Pov Rachel

O silêncio na sala se estende por alguns minutos, enquanto Jesse segura firmemente a minha mão. Emma está chocada, com as mãos na boca. O pai de Jesse olha fixamente pra ele. E minha mãe está parada, olhando pra parede.

“Isso é algum tipo de piada?” - O pai de Jesse finalmente fala algo.

“Não.” - Minha mãe responde, antes que Jesse e eu tenhamos tempo de falar - “Eles estão juntos. Não estão, Rachel?” - minha mãe me encara.

Eu balanço a cabeça vagarosamente, concordando. Jesse segue segurando a minha mão o tempo todo.

Minha mãe se levanta, e respira fundo.

“Will, eu preciso conversar com a minha filha a sós agora. Amanhã todos nós conversamos, e vamos resolver isso tudo com calma. Vamos, Rachel.” - Minha mãe segue em direção a porta, sem quase olhar pra mim.

Eu me viro para Jesse, e lhe dou um beijo rápido nos lábios.

“Eu te ligo mais tarde.” - Ele diz, e eu concordo em silêncio.

Saio atrás de minha mãe, sem dizer mais nada.

Pov Jesse

Rachel e Shelby saem rapidamente, e fico sozinho com o peso do planeta nas costas.

Meu pai, ainda sentado no sofá, me encara com um olhar que nunca o vi ter antes.

“Pai…” - começo a dizer.

“O que você fez com ela?” - Meu pai grita, se pondo de pé. Minha mãe segura o braço dele delicadamente.

”Will..” - ela tenta dizer.

“O que você fez com aquela menina, Jesse?” - Meu pai vem em minha direção, andando raivosamente.

“Você a forçou?” - Meu pai me acusa, com o rosto muito próximo ao meu. E eu sinto um fogo crescendo dentro de mim.

“Claro que não, pai! Como pode pensar isso de mim? Eu a amo!” - Estou em choque, minha cabeça gira e minha garganta queima. Meu pai e eu sempre fomos amigos, e agora ele me trata dessa forma? Essa é a primeira coisa que ele pensa?

“Ela tem 16 anos, Jesse! É uma menina! Como pôde fazer isso com ela? Ela é praticamente sua irmã!”

“Will, se acalme.” - Minha mãe acaricia o braço do meu pai, que se senta novamente no sofá, raivosamente. Eu continuo de pé, parado, em choque.

“Meu Deus do céu, Jesse. A Shelby confiou aquela menina a mim, eu cuidei dela desde pequena, e o meu próprio filho faz isso com ela.”

“Pai, a gente tá junto há um tempo, nós dois quisemos isso. Decidimos juntos, eu sempre a respeitei e…”

Meu pai me dá um tapa no rosto. Mais rápido do que eu poderia prever, sequer imaginar, ele levanta do sofá e vem na minha direção, me atingindo com força. Eu nunca apanhei, em toda a minha vida, essa é a primeira vez que meu pai ergue a mão pra mim.

Eu nunca pensei que poderia doer tanto.

“WILLIAM!” - Emma grita, e se mete entre nós - “William, olha como você está se comportando!”

Meu pai volta a se sentar, com as mãos na cabeça.

“Eu não posso acreditar nisso. Nem sei mais quem você é.” - Meu pai diz.

E eu sinto meu coração se quebrar no meio.

“Quantos anos a minha mãe tinha?” - pergunto, e ele me encara. Eu não faço perguntas sobre a minha mãe biológica, nem sequer sei seu nome e nunca me importei. Ela nunca me quis, e Emma sempre foi tudo o que eu precisei. Sei que falar sobre a minha mãe machuca o meu pai, e nunca tive vontade de saber nada sobre ela. Emma acaricia meu rosto, enquanto as lágrimas descem pelos meus olhos e minha voz sai embargada, chorosa e quente - “Você está sendo hipócrita! Quantos anos a minha mãe tinha quando engravidou?”

“19!” - meu pai diz, levantando novamente do sofá - “19 anos, Jesse! Ela era uma adulta, a criança da história era eu. Jesse, não acredito que você fez isso com aquela menina, não consigo acreditar…”

“Você sabia que eu transava com a minha ex! Porque de repente está agindo como se eu fosse um monstro? Como se tivesse seduzido Rachel?” - Eu digo, choro e soluço.

