Além do horizonte

Conversa sobre o passado


Thranduil me levou até um vasto salão, no qual havia uma grande porta verde com muitos detalhes e desenhos. Parecia ser muito pesada, mas ele a abriu sem nenhum esforço e nós entramos.

O lugar era uma velha biblioteca, já que havia muitos livros organizados em altas prateleiras que pareciam não ter fim, além de conter artefatos estranhos e bem antigos aparentemente. As paredes eram de pedra e continha muitas lanternas penduradas que iluminavam grande parte do salão, deixando alguns cantos em total escuridão.

Fui caminhando lentamente e observando cada detalhe da biblioteca. Embora ela parecesse um tanto peculiar eu estava cada vez mais maravilhada com a riqueza de conhecimento presente naquele lugar.

— Incrível! Nunca vi uma biblioteca tão grande como essa! - Eu disse surpresa, tanto que logo a seguir acabei esbarrando em Thranduil quando ele parou de repente.

— Olhe por onde anda humana! - O Rei me repreendeu, demonstrando total desaprovação.

— Desculpe-me só estava olhando... - Me desculpei, um pouco sem jeito. O Rei apenas me encarou e continuou em frente.

Devo dizer que quando fico muito entusiasmada com algo tenho tendência a passar vergonha, e aquela situação não foi diferente. Continuei a seguir Thranduil e depois paramos no centro da sala, que agora estava muito bem iluminada. Lá havia apenas uma mesa pequena, onde um homem estava sentado em uma grande cadeira de carvalho, muito concentrado em uma leitura.

— Fahir! - Disse Thranduil. Sua voz soou abafada em meio a enorme biblioteca.

— Thranduil! O que deseja? - O elfo cumprimentou. Sua voz era grave e ao mesmo tempo suave. Logo concluí que para um sábio ele me parecia bem mais jovem do que o convencional. O mesmo pousou o livro sobre a mesa e olhou para mim, nesse instante reparei que ele tinha cabelos castanhos que pendiam até a altura dos ombros e olhos verdes como jade, sua face era bem jovial e serena, muito diferente dos sábios que eu já havia visto em Florenzia, aparentemente ele me parecia simpático.

— Esta jovem humana tem um colar élfico bastante misterioso, gostaria que me dissesse mais sobre ele, já que pelo visto ela também não tem conhecimento algum - Thranduil explicou em um tom sério.

— Não me chame de humana! Eu tenho nome sabia? - Comentei um pouco ressentida pelo fato de Thranduil não me chamar pelo nome.

— Então como você se chama? - Ele me encarou com aquele olhar frio de sempre. Parecia não ter aprovado minha atitude.

— Astrid! - Eu respondi e continuei encarando-o.

— Muito bem Astrid! Deixe-me ver seu colar! - Disse Fahir, gesticulando para que eu me aproximasse. Eu me aproximei e entreguei o colar em suas mãos, um tanto apreensiva sobre o que o sábio poderia saber a respeito do objeto.

O elfo examinou o colar com atenção e depois de alguns poucos minutos ele parecia ter a resposta certa.

— Não acredito! - Fahir arregalou os olhos, muito surpreso ao examinar o pingente - Rufus conseguiu! Me lembro perfeitamente deste objeto...

— Conseguiu o que? Quem é Rufus? - Perguntei, sentindo um nó se formar na minha cabeça.

— Rufus foi quem a levou daqui quando ainda era um bebê. Pelo visto ele conseguiu fugir dos Orcs com você em segurança! - O elfo respondeu com uma expressão serena, porém seu olhar era um pouco nostálgico.

— Olha, eu não sei do que está falando. Quem me criou foi meu tio, Logan! - Rebati, com a certeza de que aquilo era um tremendo engano.

— Logan? Não o conheço! - O elfo disse surpreso.

— Não me lembro de nenhum elfo com este nome, foi o que eu disse a garota! - Comentou Thranduil, concordando com o Sábio.

— Bem... Como ele é? - Fahir me questionou arqueando uma sobrancelha, esperando que alguma coisa que eu dissesse pudesse confirmar sua suspeita.

— Bem... - hesitei um pouco - Ele é alto, tem cabelos negros na altura dos ombros, olhos verdes...

— Com certeza é Rufus! - Afirmou Fahir, parecendo animado com a conclusão.

— Está dizendo que o tio que ela diz ter é Rufus? Então ela é a criança... - Thranduil disse surpreso, arqueando as sobrancelhas. Ele mantinha sua expressão gélida.

— Sim, ela é! - Fahir confirmou me olhando nos olhos, eu apenas devaneava mais com tudo o que ouvia.

— Espera um instante! - Interrompi - Quer dizer que meu tio se chama Rufus e não Logan e que ele me levou daqui... mas pra quê? E o que tem esse colar? - Eu estava extremamente confusa, era como se o mundo estivesse prestes a virar do avesso.

