Pov Jesse

É hora do almoço, e o Glee Club está vendendo biscoitos na cafeteria. E por alguma razão, apesar de eu não ser do Glee Club, cá estou eu, responsável por receber os pagamentos e calcular o troco. Os membros têm se revezado ao longo da semana, e hoje é meu dia, junto com Finn, o responsável por anunciar os biscoitos e atrair os fregueses enquanto Brittany sacode alegremente o cartaz com os sabores e preços, meu pai, que nos supervisiona, e a razão pela qual estou aqui, que é a responsável por entregar aos clientes os sabores escolhidos.

Rachel me convenceu a me voluntariar para ajudar o Glee Club dizendo que eu poderia aproveitar e falar com as pessoas sobre o clube de dança extraoficial que estou coordenando há duas semanas. O problema é que, como estamos no meio do ano e o clube não é uma atividade oficial da escola, ele não gera créditos extras, então não temos exatamente pessoas interessadas em passar 1 hora por semana dançando sob a supervisão do perdedor filho do professor. O clube até agora só tem 4 membros além de mim: Kurt, Santana, Brittany e Rachel. Apesar de ser algo novo e não planejado, confesso que estou adorando a experiência de compartilhar meus conhecimentos sobre algo que amo tanto, mas que deixei de lado por tanto tempo.

Como tenho o traquejo social de uma porta de madeira, eu sigo calado entregando o troco a quem me paga, e até o momento consegui espalhar a palavra do clube de dança sem nome oficial para um total de zero pessoas.

Jacob, o membro do clube audiovisual metido a youtuber, compra dois biscoitos com uma nota de 50, acabando com todo o meu troco.

"Olá, obrigada por contribuir com a arrecadação de fundos para a apresentação final do Glee Club!" - Rachel repete a mesma frase que está dizendo a cada cliente, com um sorriso no rosto - "Quais sabores você quer?"

"Quais você me recomenda, gatinha?" - Jacob diz, provocativamente.

Gatinha? Quem ele pensa que é?

Eu o observo imediatamente, segurando o dinheiro do próximo da fila.

"Temos de chocolate, morango, amendoim, e chocolate com menta. Os de chocolate são os que saem mais." - Rachel responde, separando os biscoitos sem olhar pra ele.

"E qual você gosta mais?" - ele ainda está falando com ela.

Gatinha é a sua avó, seu inconveniente!

"Os de amendoim estão muito bons." - Rachel responde, não dando muita atenção a ele.

"Ótimo. Então me dá um de chocolate, e fica com esse de amendoim pra você." - ele dá um sorriso, e uma piscadinha.

Cara, você sabe onde eu vou enfiar esse teu biscoito de amendoim?

"Ah… obrigada…" - Rachel diz, envergonhada - "Mas não posso aceitar…"

"Que isso, você só precisa me dar seu telefone e ficamos quites." - Jacob se inclina na mesa em direção a ela.

"Cara, eu te dei 10, você tem que me devolver…" - sei-lá-quem parado na minha frente começa a reclamar comigo.

"Espera!" - eu digo, enquanto continuo prestando atenção na mesa ao lado.

"Eu… prefiro que não." - Rachel empurra o biscoito na direção de Jacob.

"Ué, eu pensei que você e o grandão tivessem terminado." - ele aponta na direção de Finn.

"Nós terminamos." - Finn, que está quase do outro lado do corredor, confirma exageradamente alto.

"Então, eu não faço o seu tipo, ou você já está com outra pessoa?" - Jacob pergunta, ainda próximo demais de Rachel.

Ela fica em silêncio por alguns segundos.

"Não estou com ninguém…" - ela diz, e reaproxima o biscoito de si.

"Então pode ficar com o biscoito, o seu número eu conquisto com o tempo." - Jacob diz, e meu pai dá uma risada alta.

"Vamos, Jacob, não seja inconveniente com a Rachel. Deixe o restante da fila andar." - meu pai diz, e Jacob sai dando mais uma piscadinha para Rachel.

