Gandalf explicou todo o plano que tinha em mente para Magnus, e o mesmo concordou com todos os combinados do mago. De acordo com o plano, Magnus deveria manter-se na montanha até o entardecer, e quando visse o piscar da luz do cajado de Gandalf, já fora dos arredores do vilarejo, deveria alçar voo em direção ao mesmo, com a devida cautela de não chamar a atenção com rosnados e ou jatos de fogo, pois apesar do dragão ser “sociável” a maior parte do tempo, não deixava de lado seus instintos impulsionados por suas emoções do momento. Tudo tinha que ser feito com cuidado, e não seria nada agradável se as pessoas desconfiassem da presença de um dragão pelas redondezas.

O mago e o homem colocaram-se a caminhar de volta para o vilarejo, ambos já estavam um pouco mais aliviados por encontrar Magnus, e terem a certeza de que o animal os ajudaria de boa vontade, dando-lhes cada vez mais esperanças. Logan sentia-se animado com a ideia de ter um dragão por perto, nunca cogitou tal ideia, mas surpreendeu-se com o estado de espírito em que se encontrava, afinal depois de tanto tempo protegendo Astrid para que o destino da garota se cumprisse, e a mesma se unisse ao dragão, jamais acreditou na hipótese de encontrá-lo tão facilmente, e muito menos acreditou que este aceitaria se juntar a uma nova cavaleira, depois de saber da morte de Túriel. Realmente a ideia lhe dava esperanças, e despertava cada vez mais seu orgulho pela sua protegida, Astrid.

Chegaram ao vilarejo em torno do meio dia. O sol estava forte apesar da brisa de primavera. As pessoas enchiam as estreitas ruas de pedra, afinal era mais um dia de vendas, compras e muito trabalho para todos, sendo assim Logan e Gandalf passaram praticamente despercebidos em meio à multidão.

Ambos voltaram para a estalagem e subiram até o quarto para se reunirem com Marine e Fergus. Ao abrirem a porta já podiam escutar a mulher com seus ataques de preocupação e felicidade.

– Logan, Finalmente você chegou! – Ela correu de encontro ao marido beijando-o – Eu estava ficando louca de preocupação! Vocês encontraram o dragão? – Finalizou curiosa.

– Não se preocupe! – Ele a tranquilizou – E sim, nós o encontramos! Hoje à noite iremos partir, por isso arrume suas coisas! – Ordenou por fim, não escondendo sua felicidade.

– Finalmente vamos sair desse cubículo! – Marine suspirou de alegria - Se bem que viajar no lombo de um cavalo não me agrada em nada, e pior é ter que dormir no chão! – A mulher desfez o sorriso em uma careta ao avaliar o que estava por vir, e constatou que a situação só pioraria com um suspiro de tristeza.

– Pense que logo estará no Reino da Floresta na companhia de sua filha, minha senhora! – Comentou Fergus, também feliz em saber que veriam as garotas em breve.

– Verdade Fergus, eu mal posso esperar para ver minha adorável Susana! – Ela concordou animada com a ideia – Mas Logan, você podia ter me mandado pra Floresta junto com minha filha, não é mesmo? Eu não estaria passando por essa situação tão deplorável se tivesse ido pra lá antes! - Marine questionou o homem, ainda inconformada com toda aquela situação em que se encontrava.

– Eu não a mandei junto com as meninas, pois eu bem sabia que você mesma não aceitaria no momento, e mesmo que aceitasse ir, não conseguiria acompanhar o ritmo delas! – Logan explicou, não contendo um riso mediante as reclamações da mulher.

– Resumindo, minha cara amiga, você apenas atrasaria a chegada de Astrid e Susana até o reino de Thranduil! – Gandalf finalizou com uma gargalhada, sendo acompanhado por Logan e até mesmo Fergus.

– O que é isso agora? Estão achando graça do que? – Marine cruzou os braços e mantinha a expressão séria.

– Nada, estamos apenas nos divertindo! – O mago comentou cessando a risada.

– Às minhas custas é claro! – A mulher resmungou para si e começou a arrumar seus alforges.

O dia passara rápido na opinião de todos e logo o sol iria se pôr, dando lugar a lua e as estrelas, favorecendo o início de viagem que os levariam até o reino de Thranduil. Logan e Gandalf organizaram tudo o que precisariam para a jornada, pagaram as despesas com a estalagem e por fim prepararam os cavalos para partirem.

Assim que a noite chegou os quatro saíram do pequeno vilarejo e se puseram a cavalgar rumo às campinas, a fim de permanecer a uma distância segura para que Magnus os encontrasse. O mago fez com que a luz de seu cajado começasse a piscar, sinalizando que o dragão já pudesse segui-lo.

