia se livrar do sentimento de ligação que tinha criado com a família desde o dia em que batera na porta de Klaus pedindo por segurança.

Haviam vários vampiros no pátio e ela observou que era algum tipo de audiência com o líder ou entrega de relatórios. Da sacada do primeiro andar, Klaus ouvia os porquês dos súditos e não parecia satisfeito.

Caroline passou discretamente por entre eles até alcançar a escada. Antes de terminar de subir os degraus notou a voz do jovem vampiro que argumentava quando ela entrou no salão, ficar embargada. Ao chegar no andar superior o olhar de Klaus voltou-se a ela, dando-lhe sua atenção, ainda que o jovem no andar de baixo estivesse em um angustiado pedido de clemência.

A Forbes olhou para o hibrido e depois para o moço, o instigando a ouvir o rapaz e resolver aquele impasse. Klaus pegou sua mão e a trouxe ao centro da sacada.

— Este jovem foi acusado de tramar contra mim por achar minha liderança um tanto violenta. Acredita nisso? Agora, no entanto, pede clemência apelando para meus sentimentos, sendo que os considerava inexistentes. O que você acha? Você concede clemência ao prisioneiro?

— Se eu concedo? — riu — Eu não tenho que conceder nada.

Klaus deu de ombros sorrindo e se dirigiu a uma poltrona que Caroline nem havia percebido ter no recinto. Depois de sentado, sentenciou:

— Deixo esse caso com você. Faça o que achar correto.

Care demorou um pouco a tomar uma atitude. Pediu várias vezes, com os olhos suplicantes, para Klaus parar com aquilo e resolver os problemas dele ele mesmo. Quando o viu negar, ela mudou seu semblante para um irritado, mesmo que aquilo não o tenha abalado em absoluto.

Olhou para a pequena multidão de vampiros e todos a olhavam fixamente, esperando uma ação qualquer. Praguejou, rolou os olhos e xingou o híbrido mentalmente mais de cem vezes, jurando-lhe vingança. Que tinha ela a ver com aquilo?

Quando percebeu que ficar calada estava sendo um papelão maior que fazer alguma coisa, decidiu falar.

— Você. — começou, indicando o infeliz que clamava — Qual é o seu nome?

— Benny.* — respondeu ele com voz baixa.

— Confessa ter tramado e incitado outros contra a nova liderança? Lembre-se, confessar a verdade vai ser melhor que mentir. — Care encostou-se na madeira da sacada que estava à altura de sua cintura. Ela olhou diretamente para o rapaz e se sentiu como a Caroline Forbes de anos atrás, que participava de planos de perigos e finalidades diversas. De alguma forma, era uma boa sensação — Há três opções: Você pode me dizer a verdade e confessar aos interrogadores quem são os que estavam com você nesse agrupamento e ser livre. Você pode confessar o crime e não delatar seus amigos e ficar vivo, mas não livre. Ou você pode se negar a dizer qualquer coisa e morrer. Te dou três minuto para escolher.

Da poltrona, Klaus sorria. Sabia que ela saberia como agir.

— Conto aos interrogadores, senhora. — respondeu o rapaz por fim, depois de mais de dois minutos de completo silêncio.

— Ótimo! Podem soltá-lo. — dirigiu-se aos dois vampiros que, a mando de Klaus, seguravam as correntes cheias de verbena que prendiam o pobre infeliz. — Acompanhe os interrogadores e depois que contar tudo que precisamos saber, você poderá ir.

Houve um momento de desconforto por parte dos que seguravam as corretes. Eles estavam confusos em acatar ou não a ordenança, quando a voz de Klaus os impulsionou a executar o comando:

— Vocês ouviram. Soltem ele.

Depois de solto, o moço começou a agradecer pela clemência. Caroline se surpreendeu muito quando, ao sair, Benny curvou-se em uma reverência profunda, em suas palavras, agradecendo á rainha. O uso do titulo nobre a surpreendeu mais que a reverência e as lágrimas de gratidão do rapaz.

Ouviu palmas contidas e percebeu que vinha de Klaus que ainda estava sentado. Ela foi até ele e não pôde deixar de sorrir de volta quando ele a parabenizou satisfeito.

