Thranduil havia se retirado da biblioteca e eu fiquei conversando com Fahir. Por pura curiosidade minha, fiz com que ele me mostrasse alguns livros da sua biblioteca, embora a maioria estivesse em élfico.

– É uma pena que eu não consigo ler! – Suspirei ao folhear os livros e não entender nada.

– Se quiser posso te ensinar um pouco sobre a Língua Élfica!

– Eu adoraria Fahir! Já que estou em uma terra élfica acho que é uma necessidade aprender, além do mais eu acho que sou elfa não é? – Pensar na certeza de que eu era uma elfa ainda não me soava muito bem, aquilo ainda era estranho para mim.

– Sim!- Fahir me olhou e com o olhar pediu para que eu o acompanhasse - Astrid acho que isso é seu! – Ele pegou o meu arco e flecha de outra mesa e me entregou.

– Ah obrigada! Achei que Thranduil tivesse roubado ele! – Eu agradeci o elfo, e ele sorriu ao ver que eu demonstrava um pouco de raiva do Rei.

– Ele apenas o pegou para que eu o examinasse melhor. Este era o arco de Rufus e creio que logo vai aprender a usá-lo. – Disse Fahir enquanto arrumava os livros que havia me mostrado pouco antes.

– Então quem vai me ensinar? – Eu o questionei, confesso que estava bem ansiosa para aprender a manusear o arco.

– Eu mesmo cuidarei disso cara Astrid! – O elfo me olhou com um sorriso.

Eu o ajudei a organizar os livros, apesar de ele ter dito que os arrumaria sozinho. Durante alguns minutos ficamos em silêncio, mas havia uma pergunta que me incomodava.

– Fahir! – Eu o chamei quebrando o silêncio, e o elfo rapidamente voltou o olhar para mim – Thranduil não sabia nada sobre o colar mesmo?

– Hã... Não, ele não sabia! – Ele me respondeu com um tom sério e sua voz ecoou um pouco – Quando Rufus a trouxe aqui, eu... julguei que o colar fosse importante, e Gandalf parecia saber de algo a respeito dele, porém não contou a mim e nem a Rufus e nem mesmo para Thranduil, apenas pediu para que fosse muito bem guardado e dado a você quando estivesse na idade certa para vir para cá – o elfo fez uma pausa e respirou fundo – Então Rufus retirou seu colar e o guardou consigo, assim quando Thranduil a viu você já estava sem o colar.

– Entendi agora... Isso é muito confuso ainda! – Eu assenti com sua explicação, mas ainda assim havia muitas perguntas me incomodando. Eu decidi ficar quieta não queria me passar por irritante e curiosa demais.

– Talvez um pouco... e obrigado por me ajudar com os livros, se quiser algum pode me pedir quando quiser.

– Ah tudo bem, obrigada. - Eu o agradeci e bocejei de tanto sono, afinal fazia alguns dias que eu não dormia direito.

– Você já tem um quarto? – Ele me perguntou percebendo que estava caindo de sono.

– Ainda não! A estátua de mármore brilhante... quer dizer o loiro chato... ops o Rei – Estava tão cansada que acabei tropeçando nas palavras, mas o Fahir pareceu se divertir com a maneira com que eu me referia ao rei – me mandou para a cela logo que cheguei aqui.

– Não se preocupe! Posso te levar até o salão de quartos. - Ele adquiriu uma postura séria e começou a caminhar para a porta.

Fahir abriu a porta para que saíssemos e acabamos dando de cara com a Arya, a elfa que havia curado meu pé. Ela nos cumprimentou em élfico e eu apenas assenti.

– Thranduil me pediu para que mostrasse o seu quarto. – Disse para mim.

– Bom, então até mais Astrid! - Fahir se despediu.

– Até mais Fahir!

Arya me levou até o salão de quartos e escolheu o segundo da esquerda. O cômodo era razoavelmente grande e muito bonito. A primeira coisa que pensei em fazer foi me jogar na cama, que pelo visto era bem confortável.

– Finalmente! Um quarto só pra mim! – Eu falei alto demonstrando toda minha felicidade. Arya ficou me olhando como se eu fosse uma maluca.

– Quer dizer que nunca teve seu próprio quarto? – Ela me questionou.

– Não! Sempre tive que dividir com a chata da Susana, eu nunca tive paz com ela. Você não sabe o que é ver tranqueiras jogadas na cama e acordar com gritos. – Suspirei ao lembrar de tudo que eu tive que passar.

– Bom, acho que não sei mesmo! – Ela riu enquanto me escutava falar – Se quiser se trocar tem algumas roupas no armário e o banheiro é ali, daqui a pouco trago sua comida.

– Ah sim, Obrigada Arya. – Eu agradeci e ela se retirou me deixando a sós.

Eu relutei várias vezes para sair da cama, e com muito esforço consegui. Estava muito cansada mesmo. Vasculhei o armário e lá havia muitos vestidos, mas por sorte achei uma calça, uma túnica azul e um colete de couro. sim! Eu odiava vestidos. Depois, enchi a banheira de mármore com água e me joguei dentro dela. Finalmente, pude ter um merecido e digno banho.

