Pov Jesse

Existe uma teoria que diz que quando você está solteiro, ninguém se interessa por você, mas basta que você esteja com alguém para que surjam outras pessoas de todos os cantos. Namorei por quase um ano, e essa teoria nunca se provou verdadeira. Até agora.

Estou fechando meu armário na escola quando Santana Lopez para do meu lado, com sua melhor cara sedutora.

“Oi, delícia.” – Ela fala. Acho que fiz a patética cena de olhar pros lados pra ver se tinha mais alguém ali além de mim.

“Oi...” – digo, receoso.

“Então, você é um gênio da matemática, certo?”

“Gênio não.”

“Você tira mais do que eu, então já serve.” – ela se aproxima de mim, e eu dou uns passos pra trás, ficando quase imprensado na parede. Não me entenda mal, Santana é obviamente gostosa, mas seu jeito de agir como se tivesse o mundo em suas mãos faz com que eu perca qualquer interesse por ela. Além disso, não quero que Rachel me veja perto dela, ou de qualquer garota, embora tecnicamente nós não estejamos namorando ainda.

“Preciso de aulas extras.” – Santana me diz. Sou indelicado quando deixo escapar meu som de surpresa.

“Você?” – pergunto. Santana Lopez está na minha aula de Geometria desde o primeiro ano, e nunca foi do tipo que se importa com notas, ou em sequer aparecer nos dias das provas, para começar.

Ela respira fundo.

“Olha, eu não quero terminar meus dias nessa pocilga de cidadezinha, trabalhando como garçonete ou algo do tipo. Eu não tenho paciência pra aulas e exercícios, mas eu sou uma ótima líder de torcida, e agora que a Quinn será mamãe em breve, a vaga pra bolsa de estudos para torcedoras da Universidade Princeton está livre, e eu posso ter alguma chance.” – seu rosto, que parecia sincero e preocupado até agora, volta para a sua máscara de sedução – “E talvez se você me der aulas eu possa ter algum incentivo para continuar estudando.” – ela rola os dedos pelo meu peito, e eu me desvencilho educadamente, saindo da parede.

“Não sou mais monitor.” – estagiei na monitoria da escola por um tempo, antes de conseguir o emprego na loja de discos, que não paga muito, mas já é mais do que o que eu ganhava aqui.

“Eu sei. Eu posso pagar por fora. Quanto você quer?”

Calculo mentalmente um valor.

“Uns 20 por semana, tudo bem?”

“Tudo bem,” – ela volta a se aproximar de mim – “e talvez eu possa te dar algo mais pelos seus serviços.” – ela sussurra perto demais do meu rosto.

“Olha, qual é a sua? Sério?” – digo. Esse joguinho está começando a me irritar - “Eu já concordei em te dar aulas, não? Pra que tudo isso?”

Ela começa a mexer na bolsa, e penso que vai me ignorar, quando tira um espelho da bolsa e o aponta para o meu rosto.

“Porque você é gato.” – fala, e guarda o espelho no bolso.

Há um enorme ponto de interrogação pairando sob a minha cabeça.

“Você era da Quinn, tá legal? E eu não sou fura olho de amiga. Dai vocês terminaram e eu esperei um tempo pra ver se iam voltar, mas ela parece estar feliz com o idiota do pai do filho dela, então... Ao menos que eu tenha esperado demais.”

Fico em silêncio. Nem eu sei o que responder.

“Quer saber, eu não ligo pra resposta. Só aparece lá em casa e me dá a droga das aulas. Te ligo pra combinarmos.” – ela fala, jogando a mochila nas costas e saindo.

“Eu não te dei meu telefone!”

“Eu já tenho.” – ela grita pelo corredor, sem nem olhar pra trás.

Pov Rachel

Não vim pra escola de carona com Jesse hoje. Minha mãe conseguiu uma folga no feriado enforcado, e nós fomos para a casa da minha avó. Ela sugeriu que levássemos o Jesse conosco, mas ele e eu conversamos, e achamos melhor passarmos esses dias separados. Eu preciso entender se o que sinto por ele é só uma atração louca, ou se existe algo mais. Preciso de um tempo longe dele, pra pensar.

Meu corpo ignora tudo isso quando eu o vejo dobrando o corredor, a cabeça abaixada olhando para um papel que está em suas mãos.