— Sim, ele é Rufus. E ele não é seu tio, mas sim um protetor. - Explicou Fahir. Seu olhar se mantinha sério naquele momento e percebi que havia muito a ser esclarecido ainda.

— Protetor? Do que? - Arregalei meus olhos sem nada entender ainda.

— Deixe-me explicar! Sente-se! - Disse Fahir gentilmente.

Eu me sentei em uma cadeira de frente, frente a frente com elfo. O mesmo parecia surpreso por eu não saber de nada.

— Ele vai ficar aqui ouvindo? - Perguntei me referindo a Thranduil. Eu estava um tanto incomodada com a presença dele ali.

— Eu sou o Rei, devo ter conhecimento de tudo o que se passa em meu reino. Até mesmo a origem de uma humana desconhecida que cruza minha fronteiras - Ele disse em um tom grave e majestoso, depois me olhou e deixou que um sorriso no canto do rosto transparecesse.

— Tudo bem... - Concordei, afinal a curiosidade de saber sobre meu passado era maior do que o incômodo que a presença do rei me causava.

— Em uma de suas viagens - Fahir começou - Rufus encontrou uma elfa no caminho, ela estava desesperada e fugia dos orcs. Então ela implorou que ele protegesse a sua filha que fora deixada na casa do Troca-peles, Beorn, o único lugar que ela julgava ser seguro. Chegando lá, ele ouviu a criança élfica chorar e a tranquilizou.

— Élfica? Eu sou elfa? Quem é Beorn? - Interrompi , enchendo o elfo de perguntas.

— Calma! Vamos em partes Astrid, não seja impaciente... - Fahir me censurou com olhos - Sim, a criança era élfica, tinha orelhas pontudas e uma pele alva como tal. Por algum motivo, os orcs a estavam procurando... então ele decidiu traze-la para cá e... Beorn é um Troca-peles, ou seja, ele muda de forma, no caso, de humano para urso.

— Isso é estranho... - Comentei, pasma com toda aquela história.

— Mas e o colar? A criança não usava o colar quando eu a vi! - Thranduil parecia confuso agora, e eu achei isso divertido já que ele se julgava o Sabe Tudo.

— O colar já estava com ela. Quando eu o vi pedi para que Rufus o guardasse com ele, pois julgava ser importante demais meu rei. - Explicou Fahir - É um colar da imortalidade, acredito que a elfa deve te-lo deixado com a criança antes de partir...

— Colar da imortalidade? Como sou elfa se não tenho orelhas pontudas como as da estátua de mármore brilhante... aí... - Meu coração disparou e eu suei frio quando percebi o que havia acabado de falar.

— Como pode ser tão ousada, garota! - Thranduil me repreendeu, e realmente não tiro a sua razão.

— Desculpe-me eu... estou nervosa com tudo isso... - Disse nervosa que nem pensava para falar. Fahir me olhou com desaprovação.

— Sim você é elfa! - O elfo continuou, sério - E parece humana por causa do feitiço... Já o colar é apenas um símbolo de imortalidade, você por ser elfa já é... - Fahir pegou o livro da mesa, se levantou e o colocou de volta em uma prateleira.

— Feitiço? Então sou imortal? - Questionei confusa e olhei de relance para o Thranduil. Ele estava com a mesma postura séria de sempre, mas parecia impaciente com minhas perguntas.

— Gandalf, o Branco estava aqui quando Rufus a trouxe - Fahir continou - Ele o incentivou a fugir para um lugar distante a oeste, que não fosse a Grande Minéria, pois os orcs já adentravam as fronteiras da Floresta das Trevas. Então, ele jogou um feitiço para que você e Rufus fossem vistos como humanos pelos outros e por si mesmos. E ... Sim você é imortal.

— Eu... não sei o que dizer... - Suspirei, sem palavras tentando digerir tudo o que eu havia acabado de ouvir. - Eu sou... elfa... e Gandalf? Ele trazia fogos de artifícios nas festas do vilarejo! Então... ele sabia quem eu era?

— Sim, ele sabia. Tanto que passou a ficar muito tempo por lá para garantir que vocês estivessem em segurança. - Fahir me olhou atentamente.

— Mas porque os orcs estavam atrás de nós? Porque me procuravam? - Perguntei mais pra mim do que para o elfo, me sentia extremamente inconformada com tudo.

— Isso ainda não sabemos Astrid... Acredito que Gandalf saiba mais do que nós...- Respondeu o elfo. Percebi que Fahir olhava para uma prateleira de livros, parecia buscar respostas.

— Queria poder me ver... como realmente sou... - Eu suspirei, estava confusa, curiosa e ansiosa ao mesmo tempo.

— Logo você verá! - Thranduil se aproximou de mim, e deixou que uma borboleta pousasse em seu dedo - Gandalf está a caminho... - Finalizou nostálgico.

Fahir