— Eles realmente acham que temos algo. — Comentou se referindo aos vampiros logo após as felicitações.

— E não temos? — foi a resposta de Klaus.

Care não respondeu, mas antes de sair deixou escapar um sorriso, que ela agradeceu por não ter sido visto pelo Mikaelson.

~~ ~~ ~~

— Festa? É desse modo que se apresenta como “rei”? — indagou Freya, rindo e fazendo aspas com os dedos, assim que Klaus expôs sua ideia.

Era noite daquele mesmo dia e Klaus discursava a respeito do que já tinha conquistado sobre Nova Orleans. Vez por outra, Caroline ria do narcisismo dele e era acompanhada pelas outras duas mulheres na sala.

— Sim, é exatamente assim. Pode acreditar que desse assunto eu entendo, irmãzinha.

— Niklaus tem razão. — interveio Elijah — Desde muito tempo atrás dar grandes festas sempre foi sinal de poder. Conseguir colocar todas as facções em uma festa e manter a ordem é sim uma demonstração de controle e soberania.

— Então que faça-se a festa!

Foram mais ou menos sete dias de preparação. Klaus não estava brincando quando falou que queria tudo muito bonito e caro. Care teve de aplaudir a decoração e organização e considerando o quanto ela era exigente com organizações, o que queria dizer que tudo estava realmente impecável.

Logo ao chegar, ela o notou no andar de cima, totalmente imponente em seu terno bordô alinhado sob medida com seu corpo. Klaus observava tudo e todos com um olhar atento, talvez apreciando seu feito de unir á todos. Não era bem uma união, pois a maioria se olhava como se estivesse ameaçando uns aos outros, mas ao menos estavam todos em um mesmo recinto, sem mortos ou feridos.

Quando avistou Caroline no meio da multidão, deu um sinal discreto para que ela subisse para onde estava. Assim que ela chegou, o hibrido iniciou a apresentação.

— Boa noite. Espero que a festa esteja agradável á todos. Esse é o início de uma nova Era. Uma Era de paz que perdurará por todo o tempo que forem leais e seguirem as leis. — Klaus levantou sua taça de vinho e pediu à todos que estavam ao seu lado para darem alguns passos á frente. Hope, segurando firmemente a mão da tia e da mãe parecia estar feliz com a atenção recebida. Elijah não se demorou, colocando-se logo ao lado do irmão. A única que não se mexeu foi Caroline, que instantes depois viu Klaus indicar o lugar ao lado de Hayley, e sorrir ao vê-la obedecer.

— Esta é o que chamaremos de família real. Tudo em New Orleans estará bem, contanto que eles estejam bem. Não se esqueçam disso. Um brinde.

Quando Klaus levantou sua taça, seguido por sua família, uma voz nítida se ouviu do meio da multidão:

— À Rainha!

Ninguém soube muito bem de inicio quem tinha gritado, mas quando levantou a taça e foi seguido dos outros, Caroline e Klaus logo reconheceram: era Benny, o vampiro que foi solto.

Klaus virou-se para Care, erguendo para ela a taça e apresentando-lhe um pequeno sorriso. Ele não demonstrou, mas estava um pouco surpreso pelo fato de que apenas uma ação dela tenha lhe dado tamanha aceitação.

— Sua popularidade pode estar ameaçada, irmão. — sussurrou Elijah em seu ouvido de modo cômico, fazendo-o sorrir ainda mais.

Era curioso, mas todas as bruxas também ergueram seus cálices e pareciam satisfeitas.

~~ ~~ ~~

Na continuidade da festa não houveram mais tantas surpresas. Não houve mortes, derramamento de sangue ou briga generalizada como Freya, comicamente, previu.

Andando por entre os cômodos, Klaus avistou Caroline, sentada sozinha em um cômodo afastado. Muniu-se de duas taças de sangue e se pôs a ir até lá.

Quando entrou, notou que ela foleava um grande livro que se tratava da genealogia de famílias importantes, com fotos e informações centenárias. Ao se aproximar, ofereceu-lhe a taça.

