Pov Rachel

Meu celular vibra, e me levanto imediatamente do sofá para abrir a porta.

Jesse. O meu Jesse chegou. Eu me lanço em seus braços e o aperto o mais forte que consigo, fazendo carinho em seu cabelo enquanto ele repousa a cabeça no meu pescoço. Passamos boa parte da noite conversando, e ainda não consigo acreditar na forma como tio Willian reagiu com ele. Meu Jesse teve que dormir no chão frio num momento como esse.

"Tá tudo bem?" - pergunto, quando ele se solta do meu abraço. Estamos de mãos dadas, nos olhando.

"Vai ficar." - ele diz. Eu me ergo em sua direção e nos beijamos.

"Tá atrasado, Jesse." - escutamos minha mãe dizer, atrás de nós. Eu pego o braço de Jesse e confirmo o horário no relógio dele.

"São 07:04, mãe."

"Exato. Eu disse 07:00 horas. Se o seu filho precisar de você às 07:00 horas, esteja lá às 06:50!" - minha mãe coloca o dedo no peito de Jesse, enfatizando. Ele parece envergonhado.

"Você comeu, criança?" - ela pergunta, relaxando o rosto.

"Na verdade eu saí correndo." - ele diz, encarando o chão. Ela o puxa pra um abraço.

"Vem cá, vem." - ela o envolve com os braços - "Vocês dois fizeram uma grande merda, mas essa atitude do Will chega a ser ridícula!"

Jesse começa a chorar. De repente, ele soluça alto e se aperta no abraço com minha mãe. Ela começa a chorar levemente também, e quando dou por mim, também estou me debulhando em lágrimas. Minha mãe acaricia o rosto de Jesse, e beija sua testa.

"Vão comer, os dois. Já." - minha mãe diz, e eu pego a mão de Jesse e o puxo em direção à mesa, estou morrendo de fome.

—----

Estamos sentados no sofá, Jesse ao meu lado, minha mãe de frente para nós, nos observando. Ela está parada a algum tempo, só nós olhando, e nós dois permanecemos quietos. De repente, ela se levanta e tira o chinelo. E o taca bem no braço de Jesse.

"Aí!" - ele protesta. Não é a primeira vez que ele recebe uma chinelada dela, no entanto.

"Custava.encapar.esse.pinto.Jesse?" - minha mãe espalha chineladas pelo braço dele. Não são exatamente violentas, mas não são a coisa mais agradável de se receber.

"Eu encapei!" - ele diz, tentando se esquivar dos tapas da minha mãe.

"Então a Rachel fez com o dedo, foi?" - minha mãe diz, parando de bater nele.

Jesse deixa escapar um sorrisinho safado.

E ela arremessa o chinelo na cabeça dele.

"AI!" - Ele protesta, com a mão no local atingido.

"Eu devia espancar era esse teu negocinho aí!" - ela sacode o chinelo em direção à cintura de Jesse, que usa as mãos para proteger o seu "não tão negocinho".

"Arg!" - minha mãe suspira, com as mãos na cabeça, e volta a se sentar no sofá.

"Vocês dois fazem ideia do que fizeram? Jesse, você expôs a minha filha a uma série de riscos além da gravidez. E se vocês pegaram alguma coisa? Você era virgem antes dela?" - minha mãe pergunta, olhando pra ele. Jesse encara os joelhos, e balança a cabeça em negativa.

"Você já fez testes pra DSTs?" - ela emenda, enquanto ele continua calado e encarando os pés.

"E como você garante que as meninas com as quais você esteve antes não te passaram nada?"

"Na verdade eu só… eu só transava com a minha ex-namorada mesmo. Nunca tive mais ninguém. Também nunca tinha feito sem proteção antes. Com a Rach… aconteceu. Eu sempre tinha sido cuidadoso antes."

"Ser cuidadoso antes não é o bastante, Jesse! Eu não acredito que estou tendo que te explicar isso com os seus 18 anos na cara! Usem.camisinha.sempre! Sempre! E se vocês queriam começar a fazer sexo regularmente, eu esperava que vocês conversassem comigo pra que buscassemos juntos as alternativas viáveis. Agora cá estão vocês, repetindo os mesmos descuidos dos seus pais, e mais uma criança no mundo que não tem nada a ver com a história!"

Nós dois estamos absolutamente envergonhados, nos comportamos como duas crianças inconsequentes, e agora somos responsáveis por uma nova vida. Sinto meu estômago revirando.

Minha mãe respira fundo.

"Eu pedi folga hoje, e milagrosamente consegui. Vamos à clínica, e os dois vão fazer os testes necessários. Depois vamos ver como está esse bebezinho."

"Ainda não consigo acreditar que ele está mesmo aí." - Jesse diz, passando a mão na minha barriga.

"Está sim, foi você quem colocou ele aí dentro." - digo, com um sorriso no rosto e colocando minhas mãos em cima das de Jesse.