"Se você quiser eu tento arrumar dinheiro trocado…" - o garoto comenta. Abro minha carteira e pego do meu próprio dinheiro o troco para que o idiota cale a boca e para de me atrapalhar.

"Até que o menino tem um bom papo. Vai dar uma chance pra ele?" - meu pai pergunta.

Rachel encara a mesa de biscoitos.

"Vou pensar." - Rachel sussurra, com a cabeça abaixada. Jacob, sentado em sua mesa, olha pra ela de longe.

O sinal toca, me libertando dessa tortura antes que eu perca a cabeça.

Pov Rachel

Jesse está sentado na sala do balé, balançando nervosamente suas pernas enquanto encara o chão. Entro vagarosamente, e ele ergue o rosto para me encarar. Está chateado, não há como negar.

"Você vai pensar?" - ele diz, de uma só vez. Me sento ao seu lado, e seguro sua mão.

"Desculpe." - digo, o observando - "Eu não soube muito bem o que falar com o seu pai ali do lado."

"Você poderia dizer que estava com alguém." - ele diz, rápido demais.

"Mas aí ele iria querer saber quem é." - Tio Will é como uma figura paterna para mim, sei que não iria simplesmente deixar essa passar - "Eu não quis atrair atenção…"

"3 semanas, Rach! Estamos juntos a 3 semanas, e eu não posso contar nada pra ninguém? Poxa, quanto tempo mais vamos ficar escondendo isso?" - sei que ele tem razão. Sei que precisaremos contar isso aos nossos pais algum dia, mas todos os dias eu prometo a mim mesma que terei coragem para contar amanhã, e essa coragem nunca chega. Cada momento roubado ao lado de Jesse, cada toque do corpo dele no meu, cada beijo escondido é precioso, e não quero perder nada disso. Temos dormido na casa um do outro praticamente todas as noites, e os fins de semana são inteiramente nossos, também. Nós continuamos disfarçando para os nossos pais, e na última quinta feira, para não sermos tão óbvios assim, ele precisou 'invadir' a minha casa de madrugada usando a chave de emergência. Fizemos no sofá da sala, num misto de medo, desejo e risadas contidas.

"Desculpe por te pressionar." - Jesse diz, segurando a minha mão - "E pela crise de ciúmes, também."

"Eu ficaria ofendida se você não sentisse nem um pouquinho de ciúmes." - Digo, e ele dá uma risadinha.

"É um sentimento horrível, querer bater naquele cara." - Jesse diz, e é minha vez de rir.

"Agora você sabe como eu me sinto." - digo, e sorrimos juntos. Ele se inclina na minha direção, e me beija, um beijo demorado e delicioso, com o sabor das suas balas de menta.

"A Hobbit, sério?" - escuto a voz de Santana Lopez entrando na sala.

"Não deu mais pra segurar ela." - Kurt vem logo atrás, enquanto Santana nos olha um pouco emburrada. Pedi para Kurt vigiar a porta e atrasar as meninas, para que eu pudesse conversar alguns minutos com Jesse. Nosso beijo estava tão bom que não sei quantos minutos passamos assim.

"Isso explica um bocado." - Santana diz, sentando numa cadeira próxima de nós - "Eu achei que você ainda estava na da Quinn, ou que fosse gay."

"Boa tarde pra você também, Santana." — digo, a observando com a cara mais brava que consigo fazer. Quero que ela saiba que ele é meu, só meu!

"Affs Rachel, não somos exatamente amigas, mas eu não vou tentar roubar o seu homem, tenho mais o que fazer. Não que eu já não tenha tentando, mas eu não sabia, e o seu fiel aí cagava pras minhas investidas." - ela diz, e eu olho para Jesse, que só dá um meio sorriso.

"Mas eu não vou sair do grupo de dança, hein! Eu gosto mesmo de dançar." - Santana afirma, mantendo os braços cruzados.

