Gandalf e Logan caminharam em silêncio a maior parte do tempo. Ambos estavam muito ansiosos para encontrar o dragão, embora não confiassem totalmente nos instintos primitivos do animal, afinal o mesmo poderia ter deixado seu lado “sociável” após seus anos de exílio.

O caminho que antes era uma vasta campina deserta agora era íngreme e árduo, com muitas pedras espalhadas na parca vegetação, sendo impossível não tropeçar em algumas delas de vez em quando. A luz que irradiava do cajado do mago era a única fonte de iluminação que os guiavam, já que a noite estava extremamente escura e nublada.

Subiram o monte rochoso que parecia não ter fim e por ora Logan chegou a duvidar do senso de direção do mago, mas sentiu-se aliviado quando chegaram ao topo e viram a sombra de uma vasta floresta de pinheiros.

– Tem certeza de que estamos no caminho certo Gandalf? – Perguntou Logan ainda duvidoso.

– Um mago sempre está certo de seus caminhos, meu caro amigo, independentemente do caminho que se escolha seguir sempre chegaremos onde temos que chegar! – O mago respondeu em um tom solene calando a desconfiança do homem que se pôs a segui-lo.

A floresta de pinheiros não era tão densa quanto parecia, e à medida que caminhavam por entre ela percebiam que o clima ficava cada vez mais frio e que uma camada de névoa se aproximava com o vento.

Após darem mais alguns passos os homens ouviram o farfalhar de galhos e um leve grunhido. Gandalf iluminou o espaço ao redor, porém nada viu com a grossa camada de névoa e sendo assim continuou a caminhada, tendo a certeza de que uma hora ou outra o dragão daria o ar da sua graça.

Chegaram a uma clareira rochosa e verificaram o local a procura do dragão, mas não havia nem sinal do mesmo no lugar. Logan estava ficando impaciente e por ora concluiu que o animal não deveria mais estar ali, então sentou-se em uma pedra para beber um pouco de água e sentiu alguns pingos de chuva caírem em seu rosto.

– Gandalf está começando a chover – Comentou esfregando o rosto e estranhando que os pingos eram pegajosos como uma espécie de baba.

– Bom talvez onde você esteja sim! – Respondeu o mago com uma risada voltando-se para Logan e mantendo o olhar acima do homem.

– Como assim? - Questionou Logan e percebendo o olhar do mago levantou-se para ver o que era.

Ambos olharam para o alto de um rochedo e viram a silhueta de um dragão com as asas alongadas pronto para voar. Num pulo o animal sobrevoou acima dos homens e pousou com toda velocidade atrás dos mesmos, causando um baque na terra.

– Quem ousa invadir o meu território? – A voz do animal era grave e solene como a voz de um rei.

– Viemos em paz! – Adiantou-se Gandalf – Sou um antigo amigo e venho aqui para tratar de assuntos de extrema importância.

– Não conheço o cheiro de vocês! – Bradou o dragão se aproximando mais – Devem ser caçadores ou enviados daquele elfo maldito! – Bateu as patas dianteiras no chão e soprou ar quente de suas narinas preparando-se para atacar.

– Não faça isso Magnus, Escamas de Gelo! – O mago gritou e aumentou a luz de seu cajado fazendo com que o dragão se afastasse.

A alta intensidade da luz revelou a beleza das escamas do dragão que Logan ainda não tinha notado minutos antes. Magnus deveria ter em torno de quatro metros em pé e possuía asas compridas e azuladas assim como todo o resto do corpo, suas patas eram magras, porém as garras bem afiadas. O corpo era esbelto e forte contendo alguns espinhos em seu pescoço e na comprida cauda. Em sua cabeça havia dois chifres médios e uma penugem macia azulada, mas o que mais chamava a atenção eram os olhos cor de safira do animal, tão ferozes e belos que ao mesmo tempo em que encantavam acabavam por assustar a qualquer um que o vissem.

– Gandalf? – O dragão questionou surpreso lembrando-se do mago.

– Não reconhece um amigo depois de muito tempo? – Rebateu o mago – Pensei que dragões tivessem boa memória – Concluiu diminuindo a intensidade da luz.

– Estou neste lugar há anos e acabei acostumando com minha vida solitária, mas sabe quão difícil foi... – O animal hesitou – Ficar longe de minha cavaleira – Completou com certo pesar na voz.

– Túriel? – Logan se pronunciou pela primeira vez.

– Como sabe o nome de minha cavaleira? – O dragão interviu farejando o homem causando arrepios de susto – Eu não o conheço pelo que me lembro...

– Não o conhece realmente, mas foi ele quem viu Túriel pela última vez! – Afirmou o mago – E é sobre isso que viemos falar.

– Pela última vez? – Magnus questionou surpreso sem compreender o que o mago havia dito – O que houve com Túriel e onde ela está?

– Infelizmente não se encontra mais entre nós. Ela foi morta pelos Orcs de Taurus – Gandalf explicou e percebeu o quão difícil seria para Magnus ouvir tal perda.

– Aquele desgraçado de elfo vai pagar pelo que fez! – Magnus soltou labaredas de fogo para o alto, transparecendo toda a raiva que sentia – Eu juro Mithandir, juro pela minha própria vida que vingarei a morte de minha cavaleira! – Afirmou convicto e cheio de ódio.

