Além do horizonte

Conversando com o Rei


P.O.V Astrid

Os elfos nos levaram até um grande reino. Passamos por entre uma fileira de pinheiros até chegarmos em uma passarela que nos levava até a entrada. Havia alguns guardas a postos e com a ordem do loiro eles abriram os portões para que entrássemos.

Era impressionante a beleza do lugar. Havia muitas passarelas de pedras assim como grandes pilares cuidadosamente decorados. Os salões eram altos e muito bem iluminados.

Olhei para baixo, era uma grande altura ali e o pior é que lá em baixo havia um rio. Eu não tinha medo de altura, mas pensar em escorregar daquelas passarelas e morrer afogada me deu um belo frio na barriga.

– Vamos logo garota! - O elfo me empurrou para frente percebendo que eu havia parado de andar.

– Calma! Só estou apreciando o lugar! - Eu disse a ele com toda seriedade do mundo e pude ver um sorrisinho no canto de seu rosto, mediante minha admiração pelo lugar.

Susana não dizia uma palavra se quer, mas eu não deixei de perceber que ela estava encarando um dos elfos que a escoltava. Não era nenhuma novidade ela ficar admirando os homens, eu já estava acostumada com tal atitude dela, e não aprovava tal comportamento.

Uma elfa ruiva ficou ao lado do loiro e eles começaram a conversar em sua estranhíssima língua. Fiquei observando os dois e principalmente o cabelo da elfa que realmente era bonito, de um ruivo que eu jamais havia visto na vida.

Subimos uma pilha de escadas para chegar até onde o rei se encontrava. Ele estava sentado em seu trono todo imponente, com as pernas cruzadas e uma postura altiva. Estava sério e nos encarava , mas era bonito, tinha um cabelo loiro comprido, usava uma coroa com galhos, vestia uma túnica cinza e uma capa longa vermelha. Pelo que percebi tinha muita semelhança com o elfo que me acompanhava.

O loiro e a ruiva fizeram uma reverência para o rei. Falaram algumas coisas não compreensíveis para ele e o mesmo pediu que todos os soldados se retirassem. Apenas a elfa e o loiro ficaram nos acompanhando.

O rei desceu de seu trono e ficou de frente para nós. Ele era alto e demonstrava toda sua soberania através de sua postura imponente.

– O que fazem aqui no Reino da Floresta das Trevas? - Ele perguntou com um olhar sério e ao mesmo tempo curioso.

– Fomos mandadas aqui! - Olhei para Susana e percebi que ela demonstrava medo em dizer alguma coisa, então acabei por responder– Estamos fugindo! - Limitei-me a dizer e ele me olhou ainda insatisfeito.

– Do que estão fugindo? - O elfo me encarou curioso e cruzou os braços esperando minha resposta.

– De um cara muito ruim que queria me levar como moeda pra pagar uma dívida... - Susana respondeu mais rápido do que eu, estava muito nervosa e tremia.

– Hum Interessante! - Ele andava de um lado pro outro agora - Conte-me mais sobre isso! - Disse olhando para a Susana.

– Sem querer! - Susana começou- Eu cai e derrubei os barris de vinho de um senhor muito chato, na festa, então ele queria que meu padrasto pagasse a dívida... - Ela respirou fundo e continuou - Não tínhamos dinheiro suficiente ,então ele queria me levar como se fosse um saco de ouro...

– Sim... Mas porquê e como chegaram aqui? - Ele interrompeu, querendo que a história rumasse realmente até o ponto desejado.

– Elas devem estar cansadas e as aranhas quase a mataram meu rei! - A ruiva interrompeu.

– Não interrompa Tauriel! - O Rei aumentou o tom de voz - Porque estão aqui? - Ele repetiu a pergunta impaciente.

– Meu tio nos mandou fugir pra cá! - Eu disse rapidamente e minha voz falhou um pouco, devido ao meu nervosismo.

– E quem ele é? - Ele se aproximou de nós e ficou olhando fixamente.

– Logan... - Foi Susana quem respondeu.

– Logan? Não conheço ninguém com esse nome... - Ele mantinha uma expressão séria e pareceu um tanto pensativo.

– Este arco estava com ela! - O loiro apontou para mim e entregou meu arco para o Rei. Confesso que fiquei com raiva por isso.

– Um arco élfico! Onde você conseguiu isso ? - Ele estudou o arco em suas mãos e me perguntou de costas.

– Foi meu tio quem me deu... - Respondi com o tom um pouco elevado devido a raiva. Toda aquela história me cansava.

– Ficarei com ele! - O rei observou o arco com mais cautela, parecia muito curioso em relação ao objeto.

– Porque? Este arco é meu! - Eu ameacei ele com os olhos, não me agradando da situação.

– Sim, mas eu ficarei com ele agora! - O Rei me olhou com indiferença, sua expressão era decidida.

– Nós andamos um monte de léguas, quase morremos afogadas no rio e quase fomos mortas por aranhas... - Eu comecei a dizer, mas Susana interrompeu de repente, piorando a situação.