Corro em sua direção, o coração acelerado no meu peito, e já não sei se é pela corrida ou pelo simples fato de vê-lo, e quando percebo, já estou em seus braços, meus lábios colados nos dele.

Nosso beijo é mais rápido do que eu gostaria.

“Oi.” – ele diz. Estamos abraçados, eu olho o seu rosto, as mãos dele na minha cintura.

“Oi.” – respondo, e meu rosto queima. Estou sorrindo tanto que acho que meu maxilar vai deslocar, mas não consigo parar de sorrir.

“Você pensou?” – pergunta, e quero dizer que sim e que não. Que pensei nele o tempo todo, que nem sequer pensei direito na viagem ou na enorme quantidade de comida deliciosa feita pela minha avó, que tudo o que eu consegui pensar foi em seus lábios, seus olhos, seu toque, seu sorriso. Quero dizer que quero ficar com ele, que quero ser dele, e que também não quero. Porque pensei no desapontamento dos nossos pais, pensei em nós dois terminando, pensei em Quinn Fabray e no quanto ela é absurdamente linda, pensei nele percebendo que eu sou comum e sentindo saudades dela, pensei em não ter mais nossas piadas, nossos brigadeiros de colher e nossas implicâncias. Pensei na minha vida inteira, no quanto ele sempre fez parte dela, e em como eu me sentiria se tudo acabasse de repente.

E não consegui chegar a conclusão alguma.

“Sim. Pensei em você o tempo todo.” – sintetizo minha enxurrada de pensamentos. Ele parece ficar vermelho.

“E...” – pergunta, um sentimento vibrando em seus olhos.

“Preciso pensar mais um pouco.”

“Ok.” – ele diz, e passa a mão no cabelo com papel e tudo. Ele faz isso quando está nervoso.

Tiro o papel da mão dele, e o leio. É um endereço, e uma assinatura: Santana Lopez.

Santana, a nova capitã das Cheerios. Santana, a morena estonteante com curvas perfeitas. Santana, que colocou silicone nos seios assim que completou 18 anos.

Santana Lopez.

Meu corpo é consumido pela raiva.

“PORQUE VOCÊ ESTÁ COM O ENDEREÇO DA SANTANA NAS MÃOS????” – me solto do seu abraço, e estou gritando em pleno corredor da escola.

“Ela me pediu aulas particulares de geometria.” – ele fala, e está me olhando com uma cara engraçada. Eu poderia estapeá-lo, agora.

“SEEEEI!” – Uso toda a minha ironia, a raiva fluindo de mim, e não sei de onde ela vem. Penso na forma como ele me tocou, no quanto me fez flutuar, lembro de suas mãos queimando todo o meu corpo, dos seus lábios me explorando e me descobrindo, e um flash se passa em minha mente: ele, fazendo o mesmo com ela - “É geometria que ela quer de você, JESSE SAINT-JAMES SCHUSTER!!!!”

Ele só fica parado, me encarando com sua cara engraçada, uma das sobrancelhas erguidas.

“O que?” – pergunto.

“Você está com ciúmes, Rachel?” – diz, e percebo o que sua cara engraçada significa: ele está prendendo o riso.

“ESTOU!” – grito. Ele começa a rir.

“Para com isso!”- dou um soco em seu peito – “Garoto, para com...”

Sou interrompida com um beijo. Suave e intenso ao mesmo tempo, sua língua procura pela minha, que não oferece resistência. Ele para de me beijar, e se inclina na direção do meu ouvido.

“Não precisa.” – sussurra – “Eu amo você.”

Estou sorrindo. Entrelaçamos nossas mãos, e caminhamos pelo corredor até a minha sala. Já fizemos isso centenas de vezes, mas dessa vez é diferente. Minha mão queima sob a dele.

Pov Kurt

Estou guardando meus livros. Terminei meu teste de história 20 minutos antes do fim da aula, e terei que aguardar meus amigos para irmos almoçar. O bom é que conseguirei uma mesa melhor para nós. Somando-se ao fato de que fui bem no teste, e que ‘ninguém’ me empurrou no armário até agora, estou tendo um dia bom.

Até o momento em que ‘ninguém’ resolve vir falar comigo.

“O que você quer, Blaine?” – falo, assim que o vejo se aproximando de mim. Estou tentando achar espaço pro livro que aluguei na biblioteca, e vejo o seu reflexo pelo espelho preso na porta do meu armário.

