Lisa não sabia responder esta pergunta. Na verdade, ninguém sabia.

No momento ela estava muito confusa. Todas as informações vindo à tona,sem nenhuma pausa. Responder à um questionário policial era muito para ela no momento, além de tudo,uma péssima maneira de entrar nesta coisa toda de investigação policial, era como culpada. Ou pelo menos como “filha perdida da vítima.”

Ela não tinha culpa de nada.Mal conhecia seu pai. Nunca havia o visto antes, quanto mais matá-lo. Não sabia nada dele, não tinha que responder à pergunta nenhuma.

Então decidiu ir para casa esfriar a cabeça, e mais tarde voltar à delegacia para responder ou fazer quaisquer pergunta.

Procurou a Sargento Camille, e quando a achou, explicou à ela tudo. Que estava confusa,que estava cansada, que era inocente, e que precisava ir para casa, esfriar a cabeça com urgência.

-Vá para casa. Esfrie a cabeça. Tente não pensar em nada. Durma um pouco. Saia com seu amigo. Depois quando estiver melhor, me ligue, e avise que estará vindo. Vou remarcar a sua reunião. - Foi o que ela disse.

Lisa perguntou se poderia levar a ficha para dar uma olhada em casa, e Camille disse que sim.

Lisa guardou a ficha em sua bolsa. Pegou seu casaco.

Ela caminhou até a porta, e quando saiu, sentiu tudo ficar frio demais. Ela, congelou e então vestiu o casaco rapidamente.

Pisou na rua, e o ar ficou mais frio ainda. De repente, sem razão ou intensão seu coração se encheu de mágoa e isso lhe deu uma vontade imensa de chorar.

Seu coração ficava mais frio e triste a cada passo que dava. Abriu a porta do carro, e entrou. Ao se sentar seu corpo tentava se deitar. Ela lutava contra as próprias emoções.

Tentou ligar o carro, mas suas mãos não funcionavam. Sua vontade era de deitar ali mesmo, se instalar e nunca mais sair. Era uma tristeza profunda, intensa que afetava desde a mente e o coração até os órgãos. Sua respiração falhava. Seu coração batia mas lento. As pernas congelavam e ficavam paradas. As mãos não obedeciam seus comandos. Chegou a se deitar, apesar de lutar contra isso. Uma lágrima escorreu em seu rosto. Pensou estar tendo uma convulsão por causa da situação em que se encontrava. Mas nem pensar ela conseguia.

A dificuldade de se estatelar era tanta, que nem mesmo a cabeça se levantava. Contra sua vontade, mas tentada pela força extrema da tristeza ela soltou tudo o que tinha em mãos. Sua bolsa caiu, e com ela tudo o que tinha dentro.

Ela não conseguia pensar em nada mais do que apenas Johny. Quando a tristeza veio, o primeiro nome a pensar foi Johny.

O frio era tanto que o casaco não conseguiu esquentá-la. Lutou contra o próprio corpo e conseguiu olhar as horas. Quatro horas e sete minutos.

Ela fechou os olhos e rapidamente os abriu. O frio tinha passado. Seus membros já a obedeciam. Ela se levantou. Já estava escuro. Haviam poucos carros na rua. Ela olhou as horas. Seis horas e quarenta e cinco minutos.

Ela não sentiu nada. Nenhum sentimento. Apenas Nada. Um nada, que não doía, não lhe trazia felicidade, e nem lhe trazia tristeza. Era apenas Nada.

Não esboçava ou sentia nenhum sentimento, ou reação. Apenas ligou o carro e começou a dirigir. Ela não voou, nem ficou lá. Estava em um plano intermediário. Não estava nem aqui, nem lá. Nem em cima nem embaixo. Não estava nem triste nem feliz.

Ao virar a esquina, viu uma coisa que ela nunca tinha visto. Havia um casal na praça. A mulher estava em pé, e o homem de joelhos. Ele tinha uma caixinha na mão. Estava pedindo a amada em casamento.

Naquele momento, aquela imagem, a fortaleceu,e ela reagrupou forças o bastante para vencer o médio. Naquela hora, ela estava acima. Ficou mais feliz do que nunca. Havia se esquecido. Havia se esquecido de como era o sentimento tristeza. A dor e o frio da mágoa, e do coração quando está gravemente ferido. Ela apenas sorriu e continuou seu caminho como se nada de diferente em sua rotina tivesse acontecido.

Não demorou muito para chegar em casa. As ruas estavam vazias. Ela não pegou nenhum sinal vermelho. Não havia praticamente ninguém atravessando ou vagando pelas ruas. O que era estranho pois, neste horário, as ruas de Londres ficam lotadas. Mas ela nem percebeu, afinal estava feliz demais para ser afetada por isso.

Chegou na rua de sua casa, e estacionou o carro na frente do prédio, como fazia de costume. Estava louca para contar à John tudo o que ela tinha passado no dia, e que tinha feito tudo isso sem pensar em mitologia. Ela entrou no imóvel, depressa. Não quis esperar o elevador, subiu as escadas, tirou a chave da bolsa e abriu a porta.

Gritou por John, mas ele não respondeu. Decidiu procurá-lo. Ele poderia ter saído,ou então só estava esperando por Lisa para dar a ela um belo susto.

Resolveu deixá-lo dar lhe um susto. Estava muito feliz para recusar uma brincadeira de um bom amigo.