– E pior! Ficamos sem tomar banho cheirando a cavalo!- Ela se lamentou, e pior que isso, acabou me interrompendo para dizer asneiras.

– Sua idiota não me interrompe! - Ralhei com ela, perdendo totalmente a paciência que ainda me restava.

– Olha o meu estado! - ela apontou para o vestido - Meu estado está deplorável!

– Para começar a culpa é sua! Se não fosse você estaríamos em casa bem tranquilas agora! - Eu gritei com ela, despejando minha raiva.

O rei estava de costas e com as mãos cruzadas pra trás segurando o arco. Confesso que por um momento senti medo do que ele pudesse fazer conosco.

– Não foi culpa minha... Foi um acidente! - Ela também gritou, mas parecia que iria chorar a qualquer instante.

– Com certeza! - Eu suspirei e respirei fundo. Susana sabia como piorar a situação, por um momento pensei em fugir dali.

– Légolas, levem-nas para as celas! - O Rei falou ainda de costas, indiferente a tudo o que nós dizíamos.

Antes que Légolas e Tauriel nos levassem eu tentei puxar o arco das mãos do rei. Ele virou-se em desagrado com minha ousadia e me lançou um olhar de fúria.

Susana também me olhava torto, ela parecia incomodada com a situação já que teria que ficar presa sem tomar banho, como se tudo isso fosse apenas culpa minha.

Fomos arrastadas até as celas. Tauriel me enfiou em uma e Légolas prendeu Susana em outra. O lugar era escuro e totalmente úmido. As passarelas que descemos eram estreitas e em cada canto haviam guardas de vigia. Seria impossível sair dali, pensei.

– Quanto tempo vamos ficar aqui? - Perguntei para a elfa, enquanto a mesma fechava a cela.

– O tempo que o rei estipular! - Ela me respondeu de forma educada, parecia compreender minha situação. Eu via em seus olhos que ela queria me ajudar, mas quem vai ousaria desafiar aquele rei?

– Não quero ficar presa aqui... - Ouvi Susana choramingar ao lado. - A culpa é sua Astrid!

– Ele roubou meu arco e não tinha esse direito! - Eu respondi ainda com raiva, porém agora minha preocupação era em sair dali.

– Mas podia ter falado com mais educação! Ele ficou irritado sua égua! - Ela me falou dando uma bronca.

– Ele também é sem educação! E Eu também fiquei irritada! - Eu ralhei imaginando a expressão de desprezo do Rei.

– Ele até que é bonito! - Susana falou isso com uma voz doce e ao mesmo tempo interesseira.

– Ele é arrogante, isso sim! - Revirei os olhos indiferente, quanto ao comentário dela.

– Ai, bem que aquele loiro podia trazer comida! Eu estou com muita fome! - Ela choramingou mais uma vez.

– Podia nos trazer água também! - Comentei ao perceber minha garganta arder de sede.

– Podia trazer aquele soldado charmoso que me trouxe aqui! O cabelo dele é tão lindo e os olhos então! Aquelas orelhinhas pontudinhas!- Não vi o rosto dela, mas suspeitei pela voz que ela estava babando ao pensar nisso.

– Deixa de ser besta menina, estamos presas aqui e você pensando na beleza de um soldado? Por favor né! - Revirei os olhos e bufei inconformada com o comentário de Susana.

– Ai que ruim você é! Pensa que não vi você olhando pro loiro lá hein? - Ela soltou uma risadinha e eu sabia que só estava querendo me irritar.

– Eu olhei normal! - Rebati - Ele é um elfo, nunca tinha visto um... - Suspirei impaciente com a conversa.

– Uhum, sei... Pode me falar irmãzinha... - Susana continuou com sua chatice. Por um momento pensei que não seria má ideia voltar para a floresta e correr das aranhas, ao invés de aguentar as conversas fiadas dela.

– Porque não fica quieta! Eu não fiquei olhando pro Lég... - Pelas estrelas! Eu quase morri do coração quando ele apareceu do nada, segurando uma bandeja com comida.

Susana riu baixo. Ela estava se divertindo com a situação, enquanto devia estar calada para seu próprio bem.

– Ai finalmente! Obrigada Loiro! - Susana fez aquela voz doce que me irritava.

– De nada! - O elfo respondeu com uma voz gentil.

– Estão com fome não é? - Ele se aproximou da minha cela e me passou uma tigela com algumas uvas e maçãs.

– Obrigada! - Eu agradeci, pois apesar de não estar contente com minha situação ainda tinha um pouco de educação.

Quando me aproximei para pegar a tigela meu colar se desprendeu da minha roupa e balançou. Légolas me olhou estranho, principalmente para o colar.

– O que foi? - Perguntei sem entender sua expressão.

– Nada... - Ele estava com os olhos arregalados e depois se retirou. O que teria de tão especial naquele colar? pensei.

– Ah não importa... - Suspirei baixo e me preocupei em comer, afinal minha fome era maior do que toda minhas preocupações - Mas o que tem de tão especial em você? - Indaguei olhando para o pingente, como se esperasse uma resposta do objeto.