Naquela noite dormi razoavelmente bem, sem nenhum tipo de inquietação para conhecer algum lugar e insônia, além do mais até sonhei que estava em uma competição de arco e flecha, na qual eu acertava alvos a distâncias impressionantemente difíceis de conseguir. Eu competia com outro elfo de cabelos castanhos, o qual se parecia muito com Baranon, mas ele não estava apresentando um bom desempenho, já que de cinco alvos ele havia errado quatro deles. Légolas e Thranduil estavam lá para prestigiar a competição, e quando anunciaram que eu era a vencedora senti meu coração acelerar, quando Légolas me entregou um reluzente arco dourado como recompensa. Ele ergueu minha mão para o alto e todos que assistiam aplaudiram, depois Légolas ficou me olhando com um brilho nos olhos, que percebi ser de admiração, então ele se aproximou um pouco mais de mim até que...

— Astrid acorda! Vai se atrasar de novo! – Arya me deu uma bronca e puxou meu braço bruscamente para que eu levantasse.

— Você não perde essa mania, não é mesmo? – Ralhei com ela, enquanto meus olhos tentavam se acostumar com a luz. – Logo agora que eu estava tendo um sonho bom?

— Ah, e posso saber que sonho bom seria esse? – A elfa me olhou com os olhos semicerrados e um típico sorriso demasiadamente curioso.

— Hã... Nada de mais, apenas que venci uma competição de arco e flecha Arya, estou realmente interessada em se tornar uma grande arqueira. – Respondi o mais seriamente possível, porém mirei os olhos numa lamparina tentando evitar olhar para Arya.

— Hum, tudo bem então! – Ela disse enquanto eu entrava na banheira – Mas acho que para isso terá que acordar mais cedo daqui pra frente, não acha?

— Claro! – Respondi antes de mergulhar a cabeça na água – Prometo me dedicar mais em meus treinos, afinal também não quero decepcionar Fahir e nem mesmo o Rei Prateado, do jeito que ele é imprevisível pode até querer me banir daqui. - Disse ao voltar à superfície torcendo os cabelos.

— Não sei por que se refere ao Rei desta maneira! – Arya riu discretamente e eu suspirei com o comentário fútil dela - Thranduil é muito exigente com o desempenho de seus guerreiros, mas não os baniria do reino por não progredir nos treinos, apenas não os aceitaria na guarda real. – Ela parou para me entregar uma toalha – Agora se um deles o desobedecer, o insultar de forma ferrenha ou burlar as leis que regem esse Reino, sim, estes serão banidos.

— Entendo... – Concordei com ela e num pulo sai da água e me enxuguei – Mas, também pretendo não me decepcionar, Arya, afinal gostaria de me tornar uma guerreira e estar entre os melhores.

— Mas até lá tem muito chão a caminhar! – Arya comentou – E o começo é não se atrasando para o treino.

— Obrigada por me lembrar, sábia amiga! – Respondi fazendo uma reverência, como se Arya fosse uma elfa da realeza. A elfa sorriu mediante a minha atitude e entregou uma muda de roupa para mim.

Vesti uma calça cinza e uma túnica azul, juntamente com um corset marrom, e eu realmente tive que admitir que Arya tinha um bom gosto para roupas, afinal tudo que ela escolhia me agradava bastante.

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Eu estava a caminho do salão de treinamento e de repente Susana me chamou, correndo atrás de mim em um estado de euforia que até me surpreendia. Eu tinha plena consciência de estar atrasada para a aula, mas decidi escutar pacientemente o que ela tivesse que falar, afinal se eu não o fizesse agora, sofreria as consequências depois pondo em risco a saúde de minha audição, pois Susana não conversa normalmente, ela grita e muito, basta ser contrariada.

— Astrid espera! Preciso te falar uma coisa! – Ela disse desesperadamente animada e demonstrava um intenso brilho nos olhos, tanto que eu já até advinhei do que se tratava o assunto.

— Já sei! – Interrompi a olhando com um sorriso desconfiado – Não seria sobre Baranon?

— Ai é sim! – Ela ria automaticamente ao ouvir o nome – Como adivinhou hein?

— Ah só olhar para sua cara de boba! – Respondi ironicamente.