“Relaxa, eu só quero conversar.”

“Pode falar.” – digo, me virando para encará-lo. Ele está visivelmente preocupado, encarando os corredores pra checar se alguém está nos vendo. Ele está na mesma aula que eu, e terminou o teste pouco antes de mim. Estamos sozinhos no corredor.

“Não pode ser em outro lugar?” – pergunta – “o vestiário costuma ficar vazio neste horário.”

O vestiário. O lugar onde eu não preciso pisar, já que pratico dança na hora da educação física. O vestiário onde eu escolhi não pisar por medo de toda a perseguição que eu sofria. Por medo de Blaine Anderson.

E agora, é com ele que eu entro no vestiário.

Me sento num dos bancos. Ele fecha a porta, e vem na minha direção. Se senta ao meu lado. Está olhando nos meus olhos, como nunca olhou antes.

“Pode falar.” – digo, novamente.

“Eu acho que gosto de você.” – ele diz.

Esse é o momento em que deveria gritar. Acusá-lo de ser um covarde que descontou em mim todos esses anos a sua covardia. Há tantas coisas que eu deveria dizer, meu cérebro resgatando todas as mágoas e medos que ele me fez sentir todo esse tempo, quando ele se inclina na minha direção e me beija outra vez. Meus lábios tentam resistir, mas é como se um imã me mantivesse preso àquele lugar, àquele momento.

“PUTA QUE PARIU!” - Escutamos, e Blaine se solta imediatamente de mim. Ambos olhamos em direção à voz.

Sam Evans está parado na porta do vestiário, nos encarando com um olhar perplexo.

“Ual.” - Ele diz, e Blaine se levanta com um pulo e vai em direção a ele. Quando percebo, ele já está puxando Sam pela gola da camisa, o encarando com sua tradicional cara ameaçadora.

“Se você falar alguma coisa sobre isso pra alguém eu te arrebento, entendeu?” - Blaine diz, e Sam rola os olhos.

“Solta ele, Blaine!” - Me levanto, e seguro Blaine pelos ombros. Ele solta Sam e me olha, seu rosto parece envergonhado. Suspira, e se senta novamente num dos bancos, sua cabeça entre as mãos.

Sam me olha com um misto de confusão e preocupação.

“Eu não faço ideia do que está acontecendo aqui, e eu sei que não é da minha conta.” - Ele olha em direção à Blaine, e de volta pra mim - “Mas Kurt, você merece muito mais do que isso”. E antes que eu tenha tempo de dizer qualquer coisa, ele sai do vestiário.

Estou atônito com tudo o que acabou de acontecer em tão pouco tempo. Me sento ao lado de Blaine, que continua com a cabeça abaixada, e nem sequer sei o que dizer ou fazer. Ele ergue a cabeça, e me encara.

“Desculpe.” - diz, com um olhar de dor no rosto.

“Não é pra mim que você precisa pedir desculpas, Blaine. Pelo menos não agora.”

“Eu gosto de você, Kurt.” - Ele me olha, e estou mudo - “E eu sei que aquele beijo significou alguma coisa pra você também.”

“É claro que significou. Foi o meu primeiro beijo.” - Digo. Ele solta uma risadinha sem humor.

“O meu também. De uma certa forma.” - diz.

Ficamos em silêncio alguns segundos, e ele me olha nos olhos o tempo todo. Ele nunca me olhou assim antes. Ninguém nunca me olhou assim antes.

“Blaine, você não gosta de mim.” - Digo - “Você nem sabe quem eu sou. Você gosta de um conceito, o ‘gay livre e feliz, bonito e que tem o apoio da família’”.

“Eu não disse que você era bonito.” - ele diz, e está sorrindo um sorriso que nunca vi antes em seus lábios. Correspondo o sorriso involuntariamente.

“Olha, acho que você ainda tem muita coisa pra descobrir, organizar dentro de você. Não é através de um relacionamento que você vai resolver alguma coisa.”

Ele acena com a cabeça, encarando o chão. Me levanto para sair do vestiário, e Blaine segura meu braço delicadamente.

