Ao acordar, Diane abriu a janela e no caminho do banheiro, viu o envelope por cima do criado mudo. Olhou atentamente. Sentou-se na cama e começou ler:

Srª. Clark,

Quando ler esta carta, já devo estar longe. Não posso mais ficar por aí. Agradeça à Jackie por mim pela companhia que me tem dado nestes dias. E não se preocupe comigo. No dia do julgamento, estarei lá, para testemunhar. Segue em anexo uma forma minha de agradecer tudo o que tem feito por mim.
Obrigado por tudo,
Glen.

Diane pegou a outra fôlha de papel que estava por trás da carta. Era uma recomendação para o cargo de advogada-chefe assinada por Michael Andrews. Aquilo era a salvação da sua carreira e do seu estado financeiro. Saiu do quarto e Jackie estava na sala ajeitando as almofadas. Ao notar a presença de Diane, perguntou-lhe:
- Oh, Diane, poderia me dizer onde o Glen está? Não o encontro em lugar nenhum.
- Talvêz isso satisfaça sua dúvida. – disse Diane passando-lhe a carta.
Jackie leu atentamente. Quando terminou, seus olhos arregalaram-se:
- Quando? Como? Êle não pode vagar por aí. Pode ser reconhecido. O que pode ter feito êle partir sem dar explicação?
Uma rápida idéia lhe veio à cabêça. Só poderia ter sido Zach. Não havia outro motivo em todo sistema solar que o faria fazer o que fez. Diane se dirigiu até o quarto de Zach. Abriu a janela bruscamente, deixando a luz invadir o quarto. Zach resmungou pela claridade refletir em seus olhos. Diane ainda puxou o cobertor com fôrça, o que o fez cair da cama.
- Mãe. Levantou de mau humor?
- Não é da sua conta. Sabe o que eu encontrei ao meu lado há poucos minutos e que me magoou profundamente?
- Um espêlho? – respondeu Zach rindo.
- Não. Uma carta do Glen.
A expressão de Zach se fechou. Diane prosseguiu:
- Eu quero que me ajude a entender. Êle fugiu. Não deixou nenhuma pista. Quando ontem, êle me pareceu tão alegre. Sabe de alguma coisa que o possa ter chateado, Zach?
- N-n-ão... Não. –gaguejou Zach engolindo sêco.
- Oh, não minta p’rá mim. Eu sei que você o magoou mais uma vêz. É típico de Zacharias Clark.
- Mãe, você está me ofendendo.
- É o meu objetivo. Minha testemunha está há quilômetros de distância, sabe lá se bem. Pode ser reconhecido por um assassino. Mas você não se importa. Não consegue ficar debaixo que o mêsmo teto que êle, pois sabe que êle é o único que mexeu com você de verdade! Admita! Confesse que gosta dêle como êle me confessou que gosta de você.
- Êle disse isso?
- Disse. E disse que o amava. Com tôdas as palavras. Não tem vergonha de iludir as pessôas? Essa pessôa que, principalmente, nunca nos incomodou. Sempre nos ajudou com tudo em que precisávamos. E por falar em precisar... Onde você estava ontem o dia inteiro?
- Na escola.
- Mentira. A diretora e ligou dizendo que você havia faltado. Onde estava Zach?
- Uhm... Eu estava...
- Não importa. Vá se arrumar para a escola. Faço questão de levar VOCÊ e sua irmã para o colégio hoje.
- Mas não tem que trabalhar?
- Ah, não ficou sabendo? Glen pediu para que o pai dêle assinasse uma carta de recomendação. Eu vou ser a advogada-chefe do meu escritório. E por quê? Acho que foi por causa de um menino que viu que estávamos na beira da falência e quis ajudar!...
Enquanto a discussão acontecia, Glen de um outro ponto de Nova York, arrumava sua cama. Ouviu batidas na porta:
- Entre.
Matt entrou e ao ver que Glen arrumava a cama disse:
- Por favor senhor Andrews, deixe-me ajudá-lo.
Matt tomou os lençóis da mão de Glen:
- Não precisa arrumar a cama, sou pago para isso.
- Perdão. Estava tão acostumado que nem lembrei que ainda estava num hotel.
Os dois sorriram. Matt não era bonito de morrer, mas tinha um certo charme. Algumas espinhas lhe ocupavam o rôsto, mas nada que importasse para Glen. Matt era alto, mais alto que Zach uns bons centímetros. Matt interrompeu os olhares fixos com um breve pergunta:
- Vai querer tomar café agora?
- Oh, claro.
- Me acompanhe.
Matt deu o braço à Glen e os dois desceram as escadas e foram até o restaurante do hotel. Matt o levou até uma mêsa ao lado da janela. Glen sentou-se e pediu um pedaço de pão com manteiga na frigideira. Enquanto esperava, ficou a refletir no que estaria acontecendo na residência dos Clark. A natureza estava parada. Só pensava em Zach. Mais nada. Estava correndo perigo em estar só numa cidade tão grande. Olhava os pássaros a voar. Como voavam alto e sem se preocupar com o amôr. Amôr êste que dilacerou Glen e seu coração.