Pov Rachel

Jesse me abraça imediatamente. Eu digo as palavras em voz alta pela primeira vez, e quando sinto seu peito de encontro ao meu, deixo saírem todas as lágrimas que estou mantendo presas dentro de mim. Nós ficamos abraçados assim por segundos, minutos, até que ele ergue o meu rosto para olhá-lo.

“Eu amo você.” - Ele diz, e nosso beijo tem o sabor salgado de nossas lágrimas.

FLASHBACK RACHEL

Corro o mais rápido que posso pro banheiro, colocando pra fora tudo o que comi no almoço assim que alcanço a pia. Pode ter sido a salada, que não parecia exatamente muito bem limpa, ou o molho gorduroso que eu resolvi colocar por cima. Ou o fato de que estou absolutamente nervosa com a conversa que teremos com nossos pais hoje a noite. Penso nisso tudo e rapidamente a ânsia me domina outra vez, nem sequer tenho tempo de chegar ao sanitário em si.

Sinto alguém segurando o meu cabelo, e vejo Quinn pelo espelho.

Coloco um pouco de água na boca, e bochecho.

“Você tá bem?” - Quinn me pergunta, arrumando meu cabelo atrás da minha orelha.

“Uhum. Eu não tenho o reflexo de vomitar, alguma coisa acabou com o meu estômago essa semana.” - Digo, me lembrando que também cheguei a sentir ânsia alguns dias atrás.

Quinn me observa atentamente.

“Vamos indo?” - Digo. Terminamos o ensaio de hoje, e Kurt está me esperando para me dar carona pra casa.

“Rachel…” - Quinn diz, suavemente - “Desculpa me meter num assunto tão pessoal, mas… você e o Jesse já…?” - Ela me pergunta, e eu fico vermelha. Ela foi a primeira namorada dele, e agora cá estamos nós neste banheiro, as duas garotas que já viram o Jesse pelado.

“Já…” - digo, tentando entender aonde ela quer chegar.

Quinn respira fundo.

“Você acha que pode estar…?” - ela não completa a frase, mas sei ao que se refere. E sinto meu coração pular uma batida.

“Não, definitivamente não. A gente usa proteção…” - calculo mentalmente quanto tempo desde a minha última menstruação, quantas vezes Jesse e eu fizemos nas últimas semanas, quantas vezes fizemos alguma coisa sem camisinha, rápida ou demorada - “Quer dizer, algumas vezes a gente não… mas não pode ser” - balanço minha cabeça, clareando meus pensamentos - “Eu menstruei. Eu menstruei mês passado normalmente, e esse mês atrasou alguns dias, mas desceu, desceu semana passada e…” - lentamente, as peças na minha cabeça vão se encaixando, como um jogo de lego - “na verdade veio bem menos dessa vez, durou só alguns dias, mas eu achei normal, ela é meio desregulada e…” - coloco minhas mãos sob a barriga, e perco a voz - “Você acha que eu posso estar…”

“Não é muito comum, mas algumas mulheres menstruam mesmo quando estão esperando.” - Quinn diz, me olhando atentamente. Estou paralisada em frente ao espelho.

Grávida? Eu posso estar grávida? Eu nem tenho 17 anos ainda, mal sei cuidar de mim mesma, o Jesse foi o único homem que eu tive na vida, e eu era virgem a pouquíssimos meses atrás! Como eu posso estar grávida? Como eu posso estar esperando um filho?

Um filho. Metade do Jesse, metade meu.

FIM DO FLASHBACK

“Você tem certeza?” - Jesse me pergunta, com a cabeça sobre a minha barriga. Estamos deitados em sua cama, eu deslizo minha mão por sobre o seu braço.

“Uhum.” - digo - “A Quinn me levou pra fazer os exames.”

