Amarras

Capítulo 1 - Originais.


O que mais lhe encantava era a música. Estava por toda parte e as pessoas pareciam não conseguirem seguir em frente sem ela. Como água ou ar: algo essencial. Andava pelas ruas observando, analisando todos os lugares. Desde o dia em que fora ameaçada vivia sempre assim: Atenta, preocupada. Depois que se despediu das filhas, esse estado de atenção acabou por ser acompanhado de uma intensa raiva por toda aquela situação.

Pelo menos agora estava dando realmente um passo para acabar com aquilo; Fala sério, quem seria melhor parceiro para matar alguém que Klaus Mikaelson?

Ela tinha ouvido falar que algo tinha mudado nele depois do nascimento da filha, porém também ouvira sobre as batalhas que ele travava em New Orleans, sua cidade. Não devia ser tão azarada a ponto de encontrar um Klaus cem por cento regenerado e péssimo parceiro para assassinatos, certo?

Adentrou aos portões do complexo sem se anunciar ou chamar alguém. Quando deu pouco mais de cinco firmes passos, viu um vulto. Não ficou surpresa quando reconheceu a voz.

— Caroline Forbes. A que devemos a honra?

Elijah parecia exatamente o mesmo. Ela o tinha visto pela última vez há vários anos, mas nada parecia ter mudado: terno alinhado, palavras polidas e cordialidade intacta.

— Elijah. — Cumprimentou — Preciso falar com Klaus.

— Para pedir ajuda com alguma coisa, suponho. Diga-me, você já conseguiu superar a vergonha que tinha em relação ao que sentia por ele? Seja qual fosse esse sentimento, claro, pois acho que nem mesmo você conseguiu definir o que era.

Caroline abriu a boca para responder, mas antes que fizesse isso, uma outra presença ocupou a sala.

— Elijah... Você não costumava constranger as pessoas assim. É bom vê-la outra vez, Caroline.

A vampira podia jurar que nunca tinha visto Hayley tão viva. A maternidade tinha feito bem á ela. Ou será que sua vivacidade se devia ao fato dela agora ser um híbrido?

— Bom te ver, Hayley. Você poderia...

— Te levar até Klaus? Até posso, mas apenas até a porta. Ele está particularmente chato e irritado hoje.

Sem demora acompanhou Hayley pelas escadarias enquanto Elijah a seguiu com os olhos, curioso com relação a sua visita.

Depois de dar duas batidas em uma porta de mogno, a híbrida murmurou um “todo seu” e se retirou, do mesmo modo silencioso que chegou. Como não ouviu resposta, Caroline abriu a porta devagar, procurando com os olhos onde ele estaria. Não demorou a encontrar: sentado em uma poltrona de couro marrom em frente a uma lareira, Klaus bebia alguma bebida cara.

— Hayley, eu falei que não queria visitas. Quem quer que seja que você trouxe, mande embora. Para o inferno, se possível.

Care riu minimamente, pensando em como uma pessoa podia ser o mesmo por tanto tempo. E estamos falando de séculos; Mais de um milênio, para sermos mais exatos.

— Bem, espero que ela não me mande para o inferno, ou terei que voltar de lá para te importunar outra vez.

Klaus virou-se imediatamente. Ao deparar-se com a imagem da loira, ficou um tempo em silêncio, processando em seu intelecto quais possíveis motivos a levaria a estar ali, em sua frente.

— Caroline.

— Ainda lembra meu nome. Isso é bom.

Ele caminhou até uma pequena mesa, servindo bebida em um outro copo e levando até ela.

— Você sabe, tenho uma memória ótima.

Caroline podia jurar que sentiu algo estranho quando encostou seus dedos nos dele ao pegar o copo. Mal presságio? Atração? Baboseira de sua cabeça? Quem sabe.

— Preciso de sua ajuda.

— Por que será que eu sabia que essa seria a frase utilizada? — ironizou ele — Deixe-me adivinhar... Algum de seus amigos tolos foi mordido e você precisa do meu sangue. Ou você matou mais bruxas “acidentalmente” e precisa que eu vá esconder corpos. Ou...

— Você é bom nisso, mas errou.

— Bem, então diga-me. Talvez eu te ajude.