“Desculpe. Por… tudo isso.” - Ele me olha com um misto de vergonha, arrependimento genuíno e confusão. Eu nunca tive nenhuma dúvida de quem eu era, e meu pai sempre soube, antes mesmo de mim. Sempre tive apoio, recebi amor, e mesmo com todo o bullying e preconceito de fora da minha bolha de proteção, eu sempre tive amigos que me amavam e a oportunidade de ser eu mesmo. Apesar de não justificar nada do que Blaine fez por todos esses anos, eu nunca havia pensado no quão difícil deve ser para alguém viver com o medo da rejeição, e passar por tudo isso sozinho.

“Você tem algum amigo gay?” - pergunto, e ele nega com a cabeça - “Parente? Conhecido?” - Ele me olha como se estivesse realmente perdido, e dá de ombros.

Respiro fundo, ainda considerando se o que estou prestes a dizer é mesmo uma boa ideia.

“Você… já tem meu telefone. Se quiser conversar sobre algo…” Digo, e ele volta a sorrir.

“Certo.” - balança a cabeça, confirmando - “Amigos?”.

“Amigos.” - Concordo, me levantando.

Estou saindo do vestiário, quando Blaine me chama outra vez. Olho em sua direção.

“Você é.” - Ele diz. E eu levo alguns segundos pra entender do que ele está falando, até que ele completa - “Bonito. Você é bem bonito.”

E eu me viro antes que ele consiga ver o meu sorriso.

Pov Jesse

É minha última semana de férias do trabalho, e novamente estou sentado no sofá zapeando os canais da televisão. Rachel está em cada parte da minha cabeça, e por mais que eu tente, não consigo parar de pensar em tudo o que aconteceu conosco. Rachel esteve em cada um dos meus sonhos nos últimos dias, e é como se o meu corpo gritasse pela falta que sente dela a cada segundo. Ela me enlouquece, e não faço ideia de como voltar a ser são.

Minha campainha toca, e vou atender.

Rachel.

Ela não usou a chave de emergência, o que é um milagre da parte dela.

Está parada na minha porta segurando um pacote de pipoca de micro-ondas que parece recém estourado. Não posso deixar de notar que está usando a mesma blusa cujo botão eu arrebentei dias atrás. Há um outro botão no lugar, agora.

“Podemos ver um filme?” - Ela pergunta, me esticando o saco de pipocas. Eu faço sinal para que ela entre, e ela fica de pé, parada próximo ao meu sofá. Está encarando os pés, quieta demais por alguma razão.

Nós mal nos olhamos no horário do almoço, apesar de termos sentado na mesma mesa. Tive a impressão de a ver corando em alguns momentos, e procurei manter meus pensamentos distantes, já que qualquer pequena coisa faz o meu corpo despertar por completo. Tudo o que tivemos, tudo o que eu senti… Eu quero mais, a qualquer momento, o meu corpo quer mais e mais e eu não acho que um dia estarei satisfeito.

Concentro todo o meu pensamento no saco de pipocas e no fato de que não quero assustar minha melhor amiga com uma ereção involuntária numa quarta feira nublada enquanto estamos sozinhos em casa. Me sento no sofá e ela se senta o mais distante possível de mim, suas pernas perfeitamente alinhadas numa postura que ela nunca teve comigo antes. Se nós não tivéssemos transado dias atrás, Rachel possivelmente estaria sentada no meu colo agora, sua saia levantando de formas muito convenientes pra mim, apesar de que eu jamais pensaria em algo além do filme que estaríamos escolhendo. Agora tudo o que eu consigo pensar é em qual será a cor da sua calcinha, e do quanto eu queria que ela estivesse jogada no chão da minha sala agora.

“O de sempre?” - Rachel me pergunta, com o controle da TV em mãos. Já está conectada, procurando nosso filme infantil favorito, que já assistimos milhares e milhares de vezes. Eu confirmo com a cabeça, e abraço a almofada mais próxima, tentando desanuviar meus pensamentos. Vamos assistir ao nosso filme favorito juntos comendo pipoca, Rachel me pediu um tempo para pensar, e eu não quero pressioná-la, não quero ficar estranho com ela, e não quero perder nossa amizade. Eu a amo por muito mais razões do que o que fizemos no meu quarto. E a amo a tempo demais para não respeitar seu tempo.

Estamos assistindo ao filme, e eu sinto como se houvesse uma cortina de fumaça invisível entre nós. Finjo não perceber, mas vejo Rachel se aproximando de mim aos poucos no sofá, a cada vez que passamos o pacote de pipoca de um pro outro, ela está mais perto de mim. É tão estranho não tê-la encostada no meu corpo, e percebo que nunca havia notado isso antes, o quanto preciso do contato dela. Sempre estivemos nos tocando, em quase todos os momentos, e é quase doloroso ter tido tanto com ela e agora estar com medo de que isso me faça perder todas as outras coisas que tínhamos.