— Tome. Nunca a vejo se alimentar.

— Não preciso de muito. — argumentou, mas aceitou a oferta.

Klaus puxou uma das cadeiras para que pudesse sentar-se de frente á ela. Lá fora, a festa continuava com a música alta e o tilintar dos copos de bebidas. Ninguém parecia ter dado falta deles.

Observou-a tomar o segundo gole do líquido. Apesar de sua anterior alegação, ela parecia estar precisando se alimentar pelo modo entusiasmado que tomou. Ao retirar a taça dos lábios, uma fina gota do sangue escorreu pelo canto de sua boca, e antes que ela erguesse a mão para limpar, foi interrompida pelo híbrido.

— Eu posso? — questionou, referindo-se à necessidade de limpá-la.

Care não respondeu, mas assentiu, de modo que no mesmo instante sentiu os dedos dele passarem no canto de seus lábios. Quando o fez, Klaus levou seu indicador e médio á própria boca, passando a língua devagar no líquido que recolhera.

A loira ficou deveras surpresa com a ação e ficou ainda mais quando ele se aproximou, sussurrando bem perto de seu rosto.

— Continua sujo.

Antes que pudesse esboçar qualquer reação, sentiu seus lábios sendo tomados.

Fazia vários meses desde a última vez. Havia sido antes, bem antes dele supostamente morrer, em decorrência unicamente do medo dela de se envolver demais. Care, na verdade, se recriminava todas as vezes que pensava tal coisa. Não queria nem que a possibilidade pairasse em sua mente. Não podia; tinha que ficar longe da grande encrenca que era Klaus Mikaelson.

Estar ligada á sua familia? Sim. Tê-lo por perto como um amigo, um aliado conveniente? Sim. Envolver-se corporalmente e sentimentalmente com ele? Não. Definitivamente não.

Ela sabia que aquilo não acabaria bem, pois Klaus não sabia amar e isso era um fato. Se tinha alguma dúvida á respeito, teve a comprovação assim que entrou em sua mente. Tudo o que tinha acontecido com ele o tinha deixado incapaz de tal ato e mesmo que logo após constatar isso não conseguiu não se perder em seus lábios algumas pares de vezes, quando recobrou sua consciência, sua mente avisou que ele não poderia dar-lhe mais que aquilo. Não poderia dar-lhe sentimentos.

Por isso o afastou, mantendo-se como amiga. Argumentando que não eram bons juntos.

Entretanto ali, perdida mais uma vez em seus lábios quentes, percebeu que tinha uma escolha: se arrependeria de ter feito ou de não ter feito. De todo modo, tinha certeza do arrependimento vindouro, e diante disso sua mente advertiu: melhor pelo sim. Ao menos um dia. Pelo menos um dia.

Estava sendo beijada de modo tão devagar... Era sôfrego e ela podia estar ficando louca, mas podia jurar que ele estava aproveitando cada momento daquela aproximação. Sentiu sua mão encostar em sua cintura, e sua pele aqueceu ainda que coberta pelo vestido.

Caroline suspirou baixo quando o viu puxar seu lábio inferior demorando a soltá-lo. Era isso? Ele estava querendo provocar reações? Quando soltou, ela sorriu, e teve de comentar:

— Você está mesmo levando a sério essa história de rei e rainha, não é?

— E por que não levaria? — murmurou com as sobrancelhas arqueadas em uma clara expressão de desafio.

— Por que não. Na verdade não devia.

— Que tal só hoje? — um sorriso sapeca surgiu em seus lábios. O sorriso que fez Caroline lembrar-se do quanto estava encrencada.

Ele a encarava em expectativa e os segundos que ela demorou para responder, diante da tensão do momento, pareceram horas, mas por fim, sentenciou:

— Só hoje. — e o puxou de volta, iniciando um outro beijo, dessa vez percebendo que ele havia abandonado a estratégia do “fazer devagar”. Já havia conseguido o que queria, pensou. Não deixou de rir com o pensamento.

Sentiu quando, sem cerimônias, ele a puxou para seu colo. Não tinha mais volta, pensou. Pelo menos não naquela noite. Resolveria amanhã, de pronto decidiu, no momento em que seus dedos adentraram-se nos fios claros dele. Ela o sentiu sorrir, ainda sobre sua boca.