FLASHBACK RACHEL

“A forma mais eficaz de ter certeza é fazer um exame de sangue.” - Quinn diz, segurando minha mão - “Se você quiser, eu digo ao Kurt que você está naqueles dias e que se sujou, isso explicaria a corrida pro banheiro. Depois que ele for embora, o Noah leva a gente onde eu fiz o meu exame. Você quer?” - Quinn me pergunta, e eu ouço a voz dela distante de mim, como se não estivéssemos na mesma sala. Balanço a cabeça automaticamente, ainda fora de mim.

Grávida. Eu posso estar grávida.

O restante dos minutos passam como um borrão. Quinn sai do banheiro, e volta alguns minutos depois para me buscar. Entramos no carro de Puck, ela vai comigo no banco de trás, segurando minha mão. Puck não diz nada o caminho inteiro, e nos deixa na porta do laboratório.

Eu quase não consigo falar na recepção, e é Quinn quem diz quase tudo por mim. Quando percebo, estou coletando uma ampola de sangue, e praticamente não sinto a agulha. O resultado sai hoje mesmo, e Quinn e eu aguardamos na recepção, olhando a reprise da novela da tarde na TV.

“Rachel Barbra Corcoran Berry.” - A atendente lê o meu nome, e eu vou até o balcão pegar o papel com o resultado. O envelope está fechado, e eu o abro ali mesmo, parada no balcão.

Reagente.

O resultado é mecânico, científico e direto. Lendo esse pedaço de papel com uma linha escrita, quase não consigo acreditar que há uma vida crescendo dentro de mim. Uma vida que é metade minha, metade do meu melhor amigo, do amor da minha vida. Meu coração salta aceleradamente, bombeando sangue para dois corpos que são um só. O mundo fica mais sonoro, mais amarelo, mais azul. Tem uma vida crescendo dentro de mim, há dois corações batendo no meu corpo, um ser humano que não existia no mundo agora mora na minha barriga, e principalmente, no meu coração.

Reagente. Eu estou grávida.

FIM DO FLASHBACK

Jesse segura o resultado do exame em uma mão, e a fita com os dois risquinhos na outra. O teste de farmácia ficou pronto ainda mais rápido que o exame de sangue, e Jesse está segurando bem na parte que eu mergulhei no meu xixi. Eu já disse isso a ele. Não sei se ele escutou.

Jesse está olhando pra frente como se fosse um marionete sem vida. Estamos sentados na sua cama a minutos, e ele está respirando tão devagar que quase não se move. O e-mail que ele me mostrou com tanta alegria está agora caído no chão.

Tantos sonhos, tantos planos que fizemos, juntos e individualmente. Nova Iorque, Broadway, tudo que importa tanto e que ao mesmo tempo não importa mais. Tem uma vida crescendo dentro de mim, e eu já a amo tanto, em tão pouco tempo.

“Eu acho que é uma menina.” - Digo, e ele olha pra mim - “Sei lá porque. Só acho que é.”

“Vai herdar as roupas da Beth.” - Ele diz, e me olha tão disperso que é como se eu fosse transparente, e ele estivesse observando a parede atrás de mim.

“É, vai.” - digo, olhando pros meus joelhos.

O silêncio paira no quarto por mais alguns minutos.

“O que a gente faz agora, Jess?” - Pergunto, segurando sua mão.

“Bom, a gente conta pros nossos pais.” - Ele diz, respirando fundo.

“Eles vão nos matar.” - Digo, o nervosismo crescendo no peito.

“Não, eles vão me matar. Você está carregando o neto deles.” - ele diz, e eu não posso evitar sorrir. Jesse continua tão pálido quanto um pedaço de papel.

“Eu quero esse bebê.” - Digo, e ele me olha nos olhos - “Eu quero criar ele com você.”

“Eu sei.” - Ele diz - “A gente acabou fazendo a mesma coisa que os nossos pais, né?” - ele também ri, um sorriso breve e sem humor.

“A gente não ia casar mesmo?” - Eu beijo sua mão - “Só invertemos um pouco as coisas.”

