Além do horizonte
Entre Luz e Trevas
— Ai Logan o que você fez! Minha Susana longe desse jeito não vou suportar! - Marine debruçara-se na mesa com a mão na cabeça toda preocupada.
— Não se preocupe! Ela está com a Astrid que pelo menos tem juízo! - Ponderou Logan com um sorriso. - O homem se aproximou e a tocou no ombro.
— Está insinuando que Susana é uma desmiolada? - Disse Marine com o olhar interrogativo.
— Não! - Garantiu - Só quero dizer que ela é muito imatura e inexperiente - Comentou o homem com o olhar vago e imerso em pensamentos.
— Sim, eu sei! Ela é só uma criança meu Deus! - A mulher caiu em lágrimas, abaixou a cabeça e se pôs a soluçar.
— Se acalme minha senhora, elas vão ficar bem. - Fergus tentou acalmá-la e ofereceu um copo de água.
— Precisamos ir embora! Está ficando tarde precisamos sair agora! - Alertou Logan com o olhar carregado de preocupação.
— Pra onde? Não está pensando em...? - Marine se assustou ao perceber o que ele pretendia.
— Grande Minéria! Exatamente! Só que não na cidade em si, vamos para um outro vilarejo entre as montanhas próximas! Feng não nos encontrará lá! - Disse sério mirando o chão.
— Está vendo Fergus? - Ela arregalou os olhos e apontou para o marido - Eu casei com um louco!
O por do sol brilhava além do horizonte, anunciando a chegada da noite de lua minguante. Astrid e Susana haviam diminuído o passo ao entrar na floresta e foram longas horas de desespero, nervosismo e brigas.
— Astrid devagar! Eu estou quase caindo desse bicho aqui! - Susana gritou, em desespero a ponto de chorar por quase cair do cavalo.
— O que foi? - Astrid parou o cavalo, deu um suspiro de impaciência e esfregou o rosto.
— Dá um tempo por favor! Estou muito cansada, com sede, com fome e com uma baita dor na bunda! - murmurou Susana, gesticulanfo e fazendo caretas de dor.
— Oh que dó! A princesinha está cansada? - Astrid provocou. - Vamos parar quando acharmos um rochedo para descansar, como Logan nos disse! Mas se quiser beber água eu espero... - Ponderou a morena com uma expressão de impaciência ainda prevalecida.
— Obrigada sábia irmã - Respondeu secamente a loira, revirando os olhos.
Depois das brigas ambas se aquietaram e passaram a viagem toda em silêncio, sendo que o único som que ouviam eram os passos dos cavalos, os suspiros de Susana e o som de grilos e outros insetos na floresta.
— Está escuro Astrid! - Susana quebrou o silencio de horas. Seu rosto estava coberto de suor.
— Vamos parar ali! - A morena apontou para um rochedo logo a frente.
As garotas pararam próximo ao rochedo, Astrid amarrou os cavalos nas árvores para que não escapassem e observou ao redor, certificando-se de que estivessem em segurança.
— Ai como é bom esticar minhas pernas! - Disse Susana esticando os braços e alongando as pernas.
— Vamos fazer uma fogueira! Encontre alguns gravetos! - Ordenou Astrid, retirando alguns alforges com a comida e os colocando no chão.
— Esses servem? - Perguntou a loira, com uma pilha de pequenos galhos nas mãos.
— Sim, está ótimo, empilhe-os ali! - Respondeu Astrid, caminhando até a irmã com dois grossos galhos para acender o fogo.
Com a fogueira acessa e bem alimentada com madeira as duas puderam se aquecer do frio da escura floresta amaldiçoada. Susana havia improvisado uma pedra como mesa e arrumou o pouco de comida que dispunham em cima, enquanto Astrid esquentava água para que pudessem cozinhar duas cenouras, o único legume que haviam levado para a viagem.
— Temos que dividir o pão - Ponderou Astrid, rasgando um pão ao meio.
— Só isso? Vou morrer de fome! - Susana reclamou, mas ao ouvir seu estômago roncar tomou um pedaço de pão e o devorou sem pestanejar.
— Temos que economizar, não sabemos quantos dias ficaremos aqui - Comentou a morena séria. Ela mantinha uma expressão cansada e um pouco dura pela viagem.
— Eu sei... Estou com frio! Vou pegar meu casaco! - A loira concordou a contragosto e levantou-se, afagando os braços para se esquentar.
Susana revirou uma de suas bolsas e retirou um casaco, mas sentiu algo subindo em seu pescoço e logo sua respiração acelerou deixando-a paralizada.