Procurou em seu quarto mas não o achou. Pensou que poderia estar no andar de cima. Subiu as escadas,mas não o encontrou na cozinha.

Entrou em seu quarto. Normalmente ele lhe dava sustos dentro do de seu armário.

Lisa correu em direção ao armário para abri-lo. Ela abriu mas ele não estava lá. Por acaso olhou para o espelho que estava preso à porta do guarda-roupa.

E então ela viu, a imagem que ela nunca quis ver, e que agora estava bem na sua frente. Ela se virou e pode ver melhor. Esfregou os olhos para ter certeza de que a cena que ela assistia era real. A imagem continuou no mesmo local. Ficou chocada. Não sabia o que fazer. Não sabia se chorava ou chamava por ajuda. Mal podia pensar. Ficou paralisada. Ela o amava tanto, e agora ali ele estava. Deveria ser ela em seu lugar. Não conseguia parar de pensar em seu rosto, seu amor por ela. Os momentos que passaram juntos.

Ela correu em sua direção para ver melhor e ter certeza de que não era mais uma de suas pegadinhas. Tocou o seu rosto. Estava frio. Assim, como ela sentiu no carro, em sua possível depressão. Pensou ser um de seus devaneios. Tentou se convencer, de que a qualquer instante, Hermes e Hefesto, que eram seus deuses preferidos, passariam por aquela porta e falariam: “Você está no pegadinhas dos deuses.”.

Mas isso não aconteceu. A cada minuto que passava, ela afundava mais na escuridão. Checou seus pulsos. Seu coração não batia. Seu pulmão não funcionava, e ele não respirava. Segurou sua mão, e notou que dentro dela, havia alguma coisa. Ela pegou o objeto. Era seu colar. O colar que ela havia herdado da mãe. O colar que significava tanto para ela, e agora estava na mão de uma das pessoas que ela mais amava na terra, em um estado que ela nunca mais veria do mesmo jeito. Ela estava morrendo por dentro. Só então as lágrimas começaram a aparecer. Foram poucos segundos até elas começarem a jorrar de seus deslumbrantes olhos.

Ela chorava encolhida em um canto do quarto. Não havia nada que ela pudesse fazer.

Não havia mais vida para ele, e provavelmente para ela por um bom tempo. Ela estava tão acostumada com seus hábitos, suas manias, seus filmes favoritos, suas músicas favoritas. Chegar na sala de aula e ver o mesmo amigo que tinha visto à cinco minutos atrás. Ela definitivamente não estava pronta para viver sem ele.

A luz havia deixado seus olhos. Não havia mais vida nele. Apenas um corpo, sem espírito. Se havia algum resíduo espiritual ali, já tinha se diluído na morte há muito tempo.

A escuridão o dominava. Ela nem tivera a chance de se despedir. As suas últimas frases para ele, foram gastadas com uma conversa inútil sobre biologia. Ela nunca tinha tido a real chance de dizer para ele que o amava de verdade, que ele era como um irmão para ela. E depois daquela cena o casal estava despedaçado, assim como o coração de Lisa.

John estava morto. E não havia nada que ela pudesse fazer.

Ela gritou por seu nome com todas as emoções que dominava, no momento. Seu grito ecoou por todos os cantos do bairro. Porém seu nome fora gritado em vão. John já não estava mais ali.

Tudo o que ela conseguiu fazer foi ligar para Camille.

-Camille. -ela disse chorando. - eu preciso que você venha aqui.

Ela desligou o telefone.

Se levantou e deitou na cama junto com John. Ela queria morrer junto com ele. Voar para o plano espiritual, e encontrar, segundo a sua teoria, Ades & Perséfone para julgá-la.

Ela tocou sua mão fria e sem vida. A apertou, e a segurou bem forte enquanto podia.

Era uma cena de total amor, porém destruída pela morte. “Até que a morte nos separe.” Lisa citou a frase em voz baixa. A morte os havia separado. E ela rezava para que ela os unisse de novo. John era tudo o que ela tinha. E agora não tinha mais nada.

Seu coração cheio de tristeza se encheu de ódio e Lisa começou a chorar desesperadamente gritando sem parar. “Não! Devia ser eu. Devia ser eu.” Ela repetia para si mesma. Agora, ela entendera por que tanta mágoa passara em seu coração antes quando ela estava no carro.

Ela pode ouvir as sirenes. Ambulâncias, e policiais estavam no local. Camille havia respondido seu chamado, e os vizinhos, chamando as ambulâncias ao ouvir os gritos histéricos de Lisa.

Logo dois policiais passaram pela porta. Não eram Hermes e Hefesto mas vieram ajudar. Ela pode ver Camille entrando junto com eles. “é ela” ela disse. Lisa nem tentou falar nada. Logo viu Carlos e Kendall entrando. E junto com eles, vários médicos foram correndo nos atender. Um dos médicos diagnosticou John morto, e mandou os outros cuidarem de Lisa. “Não! Ele não está morto! “ Lisa gritou.

Ela empurrou um dos médicos e se jogou sobre o corpo de John. Tentando reanimá-lo.

-Senhorita Stone! Ele está morto. Nâo dá para revivê-lo! Ele está assim desde quatro horas e sete minutos, quando recebemos um pedido de socorro vindo deste apartamento.

Quatro e sete. Foi quando Lisa teve sua pequena depressão.

Lisa se levantou e caiu no chão, desmaiada. Dizem que quando uma pessoa que você ama de verdade morre você sente. É verdade.