“Eu preciso arrumar outro emprego.” - Jesse volta a encarar a parede.

“Vai dar certo, Jesse. Nós dois somos a prova de que pais adolescentes conseguem criar ótimos filhos. Você não tem mãe, eu não tenho pai, e mesmo assim a gente deu super certo. A nossa bebê vai ter nós dois, e avós carinhosos que a amam, e vários tios pra mimá-la…” - Involuntariamente passo minhas mãos sobre a barriga, e Jesse me observa.

“A gente pode transar agora?” - Ele me pergunta, de repente.

Eu estranho o pedido repentino.

“Ele tá… acordado?” - Aponto para o seu corpo.

“Na verdade ele provavelmente morreu. Talvez nunca mais levante.” - ele diz. Eu rio.

“Então como é que você quer transar? Eu estou mais seca que o deserto do Saara!” - brinco com ele, tentando lhe arrancar um sorriso.

“O meu pai vai arrancar o meu pênis fora. Eu queria usar ele uma última vez.”

Eu caio na gargalhada. E em meio aos soluços que ainda escapolem, o medo que só aumenta e a alegria que me consome agora, eu consigo imaginar o meu futuro ao lado de Jesse. Imagino minha barriga despontando por baixo dos vestidos de apresentação do New Directions, nossa pequena correndo em direção a ele no aeroporto em nossas idas e vindas pelo país, Jesse com ela no colo me assistindo no auditório enquanto performo no palco, nós duas o aplaudindo enquanto ele pega seu diploma da UCLA. Não sei se a Nyada possui um programa para jovens mães, mas sei que muitas universidades têm, foi assim que minha mãe conseguiu se formar. Eu vejo o nosso futuro se realizando bem na minha frente, e mal posso esperar por ele.

Tem uma vida crescendo dentro de mim. Minha e do Jesse. Uma Berry-Schuester.

“Meninos, a Shelby chegou. Venham jantar!” - Emma grita da sala, e nós dois despertamos dos nossos devaneios. Jesse se levanta, e me estende sua mão. Me ponho de pé, e a seguro.

“Vamos lá?” - ele me pergunta.

“Vamos lá.” - respondo, apertando sua mão o mais forte que consigo.

Pov Jesse

Saímos do quarto vagarosamente, Rachel nunca soltando a minha mão. O eco na minha cabeça vai diminuindo aos poucos, enquanto desfaço os nós e revelo a figura principal: Rachel está esperando um filho meu.

Eu penso em todas as vezes em que fomos cuidadosos, em todas as camisinhas que escondemos entre papéis higiênicos para que não nos denunciassem. Penso em todas as vezes em que ela me disse não porque estava menstruada, penso na vez em que ela me disse sim mesmo estando menstruada (bendito chuveiro quente), penso em todas as brincadeiras descuidadas, as vezes em que fui pra casa dela sem levar uma camisinha comigo, as madrugadas em que estávamos com tanto sono e desejo que nem as roupas completas tiramos. Penso nos “eu tiro antes” que eu não cumpri, nos que cumpri e que sei que não significaram coisa alguma, porque sou excelente em biologia e sei de todos os riscos e possibilidades envolvidas. Penso no quanto fui burro, descuidado, que nunca nem sequer perguntei se ela tomava pílula.

E agora, Rachel está esperando um filho meu.

Nossos pais estão sentados à mesa quando chegamos, nossas mãos ainda entrelaçadas, a mão de Rachel suando tão frio que eu tenho medo que ela simplesmente desmaie. Eles nos olham enquanto permanecemos parados no meio da sala.

Rachel solta a minha mão, dando um passo à frente. Diz rapidamente, antes que eu tenha tempo de respirar.

“Eu estou grávida.”

A sala fica em silêncio absoluto, ninguém respira.

Eu seguro novamente a sua mão.

“E eu sou o pai.”