— Ai meu Deus! - Gritou - Tem um bicho nas minhas costas! - A menina estava paralisada e tentava se controlar.
— O que foi agora? - A irmã se levantou e foi até onde ela estava - É só uma barata, Susana - Revirou os olhos e então deu um tapa no inseto fazendo-o voar longe.
— Ai! Não precisa me bater, ou melhor me dar um coice! - Choramingou Susana, enquanto alisava o pescoço tentando aliviar a dor.
— Eu não ia pegar a barata na mão não é mesmo? Que Nojo... - Astrid ria malignamente ao ver Susana fazer uma careta de nojo.
— Para de rir! sua égua maluca! - A loira gritou emburrada é fazendo bico.
— Para de falar sua sapa albina! - Revidou a irmã ainda entre risadas. Se tinha algo que Astrid gostava era ver Susana emburrada e totalmente parecida com uma criança chorosa quando quer doce. A morena não se continha em risadas.
Novamente o silêncio prevaleceu. A fogueira queimava freneticamente com suas chamas hipnotizantes, o que fez com que Susana dormisse profundamente, enquanto observava- a devorar a madeira.
Astrid observava a lua, por mais cansada que estivesse não conseguia dormir. Ela retirou o colar e mirou para o pingente como se quisesse decifrá-lo, deixou que as lembrança dos últimos dias passassem em um flashback. Havia muitas perguntas e poucas respostas, tantos mistérios e poucas pistas, e enfim deixou- se levar pelo cansaço e dormiu.
Naquela noite Astrid teve um sonho. Ela cavalgava em uma campina vasta e cheia de flores, quando de repente um soldado com uma capa escura montado em um cavalo negro apareceu cavalgando a toda velocidade tentando alcança-la, mas prestes de isso acontecer... Ai!
— Acorda garota! - Gritou Susana, após jogar a sua bolsa em cima de Astrid, que acordará apavorada.
— Sua louca o que está fazendo? - Astrid jogou a bolsa longe e levantou-se em um pulo com chamas nos olhos.
— Eu estou passando mal! - Suspirou a menina que estava pálida, a mesma apertava o estômago e fazia uma cara de enjoo.
— Por favor não vai.... - Gritou Astrid prevendo a situação.
— Argh que nojo! - Suspirou Susana, depois de ter vomitado.
— ...vomitar! - Completou a morena, angustiada com o que vira. - Eu mereço...
— Acho que melhorei... um pouco. - Susana fez aquele sorrisinho de criança do tipo " foi mal".
— Sua nojenta! Vamos embora logo daqui. - Ordenou Astrid, não aguentando mais a situação e tudo que ela mais queria era sair logo daquele lugar, afinal não era nada fácil aguentar a irmã em uma longa viagem como aquela.
Era manhã e os raios do sol ainda brilhavam sem intensidade. Astrid rapidamente fez seu desjejum já que Susana ainda não se sentia bem, e após terminar ambas retornaram a jornada.
A medida que andavam elas sentiam o ar mais pesado como se estivesse contaminado. A floresta parecia não ter fim e a sensação de passar pelo mesmo lugar começava a perturbar ambas, o ambiente hostil da floresta parecia lhes causar alucinações, de modo que despertavam-lhe visões de abismos pelo caminho e olhos que a observavam na escuridão.
— Não passamos por aqui antes? - Questionou Susana, olhando para as copas das árvores sentindo-se perdida.
— Acho que sim, ou talvez não! - Astrid estava confusa e observava o lugar ao redor tentando encontrar a trilha de pedra.
— Ah que ótimo! Estamos perdidas! Grande guia você é... - A loira ralhou entediada.
— Está certo! Olha a trilha mais lá na frente! - Astrid sentiu certo alívio ao reencontrar a trilha.
— Astrid cuidado! - Susana parou e olhou para um grande galho que estava na frente da irmã.
— O que foi?- Astrid perguntou virando-se para trás e sem perceber deu de cara em um galho. - Ai minha cabeça! Droga! Galho Imbecil...
— Eu avisei! - Susana olhava-a sorrindo divertidamente. - Bem feito! Quem sabe você volta a ser gente e não uma égua.
— Muito engraçado... Agradeça por ainda restar paciência para com a sua pessoa - Astrid a olhava com sarcasmo - Você parece criança, ou melhor você é pior que uma!
— Eu? sou um anjo em pessoa! - A garota fez um bico fingindo uma cara de inocente e Astrid rolou os olhos.
Assim continuaram a jornada, entre silêncio e brigas, entre cansaço e determinação e entre trevas e luz...
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