Passou- se três dias e meio de viagem. Astrid e Susana estavam exaustas com a longa caminhada. Mal comiam e dormiam direito. Seus rostos estampavam pesadas olheiras e também inquietação.

A floresta foi ficando cada vez mais densa e fechada, tanto que as garotas tiveram que tomar a difícil decisão de soltar os cavalos e carregar os alforges de comida e roupas nas mãos.

Astrid amarrou a aljava com as flechas nas costas e mantinha o arco nas mãos para o caso de uma emergência, mesmo não sabendo manuseá-lo teria que tentar em uma possível necessidade de defesa.

— Nossa água está acabando! - Astrid alertou a irmã enquanto segurava um cantil vazio. Seu rosto estava coberto de suor e a garota bufou, irritada pela situação.

— Isso é o fim! - Susana suspirou e cruzou os braços - Vamos morrer assim? que triste fim o nosso! - Ela mirou o chão e fez um bico de desgosto. Sua voz saiu como um sussurro.

— Deixa de ser pessimista garota! Só precisamos achar um lago, um rio... - Ralhou Astrid tentando se manter confiante. O pensamento sobre um possível rio fez com que a jovem sentisse uma sensação estranha e a respiração pesada.

— O que foi criatura? - Questionou Susana ao ver a expressão paralisada e pensativa de Astrid. - Você está bem? - Insistiu preocupada.

— Não está ouvindo? - Questionou Astrid, concentrada na floresta ao redor. Susana a olhou confusa.

— O que? O vento? - Indagou Susana, não compreendendo a situação.

— Não! É o som de um rio! Vamos! - Gritou Astrid. A garota aliviou a tensão e correu em direção ao som das águas.

— Ei espera! - Gritou Susana correndo logo em seguida.

Ambas correram em direção ao rio que ainda continuava na trilha de pedra. E chegando a poucos metros puderam contemplar uma leve correnteza que fluída para o lado esquerdo de ambas.

— Ai que bom! - Suspirou Susana ainda ofegante, tentando se recuperar da corrida. - Pelo menos temos a certeza de que não vamos morrer de sede!

— É, mas podemos ter a certeza de que vamos morrer afogadas! - Ponderou Astrid em tom de ironia.

— Poxa! - Susana exclamou cabisbaixa - Não sei o que é pior se é morrer de sede, afogada ou ter que aguentar aquele nojento do Feng e principalmente do Finn! Argh.. - A loira fez uma careta não aprovando nenhuma das opções.

— Bom levando em conta a última opção, que é nojenta, eu ainda prefiro as duas primeiras! - Ironizou a morena.

— Como vamos atravessar sem morrer? - Questionou Susana, sentando-se em um tronco com as mão no rosto em desespero.

— Hum ainda não sei! - Disse Astrid pensativa. A garota suspirou e andou em círculos, vendo que a situação não era nada agradável.

Astrid pensou por algum tempo. Nenhuma das duas sabia nadar e aquilo seria o grande problema. Ela pegou tudo o que tinha em busca de uma solução até que um plano lhe soou perfeito.

— O que vai fazer? - Indagou Susana olhando confusa para a irmã, enquanto a mesma juntava todas as coisas que dispunha no alforge.

— Bom, temos um arco e flecha e uma corda! Talvez Logan previu as circunstâncias! - Concluiu Astrid.

— É bom que esse seu plano dê certo! Não aguento mais esperar! - Murmurou Susana, cruzando os braços impaciente.

Astrid amarrou a corda em uma flecha. Posicionou o arco com cuidado mirando uma árvore à frente do rio. Seus dedos tremiam de ansiedade e insegurança. Fechou os olhos e tentou manter os pensamentos calmos concentrando-se o máximo que pode.

Ela soltou a flecha e para grande surpresa e sorte havia acertado o seu alvo. A jovem ficou paralisada, afinal nunca havia manuseado um arco e flecha em toda sua vida, e diante das circunstâncias em que estava ficou aliviada com o feito inesperado.

— Nossa! Como conseguiu fazer isso? - Susana arregalou os olhos, surpresa - Pensei que não conseguiria!

— Eu também pensei... - Astrid ainda estava trêmula e amarrava a ponta da corda em uma árvore fina, para que pudessem atravessar em segurança.

Ambas apressaram-se em atravessar o rio, segurando a corda que agora servia de apoio para que não se afogassem. A água estava fria e a sensação de que a corda arrebentaria era perturbadora.

