P.O.V Emily

—Senhora Rogers, o senhor Stark avisa que a pizza chegou – avisa J.A.R.V.I.S e concordo agradecendo ao sistema.

—Bom, já vou indo. Esteja nesse endereço ao meio dia em uma semana, e me espere, não precisa levar malas – explica Loki e concordo pegando o bilhete que ele me entregou, li rapidamente, era um endereço, e eu não fazia ideia de onde era.

—Mas o que eu explico para eles? – pergunto me referindo ao meu pai, a Pepper e o Howard – Eles não vão concordar em ir para Asgard com você, e muito menos com a Brianna – lembro e Loki concorda.

—Diga que vai para qualquer outro lugar – responde e afirmo com a cabeça – E você já é adulta, não tem mais que ficar prestando esclarecimentos a eles – lembra e suspiro. Eu sabia que ele estava certo, porém eram pessoas que se importavam comigo e a Brianna, e me acolheram quando eu mais precisei.

—Eu sei... Mas é a minha família também, e sempre se preocuparam comigo – explico e ele concorda enquanto se levanta pronto para partir.

—Bom, eu também me preocupo com você – diz e sorrio olhando para o colchão – Tenho que ir, a gente se vê em uma semana – se despede e se aproxima me dando um beijo delicado na testa, sorrio ao sentir seus lábios frios no meu rosto. Me despeço também enquanto seu corpo vira poeira e voa com o vento para fora do meu quarto.

Saio da cama descendo as escadas pronta para jantar pizza, e bem mais tranquila agora. Minha barriga ronca ao sentir o cheiro da pizza de calabresa. Reclamo que eles não deixaram pedaços para mim, e meu pai ri com um pedaço na boca, da mesma maneira como sempre fez, e provavelmente sempre fará.

—Chegou tarde, e perdeu – explica e reviro os olhos indo para a cozinha.

—Deixei três pedaços para você – avisa Pepper e agradeço a ruiva. Volto para a sala com todos presentes, e um prato com dois pedaços de pizza, e só não coloquei o último pois não cabia.

—Cadê a Brianna? – pergunto notando que a minha filha não estava lá.

—No quarto – responde meu irmão e concordo com a cabeça estranhando aquilo. Brianna nunca recusaria pizza, muito menos no jantar, e muito menos ainda de calabresa, e foi ela mesma que deu a ideia de jantar pizza. Porque ela recusaria?

Deixei a pizza de lado, e subi as escadas com pressa, e batendo na porta do quarto dela, que estava fechada e trancada. Pedi para entrar, mas eu não ouvia nada.

—J.A.R.V.I.S, abra a porta por favor – peço parada na frente da porta dela com as mãos sobre a cintura e bastante preocupada com a minha filha.

—Bem... A senhorita Rogers pede para não ser incomodada – explica J.A.R.V.I.S receoso, reviro os olhos.

—Anda logo J.A.R.V.I.S – peço e ouço a porta destrancar, mas tento abrir, algo impede, alguma coisa atrás da porta – Por favor Brianna, deixa eu entrar – insisto, mas não ouço nada. Coloco mais força contra a porta, mas mesmo assim ela não abre – O que ela colocou na porta? – pergunto para mim mesma.

—Uma cadeira, senhora Rogers – responde J.A.R.V.I.S não percebendo que eu estava falando comigo mesma. Suspiro colocando as mãos na cintura. Eu já desconfiava que ela faria algo parecido, ela sempre fez quando queria ficar sozinha ou estava encrencada e não queria ser encontrada.

—Ela está ouvindo música nos fones? – pergunto e o sistema nega, estranho totalmente. Seria a primeira coisa que ela faria, recorrer a música como uma válvula de escape da vida, como ela mesma explicou dramaticamente a um tempo atrás – O que ela está fazendo?

—A senhorita Rogers não me deu permissão de dizer – respondeu novamente receoso o sistema. Bufei irritada. Alguma coisa de errado ela estaria fazendo, disso eu tinha certeza. Mas o quê? J.A.R.V.I.S não tinha o costume de esconder as coisas, somente quando era pedido isso a ele.

—J.A.R.V.I.S... Se você não me dizer... Usarei os seus processadores de enfeite na minha casa! – ameaço um pouco alto demais, aposto que as pessoas na sala ouviram isso. Passo as mãos pelos olhos cansada daquilo.

—Ela saiu – respondeu o sistema e arregalei os olhos surpresa e já alarmada. Brianna não havia me avisado daquilo, ou seja, havia saído escondida. Meu instinto de mãe apitou na hora, algo estaria acontecendo, poderia estar em perigo ou algo de tipo!

—Para aonde? – pergunto indo imediatamente ao meu quarto, pegando a minha bolsa e casaco, calçando sapatilhas rapidamente e descendo as escadas correndo.