Pov Kurt

Estou parado na porta há 5 minutos, tentando tomar coragem para tocar a campainha e me perguntando se estou fazendo a coisa certa.

É sábado, e Blaine me convidou para assistir um filme na casa dele. E por alguma razão eu aceitei.

Acho que estou prestes a conseguir tocar a campainha quando a porta se abre. Levo alguns segundos para reconhecer o garoto parado na minha frente.

Eu não fazia ideia que Blaine usava óculos. Ou tinha o cabelo cacheado. Ou usava moletom.

"Você não vai entrar?" - Blaine diz, enquanto continuo o observando chocado.

"Você me ouviu chegar?" - pergunto. Blaine aponta pra cima.

Ele tem uma câmera de vigilância. Que bacana, estou a 5 minutos fazendo papel de idiota.

"Quer beber alguma coisa?" - Blaine me pergunta, enquanto tento observar sua casa discretamente. Ual, que casa incrível!

"Uma água seria bom." - digo, e ele busca uma água pra mim. Eu bebo a água em silêncio, olhando pra ele.

"A sua casa é linda." - digo, lhe entregando o copo.

"E eu tenho zero influência sobre ela. É o bebê da minha mãe, só tenho liberdade pra mexer no meu quarto. - Blaine aponta em direção a escada - "Pode ir subindo, segunda porta." - Blaine vai deixar o copo na cozinha, e eu subo vagarosamente as escadas, me perguntando quando foi que perdi completamente o juízo.

Blaine tem sido um cara legal. Ele tem estado sempre por perto dos meus amigos, e descobrimos que ele tem um bom senso de humor. Mas… ir ao quarto dele? Será que isso é realmente uma boa ideia? Quer dizer, o que eu de fato sei sobre ele?

O porta-retratos na parede mostra um Blaine mais novo, sorridente e de cabelos cacheados. Ao lado, o Blaine que eu reconheço no colégio, com suas roupas estilosas e gel no cabelo, abraça um rapaz que provavelmente é o seu irmão.

"Cooper Anderson, o galã da família." - Blaine me pega observando suas fotos.

"Ele tá em Yale, né?" - desconverso.

"Uhum. De vez em quando ele aparece por aqui." - Blaine anda em direção à porta do seu quarto. - "É esse."

"Bom, e o que vamos assistir?" - pergunto, disfarçando o meu nervosismo enquanto Blaine abre a porta.

"Star Wars, Trilogia Clássica." - Quem responde é Sam, sentado no sofá com um joystick na mão e um fone gamer na cabeça

"Como é que tá aí?" - Blaine diz, se sentando ao lado dele e colocando um fone, também.

"Já perdemos metade da equipe." - Sam fala com Blaine, ainda olhando pra tela.

"Senta aí, Kurt. Daqui a pouco a gente termina a campanha." - Blaine diz.

"Duvido! Estamos perdendo feio!" - Sam enfia uma porção de pipocas na boca.

"Isso é porque o papai aqui não tava on." - Blaine se concentra na tela - "Devon logando." - ele fala no fone.

"Devon?"

"Nome do meio." - Sam diz, com a boca cheia.

"Em casa eu sou mais Devon do que Blaine." - Blaine Devon diz.

Blaine Devon Anderson. Quem é esse cara?

O quarto de Blaine é branco, com apenas uma das paredes em cinza escuro. Espalhados pelo quarto, uma infinita quantidade de carrinhos e pôsteres de filmes de ficção científica.

"Você gosta de Star Wars?" - Blaine pergunta, ainda jogando.

"Na verdade nunca vi inteiro." - comento. Os dois me olham como se eu fosse um lunático.

Eles continuam jogando e conversando entre si, enquanto meus olhos percorrem o quarto. Até que meus olhos esbarram em algo inesperado, e dou um grito.

"Meu Deus, Grease!" - levanto do sofá e dou uma corridinha até a estante de Blaine, pegando o DVD de colecionador. Esse é um dos meus filmes favoritos. - "Você gosta de Grease?"