“Porque você era o adulto dessa equação, Jesse!” - ele me encara - “Você tem 18 anos, é um homem, está quase indo pra faculdade. Eu esperava mais de você! Esperava que você cuidasse dela e a protegesse, não que dormisse com ela debaixo do meu nariz!” - Meu pai anda pela sala, e meus olhos estão tão embaçados que eu mal consigo vê-lo - “Eu fiz tanta coisa, abri mão de tanta coisa pra te dar o que eu não pude ter, e olha o que você fez!”

Me sinto perfurado por um milhão de agulhas.

“Acho que foi um erro ter ficado comigo, afinal de contas.” - digo, em meio à minha dor.

“Não coloque palavras na minha boca, Jesse Saint James Schuester!” - meu pai grita, apontando o dedo pra mim - “Eu te criei sozinho! Te ensinei tudo o que você sabe! Tentei te criar da melhor forma e com o melhor caráter que eu pude!”

“Eu sempre fiz tudo certo, pai. Tudo! Eu cometo um erro, o mesmo erro que você, e agora você não sabe mais quem eu sou?”

“Acha que eu sabia o que estava fazendo quando sua mãe engravidou? Eu tinha 16 anos, foi a minha primeira vez, a gente nem namorava! Eu não estava preparado pra transar com ninguém, foi um descuido, eu cedi a uma pressão externa. Você teve acesso a todas as informações, Jesse. Você viu aquela menina crescer!”

“Eu a amo, pai! E essa é a minha vida! Sinto muito se você não acredita ou não consegue ver isso, mas eu a amo, e vou cuidar dela e do nosso filho, com ou sem a sua benção!”

“Ótimo.” - meu pai diz, se sentando novamente - “Pode começar a cuidar da sua própria vida. Saia da minha casa.”

Levo alguns segundos para materializar o que acabei de ouvir.

“O que?” - sussurro, tentando compreender.

“Saia da minha casa, Jesse. Agora.” - Meu pai diz, e vai andando em direção ao quarto sem nem olhar pra mim.

“William!” - Minha mãe grita, e anda em direção a ele. Eu escuto os dois discutindo no quarto, outra cena que jamais havia presenciado antes. Escuto suas vozes como zumbidos, e mal consigo reconhecer as palavras, enquanto saio pela porta e vou para o corredor, sem saber para onde ir.

Estou descendo as escadas quando escuto minha mãe me chamando.

“Jesse!” - Ela está chorando, e corre em minha direção. Abraça minha cintura, e eu repouso meu rosto sobre sua cabeça, enquanto nós dois choramos compulsivamente.

“O que eu vou fazer agora, mãe?” - Consigo soluçar, e enquanto ela me abraça, nós dois escorregamos para a escada e nos sentamos no chão, abraçados.

Fico com a cabeça apoiada em seu ombro por vários minutos, ela acariciando meu cabelo enquanto paro de soluçar. Havia anos que eu não chorava desse jeito, que não me sentia assim, sem rumo, sem chão.

“Seu pai só está em choque.” - ela diz, e eu nem sei o que responder.

Me levanto, e limpo minha calça.

“Acho que vou dormir na casa da Quinn, por hoje.” - Quinn e Puck alugaram um pequeno apartamento a um mês - “Deixar ele se acalmar.”

“Nada disso. Me espere no seu carro, eu já volto.”

“Mãe, não precisa…”

“ME ESPERE NA DROGA DO SEU CARRO, JESSE!” - Ela diz, e sobe novamente as escadas.

Eu desço em direção à garagem, e a espero parado em frente ao carro. Ela desce uns 20 minutos depois, segurando uma mala grande em uma mão e um ventilador de mesa na outra.

“Mãe…” - eu a ajudo a carregar as coisas - “O que é isso?”

“Coloca no carro.” - ela diz, já se sentando no banco do carona - “São as suas coisas. Vamos pro meu antigo apartamento.”

“Meu pai não vai se chatear com você?” - pergunto, entrando no carro. Ela coloca o cinto em mim antes que eu tenha tempo de o colocar, me protegendo como fazia quando me ensinou a dirigir.

“Não me interessa o que ele vai pensar! Aquele apartamento é meu, comprei antes de nos casarmos, e eu não vou deixar o meu filho dormir na rua só por causa do surto histérico do pai!” - Ela está firme, e me manda começar a dirigir.