—Mandarei o endereço para o seu GPS, senhora Rogers – garantiu J.A.R.V.I.S enquanto eu cruzava a sala quase correndo – E se me permite, eu só...

—Não, não permito J.A.R.V.I.S – o corto irritada – Você poderia ter evitado isso, obrigada – agradeço irônica pegando a chave do carro.

—Onde você vai com essa pressa? – pergunta meu pai da escada atrás do vidro me olhando preocupado. Suspiro me apoiando no carro com a porta aberta.

—Simples, Brianna fugiu, não sei como, e agora deve estar em algum tipo de festa – respondo e ele quase não se surpreende, apenas sorri de lado revirando os olhos com os braços cruzados.

—Eu vou com você – disse andando até mim. Neguei com a cabeça.

—Não precisa pai, saberei leva-la para casa, e terei dó dela se estiver bêbada – respondo com um sorriso irônico no rosto. Meu pai ri abrindo a porta do banco do passageiro.

—Irei para garantir que Brianna irá voltar viva, porque se depender de você... – responde deixando em vago alguma coisa, não entendo e ele apenas entra no carro batendo a porta.

—Irei o quê? – pergunto confusa e o moreno ri enquanto ligo o carro.

—Apenas dirija – pede tentando cortar a minha curiosidade. Reviro os olhos enquanto acelero com o carro seguindo as instruções para o endereço que estava na tela do meu GPS, que me levaria a esse tal lugar onde Brianna estaria.

—Tá bom, dessa vez ela se superou – comenta meu pai olhando a casa pela janela do carro, concordo com a cabeça sabendo que ela está mais ferrada do que nunca. E eu pensando que estava tudo bem entre a gente. Aposto que isso só foi uma maneira de eu ficar mais boazinha com ela na hora do castigo. Doce engano dela!

Suspiro decepcionada observando a casa repleta de adolescente fazendo todo tipo de coisa, e a maioria bêbados, alguns até caindo de tão tontos. A música estava em níveis de fazer o chão tremer, e o jardim completamente lotado de lixo como copos e latinhas de cerveja. Nos fundos eu podia ver uma piscina, e vários adolescentes aproveitando como se não houvesse amanhã.

Abro a porta do carro e já sinto o cheiro de álcool de longe e a música fazendo meus ouvidos doerem. Suspiro trancando o carro e tomando coragem para entrar. Meu pai assente para mim indicando para entrarmos logo. Ajeito o cabelo enquanto cruzávamos o jardim tomando cuidado com o lixo, havia até garrafas de bebidas quebradas.

Bati na porta bem alto, sabendo que ninguém iria ouvir, e de fato, ninguém ouviu, até que abri a porta eu mesma, e vi inúmeros jovens dançando ao som da música, com luzes coloridas rodando por toda a sala de estar do tamanho do meu quarto. A casa era realmente enorme! Entrei pedindo licença as pessoas, já que havia muita gente aqui. Meu pai me acompanhou.

Me espremi no meio daquelas pessoas, e quase que meu pai não consegue passar também, e só conseguimos ao chegar a cozinha, onde senti um cheiro horrível, tampei o nariz e meu pai deu um sorriso forçado.

—O que é isso? – pergunto no ouvido dele, pois a música não deixava ele escutar a minha voz normalmente. Sua expressão não alivia a minha preocupação.

—É exatamente aquilo que você está pensando – responde no meu ouvido também. Respiro fundo tentando me manter calma. Eu havia cogitado a ideia de que seria apenas algo que havia caído no chão, como um tempero, e não que fosse maconha. Tudo bem que no estado da Califórnia o consumo da maconha é mais liberal do que nos outros estados, mas não desse jeito.

Começo a respirar pela boca, é realmente um cheiro desagradável. Minhas mãos seguram a minha bolsa com mais força. Tenho que achar aquela garota o mais rápido possível. Mas onde? Essa casa deve ter uns três andares, e com tanta gente, vai demorar horas até acha-la. Ainda mais que o telefone dela não funciona. Que maravilha!

Vejo o estado da cozinha. Uma mesa grande de mesa está posta bem no centro, repleta de copos de plástico, garrafas de bebidas, limões, açúcar, e até um galão de cerveja e uma mangueira eles tem. Só me pergunto como adolescentes conseguem isso com tanta facilidade se apenas com vinte e um anos pode beber aqui.

Saio da cozinha indo direto para o quintal, onde se divertiam com a piscina. Eu sabia que ela não estaria aqui, ela odeia ficar de biquíni em público. Então dou a volta passando pela sala lotada novamente e subindo as escadas, e tomando cuidado para não esbarrar com os casais se beijando na escada, e eram muitos.