– O ódio e a fixação de vingança serão péssimas estratégias contra Taurus agora, Magnus! – Ponderou o mago – Devemos nos concentrar em sua nova cavaleira, treiná-la para que juntos vocês possam derrotar o elfo – Completou.

– Nova cavaleira? – O dragão olhou para o mago desacreditado.

– Não se preocupe nós explicaremos a você, mas creio que a história seja um pouco longa! – Logan adiantou-se em dizer – Mas que tal antes você nos fazer uma fogueira? Está ficando mais frio! – Indagou- Buscarei um pouco de lenha!

Após a lenha estar totalmente empilhada, Magnus a acendeu com apenas um jato de fogo. Os homens se sentaram em volta e Gandalf se pôs a explicar toda a história para o dragão, desde quando o mesmo havia fugido com Túriel até o momento em que Logan, que na verdade é Rufus, salvara Astrid dos Orcs e a criara em um vilarejo distante.

– Astrid agora se encontra no Reino da Floresta das Trevas e está treinando para sua chegada. – Completou Logan.

– Como posso ter a certeza de que a garota Meia Elfa é realmente minha cavaleira? – Magnus perguntou duvidoso, pois acreditava que um dragão só poderia ter ligação com apenas um cavaleiro durante toda a sua vida.

– Bom – Iniciou o mago acendendo seu cachimbo – Sabemos que você pode ver os pensamentos das pessoas, se estas assim permitirem. Sugiro que veja as lembranças de Rufus para que tenha a plena certeza de nossa história, e para que possa ver Astrid.

– Como quiser Mithandir! – O dragão concordou transparecendo sua ansiedade.

– Ele vai entrar na minha mente? – Logan parecia assustado com a ideia, afinal não é comum alguém invadir sua mente quanto mais se esse alguém for um dragão.

– Ora, não se preocupe isso não vai doer nada – O mago disse abafando uma risada – Apenas lembre-se de tudo que aconteceu desde que você viu Túriel.

Logan assim o fez e autorizou que o dragão lesse seus pensamentos. O homem sentiu como se algo tocasse sua mente e era um tanto estranha a sensação, porém não havia dor como pensara antes.

Magnus absorveu cada imagem que via e não deixou de se emocionar com o pedido de Túriel para que Logan cuidasse da criança. O dragão sentia raiva ao ver os Orcs, alegria por ver Astrid e suas leves semelhanças com sua antiga cavaleira, esperança por ver a determinação da garota, mas acima de tudo ele sentia medo. Medo de que toda a história do passado se repetisse e que ele sofresse com uma nova perda.

Após ver todas as lembranças Magnus cortou a ligação com Logan, que por ora estava tão absorto com as emoções do dragão que nem sequer pensava direito. Durante algum tempo ninguém fez menção em dizer alguma coisa, mas Gandalf acabou por quebrar o silêncio.

– E então Magnus, Escamas de Gelo o que me diz? – Questionou o mago sério – Você virá conosco até a Floresta das Trevas para conhecer sua cavaleira?

– Gostaria muito Mithandir, mas não posso colocar a vida de mais uma cavaleira em risco – Ponderou Magnus tristemente – Tanto eu como ela não estamos prontos para isso ainda.

– Tenho plena consciência disso, mas sei que ambos poderão vencer as forças de Taurus, juntos, apenas precisam treinar para isso – Gandalf o encorajou – Acredito que vocês possam desenvolver algumas habilidades extras, já que são jovens.

– Precisamos de sua ajuda Magnus – Logan interviu – Taurus aumenta suas forças a cada dia, seus Orcs vagam por aí a sua procura, pois ele sabe que a união de um dragão e um cavaleiro é uma combinação poderosa.

– Nunca aceitaria aquele verme como cavaleiro! – O dragão bradou e cravou suas garras na terra – Só desejo mata-lo pelo que fez.

– Não tem como enfrenta-lo sozinho meu amigo – Gandalf tomou a palavra – Ele conhece muito bem a magia do mal e facilmente o fisgará com seus encantamentos ou poções, por isso digo que a única esperança é sua ligação com Astrid levando em conta que Taurus ainda não sabe da existência dela.

– Pensarei um pouco... – Foi tudo o Magnus disse antes de levantar voo e sumir na escuridão.

– Eu avisei Gandalf! – Praguejou Logan – Não dá pra confiar num dragão.

– De tempo ao tempo, tenho certeza de que pela manhã ele voltará – O mago deu um sorriso e soltou fumaça do cachimbo.

A conversa havia durado horas e dentro de pouco tempo amanheceria. Os homens decidiram passar o resto da madrugada no mesmo lugar aproveitando a fogueira que ainda queimava.

Pela manhã juntaram o pouco das coisas que traziam e se colocaram a caminhar até um lago que encontraram mais adiante da clareira. Algum tempo depois avistaram algo azul e brilhante no céu e rapidamente Magnus pousou diante de ambos surpreendendo-os com sua rapidez.

– Estou de acordo com vocês! – Magnus adiantou-se em dizer e sua voz soou retumbante – Já é chegada a hora do fim da tirania de Taurus! – Rosnou.

– Sabia que não me desapontaria Escamas de Gelo! – Gandalf disse com um sorriso no rosto – O plano é o seguinte...

Magnus Escamas de Gelo