"Uhum, minha mãe e eu assistimos juntos sempre que ela está em casa."

"De onde você acha que ele tirou o visual Danny Zuko cabelo de gel?" - Sam dá uma cotovelada em Blaine.

"Pelo menos eu não roubei o visual do Justin Bieber." - ele cutuca Sam com o cotovelo também, e os dois riem.

E eu repito minha pergunta mental do dia: quem é esse cara?

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Ainda estou tentando processar tudo o que aconteceu na tarde de hoje. Sam me contou que Blaine e ele estão jogando online juntos a 3 semanas, e que se reúnem aos sábados já que o computador de Blaine é mega potente. Blaine é realmente muito bom, e eles conseguiram reverter o jogo e vencer.

Acabei conseguindo convencê-los de assistirmos Grease, apesar das reclamações de Sam. Blaine sabe todas as músicas e falas, e cantamos juntos em todas as partes. A mãe dele chega quase no fim do filme, e senta ao nosso lado assim que percebe o que estamos vendo. Ela parece ser uma mulher amorosa, e está na cara que Blaine a ama muito.

Já é noite quando saímos da casa de Blaine, eu dando carona para Sam.

"Isso quer dizer que ele agora é oficialmente um dos nossos?" - pergunto para Sam.

"Por mim, tá aprovado. Aliás, eu gosto bem mais do lado Devon."

"Nossa, eu também. Mas… de onde veio essa amizade de vocês?"

"A gente tá trocando mensagens há um tempão. Ele tá bem apaixonado por você, aliás."

"Ele não está apaixonado por mim, Sam. Ele nem me conhece direito!" - interrompo Sam, sem tirar os olhos da estrada.

"Bom, ele está convencido de que está." - Sam continua - "E pra chegar em você, ele precisava da minha benção, ou acabaria ficando sem nariz. Aí acabamos nos conhecendo melhor. Ele sugeriu te chamar aos sábados, também."

"É, ele me chamou pra assistir um filme."

"E você não me disse nada."- Sam dá um sorrisinho provocador pra mim. Oras, o que ele está querendo insinuar?

"Eu nem sabia se viria."

"Mas veio…" - Sam cutuca meu braço.

Eu só continuo dirigindo em silêncio.

"Kurt... porque você parece meio decepcionado que ele só te chamou pra ver um filme mesmo, hein?" - Sam segue me provocando.

"Nem começa, Samuel. Já te expliquei que sou Ace."

"Não, você me disse que é Demisexual."

"Sim, que está no espectro assexual da bandeira."

"Isso eu sei. Mas se eu entendi bem, você ainda se atrai por pessoas com as quais tem algum tipo de conexão emocional, certo?" - Sam está olhando pra mim, com um sorrisinho no rosto.

"Certo."

"Ah tah." - Sam coloca os braços em volta do encosto de cabeça - "Só pra saber." - ele ri, e eu ligo o rádio antes que ele resolva continuar com essa conversa estranha.

Pov Jesse

Entro no auditório, que está escuro. É hora do almoço, e ninguém deveria estar por aqui. Rachel me enviou uma mensagem dizendo que tinha algo muito importante para conversar comigo, e me pedindo para encontrá-la aqui.

“Rach?” - Eu a chamo. As luzes do palco se acendem, e Rachel está parada em frente ao microfone preso ao tripé, no centro do palco. Ao fundo, vejo Sam segurando um violão, Artie sentado ao piano, Puck na bateria. Blaine, Kurt e Quinn estão próximos a um microfone, também preso num tripé.

Rachel faz sinal com o dedo, me chamando para subir ao palco. Eu obedeço, a observando.

“Você queria falar comigo…?” - Observo todas as pessoas nos cercando.

“Não se preocupe, todo mundo aqui já sabe, ou ao menos suspeita.” - Rachel diz, pegando minha mão.

“Ok…” - Estou tentando entender o que está acontecendo, quando ela aponta para uma cadeira no palco, bem próxima ao microfone dela. Eu me sento, meu coração batendo rápido no peito.