O antigo apartamento de Emma não é muito longe, uns 10 minutos de carro. Ele estava alugado desde o casamento deles, e o último inquilino se mudou há alguns meses. Há algumas mobílias na casa quando entramos, e muita poeira espalhada pelo local.

“Vou comprar uma vassoura e um colchão de acampamento. Me espere aqui, e vamos limpar juntos.”

Minha mãe vai com meu carro ao supermercado, e volta com uma vassoura, um balde, produtos de limpeza, um colchão e algumas roupas de cama. Nós limpamos a sala em silêncio, e eu estendo o colchão ali mesmo, já é bem tarde quando terminamos. Me sento, e abro a mala que ela arrumou pra mim, com minhas peças de roupa preferidas, sapatos e itens de higiene pessoal.

Recomeço a chorar, mais contidamente agora. Ela se senta do meu lado, e segura minha mão.

“Eu devo conseguir a bolsa.” - digo, encarando a parede. Nem sequer pudemos conversar sobre o e-mail que recebi hoje cedo, que agora parece tão distante - “80%. Jenkins me escreveu.”

“Isso é ótimo, meu filho.” - ela dá um beijo na minha mão.

“O que eu vou fazer agora, mãe?” - pergunto, ainda sem ter ideia de como seguir com a minha vida.

“Você vai pra UCLA, oras! Vai seguir seu sonho, ter sua carreira e criar seu filho, exatamente como o histérico do seu pai.” - Ela diz, e eu deito minha cabeça em seu colo. Ela faz carinho no meu cabelo.

“Eu vou ficar longe deles.” - digo o que me consome - “Da Rachel. Do bebê.”

“Vai ser por pouco tempo, e nós vamos estar aqui cuidando deles.”

“Talvez eu possa pedir transferência pra NYU. Quando a Rachel for pra NYADA.”

“Filho…” - Minha mãe segura minha mão, e me levanto para olhar pra ela - “É isso mesmo que você quer? Ser advogado? Esse é o seu sonho?”

“É.” - digo, mas nesse momento não sei dizer o quanto disso é sonho e o quanto é simplesmente um objetivo. Eu nunca quis outra coisa, nunca planejei outra vida. E agora, com um filho a caminho, eu preciso mais do que nunca de uma carreira sólida que possa proporcionar um futuro para ele.

“Então vamos fazer dar certo. Porque você acha que eu quero vender esse apartamento, hein? Era pros teus custos da faculdade, agora serão pros custos do seu bebê, e você se vira como garçom e bolsista, tá bem?” - Ela beija minha mão novamente, e eu sorrio vislumbrando esse futuro que tanto planejei, e que parece tão diferente agora.

Metade de mim está crescendo em Rachel nesse momento.

Eu sou pai.

Pov Rachel

Minha mãe está sentada no sofá desde que chegamos. Ela encara a parede, e o copo de água que me pediu para pegar segue meio cheio em cima da mesa de centro. Estou de pé próximo ao sofá.

“Como você está se sentindo, mãe?” - Eu pergunto.

“Desapontada.” - Ela responde, ainda sem olhar pra mim.

“Sinto muito por te desapontar.” - Eu digo, me sentando ao seu lado e encarando meus joelhos. Ela olha para mim.

“Não estou desapontada com você. Estou desapontada comigo mesma.” - Ela diz - “Onde foi que eu errei, onde foi que eu falhei como mãe e fiz você sentir que não podia conversar essas coisas comigo?”

As palavras da minha mãe me atingem em cheio. Não é culpa dela, não quero que se sinta culpada, ela é a melhor mãe que eu poderia ter.

“Me desculpa, mãe. Eu… eu tava com tanta vergonha, tão confusa… Aconteceu tudo tão rápido.” - Eu deito minha cabeça em seu ombro.

“Foi só aquela vez? No chuveiro, quando eu peguei vocês no flagra?” - Eu olho pra ela, em choque.

“Qual é, Rachel, ‘o zíper do Jesse quebrou’ e vocês dois com o cabelo molhado? Eu não nasci ontem! Eu quis te dar espaço pra vir falar comigo com calma, porque foi meio chocante encontrar vocês daquela forma.”

Estou tão envergonhada que não consigo levantar minha cabeça de seu peito.