Em alguns minutos eu já havia me vestido e a única coisa que perturbava era o cabelo embaraçado. Arya voltou algum tempo depois com a comida e acabou por me flagrar tentando desembaraçar o cabelo loucamente.

– Deixa que eu te ajudo! – Ela pousou a bandeja na mesa, tirou o pente da minha mão e começou a me pentear. Ela era habilidosa e não demorou para que terminasse.

– Achei que ia ter que cortar!

– Não exagere Astrid! – Ela riu da minha cara e depois me entregou a bandeja com a comida. Eu comi como um lobo faminto todas as frutas, pães e suco que ela havia me trazido. Arya ficou me observando, parecia que ela estava surpresa com o tanto que eu conseguia comer.

– Gandalf chegará amanhã de manhã Astrid! – Ela despertou minha atenção - Thranduil quer que você esteja no salão do trono quando ele chegar, mas não se preocupe que eu a levo até lá.

– Tudo bem – Assenti e bocejei – Agora será que posso dormir? – Eu olhei para ela com os olhos quase se fechando.

– Claro! – Arya sorriu e se retirou. Eu despenquei a cabeça no travesseiro e dormi como uma pedra. A noite me pareceu longa e eu pude descansar muito bem.

Arya me acordou pela amanhã. Eu fiquei enrolando para levantar e ainda queria dormir mais, até que fui arrastada com força até a penteadeira.

– Não me enrola Astrid! O rei me deu ordens para que a levasse sem demora. – Ela estava me dando uma bronca e começou a arrumar meu cabelo numa trança simples.

– Droga! Queria dormir mais! – Eu suspirei olhando para a cama.

Arya me acompanhou até o salão do Rei. Gandalf e Fahir estavam lá, eles se viraram e olharam para nós ao perceberem sons de passos.

– Aqui está ela! – Arya segurou meu ombro e o Thranduil me encarava. Eu também o encarei de volta, ele é muito chato.

– Pode ir! – Ela assentiu e se foi.

– Ora Gandalf! – Eu fui em direção a ele o cumprimentei com respeito. – Porque não me contou que eu era uma elfa? – Eu questionei.

– Seria muito complicado eu explicar não acha? – Ele sorriu e eu entendi o que ele queria dizer. – Vejo que usa o colar do dragão! – Ele apontou o colar com olhar.

– Colar do dragão? – Thranduil questionou o mago incrédulo.

– Bom, é uma longa história, mas creio que a hora de todos vocês ouvir chegou! – Ele pousou o olhar em mim e senti um calafrio ao pensar que havia muito mais a se saber.

– Então nos conte Mithrandir! – O olhar de Thranduil estava atento no mago.

– Astrid é filha de Túriel, uma elfa de Rivendell, filha de Turon. Túriel foi escolhida como cavaleira por um dragão azul, no qual ela o chamou de Magnus. Este colar - Gandalf apontou para o pingente – Foi feito por Turon, simbolizando a união entre o dragão e a elfa. Durante muito tempo isto manteve-se em segredo, mas um dos irmãos de Túriel se enraiveceu de inveja e se juntou aos orcs numa tentativa de captura-la.

– O dragão não a ajudou a se proteger dos orcs? - Fahir perguntou.

– De início sim! Mas sair por aí voando em um dragão chamaria muita atenção para si. Despertaria muita curiosidade, medo e cobiça nessas terras, então ela ordenou que o dragão se escondesse longe de todos. – O mago parou por alguns segundos para acender o cachimbo e depois continuou – Os orcs a estavam caçando, não seria seguro ficar em Rivendell, então ela fugiu com o pai para longe, só que... no caminho Turon foi acertado por uma flecha envenenada e morreu. Ela continuou sozinha e conseguiu a ajuda de Aranir, um jovem aventureiro e de Beorn o Troca-peles – Gandalf soprou a fumaça do cachimbo para o alto em forma de anéis – O que posso dizer é que você é filha de Aranir, o que faz de você uma Meia Elfa.

– E Aranir? – Perguntei indignada com toda aquela história.

– Ele morreu tentando proteger Túriel dos orcs quando ela estava dando a luz , depois disso Beorn se dispôs a ajuda-la. Mas como, a quantidade de orcs era tamanha Beorn ficou ocupado por tempo demais lutando. Ela teve a sorte de esconder a criança e pedir ajuda a Rufus... – O mago havia findado a conversa com um certo pesar na voz.

– Então ela é uma meia elfa que pode ser a cavaleira de um dragão? – Thranduil desceu de seu trono e andava de um lado para outro.

– Sim! Há grande probabilidade dela ser uma cavaleira também! – O mago confirmou me olhando.

– Quero me ver como elfa ,Gandalf! – Eu olhei para o mago séria – Por favor!

– Como quiser! – Ele assentiu e começou a dizer algumas palavras. Senti minha visão ficar turva e minha pele pinicar. Em alguns segundos tudo foi se apagando, e a última coisa que vi foi um olhar indignado de Thranduil.

–Astrid! – Fahir gritou e eu pude sentir que alguém segurava minha cabeça.

Fahir