A pipoca acabou, e ela coloca o pacote vazio em cima da mesinha de centro. E deita a cabeça no meu colo.

Estou fazendo carinho em seu cabelo, e não faço a menor ideia de quanto tempo passou e em que cena o filme está. Tudo o que eu consigo pensar é no quanto estou feliz que ela tenha quebrado a distância entre nós, quando ela se levanta, pausa o filme na TV e me encara.

“Isso não está dando certo.” - Diz, me olhando nos olhos - “Esse é o nosso filme favorito, e nós não repetimos uma fala sequer dele! E você nem encostou em mim desde que eu cheguei, Jesse!”

“Você sentou na outra ponta do sofá.” - digo - “Eu pensei que você não quisesse contato físico comigo, por alguma razão…”.

“Eu quero!” - Ela diz, e aproxima seu rosto do meu - “Eu quero, e esse é meio que o problema, sabe? Eu sinto a sua falta e você está parado na minha frente e eu continuo sentindo a sua falta, e mesmo que eu me aproxime de você e deite a cabeça no seu colo eu continuo sentindo a sua falta! A gente adorava esse filme, Jesse! E a gente deveria ter feito brigadeiro antes de começar a ver, e eu deveria estar usando o seu pijama agora, e deveríamos estar rindo alto, e…, e tudo o que eu consigo pensar agora é que eu odeio muito essas suas roupas feias!”

Eu dou risada do que ela disse.

“E por que isso?” - Digo. Rachel fica imediatamente vermelha, e encara o sofá. Respira fundo, e me olha timidamente - “Porque...eu queria...que você não estivesse usando elas agora.”

O mundo ao meu redor explode em milhões de pedaços mudos. Ela sente o mesmo que eu.

Aproximo meu rosto do dela, e estou olhando em seus olhos quando digo. “E eu odeio as suas.”.

Rachel morde os lábios levemente, seus olhos nos meus o tempo todo. “Você pode tirar elas de mim, se você quiser.” - Sua voz é quase um sussurro.

“Eu quero.” - Digo, e meus olhos vão direto para o primeiro botão de sua blusa. Ela pega minhas mãos e as coloca bem ali, sob os botões, e eu os desabotoo bem devagar, o primeiro e o segundo e o terceiro, e seu sutiã branco está visível e eu tenho bastante certeza de que é o mesmo sutiã que eu tirei dias atrás. E eu faço o mesmo, descendo o tecido delicadamente até que seus seios estão livres e eu posso tocá-los e eles são tão lindos quanto eu me lembro, tão lindos quanto eu sonhei. Eu me inclino em direção a eles e os beijo, e enquanto coloco um deles na boca e sinto que meu coração vai explodir por dentro do peito, Rachel respira baixinho e acaricia meu cabelo. Nós escorregamos no sofá e eu estou por cima dela, e seus seios são a coisa mais deliciosa que eu já provei, e eu intercalo entre os dois e não consigo me decidir de qual gosto mais, e quero passar o resto da minha vida brincando de prová-los.

O celular de Rachel toca, me tirando do transe. Eu quase caio do sofá.

Nos sentamos, e ela pega o celular que estava na mesinha de centro. Atende.

“Oi mãe…” - Ela diz, e me olha com toda a culpa do mundo. Estou sem fôlego, terrivelmente excitado, e não faço ideia de quanto tempo passamos deitados nesse sofá. - “Eu tô aqui no Jesse. Estamos vendo um filme.” - Ela diz, e está encarando a mesinha de centro enquanto puxa o sutiã para cobrir os seios que ainda estavam expostos. Eu poderia tacar fogo nesse sutiã agora mesmo. - “Uhum. Eu vou comer por aqui sim, a gente pede pizza.” - Ela não volta a olhar pra mim - “Eu falo pra ele sim. Até amanhã então, mãe. Beijo.”.

Rachel desliga o celular e encara o chão.

Pov Rachel

“Ela te mandou um beijo.” - Digo, sem conseguir encará-lo.

