Naquela mesma noite, Glen esperou por Zach. Êste chegara tarde. Zach, nem disse nada ao chegar. Foi diretamente para seu quarto. Glen foi atrás:


- Zach, preciso falar com você.


Não houve resposta. Zach estava guardando as roupas que estavam pelo chão do seu quarto. Glen, na esperança de consolidar seu amôr, prosseguiu:


- Eu estou meio que agradecido por nós termos voltado a ser amigos. Claro que pelo que houve ontem...


- Ontem? O que houve ontem? – Zach parecia frio. – Não aconteceu nada de importante ontem.


- Nada de importante? Você me beijou e disse que não foi nada de importante?


- É. Eu estava meio louco. Devo ter batido a cabêça na pia e aconteceu. E volto a repetir: Não aconteceu nada de importante.


- É assim que vai terminar tudo?


- Não estou terminando nada. Nunca começou.


Glen chorava por ouvir aquelas palavras tão cruéis que pareciam flechas a lhe ferir:


- Zach, não vou negar que nasceu um sentimento por você no meu coração. Você não tem o direito de me tratar como lixo! Eu também sou humano.


- Não, não é. É só uma pedra no caminho das pessôas.


- Ótimo. Se for assim, assim será.


Glen se retirou do quarto aos prantos. Não poderia continuar ali. Sofrendo. Morrendo. Iria embora. Estava decidido.


Quando o relógio bateu meia-noite, Glen levantou lentamente com a mala na mão. Passou antes pelo quarto de Diane. Deixou uma carta por cima do criado mudo. Saiu sem ter um destino. Ficaria num hotel. Tinha dinheiro. A garôa lhe molhava o rôsto. Não havia mais ninguém na rua. Estava só. Na verdade, sempre esteve.


Deteu-se numa praça. Sentou-se ao banco. Ficou a observar a calmaria. A noite era fantasmagórica. Como apagar essa chama que outrora lhe felicitava e que agora o tornava um sofredor? A brisa, a luz do poste nem ninguém pode responder. Quando tudo parecia estar correndo bem, apunhalaram-no pelas costas. Os olhos estavam imobilizados, desiludidos. Aquela côr que encantava a todos estava agora, sombrio e tristonho. Queria ficar sòzinho.


Suspirou e começou a andar novamente. Andou e andou. Achou um pequeno hotel de três estrêllas. Um hotel familiar. Entrou. Foi até a recepção onde um homem dos seus 56 anos lia o jornal por trás de um balcão. Gorducho, um pouco careca e de sobrancelhas grossas.


Glen, com seu jeito educado disse ao homem:


- Por favor, eu queria um quarto.


O homem ergueu os olhos do jornal e disse-lhe:


- Mas o que um garôto como você faz por aqui?


- Vim porque quero um quarto, já disse.


- Está bem. Mas aqui se paga adiantado e não aceito cheques.


Glen abriu a mala e colocou um maço de notas de cem por cima do balcão e perguntou:


- É suficiente?


O homem olhou atentamente para o dinheiro. Aquilo dava para o melhor quarto do hotel por uma semana inteira. Interessado, o senhor lhe perguntou:


- Como se chama?


- Glen Andrews. E você?


- Martin Eddy. Mas os amigos me chamam de Eddie.


- Muito prazer Eddie. – terminou Glen estendendo-lhe a mão.


Eddie ao contar as cédulas, somou três mil dólares. Ao acabar, perguntou:


- Como disse que é mêsmo seu nome?


- Glen Andrews.


- Andrews. Onde eu já vi êsse nome?


Os olhos passaram eventualmente pelo jornal e leu a manchete:


“O GRANDE EMPRESÁRIO MICHAEL ANDREWS FECHA CONTRATO MILIONÁRIO”


Eddie quase desmaiou. O filho de Andrews estava no hotel que lhe pertencia. Para todos, era uma grande honra. Eddie gritou:


- Meu Deus! Você é o filho do Andrews!


- Eu mêsmo.


- Matt!


Um menino de 18 anos, alto, magro entrou na recepção:


- Diga pai.


- Leve o senhor Andrews para o seu quarto. O melhor da casa.


Glen subiu. Era um quarto com sacada. Matt disse:


- Fique à vontade.


- Obrigado.


Matt se retirou. Glen foi até a sacada, ainda garoava. E quem sabe, Zach, estaria pensando nêle.