"Mantenha a calma" pensava Astrid. " Eu não vou morrer" repetia Susana.

Após minutos, que mais pareciam horas, ambas chegaram em terra firme ofegantes. Estavam felizes por novamente sentir os pés no chão e irritadas por estarem cansadas e ,agora molhadas.

— Nunca me... senti tão feliz ...em estar em terra firme! - Astrid disse ofegante entre pausas, sentindo a cabeça latejar com o gelo que a água estava.

— Nem eu... - Susana jogou-se no chão e olhava para a copa das árvores.

Ficaram alguns minutos em silêncio para recuperar as forças, quando de repente ouviram um barulho estranho e sentiram como se estivessem sendo observadas. Astrid retirou uma flecha por instinto e Susana se levantou a olhando com uma cara assustada. A jovem lançou uma flecha em direção a um galho, e de repente uma aranha apareceu. Mas não era uma aranha comum, daquelas pequenas que praticamente são inofensivas. Era uma aranha gigante com olhos e boca assustadoramente maiores do que o normal.

— Socorro! - Susana correu e atirou pedras na criatura, mas isso só serviu para piorar a situação.

Astrid mirou uma flecha na aranha que a perseguia, mas a flecha apenas passou raspando na cabeça grotesca. Tentou novamente e dessa vez ela perfurou o animal, que se debatia e fazia um ruído irritante.

— Corre Susana! - Gritou para que a loira corresse e a acompanhou. Dezenas de aranhas as perseguiam e agora estavam encurraladas, prestes a virar o prato do dia.

Susana gritava e atirava pedras. Astrid lançava flechas na maior velocidade que podia, mas poucas atingiam as aranhas.

As flechas acabaram piorando a situação. Agora estavam totalmente encurraladas como moscas e algumas aranhas tentavam as enrolar em uma teia grudenta.

Susana agarrou a perna da irmã e estava desesperada de tanto chorar. Astrid batia nas aranhas com um pedaço de pau, mas nada surtia efeito.

Uma aranha chegou bem perto das garotas. Susana gritou em desespero e Astrid tentava chutá-la com toda a força que podia, mas aquilo só despertava ainda mais a fúria do animal.

Olharam ao redor e viram pessoas correndo com arcos e espadas. Mas não eram pessoas comuns, pois eram altas, esguias e tinham orelhas pontudas. Eram elfos e eles estavam abatendo todas as aranhas em uma velocidade incrível.

Susana se levantou retirando a teia que cobria seus pés e Astrid ainda lutava com outra aranha. Ela agarrou o pé da jovem com as garras perfurando parte de sua bota, que por sorte era resistente o bastante para não lhe causar muito mais dor.

Um elfo loiro de cabelos compridos desceu pelo fio da teia e parou em sua frente com a flecha apontada. Por hora Astrid pensou que ele a mataria também, mas o elfo apenas mirou na aranha que a atacava e matou o animal com uma precisão admirável, deixando a garota paralisada com sua habilidade.

Os elfos conversavam entre si, mas era em uma língua diferente. Nenhuma das garotas compreendiam o que eles diziam e se entreolhavam assustadas.

Eles as cercaram e o elfo loiro se aproximou das garotas com uma expressão um tanto curiosa.

— O que estão fazendo aqui? - Ele perguntou sério e demonstrava sua curiosidade.

— Estamos fugindo! - Astrid respondeu, embora não confiasse no elfo.

— Fugindo de que? Das aranhas? - Ele questionou novamente, insatisfeito com a resposta.

— Sim é uma longa história... - Limitou-se a responder ,e o elfo a olhou como se quisesse ler sua mente.

— Tenho certeza de que o nosso Rei vai gostar de ouvi-la! - O loiro empurrou Astrid em direção aos elfos, e depois deu ordem para que um deles levasse Susana.

— Me solta! Não precisa me empurrar! - Susana estava nervosa e ao mesmo tempo assutada quando dois elfos a seguraram.

Astrid não podia esconder totalmente seu medo, afinal estava em uma terra desconhecida, com pessoas desconhecidas, após quase ser morta por aranhas anormais. Como se isto não bastasse, ela ainda teria que dar explicações ao rei daquela floresta e tal situação a preocupava.

" Em que situação fui me meter! Tenho que falar com um Rei? " , pensou tentando esconder sua preocupação, enquanto o elfo que a salvou a segurava pelo pulso, caminhando em direção a trilha.