Um corredor pequeno, com apenas quatro portas encontro, o carpete bem molhado em alguns lugares, e ainda o cheiro de maconha ainda não havia saído. Suspiro batendo na primeira porta, e meu pai na segunda, ambas do mesmo lado direito. Ninguém atende a minha, abro e fecho em seguida com vergonha. Era um casal na cama, e bem... Já deu para entender.

As outras portas eram um quarto e dois banheiros, e todos com a mesma ocupação, servindo de motel para casais poderem aproveitar com privacidade. Pelo menos Brianna não estava em nenhuma desses, não que isso fosse aliviar a situação dela comigo, mas é um alivio para mim mesmo. Vai saber quantas doenças essas pessoas podem pegar se não usarem camisinha?

Meu pai toca o meu braço mostrando o celular. Era um mapa em 3D da casa, escaneada pelo J.A.R.V.I.S, espero que aquilo fosse um pedido de desculpas pela incrível falha dele em não me avisar que a minha filha havia fugido de casa. Um ponto vermelho brilhava no terceiro andar, em um dos quartos. Suspiro agradecendo ao meu pai que me conduz até a escada e começando a subir.

Esse andar está cheio de adolescentes, e o cheiro ainda pior, muito mais puro, e até fumaça havia. Tampo o nariz tentando abrir espaço, mas meu pai vai na frente afastando os jovens que estavam tão confusos e tontos que me dava até pena. Percebi que medida que abríamos espaço, esse espaço era fechado atrás da gente. Acho que perceberam que somos intrusos que provavelmente irá acabar com a festa deles.

O quarto onde Brianna estava era o último do corredor, que era bem extenso. Me pergunto novamente, como pais deixariam uma casa desse tamanho para o filho tomar conta? E será que não passou pela cabeça deles que ele obviamente daria uma festa desse tamanho? E aposto que não vai sair nada barato para eles no final.

Bato na porta, mas novamente, ninguém abre. E agora o cheiro era bem mais forte, e saia até fumaça por baixo da porta. Meu maxilar travou e meu olhar pegou fogo. Abri a porta a empurrando com força, meu pai me tocou no ombro tentando me acalmar, mas neguei com a cabeça vendo Brianna sentada num sofá com outros adolescentes com cigarros.

Ela me olha assustada, e os outros começam a rir de repente, os ignoro completamente, a minha raiva vai ficar reservada somente para a minha filha no meio de tantos maconheiros. Mas algo me chamava a atenção. Havia uma cama na frente de uma televisão passando nada. Havia um garoto e duas garotas ali, que me olharam confusos, e os três seminus. Suspiro decepcionada mais uma vez.

Entro no quarto pegando Brianna pelo braço e a puxando com força e saindo do quarto com ela e ouvindo a risada deles. Meu pai me acompanha enquanto empurro todos aqueles irresponsáveis pelo caminho. Brianna se chacoalhava no meu braço, tentando retirar o aperto da minha mão, mas apenas apertei com mais força. Ela iria para casa comigo e ponto.

Descemos as escadas, e empurrei a Brianna para a minha frente assim que estávamos na sala, e saímos da casa rapidamente. Segurei a minha vontade de bater naquela garota. Violência nunca foi e nunca vai ser a solução, mas não nego que a minha raiva estava bem maior do que antes. Algo dentro de mim queria gritar, mas não permiti, me segurei ao máximo.

Minha filha, quem eu sempre tratei de ter o máximo de cuidado e educar da melhor maneira possível havia me decepcionado de uma maneira sem precedentes, pelo menos com ela. Sempre expliquei que aquele caminho é o pior, mas pareceu que não adiantou. Ela havia feito aquilo somente para me atingir, eu conheço a criatura.

—Mãe... – ela tenta explicar mas a ignoro, abro a porta de trás do carro depois de destrancá-lo. Ela entra sem dizer nada, e fecho a porta com força. Ajeito o cabelo olhando para o céu estrelado enquanto meu pai se aproxima colocando as mãos nos meus ombros.

—Se acalma, tente ficar calma, é o melhor que você faz agora – aconselha e concordo com a cabeça olhando para as árvores repletas de pisca-piscas dourados, até que ficou bonito mesmo. Mas não consigo evitar que meus olhos encham de lágrimas. O moreno me puxa para um abraço e seguro o choro.

—Ainda bem que eu não te dei esse tipo de trabalho – comento risonha, tentando disfarçar o que sinto, e ele começa a rir, sorrio com aquilo o apertando mais com o abraço.

—Sim, mas me deu outro tipo de trabalho – responde e rio junto. Nos distanciamos e volto ao carro, o ligo enquanto meu pai conversa com a Pepper, a tranquilizando dizendo que Brianna estava com a gente e que estava bem. Esse era o importante. Isso era o que importava.