O travesseiro voa na cabeça dele.

"Aí!" - ele reclama mais uma vez - "Nós fizemos juntos, porque só eu estou sendo agredido?"

"Pra você lembrar disso toda vez que pensar em comer a filha dos outros, St. James Schuester!" - minha mãe diz, se levantando do sofá - "Vai se arrumar, Rachel."

Vou até meu quarto, enquanto Jesse me espera no sofá. Separo um vestido, mas me lembro que a médica precisará examinar a minha barriga, e troco para uma calça e uma blusa. Me pergunto quanto tempo mais essas calças ainda vão caber em mim.

Não consigo achar meu sutiã branco, e saio do quarto para pedir a ajuda da minha mãe.

"Mãe, você sabe onde está o meu…"

"RACHEL!" - Minha mãe grita, quando me vê. Jesse, que estava mexendo no celular, ergue a cabeça em nossa direção.

Só aí entendo o motivo do choque da minha mãe. Eu estou só de calcinha, e nada mais.

A ficha da minha mãe cai alguns segundos depois.

"Você já viu tudo o que há pra ser visto, né St. James?" - ela pergunta.

Jesse balança a cabeça lentamente, prendendo um sorrisinho.

"Aliás, ele adora meus peitos. Eles vão crescer com a gravidez, não vão?" - eu digo, me observando no espelho.

E o chinelo voa na cabeça de Jesse mais uma vez.

Pov Jesse

A enfermeira tira meu sangue, enquanto Rachel espera ao meu lado. Ela acabou de tirar 6 potinhos, mas eu só preciso tirar 1. Shelby quer que sejamos testados pras DSTs, e eu não tiro a razão dela, eu fui um completo idiota. Rachel ainda olha torto pros potinhos de sangue com o seu nome, e a enfermeira pontua que esse é só o começo da vida de uma grávida.

Cerca de 20 minutos depois, somos chamados pela obstetra. Rachel tira algumas dúvidas sobre o seu período menstrual, os enjoos que está sentindo, o cansaço e as dores de cabeça. Enquanto a médica explica termos técnicos, eu observo a sala cheia de pôsteres ginecológicos e sobre o desenvolvimento dos fetos.

"Ta assustado, papai?" - Dra. Susan me desperta dos meus devaneios.

"Presta atenção, Jesse!" - Shelby estapeia meu braço pela milionésima vez no dia de hoje.

"Eu calculo que você esteja com umas 6, 7 semanas, no máximo. O sangramento do mês passado pode ter sido pela nidação, que é quando o embrião se fixou no seu útero. Não gostei desse sangramento mais recente, no entanto. Vamos te examinar com mais detalhes e ver o que pode ser, tá bem?" - ela entrega um avental pra Rachel - "Pode ir se despindo. O papai vai acompanhar?"

"Vai!" - Shelby responde por mim - "Vai acompanhar tudo que a mamãe passa e prestar bastante atenção, não vai garotão?" - ela bate as mãos sobre minhas costas.

"Ele pode ficar? Eu quero ele comigo." - Rachel diz, se deitando na maca. A médica concorda, e eu passo os próximos 30 minutos vendo Rachel ser tocada, examinada e tendo objetos inseridos em seu corpo. Estou tonto e dolorido, mas ela aguenta tudo firmemente, olhando pro teto.

"Olha mocinha," - a médica nos mostra as imagens captadas no monitor - "Você tem alguns cistos nos ovários. Somando o fato da sua idade, eu vou classificar essa gravidez como de risco, tá bem? Eu quero que você evite esforços muito significativos nos primeiros meses." - Dra. Susan abre o avental de Rachel, e espalha um gel transparente por sua barriga.

"Ela tá bem?" - Rachel pergunta, erguendo a cabeça preocupada.

"Tá, tá tudo bem sim, fique tranquila. Só não posso te afirmar que é uma "ela", ainda. Aqui" - A médica aponta para um borrão na tela, enquanto desliza o aparelho de ultrassom pela barriga de Rachel - "não tem pepequinha nem piupiuzinho ainda."

O borrão minúsculo se mexe na tela, conforme a médica desliza o aparelho.

"Ai meu Deus!" - Shelby exclama, e as lágrimas estão rolando dos olhos dela.

"É ela, aqui?" - Rach aponta pro borrão, e a médica concorda.

"É sim. Ela é bem pequenininha, 6 semanas mesmo."

Ainda estou tentando entender o borrão que se movimenta em tela, quando um som retumbante e intenso começa a preencher o consultório. Alto e acelerado, o tum-tum-tum-tum toma conta do lugar, e ouço Shelby e Rachel soluçando.

Meus olhos se enchem de lágrimas quando meu coração entende a origem do som antes mesmo do meu cérebro.

"É o coração dele?" - faço a pergunta mais idiota e mais inacreditável possível - "Tão rápido assim?"