— Ninguém precisa saber, okay? — interrompeu ela, mas uma vez, afastando seu lábios, porém não saindo de seu colo.

Klaus revirou os olhos e soltou ar pela boca em clara expressão de tédio, mesmo que acompanhada de um quê de comicidade. Ele se divertia com o conflito interno que ela sofria toda vez que estava com ele.

— Ninguém saberá. Podemos continuar de onde paramos?

Ela murmurou um “okay” segurando um riso e foi outra vez beijada. Se fechasse os olhos e se concentrasse, podia ouvir o som que o contato de seus lábios fazia. Era tudo tão intenso no vampirismo, afinal.

Quando juntou seus braços ao redor dele procurando por mais contato o ouviu murmurar algumas palavras que no início não entendeu. Mas quando ele repetiu, a fez erguer os olhos:

— Se é para ser um segredo, acho que é melhor que alguém feche a porta.

Ele gargalhou com o pulo que Caroline deu de seu colo em direção á porta que estava escancarada. Quando retornou reclamou por não tê-la avisado antes, o que não durou muito já que logo estava sendo puxada novamente para a posição de antes.

O paletó foi o primeiro a ser jogado no chão, seguido da gravata para então a camisa que o híbrido vestia. Care parou por vários segundos passando seus dedos por entre a tatuagem de pássaros em seu ombro. Ela gostava tanto dela...

Klaus não a interrompeu, apreciando a boa sensação que era ser tocado de forma tão íntima. Ele fechou os olhos com força quando ela desceu seus lábios até os desenhos, dando-lhe beijos molhados por onde passava. Quando os dedos dela desceram um pouco mais, chegando a seu abdômen, ele decidiu parar de se conter e tomar seus lábios novamente, dessa vez de forma urgente, apressada.

Quando o vestido dela foi ao chão, o híbrido mudou seus toques, fazendo tudo agora de maneira devagar. Ele passava seus lábios do pescoço à clavícula de modo tão lento que em alguns momentos fazia até cócegas. Era devagar e molhado, como uma chuva fraca de um dia de inverno. Era aconchegante.

Estavam em tamanha conexão que Care não precisou expressar em palavras que estava curiosa por ele ter abandonado a pressa. Ao ver a expressão dela, sorriu e explicou sucintamente:

— Se é só hoje, vamos fazer durar.

Depois disso nenhuma palavra foi dita. O calor que emanava da loira sobre si o fez esquecer tudo e todos do lado de fora. Sua atenção estava em seus lábios ou em suas coxas, que eram insistente e demoradamente apertadas.

A pele dela inteira estava erriçada por causa dos arrepios e ela se permitia, ás vezes, olhar no fundo de seus olhos procurando ver o que ele sentia, quando vez ou outra a apertava com força contra si, buscando mais contato. E quando enfim ela se viu preenchida totalmente por ele, se pegou sorrindo enquanto apertava os lábios, com vontade de confessar em voz alta o quanto tinha sentido falta daquele contato brusco, indelicado, porém carregado de sentimentos que ele lhe oferecia desde a primeira vez. Entretanto não falou nada e, na verdade, não precisava. Klaus estava satisfeito com os sons que tinha tirado de seus lábios até o momento.

Em sua defesa contra sua consciência que seguia dizendo que aquilo era uma encrenca, ela podia dizer que tinha tentado, mas que de alguma forma, todos os caminhos a levavam até aquele lugar, aquele momento: Uma sala de biblioteca, com uma mesa e um tapete felpudo no chão; Um hibrido assassino exclusiva e excepcionalmente humano naquele momento; Uma porção de sentimentos que não podiam ser explicados, apenas sentidos.

Do lado de fora, Hayley ria discretamente enquanto Hope perguntava pelo pai e Elijah comentava que também não via Caroline. Seu riso só acabou quando, por puro reflexo, percebeu Liara sair às pressas da festa. Ela podia estar louca, mas tinha certeza de ter visto um brilho muito forte saindo dela."