Caroline sentou-se no sofá de frente à poltrona em que ele voltara a sentar-se.

— Um inimigo do passado de Stefan está me caçando. Ele é um vampiro antigo, então tem muito mais força que eu. Eu só preciso ficar protegida enquanto planejo um jeito de matá-lo.

— Então você quer proteção. Um lugar seguro. Se você fala que ele é forte a esse ponto, quer dizer que já o enfrentou e não conseguiu vencê-lo. O que te faz pensar que ter um lugar seguro para ganhar tempo vai te ajudar a matá-lo? Às vezes planejamento não é suficiente, amor. Não substitui força. Talvez você nunca consiga matá-lo.

“Amor”. Era engraçado como fazia tempo que ela ouvira aquela voz chamando-a daquela forma, mas mesmo assim como parecia que a última vez tinha sido há um ou dois dias. Houve um breve silêncio. Não se sabe ao certo se pelo apelido do passado ou pela constatação da veracidade das palavras dele.

— Eu sei que não vai ser fácil, mas de qualquer modo eu preciso de tempo. E só posso conseguir tempo estando segura. Não consigo raciocinar e me manter alerta de uma só vez.

Klaus sorriu um pouco, porém não respondeu nada.

— Não vai dizer nada? Estou esperando você barganhar. Vamos lá, diga o preço.

— Deixemos isso para depois, hum? No tempo certo vou te pedir alguma coisa, e por ser uma resposta a esse favor que lhe faço agora, você irá aceitar.

— Como vou saber que não será algo abusivo?

Nik deu uma gargalhada curta. Nem tanto por que tinha achado engraçado, mas por estar feliz em ouvi-la, em vê-la confrontá-lo outra vez. Ele só não podia demonstrar tanto.

— Não vai.

~~ / ~~

Tudo estava silencioso no jantar. Elijah bebia um cálice de vinho, enquanto trocava um ou dois olhares com Hayley, que por sua vez ria baixinho às vezes, observando Klaus um pouco animado, com a filha sentada em seu colo.

— E então, por qual motivo a família se reúne para jantar? — e lá estava a tempestuosa Rebekah Mikaelson que ao adentrar à sala batendo seus saltos contra o chão, logo tomou seu lugar ao lado de Elijah. Ela parecia de bom humor.

— É só para avisar, querida irmã — começou Klaus — que teremos uma hóspede pelos próximos dias.

— Hóspede? Quem? — perguntou Bex, já tomando posse de uma taça de vinho.

— Eu.

Caroline entrou na sala de jantar de um modo ligeiro, como que querendo fazer pouco daquilo tudo. Como se não estivesse na cara que ela se ela estava ali, com certeza era por que fugia de uma desgraça.

— A Barbie Vampira. — riu Rebekah — Há quanto tempo, Caroline.

— Será uma honra, Caroline. — completou Elijah — Não é sempre que um hóspede de Niklaus não é uma pessoa desprezível.

— Obrigada, Elijah. Eu acho.

Caroline virou-se para Klaus pela primeira vez, e notou Hope, sentada junto a ele, enquanto a encarava com curiosidade.

— Então essa é Hope. É um grande prazer.

Ela estendeu a mão para a menina, que timidamente, pegou-a.

Klaus não deu explicações a respeito da estadia da Forbes. Voltou a beber sua taça tranquilamente, enquanto Hayley falava sobre alguns lobos de sua matilha, puramente para não dar vazão á rajada de perguntas que, pela cara, Rebekah queria fazer.

Caroline alternava seu olhar entre cada um dos originais, ou Hayley, ou a garotinha sentada no colo de Niklaus que estava com certeza envergonhada por ter visitas, e falava aos sussurros com o pai.

Lembrou-se de suas meninas e teve vontade de chorar. Não durou muito: logo se recompôs recordando-se de que tudo o que estava fazendo era por elas. Para sobreviver por elas.

Sobrevivência essa que exigiu dela desenterrar um passado que estava aparentemente enterrado. Talvez pensar que ela nunca mais iria se meter com os originais tenha sido tolice.

A prova disso, era estar sentada á mesa com eles.

No fim, nem era desagradável.

Pelo menos não por hora.