“Sim, eu preciso te dizer algumas coisas. E essas pessoas maravilhosas aqui toparam me ajudar.” - Ela olha para os nossos amigos - “Vamos lá!”

Música: How Deep Is Your Love

Conheço seus olhos ao sol da manhã

Eu sinto você me tocar na chuva

E no momento que você vaga para longe de mim

Quero te ter novamente em meus braços

E você vem até mim numa brisa de verão

Mantém-me no calor de seu amor, e depois se vai suavemente

E é a mim que você precisa mostrar

Como é profundo o seu amor

Como é profundo o seu amor, como é profundo o seu amor

Eu realmente preciso saber

Pois vivemos num mundo de tolos

Nos separando

Quando todos deveriam nos deixar ser

Nós pertencemos um ao outro

Acredito em você

Você conhece a porta para a minha alma

Você é a luz nas minhas horas mais escuras e profundas

Você é a minha salvação quando eu caio

E você pode pensar

Que não me importo com você

Quando sabe, no fundo, que realmente me importo

E é a mim que você precisa mostrar

Como é profundo o seu amor

Como é profundo o seu amor, como é profundo o seu amor

Pois vivemos num mundo de tolos

Pois vivemos num mundo de tolos

Que nos destroem

Quando todos deveriam nos deixar em paz

Nós pertencemos um ao outro

Rachel canta olhando para mim, enquanto o New Directions a segue no coro e no instrumental. Eu sinto cada palavra da música, vejo o amor de Rachel transbordando em sua performance, e me sinto o homem mais feliz do mundo. Meu coração transborda pelos meus olhos, e deixo algumas lágrimas caírem em meio aos meus sorrisos.

Quando a música acaba, eu me levanto e a tomo nos braços, dando-lhe um beijo singelo e delicado, mas que contém toda a verdade do meu coração.

“Uhuuuuuul!” - Kurt assobia ao fundo, batendo palmas.

“Eu amei, de verdade. Obrigada a todos.” - Digo, ainda emocionado.

“Calma, ainda não acabei.” - Rachel pega minha mão - “Pessoal, vocês são os primeiros a saber… ao menos oficialmente, que o Jesse e eu estamos juntos. Eu peço que mantenham segredo por enquanto, porque eu mesma quero poder contar pra todo mundo em breve.”

“Só se eu for o padrinho.” - Puck diz, Quinn abraçando seu pescoço.

Rachel se vira pra mim.

“Jess, eu amo você. Te amei a minha vida inteirinha. E não quero mais esconder isso de ninguém. Desculpe por demorar tanto.” - Ela dá um beijo em minha mão. - “Quero que contemos aos nossos pais, ainda essa semana, juntos.” - Ela abre um sorriso espontâneo, e eu sorrio também, involuntariamente.

“Tem certeza, Rach?” - Pergunto, segurando sua mão.

“Toda a certeza do mundo.” - Ela confirma, balançando a cabeça.

Isso é tudo o que eu poderia querer, contar ao mundo sobre o quanto amo essa menina-mulher que cresceu comigo e que me faz tão feliz. E enquanto saímos todos do auditório, nós dois de mãos dadas, sinto vontade de pular e dançar pelos corredores dizendo o quanto a amo e o quanto me sinto completo. Rachel é o mais lindo sonho que eu poderia ter, e vou lutar para tê-la ao meu lado, sempre.

—---

É quarta-feira, e eu termino de colocar a mesa de jantar enquanto meus pais cozinham. Estou tão nervoso que preciso me concentrar para não derrubar os pratos, minhas mãos estão suadas e escorregadias.

Dissemos aos nossos pais que estávamos com saudade dos nossos jantares em família, ainda não tivemos nenhum oficial desde que elas voltaram do Canadá. Shelby virá depois do trabalho, hoje é o único dia da semana que ela não está no jornal da madrugada, e Rachel deve chegar daqui a pouco. Tento manter a tranquilidade, mas sinto que posso surtar a qualquer momento, de ansiedade e medo do que nossos pais vão dizer.