O dragão encontrava-se nas montanhas, o mesmo estava ansioso para partir, embora às vezes relutasse a ideia de unir-se a uma nova cavaleira, por medo de colocar em risco a vida dela, no entanto mantinha-se firme e determinado a cumprir seu destino. Não demorou muito para que Magnus avistasse uma luz piscando ao longe, se fosse uma pessoa qualquer talvez não percebesse, mas sua visão era incrivelmente aguçada, até mesmo mais do que a visão dos próprios elfos, o que lhe era um privilégio.

Magnus impulsionou as asas para voar e reprimiu um rosnado lembrando-se dos conselhos do mago. O animal sobrevoou o vilarejo em uma altura mais elevada do que a de costume, tudo isto como forma de não chamar atenção, e em poucos minutos já se encontrava acima do mago e seus amigos.

– Muito bem Escamas de Gelo! – O mago saudou vendo o dragão pousar suavemente - Agora podemos partir, vamos aproveitar a noite e adiantar nossa jornada para chegarmos até os altos rochedos antes do amanhecer, onde poderemos escondê-lo! – Concluiu.

– Perfeitamente Mithandir! – Concordou Magnus com sua voz grave - Tudo que mais quero é vingar a morte de minha cavaleira, e farei tudo o que for possível para isso, mesmo que demore anos... No entanto, a segurança de minha nova cavaleira é mais importante do que qualquer vingança!

– Pelas barbas do meu avô, Logan! Não me diga que o dragão falou? – Marine disse surpresa e inconformada ao ouvir as palavras do animal. Fergus estava de boca aberta, se era de surpresa ou medo ninguém saberia dizer, e ao mesmo tempo petrificado.

– Não só digo como confirmo querida! – Afirmou o homem com um sorriso – Este é Magnus, Escamas de Gelo! Protegido das altas montanhas do Oeste! Parceiro da cavaleira e elfa, Túriel e em breve de Astrid! – Concluiu com uma voz cerimonial.

– Quando a gente pensa que já viu tudo nessa vida, Fergus, sempre acontece coisas mais estranhas ainda para nos surpreender, não concorda? - A mulher diz cutucando o criado, com os olhos arregalados demonstrando toda sua surpresa.

– Aham! – Foi tudo o que o pobre homem conseguiu dizer, afinal não é todo dia que se via um animal desses na sua frente, ainda menos falando.

Vendo que Marine e Fergus estavam paralisados e que nada mais falariam, Logan adiantou-se em apresenta-los ao dragão.

– Bom Magnus! Está é minha mulher, Marine, e este é nosso fiel amigo, Fergus! – Apresentou.

– Prazer em conhecê-los! – Saudou gravemente - Espero não estar os assustando muito, e saibam que essa não é a minha intenção e que jamais os machucarei!

– Pra... Prazer e obri... Obrigada! – Marine gaguejou e apesar do dragão se mostrar passivo sua voz ainda a assustava.

A viagem seguiu-se com tranquilidade, durante horas nenhum som peculiar foi ouvido e nenhuma outra criatura qualquer dera o ar de sua graça, nem mesmo o bater de asas do dragão que estava em grande altitude podia ser escutado, tudo se encontrava em perfeito silêncio, o que era estranho levando em conta que Marine sempre estava em constante estado de expressão pela fala, resmungos e reclamações, Logan podia dizer que a presença de Magnus ajudara Marine a descobrir o silêncio, e o melhor de tudo, permanecer nele.

Passaram por uma campina bem arborizada e lá era possível perceber a vida ao redor. Corujas piavam, grilos cantavam, sapos coaxavam e lobos uivavam ao longe, no entanto, ao cavalgarem por entre as árvores mais densas os cavalos começaram a ficar inquietos e a relinchar, logo não demorou muito para ouvirem os gritos de Marine.

Um lobo cinzento saltou derrubando a mulher no chão, cravando seus dentes no ombro da mesma. Imediatamente Logan retirou sua espada e correu em direção a esposa, matando o animal com um só golpe. Uma matilha havia os cercado e Gandalf se pôs a aumentar a luz de cajado afastando a maioria dos animais, porém os que ficavam eram facilmente abatidos por Logan. Após constatarem que tudo havia acabado e Gandalf esclarecer mentalmente para Magnus que tudo estava bem, voltaram-se para Fergus que cuidava do ferimento de Marine.

– Me perdoe, eu devia ter ficado mais atento! – Desculpou-se Logan beijando o rosto da mulher – Fiquei preocupado, achei que te perderia! – Finalizou afagando o rosto da mesma, transparecendo preocupação.

– Tudo bem! Não se culpe, eu estou aqui não estou? – Sorriu entre lágrimas – Ai Fergus, não aperte tanto, por favor! – Bradou em seguida, sentindo o criado apertar-lhe uma faixa no ombro.

– Desculpe senhora, mas isto é necessário para cessar o sangrento! Logo ficará bem! – O homem tranquilizou-a.

Logan ajudou Marine a se levantar, ofereceu-lhe um pouco de água e a ajudou a montar no cavalo para seguirem a viagem, desta vez recobrando de si maior atenção depois do ocorrido que quase custara a vida da esposa.