"Sim, é mais rápido que o da mamãe. Ta emocionado, papai?" - Dra. Susan continua deslizando o aparelho pela barriga de Rachel, enquanto o som preenche todo o consultório. Rachel aperta firme a minha mão, e quando a olho, ela está sorrindo.

O nosso bebê já tem um coração batendo.

Sorrimos juntos, nos concentrando na melodia mais linda que já ouvimos.

—--

Rachel termina de limpar o gel de sua barriga, enquanto eu abotoo o seu sutiã. Shelby foi atender uma ligação.

"Vamos agendar o seu retorno pra daqui 3 semanas, tá? Você tem mais alguma pergunta?" - Dra. Susan fala com Rachel.

"Tenho sim." - ela diz, ainda sentada na maca, e balançando as pernas - "A gente pode continuar tendo relações?"

A médica dá uma risadinha.

"Os seus hormônios do bebê estão te enlouquecendo, não estão?" - ela pergunta, e Rachel balança a cabeça em concordância.

"Estão?" - eu me surpreendo. É óbvio que eu já notei que os seios dela incharam um pouco, mas ela ainda não tinha me dito nada sobre seus hormônios.

"A sua libido pode variar bastante nesse período, mas é super normal aumentar. Podem ter relações sim, mas vou pedir que não façam nada muito mirabolante nesse início, tá? Até vermos como se desenvolvem esses sangramentos."

"A gente pode fazer com penetração?" - Rachel pergunta, e eu não sei onde enfiar a minha cara!

"Podem sim, o seu bebê tá protegidinho no útero, o pênis só tem contato com o seu canal vaginal."

É tão estranho conversar abertamente sobre sexo com uma médica, tendo Rachel ao meu lado, mas entendo que é necessário. Temos um bebê a caminho, e precisamos saber de todos os cuidados necessários. É claro que eu ficaria o tempo que fosse preciso sem transar com ela se a médica recomendasse isso, mas não posso deixar de admitir que fico feliz em saber que podemos continuar nos relacionando fisicamente sem prejudicar o nosso bebê. Mesmo conhecendo toda a biologia básica, é bom ouvir isso de uma profissional, faz eu me sentir mais seguro.

Percebo que estamos dando mais esse passo juntos, caminhando em direção ao nosso futuro.

Pov Rachel

Estou deitada no sofá, com a cabeça no colo de Jesse, que está sentado. Nós dois acabamos dormindo no sofá depois que voltamos, minha mãe nos deixou faltar ao colégio hoje depois de tantas emoções. Lembrar do meu bebezinho crescendo dentro de mim faz as lágrimas escorrerem levemente, enquanto permaneço com meus olhos fechados.

Jesse estava dormindo até uns 15 minutos atrás. Eu acordei bem antes dele, mas permaneci aqui, deitada e com os olhos fechados, curtindo esse momento. Quando ele acorda, se espreguiça alto, liga a tv bem baixinho e faz carinho no meu cabelo, enquanto permaneço deitada em seu colo.

Ouço a porta de casa se abrindo, mas continuo de olhos fechados. Minha mãe tinha ido comprar comida pra gente.

“Quer ajuda, Shelby?” - Escuto Jesse dizendo.

“Não, deixa ela dormir.” - Minha mãe diz, e eu escuto passos se movendo pela casa e embalagens sendo desembrulhadas.

“Ela tá comendo bem?” - Jesse pergunta. Sinto vontade de sorrir involuntariamente, mas seguro meu sorriso.

“Tá comendo normal, vomitou ontem de noite mas não teve enjoo pela manhã.” - Escuto a voz de minha mãe longe de nós.

Jesse desliza delicadamente suas mãos pela minha barriga.

Continuo concentrada nos movimentos dele pela minha barriga e cabelo, no som da tv baixinha, no perfume que ele usa. Curto o momento enquanto sou protegida pelo meu falso sono, me dando conta do quanto o amo, do quanto amo nós 3: Jesse, eu, e o nosso bebezinho.

“Ei.” - Ouço a voz da minha mãe perto de nós - “Você ama mesmo a minha filha, né?”

“Mais do que qualquer outra coisa.” - Jesse responde imediatamente.

Minha mãe emite um suspiro.

“Certo. Sabe que estou contando com você pra cuidar dela e do bebê, não sabe?”

“É o que eu mais quero.”

“Um neto. Eu sou avó antes mesmo dos 40, Deus do céu!” - ouço a voz dela se afastando de nós outra vez.

Não consigo mais segurar o meu sorriso, e abro os olhos.

“Você tava acordada?” - Jesse diz, acariciando meu rosto.

“A gente te ama.” - digo, colocando a mão na minha barriga - “Muito.”

Jesse sorri, e coloca as mãos sobre as minhas.

“E eu amo vocês.”

Meu sorriso é do tamanho do universo. Do nosso universo.

Nosso. De nós 3.