Minha mãe. Minha mãe, que me criou sozinha, que sempre trabalhou tanto para me dar o melhor. Que viu o Jesse crescer, e que nos enxerga praticamente como irmãos, e que nos deixa dormir na mesma cama… O que ela iria pensar se visse o que estávamos fazendo? O que Sr. Schuster iria pensar se entrasse de surpresa por aquela porta e me visse desse jeito? A culpa me atinge em cheio, culpa por não conseguir conversar com minha mãe sobre isso, justamente por saber que tudo mudaria a partir deste momento. E culpa por querer mais e mais.

O rastro dos lábios de Jesse ainda queima na minha pele, e eu nunca senti algo assim antes.

“A gente precisa conversar.” - Ele diz, e está fechando os botões da minha blusa por mim. - “Conversar de verdade.” - Seus olhos são a coisa mais linda que eu já vi no mundo, e antes que eu possa sequer entender o porque, eu aproximo meu rosto do dele e o beijo. Eu não beijei exatamente muitos garotos antes, mas tenho certeza que nenhum beijo nunca teve esse gosto.

Nosso beijo termina, e ele se senta ao meu lado no sofá, passando a mão no cabelo. Está nervoso.

“Me desculpe se passei dos limites.” - ele diz - “Você tinha me pedido um tempo pra pensar, eu não deveria ter feito nada disso.”.

Eu toco seu rosto, e finalmente reúno coragem para falar. Estou adiando essa decisão porque já me viciei em seus beijos, em seu corpo, em sua voz sussurrando no meu ouvido. Esse Jesse que conheço a vida toda, e que mesmo assim, redescobri dias atrás. Ele é lindo, carinhoso, e o namorado que toda garota quer ter.

Mas ele é meu melhor amigo, primeiro. E eu não posso, não quero perder isso.

“Jesse, eu gosto de você. Não preciso de tempo pra perceber isso. Eu gosto de você e não é só amizade. Todas as vezes que você me olha, que você me beija…” - Eu pego sua mão, e a posiciono bem em cima do meu seio outra vez - “Que você me toca desse jeito… Eu só quero que você me toque de novo, e de novo, e tudo o que eu consegui sonhar nos últimos dias foi com você me tocando desse jeito. Não pode ser só uma reação física, né?” - Ele me olha como se não soubesse o que dizer, sua mão ainda posicionada sobre o meu seio.

“Mas tem um “mas”, né?” - Ele tira a mão do meu corpo, e se afasta um pouco de mim.

“Mas… e se for? E se a gente brigar? E se os nossos pais não deixarem mais a gente se ver? Eu sei que eu gosto de você, mas eu… eu preciso entender o tamanho disso, o que significa… Mas eu não quero perder você. Não quero perder nossa amizade. Eu só preciso entender e…”

Ele puxa meu rosto pra mais perto dele.

“Eu sei. Eu...fui o seu primeiro cara. E se foi tão… incrível pra você como foi pra mim…”

“Eu nunca senti algo assim antes.” - digo, olhando em seus olhos. Ele dá um sorriso tímido.

“Você precisa entender se é só… só atração. E tá tudo bem se for só atração, tá? Não precisa tentar se forçar a retribuir só porque eu gosto de você, e…”.

Eu o interrompo com um beijo. Eu preciso que ele entenda o que nem eu mesma entendi por completo ainda. Eu só preciso que ele me espere.

“Eu posso esperar.” - Ele diz, sua testa colada à minha, e tudo o que eu queria era continuar com esse beijo, mas precisamos conversar, e eu não vou conseguir entender nada disso se continuarmos conectados desse jeito.

“Vamos fazer um acordo.” - Digo, me recompondo. - “Eu… eu preciso pensar, e pra pensar, eu preciso que a gente…”

“Pare de fazer sexo.” - Jesse diz, lendo minha mente. Sexo. É a primeira vez que dizemos o nome, que materializamos isso que fizemos 3 vezes até agora, e que meu corpo pede pra continuar fazendo a todo momento. Ele tinha toda a razão, isso me modificou por completo, e eu preciso entender se o que estou sentindo no meu coração agora é motivado pelo que o meu corpo sabe que ele me faz sentir, se é o inverso, ou se não tem nada a ver. Nada faz muito sentido pra mim agora.

Ele concorda com a cabeça, e me estende a mão.

“Nada de sexo.” - ele diz, e apertamos as mãos.

