James queria a verdade. Nos últimos dias tudo o que ele queria era descobrir a verdade que os levou até aquela situação. Segredos são comuns, cotidianos. Mesmo os mais íntegros dos homens guardam seus segredos, escondem suas mentiras, mas James nunca pensou que a verdade que descobriria o faria querer voltar no tempo, ignorar tudo o que aconteceu, ou simplesmente fechar os olhos, tampar os ouvidos e gritar bem alto para impedir a si mesmo de escutar aquelas malditas palavras. As palavras que carregam a verdade suja que ele preferia não descobrir. Para James, naquele momento qualquer mentira que o desfizesse o peso daquelas palavras ditas pelo jovem estranho presente naquela sala seria uma benção. Mas bastava um olhar em direção àqueles que os criaram por toda a vida para que ele tivesse a plena certeza de que não haveria outra mentira desta vez. Era verdade estampada no rosto de cada um deles.

Lilly não teve tempo de pensar em tudo aquilo. Sua mente a impedia de sequer absorver os fatos, as palavras ditas. Tudo a sua frente se parecia turvo. Sua visão nada mais era do que um enorme borrão preto que Lilly desconfiava também que aos poucos se apossava do ultimo vestígio de esperança em seu coração. Mas a adrenalina dos últimos dias a forçou a ficar a alerta, ao menor ruído captado por seus ouvidos já treinados para reconhecer qualquer sinal de perigo a garota se viu apertando Alice com mais força contra si e em menos de um segundo ao menos três pares de armas estavam apontados em todas as direções da pequena sala. James, em um ato instintivo apenas se pôs de frente às duas garotas. Inútil foi gesto, nem mesmo o corpo forte do rapaz poderia protegê-las de tiros vindo de tantas direções.

– Ele está certo. – Lilly ouviu a voz de seu pai dizer. Andrew Montanova sempre havia sido seu pai. O único homem a quem ela entregou o amor de filha. Aquele que a carregou nos braços desde o primeiro dia. Aquele que a deu presentes e a deixou de castigo. Aquele que agora ela sabia, havia sequestrado sua mãe e de alguma forma destorcida e bastante sombria, se apossado dela também. Ele não era o homem que a deu a vida, mas para Lilly, ele era a vida dela. – Eu não sou o herói e Derek também nunca foi. A única capa que poderia nos cobrir da cabeça aos pés seria feita sem esforço do sangue que nós derramamos para chegar até aqui. Lamento desapontar vocês, mas a verdade, como vocês podem ver de ante mão, as vezes não é nem se quer uma opção. Isso teria nos destruído antes mesmo de começarmos a tentar construir algo. James. – Andrew chamou e viu o rapaz que ele amava como a um filho o encarar de pressa. – Filha...

Andrew chamou, mas a risada de Brett o fez parar no meio da frase. Ele sabia que o rapaz o interromperia. Sabia também que ali não era o momento para ter aquela conversa com a sua família. Mas Andrew queria a atenção de todas presa em alguma coisa. Ele queria fazer com que Brett não percebesse que a senhora que o levava água e comida em vários dias, tinha nas mãos uma pequena lamina, e com ela, abaixada por de trás das grandes cadeiras, no escuro ela aos poucos cortava as cordas que os prendiam.

– Não a chame assim Andrews! A farsa acabou, tudo foi posto em pratos limpos. Ela já sabe, pare de fingir! – O rapaz pediu quase que desesperado e quando a mão dele que segurava firma na arma que ele carregava foi apontada na direção de Lilly o mundo de Andrew parou. – Ela. Não. É . Sua. FILHA! – Ele gritou a ultima parte e quando James, em uma atitude puramente desesperada levou sua própria arma a punho, uma voz até então desconhecida se fez ouvir.

– Abaixem as armas e coloquem as mãos onde eu possa ver! – Um dos homens que até então fazia parte do grupo de capangas de Brett bradou e todos os olhares se voltaram para ele no momento em que as armas mudaram drasticamente de posição. Três delas ainda apontavam para James, Lilly a Alice, as outras agora eram direcionadas à Brett. A de James, inclusa.

– Ficaram loucos? – Brett Haala disse no que parecia ser um suspiro indignado e só então ele direcionou seu olhar aos três homens diante de si. Reconhecimento passou por seus olhos e o causador da mudança dos ventos se fez ouvir outra vez.

– Sargento de operações especiais a seu dispor. Não se preocupe, seus homens estão a salvo a caminho de uma confortável cela de prisão neste momento. – O homem disse com o que seria um sorriso simpático no rosto. – Abaixe esta arma e você irá sem um arranhão para o mesmo caminho que eles.

– Como? – Derek perguntou tentando ganhar mais tempo para a senhora que termina de cortar os últimos fios de corda nos pés de Janina.

– Uma casa alvejada com artilharia pesada, duas senhoras hospitalizadas depois de um atentado violento, uma família inteira desaparecida e dois jovens correndo o país seguidos por uma trilha de mercenários levantam suspeitas meu rapaz. Sendo assim, eu sugiro a você que coopere rapaz. – Ele voltou sua atenação ao jovem Haala, mas Brett não parecia inclinado a ouvir o pedido. A mão do rapaz tremeu, o dedo postado sobre o gatilho se moveu e antes que alguém pudesse reagir, tudo já estava fora de controle.

O disparo não fez barulho. O silenciador fez com que o eco na sala fosse preenchido pelo enorme vazio. E quando Lilly foi ao chão, formando um escudo humano sobre a pequena Alice, os quatro reféns se colocaram de pé. Em um movimento rápido, Derek desarmou o homem mais perto de si, e em segundos, o silencio deu lugar a tantos outros ruídos. Ele ouviu Layane gritar, ouviu o som dos pesados passos de Janina indo em direção a onde sua filha estava, ouviu o suspiro de susto escapar os lábios daquele que havia sido o alvo de sua arma. Derek Andeza ouviu então, o baque surdo do corpo do seu único filho quando ele foi ao chão.