— Fazer o que ele é um príncipe moreno de olhos esmeralda... – Ela olhou para algum ponto qualquer enquanto falava bobamente.

— Diga o que quer logo Susana, estou com pressa! – Chamei a atenção dela elevando um pouco minha voz.

— Bem, é que eu queria encontra-lo no jardim hoje à noite – Ela começou e me entregou uma folha de papel dobrada – Preciso que entregue isso a ele pra mim! Você é uma guerreira e deve conhecer esse lugar melhor que eu - Ela gesticulou indicando todo o Palácio.

— Na verdade não conheço muito, mas darei um jeito de acha-lo por aí e entregar o que me pede. – Prometi olhando-a com um sorriso de provocação.

— Ah Obrigada minha irmã! – Ela me abraçou a ponto de me esmagar – Quando quiser ajuda com o Loiro príncipe ou o Loiro Rei é só me falar, esta bem?

— Creio que não será preciso! – Eu respirei fundo e a olhei seriamente – Agora preciso ir, estou atrasada Susana.

— Tudo bem então, nos vemos depois. – Ela disse antes que me virasse e saísse a largos passos apressadamente para o salão de treinamento.

Subi as escadas o mais rápido possível, passando cuidadosamente nas passarelas e nos corredores em que havia grande concentração de elfos pelo caminho. Finalmente chegando diante da grande porta do salão, parei para respirar alguns segundos, e percebi que ainda segurava a carta de Susana nas mãos e então a guardei no bolso na calça.

Entrei normalmente mantendo minha postura séria, até avistar Fahir parado no centro me olhando com desaprovação. Respirei fundo e fiz uma reverência em respeito, afinal ele era meu mentor.

— Acho que não preciso avisar que está atrasada de novo, não é mesmo? – Ele me olhou de forma questionadora, e eu apenas balancei a cabeça em sinal negativo.

— Ótimo e que isso não se repita novamente! – Fahir diminui a seriedade e me entregou o mesmo arco de sempre – Hoje você treinará a uma distancia maior do alvo, desta forma vai poder melhorar sua pontaria.

— Bom farei o possível para acertar Fahir... – Eu disse tentando passar confiança, afinal sentia que as coisas não iriam muito bem hoje.

Eu andei até a nova distância que Fahir havia estipulado e preparei uma flecha para lançar, senti meus dedos tremendo involuntariamente enquanto puxava a corda até o ponto máximo, tentei mirar o centro e lancei com toda a confiança do mundo de que acertaria, mas a flecha ficou a mais ou menos um palmo de distancia dele.

— Vejo que a sua pontaria é péssima! – Uma voz feminina ecoou no salão tirando minha concentração de repente.

— Está atrasada Tamina! – Fahir estampou a mesma cara séria que fizera pra mim.

Eu me virei para ver a dona daquela voz grosseira, e vi que era uma elfa alta de cabelos lisos e castanhos, pele extremamente branca e olhos de um azul puríssimo que me olhava com desdém e superioridade.

— Perdão mestre! – Ela se curvou sofisticadamente – Mas tive um pequeno compromisso...

— Bem, esta é Astrid minha nova aprendiza – Fahir disse a ela alternando os olhares para mim.

— Ah! A Meia Elfa que dizem ,talvez, ser uma Cavaleira de Dragão? – A elfa disse cinicamente e eu percebi que ela sentia certo desprezo por mim – Prazer sou Tamina, arqueira da Guarda Real.

— Digamos que eu seja uma FUTURA Cavaleira de Dragão! - Apresentei-me de forma séria e encarando-a igualmente, fazendo questão de dar ênfase na frase.

— Interessante! – Tamina desviou o olhar para o alvo e rapidamente retirou uma flecha e o posicionou no arco – Agora veja como uma verdadeira arqueira faz! – Ela soltou a corda e a flecha foi lançada acertando o alvo perfeitamente no centro.

— Perfeito Tamina! – Fahir a elogiou mantendo uma postura séria com os braços cruzados. - Ótima pontaria!

— Obrigada mestre! – Tamina sorriu agradecida para o elfo e depois se virou para me encarar provocativa.

— Tamina foi minha aluna e agora está aqui para me auxiliar – Fahir se dirigiu a mim – Ela treinará com você, já que foi escolhida a melhor arqueira jovem.