Rachel e eu combinamos que falaremos juntos, depois do jantar. Nosso receio é ficarmos com fome ouvindo 2 horas de sermões intermináveis, então decidimos comer antes. Não sei se vou conseguir engolir alguma coisa, mas tento manter a normalidade por enquanto.

Enquanto espero a hora avançar, vou para o meu quarto ficar um pouco na internet. Troco entre redes sociais, e quando resolvo checar o meu e-mail, há uma mensagem que eu não esperava receber tão cedo.

É Jenkins, o meu orientador no processo de aplicação para a Universidade da Califórnia. Me pergunto se esqueci de enviar algum documento no prazo. Abro o e-mail. E a mensagem quase me faz cair da cadeira.

Estou entre os finalistas para a bolsa! Não só isso, mas a UCLA pode me conceder até 85% de bolsa, ao invés dos 50% para os quais eu me apliquei. Jenkins me diz que minhas notas são boas o bastante para concorrer com os estudantes que aplicaram para percentuais maiores, e que apesar de eu não ter muitos créditos extracurriculares além da monitoria, ter trabalhado durante todo o ensino médio demonstra que sou responsável e dedicado. Ele reforça que o comitê avaliador ainda aguardará os meus resultados no exame SAT, mas que ele está muito confiante no meu potencial e nas minhas chances de conseguir pelo menos os 50%.

Estou radiante, e imprimo o e-mail imediatamente. Eu vou pra UCLA, posso sentir isso! Vou ter uma excelente educação, que me abrirá portas para uma carreira sólida e uma vida confortável. Dr. Jesse Schuester, advogado criminalista!

Ainda estou em transe quando a porta do meu quarto se abre, e Rachel entra. Estou com um sorriso gigantesco no rosto, e começo a falar antes mesmo que ela possa dizer qualquer coisa.

“Rach!” - Eu a abraço, girando-a no ar - “Rach, olha isso, Rach!” - Lhe entrego o e-mail, mas continuo falando antes que ela tenha tempo de ler - “Eu vou pra UCLA, Rach! Com 80% de bolsa! Quer dizer, ainda tem o SAT, mas eu vou me sair bem, eu me saí bem em todos os simulados nos últimos anos. Meu Deus, eu vou pra UCLA, Rach!” - Estou tão feliz! Eu sou um estudante aplicado, é bom saber que meus esforços estão me levando aos lugares em que sempre quis estar.

“Você vai embora?” - Ouço a voz de Rachel. Quando a olho, ela está com o rosto fechado, parece entristecida, encarando o meu e-mail.

Não pensei no que isso tudo significa para nós, a notícia foi tão inesperada e repentina, que comecei imediatamente a comemorar. É uma possibilidade sobre a qual já havíamos discutido, mas que agora se tornou mais real. Depois de tantos anos separados, temos mais alguns meses juntos, e precisaremos enfrentar a distância novamente. Penso no quanto estou feliz, penso nas inseguranças que Rachel já compartilhou comigo, e me pergunto como ela interpretou minha reação, se entendeu que estou feliz por me separar dela, o que definitivamente não é o caso, eu apenas não tive tempo para processar tudo isso ainda.

“Rach…” - Tomo seu rosto em minhas mãos - “A gente não vai terminar. Vamos nos falar todos os dias, vamos nos ver todos os feriados… Eu vou gastar menos grana do que esperava, posso bancar as nossas viagens, posso ir te ver em Nova Iorque quando você for a aluna prodígio da Nyada que consegue um papel na Broadway logo no primeiro ano...”

“Eu…” - Rachel suspira, e parece estar tentando formular as palavras.

“Vamos fazer dar certo, eu te prometo. Eu amo você.” - Digo, fazendo carinho em sua bochecha.

Ela coloca sua mão sobre a minha.

“Estou grávida.”