“O que aconteceu, hein? Foi só uma transa, vocês tavam se pegando e o negócio esquentou demais…?”

Eu olho pra ela, e sinto meu rosto ardendo como pimenta.

“A gente fez antes disso… e depois também.” - digo, envergonhada.

“Jesse St. Safado!” - ela diz - “Eu vou matar aquele garoto. Deus do céu, porque vocês não conversaram comigo? Eu teria te levado ao médico!”

“A gente usou camisinha!” - eu digo, e percebo que não é totalmente verdade. Nós não fomos exatamente muito cuidadosos em todas as vezes - “Quer dizer, na maioria das vezes…”

“E o que houve, ela furou, foi na vez que vocês não usaram…?” - Ela diz, e eu sigo sentindo meu rosto esquentando cada vez mais.

“Você nem sabe, né? Quantas vezes vocês fizeram?” - ela pergunta, e eu tento contar mentalmente na minha cabeça, mas acho que já perdi a conta - “Tantas assim? Caramba, como foi que eu não vi vocês crescerem? Jesse St. Safado!” - ela repete - “E Rachel Safada Berry, também!” - ela dá um tapa leve no meu ombro - “No chuveiro do teu quarto, Rachel? Eu pensei que vocês estavam se pegando, uma parte de mim sabia, mas eu não queria acreditar que vocês tinham de fato…” - ela para de falar alguns segundos - “... feito tudo. Do modo tradicional e completo.”

Fico em silêncio, ainda encarando o chão. Apesar de toda a vergonha e de toda a insegurança, ela é minha mãe, e ainda me sinto confortável ao lado dela. Nós tivemos inúmeros conversas sobre sexo antes, eu não posso dizer que ela não me explicou as coisas, sempre tivemos uma relação muito amigável. Acho que abusei demais dessa liberdade.

“Me desculpe por ter feito aqui em casa…” - digo, e ela me olha.

“Ah sim, você está de castigo, com certeza. Eu confio bastante em você, mas transar no chuveiro do teu banheiro quando eu estou prestes a chegar é um pouco demais, não acha?”

Não tenho muito como argumentar.

“O Jesse tava muito lindo naquele dia…” - digo, um sorrisinho tímido brota nos meus lábios.

“Ele te convenceu tão fácil assim, Rachel?”

“Na verdade fui eu quem…” - digo, e minha mãe está me olhando com o rosto em choque - “Desculpe.” - abaixo a cabeça, novamente envergonhada. Ela dá outro tapa leve em meu braço, nem chega a doer.

“Jesse St. Safado!” - ela novamente exclama.

Minha mãe finalmente termina de tomar a água. Seu rosto relaxa um pouco, e o clima entre nós duas não está mais tão denso.

“Ele foi… foi o seu primeiro?” - Ela me pergunta, apoiando o braço ao longo do encosto do sofá. Eu me aconchego para mais perto dela.

“Uhum…” - eu balanço a cabeça, deitando em seu ombro.

“E ele foi… respeitoso com você? Te tratou direitinho?” - Ela me pergunta, passando a mão no meu cabelo.

“Foi. Mas doeu.” - eu digo, e ela concorda com a cabeça.

“A minha primeira vez também.” - diz. Eu levanto rapidamente, e a olho.

“Mas mãe, ele nunca fez nada que eu não quisesse, tá? O Jess é muito carinhoso comigo. A gente nunca faz nada que eu não queira ou quando eu não queira!” - digo, antes que ela pense qualquer coisa. Lembro de como Kurt reagiu quando eu disse que senti dor na primeira vez.

“É, eu não esperava nada diferente disso vindo dele. É um bom garoto, aquele sem vergonha comedor de filhas!” - ela diz.

“Mãe!” - eu exclamo, e me deito novamente em seu peito. Jesse não me…

Bom, tecnicamente sim, mas… bom, não foi desse jeito!

Ficamos em silêncio alguns segundos, ela volta a fazer carinho no meu cabelo.

“Foi bom?” - ela diz, e eu a encaro rapidamente - “O quê? Além de sua mãe, eu também sou mulher, ou você acha que nasceu de chocadeira?” - eu rio, e minha mãe ri também, um sorriso leve em meio ao mundo que desaba sobre nossas cabeças.

“Foi…” - estou tímida, meu sorriso transborda em meio à minha vergonha.