***~~***

Astrid continuava a estudar a Língua Élfica, mesmo após ter anoitecido, ainda continuava firme e determinada em aprender mais. A jovem fizera grandes progressos em um só dia, o que deixou Fahir um tanto surpreso com a facilidade que ela tinha em aprender o idioma, tanto que o Sábio decidiu estender as horas de estudo até ao anoitecer.

– Parabéns Astrid, vejo que tem grande facilidade com nossa Língua! – Elogiou o elfo organizando algumas pilhas de livros.

– Obrigada Fahir, mas saiba que isso só está sendo possível porque tenho um ótimo professor! – Astrid agradeceu e o reverenciou demonstrando respeito.

– Ora! Muito obrigado! – O elfo retribuiu com um sorriso – Mas saiba que isso só está sendo possível, também, devido a sua dedicação e vontade de aprender - Elogiou-a com admiração - Sabe, devo te confessar que não são todos os aprendizes que demonstram tanto interesse pelos livros, geralmente os jovens elfos preferem o arco, as espadas e ação, muita ação. Não é a toa que nossos campos de treinamento estão sempre cheios – Comentou enquanto devolvia todos os livros em seus devidos lugares.

– Bom! E eu devo confessar que gosto muito de livros, e simplesmente não consigo imaginar minha vida sem eles! – Afirmou acariciando a enorme prateleira de livros, e viu que Fahir sorriu com sua demonstração de amor por eles – Mas também gosto de ação, pois simplesmente não consigo ficar parada por muito tempo. O problema é que essa ação é meio que impossível pra mim, visto que sou péssima com arco e flecha e também espada. Confesso que me sinto a pior guerreira do mundo! – Desabafou, rindo ao se lembrar do quão ruim era e Fahir também a acompanhou com uma risada discreta.

– Você ainda é muito jovem e com o tempo ficará mais sábia e mais forte! – Afirmou demonstrando sabedoria em suas palavras - Não se preocupe com os erros, pois eles te servirão de aprendizagem, e por mais difícil que seja aprender nunca deve desistir de continuar! Pelo que vejo, você está um pouco preocupada com o que Tamina pensa sobre você, estou certo? – Ele concluiu e Astrid balançou a cabeça afirmativamente, não que a opinião de Tamina fosse tão importante assim, afinal ela sempre ignorou ao máximo o que as pessoas pensavam a seu respeito, mas as palavras e atitudes da elfa sempre soavam com ofensa e pura humilhação, e isso ela jamais poderia ignorar e aceitar de cabeça baixa, afinal ela mantinha seu orgulho próprio.

– Hum, mas acho que terá que aguentá-la por pelo menos mais uma semana! – Alertou o elfo olhando-a seriamente – Semana que vem teremos a Grande Competição para os jovens elfos! – Sorriu animadamente.

– Uma grande competição do que? – Exclamou sentindo que as coisas poderiam piorar.

– Bom! É uma competição com armas, mas claro, nada muito afiado e mortífero, é apenas um jogo que é feito para avaliar o desempenho de todos os jovens, uma forma de testá-los! – Fahir explicou em um tom totalmente descontraído parecendo apreciar muito a competição, e Astrid ficou um tanto surpresa ao ver sorrisos espontâneos surgirem do elfo logo a seguir – Perdão, vou lhe explicar melhor! – Desculpou-se ao ver a dúvida estampada no rosto da aluna e começou a explicar – Primeiro, os jovens serão divididos em dois grupos por seus líderes. Segundo, cada líder deverá determinar um lugar para esconder a bandeira que representa o grupo, de uma maneira que ela não seja encontrada facilmente. Terceiro, cada grupo deverá proteger sua bandeira, lutando da melhor maneira possível e trabalhando em equipe para que ela não seja roubada por seus adversários. Por fim, a equipe que conseguir invadir o território adversário e erguer a bandeira dele vence! – Concluiu pousando a mão no ombro da jovem, passando-lhe confiança – E mais uma coisa, Tamina será uma dos líderes! – O elfo sorriu provocativo e ouviu a jovem bufar contrariada em seguida.

– Eu bem que desconfiei Fahir! Realmente sou obrigada a participar? – Astrid questionou, demonstrando toda sua insatisfação.

– Infelizmente sim! – Afirmou o elfo – Mas não se preocupe você conseguirá! – Concluiu encorajando-a.

– Fazer o que né, tenho que me conformar com minha nova vida de aprendiz! – Astrid suspirou e forçou um sorriso – Isso não é nada que uma cavaleira não possa enfrentar! – Concluiu ironicamente e Fahir apenas concordou que sim balançando a cabeça.

– Muito bem, vejo que parece cansada e então está livre para ir! – Disse o elfo ao ouvir Astrid bocejar – Boa noite Astrid!

– Boa noite Fahir! – A jovem retribuiu com um sorriso e retirou-se da biblioteca.

Logan