Concordei com o elfo, apesar de sentir a raiva queimando o meu rosto ao ver que Tamina ria cinicamente me olhando com tamanho desdém e superioridade. A ideia de Fahir não me agradava em nada, e por mais que fosse errado julgar as pessoas eu percebia que Tamina era extremamente cínica e cheia de si.

— Tente mais uma vez Astrid! – Fahir se aproximou de mim chamando minha atenção.

Apontei outra flecha para o alvo e estiquei o máximo que pude da corda, tentando mirar o mais precisamente possível. Eu sentia uma necessidade enorme de acertar, assim poderia calar o excesso de orgulho que Tamina apresentava e provar minha capacidade. Levei alguns segundos para ajeitar a posição do arco e mais alguns outros para me concentrar.

— Está demorando demais! – Tamina interrompeu minha concentração e eu a ignorei, mas sua voz soou em minha mente como um insulto – Você não vai acertar desse jeito!

Engoli em seco tentando não demonstrar minha raiva e atirei a flecha, esta não acertou o centro, mas ficou bem próxima dele, de modo que se eu tivesse arrumado cuidadosamente a posição do arco eu teria obtido um melhor êxito.

— Eu avisei que não acertaria Astrid, e como eu disse antes a sua pontaria é péssima! – A elfa praticamente cuspiu as palavras na minha cara, e aquele sorriso cínico me fazia a odiar mais ainda.

— Não seja grosseira Tamina! – Fahir a censurou – Astrid tem habilidade, basta continuar treinando que logo ganhará técnica e melhor a precisão – O elfo gesticulou para que eu lançasse outra flecha. Eu o fiz, porém novamente por questões de centímetros não acertei o meio do alvo.

As horas não passavam e a manhã parecia uma eternidade, repeti o mesmo treino várias vezes e ainda por cima tinha que aguentar Tamina com sua pose de superior e palavras de desdém a todo instante. Por vezes Fahir a repreendia, mas a elfa parecia se divertir à custa dos meus erros contínuos.

— Bom, terminamos por aqui, estão dispensadas! - Fahir disse após perceber que eu já estava esgotada.

— Mas está cedo ainda mestre – Tamina começou me encarando de relance – Acredito que a Meia Elfa ainda precise de mais treinos, afinal a pontaria ainda não está muito boa.

— Ah é mesmo? – Eu a interrompi olhando-a de forma desdenhosa – Deixa eu te mostrar minha péssima pontaria quando eu furar essa sua cara lavada de orgulho – Apontei uma flecha para Tamina e ela me imitou.

— Basta! – Fahir gritou abaixando ambos os arcos - Sem brigas aqui, por favor!

Tamina me encarou de forma séria e depois se retirou. Eu ainda sentia a raiva pulsando em minha mente e fiz menção de caminhar até a porta, mas Fahir me chamou.

— Astrid gostaria de falar com você! – Ele disse de forma mais calma, e eu me virei para encará-lo – Soube que entrou na biblioteca do Rei sem permissão noite passada – Engoli em seco e arregalei os olhos ao perceber uma expressão séria no elfo - vejo que se interessa por livros e por isso quero que vá a minha biblioteca esta tarde para aprender sobre história e língua élfica.

— Hã... Claro, eu estarei lá então! - Eu disse um pouco sem jeito ao ouvir Fahir citando minha invasão na biblioteca – Ah e porque Tamina tem que ficar aqui durante meus treinos? Já que pelo visto ela tem certo preconceito comigo, A Meia Elfa. – Revirei os olhos ao dizer as últimas palavras.

— Pelo que percebi você tem melhor desempenho quando está sob algum tipo de pressão – Ele começou me olhando nos olhos – E creio que a presença de Tamina pode tornar os treinos mais competitivos e fazer com que você tenha um melhor desempenho.

— Mas com tantos arqueiros, tinha que ser logo a elfa mais – Parei para pensar em algum adjetivo que a descrevia – Orgulhosa e má que existe na face da terra?

— Tinha que ser alguém que estivesse apto a lhe ajudar, e como Tamina foi considerada a melhor dentre os arqueiros mais jovens eu a escolhi, mas... Peço que tenha paciência, Tamina tem um temperamento difícil por natureza.