“Bom… pelo menos isso. Pelo menos eu conheço aquele moleque, ele te ama e te tratou direitinho. Pelo menos não foi um idiota qualquer sem futuro do colégio.”

“A gente vai casar.” - digo, me aninhando nos braços da minha mãe.

“Agora? Nem pensar! Vocês vão criar essa criança e vão estudar, isso sim!”

“A gente se ama, mãe.” - digo, e ela não parece surpresa.

“Pois é. Acho que só o Will não queria enxergar isso. Mas sentimentos mudam com o tempo, e principalmente com a chegada de uma criança.” - ela passa a mão sobre a minha barriga - “Aliás, você sabe de quanto tempo está?”

“Não, eu fiz o exame de sangue hoje.”

“É, pelo menos você me contou logo no início. Amanhã vamos ao médico, nós 3.” - minha mãe se levanta, e passa a mão pelo rosto, limpando as lágrimas - “Agora você vai lavar essa cara, vai dormir, e eu vou tentar comer alguma coisa. Liga pro Jesse e diz que eu quero ele aqui em casa às 7h em ponto, nem um minuto a mais!”

Minha mãe vai em direção à cozinha, e eu fico parada ali no sofá, olhando pra tv e segurando minha barriga entre minhas mãos. Tem um serzinho crescendo dentro de mim, e mesmo com todo o medo que estou sentindo, ter o apoio da minha mãe nesse momento me faz muito feliz, me deixa muito mais segura.

“Obrigada…” - digo, quando ela se senta ao meu lado segurando um sanduíche - “Por ter reagido assim.”

“É Rach, eu engravidei com 18, né? Você foi ainda mais rápida que eu.” - ela coloca o sanduíche na mesa de centro - “Era o que eu queria pra você? Não, de maneira nenhuma. Mas se você tá grávida, tá grávida e ponto, vida que segue. Vamos ter esse bebê, e quando ele nascer a gente amarra o bingolinho do Jesse com uma corda e garante que não venha nenhum outro, ué. Tudo resolvido.”

“Não é tão 'inho' assim…” - não consigo me segurar em fazer uma piadinha, mesmo nesse momento tão confuso. Ela dá outro tapinha no meu braço.

“Me poupe dos detalhes sórdidos, ainda lembro daquele moleque com o piu piu do tamanho de uma unha! Vai se preparando, o pai dessa criança sujava as fraldas como um doido, e você gostava de arrancar elas e sair correndo por aí. Já imagino a loucura que vai ser!” - ela passa as mãos pela minha barriga, e eu me emociono. Meu bebezinho deve ser do tamanho de um grão de feijão, mas eu já o amo tanto.

“Eu menstruei, mãe.” - eu digo - “Isso é normal?”

“Hum.. já ouvi alguns casos sim. A mídia sempre noticia esses casos de mães que não sabiam que estavam grávidas. Já teve mulher que descobriu na hora do parto, acredita? Mas vamos ao médico amanhã, e contamos tudo a ele.”

“Eu quero que seja uma doutora, mãe. Não quero ficar pelada na frente de um cara.”

“Não ter ficado pelada na frente de um cara facilitaria muito as coisas, Rachel.” - ela devolve a piadinha pra mim. Minha mãe e eu sempre tivemos essa conexão muito forte, e eu fico feliz de poder finalmente contar tudo a ela, de retomarmos a nossa ligação.

“Eu acho que é menina.” - digo, e ela me olha.

“Hum… bom sinal! As Corcorans costumam acertar, eu sabia imediatamente que você era menina, e sua vó diz que também soube logo que engravidou de mim. Será que vem mais uma espivitadinha ai, pra me descabelar?” - Ela ergue minha blusa, e passa as mãos pela minha barriga - “Bem vinda à essa loucura, bebê Berry.”

“Berry-Schuester.” - eu completo. Já acho que é um sobrenome lindo.

“Certo, Berry-Schuester. Jesse St. Safado Schuester, não é que agora somos mesmo da mesma família?” - minha mãe dá um beijinho em minha barriga, e se levanta do sofá, indo em direção à cozinha.

Meus olhos estão inchados de tantas lágrimas produzidas ao longo deste dia, mas essas valem a pena.

Envolvo minha barriga entre meus braços.

“Bem vinda, filha.” - Sussurro, e deixo as lágrimas rolarem.