— Ah, muito obrigada Fahir! – Suspirei revirando os olhos, enquanto o elfo mantinha um sorriso discreto ao ver o meu descontentamento – Além de ter que treinar incansavelmente, vou ter que aguentar uma elfa do mal que se acha superior? É ruim hein!

— Uma das qualidades de um bom guerreiro é a paciência – Ele comentou agora mantendo-se sério – Aprenda a tê-la e serás recompensada.

Eu apenas concordei com a cabeça e depois me retirei do salão, além do mais ainda precisava encontrar Baranon e entregar o bilhete de Susana para ele.

— Fahir! – Eu chamei o elfo antes de sair e o mesmo se virou para ouvir – Sabe onde está Baranon?

— Não sei, mas acredito que ele esteja chegando de uma patrulha agora e possivelmente estará no refeitório – Disse Fahir.

— Obrigada! – Agradeci e sai às pressas para encontrar o elfo.

Andei por inúmeros corredores e tive que perguntar para alguns guardas que estavam de vigia onde ficava o tal refeitório. Segui por alas desconhecidas até que cheguei a um grande salão lotado de elfos, e pelo que percebi quase todos ali eram guerreiros. Olhei atentamente para cada elfo que eu encontrava no caminho até reconhecer Baranon.

— Baranon! – Eu o chamei me aproximando – Preciso falar com você.

— Sim? – Ele me olhou e esperou que eu falasse.

— Susana me pediu para te entregar isso – Eu retirei o papel do bolso e o entreguei. O elfo abriu e começou a ler atentamente, e eu pude perceber um sorriso se formando em seus lábios e o brilho que estampava no olhar a medida que lia.

— Ela quer me encontrar no jardim! – Ele disse estampando um largo sorriso – Prometi a ela que lhe mostraria as estrelas e parece que ela tratou logo de me lembrar.

— Ela é assim mesmo – Eu disse alertando-o – Não se pode prometer nada a ela, porque nunca terá um só minuto de sossego enquanto não cumprir a promessa – O elfo continuava sorrindo e eu também não pude conter um, ao pensar em Susana ao lado de Baranon.

— Obrigado Astrid! – Ele disse um pouco mais sério – Diga a Susana que eu a encontrarei hoje, sem demora.

— De nada! Eu a avisarei – Respondi e me afastei aos poucos tentando encontrar a saída.

Havia uma aglomeração de elfos no salão, pois era a hora do almoço e todos os guerreiros se juntavam ali para comer e conversar sobre os acontecimentos diários. Era uma mistura de risadas, vozes, murmúrios e talheres batendo no prato que faziam com que minha cabeça latejasse, tanto que várias vezes esbarrava em alguém, mas como tenho a maior sorte mundo, acabei tropeçando em algo e cai desastradamente no chão.

— Droga! Quem foi que colocou o pé na frente! – Ralhei ao me levantar, olhando seriamente para a aglomeração de elfos.

— Desculpa Astrid! – Tamina apareceu esboçando uma cara de preocupação – Não vi que você estava passando. - Sorriu falsamente.

— Ah claro, Não foi culpa sua Tamina – Eu a encarei esboçando um sorriso irônico – Eu entendo como deve ser difícil pra você ter o pé do tamanho de um troll, mas não se preocupe porque ser diferente é normal! - Continuei irônica.

— Ora sua Elfa híbrida, como ousa... – Tamina me encarou e ergueu a mão para me dar um tapa, mas eu segurei os braços dela e a impedi por um tempo, antes dela novamente me empurrar para o chão.

Me levantei forma desajeitada e parti para cima dela a fim de derrubá-la no chão. Uma aglomeração de elfos se formou ao nosso redor, até que Baranon apareceu e nos separou, impedindo que algo mais constrangedor e doloroso para ambos os lados acontecesse.

— Parem as duas! – Ele gritou, olhando sério para nós duas – Tamina saia já daqui! – A elfa o olhou com raiva e se voltou para um grupo de elfos que estavam sentados em uma mesa – Astrid você está bem? – Baranon perguntou ao me ver alisando meu punho que doía conforme eu abria e fechava a mão.

— Sim, tudo bem Baranon... – Eu sorri discretamente para confirmar e me retirei do lugar às pressas, não me importando com o que fossem pensar.

Tamina ainda vai me pagar por isso!

Tamina