“Nada de sexo.” - Confirmo, balançando sua mão.

“E nada de beijos.” - Ele diz, e isso me atinge como uma bola de beisebol.

“Eu não disse nada sobre os beijos!” - Protesto, porque não consigo mais imaginar estar com ele e não querer beijá-lo imediatamente.

“Beijos podem esquentar…” - Ele diz, um pouco tímido. - “E é melhor a gente não arriscar.”

“A gente pode só reduzir os beijos…?” - Tento negociar os termos de um acordo que eu mesma propus.

“Seus beijos me deixam excitado.” - Ele diz, me olhando nos olhos. A frase parece ter escapulido dos seus lábios, porque ele parece em choque por ter dito isso.

“Eu gosto quando você fica excitado.” - Respondo, absolutamente intencional.

Ele prende os lábios, segurando um riso.

“Você não está me ajudando…” - diz.

“Desculpe. Sem beijos, então.” - digo, e me inclino para roubar um selinho, que ele retribui sorrindo.

“Por 4 semanas.” - Digo, colocando um prazo que me parece razoável.

“Não precisa me dar um prazo, Rach. No seu tempo, quando você estiver pronta, a gente conversa de novo e….”

“4 semanas.” - digo, e roubo outro selinho dele. Esse clima entre nós, isso é tão bom. Isso é tão novo.

“4 semanas.” - Ele concorda com a cabeça.

“Certo.” - digo.

“Certo.” - ele responde. “Então, amiga Rachel, com a qual eu não mais farei sexo por 4 semanas, ‘por favor, passem rápido’” - ele diz a última parte como se estivesse falando com o universo, e eu dou risada - “Eu vou fazer um brigadeiro pra gente, e vamos assistir ao nosso filme favorito, e você trate de sentar no meu colo.” - Ele para, e presta atenção no que disse. - “Pareceu errado, mas não foi isso que eu quis dizer.” - Damos risada, e ele vai fazer o brigadeiro.

POV Jesse

O filme está quase no fim, e estamos raspando o fundo da panela com a colher. Ela está sentada no meu colo, um cobertor nos cobrindo, e sua cabeça apoiada em meu ombro. Esse é o melhor lugar do mundo para se estar.

Talvez o segundo melhor lugar.

Ouvi tudo o que ela tinha pra me dizer, e concordo com suas colocações. Sei que o fato de ter sido o seu primeiro influencia muita coisa, sei o que nossos corpos podem fazer juntos, mas não é isso que espero do nosso relacionamento, se tivermos um. Eu não quero só poder transar com ela, eu quero poder continuar comendo nossos brigadeiros e dando risada dos nossos filmes, e ela precisa de um tempo pra entender tudo isso sem que nada a esteja influenciando. E eu preciso me preparar para a possibilidade de ouvir um não, apesar de achar que estamos muito, muito perto de um “sim”, agora.

“Jess” - Ela me chama, tomando a colher de brigadeiro da minha mão. Da uma colherada, e fala comigo de boca cheia, como sempre fez. E eu me sinto muito feliz que não tenhamos perdido isso. - “Ainda podemos falar sobre tudo, né?” - Ela pergunta, com um olhar um pouco tímido e um pouco alegre.

“Podemos…” - digo, a observando.

“Foi...foi muito bom. A primeira vez doeu bastante, mas as outras foram incríveis. Principalmente quando eu… quando eu tive um orgasmo.”.

Eu mordo meus lábios, novamente na minha briga eterna com o meu corpo. "Quando eu tive um orgasmo". Será que ela faz a menor ideia do que essas palavras despertam em mim? Sei que ela quer falar sobre sua primeira vez com o seu melhor amigo.

Mas fui eu quem a fiz ter esse orgasmo. E eu vi exatamente o que ela sentiu.

Eu quero passar o resto da minha vida vendo isso.

“Assunto perigoso, Rach…” - Digo, tentando desviar o tema.

“Ah, qual é, foi você quem me fez ter esse orgasmo pra começo de conversa, não posso falar sobre ele com você?” - Diz, sendo a minha Rachel falante de sempre.

Maldito acordo.

“Não, porque você me fez prometer que não te faria ter outro pelas próximas 4 semanas. Mas algumas partes do meu corpo não sabem olhar o calendário.”

“Você tá…” - ela pergunta, e olha em direção a essa parte do meu corpo. Isso é bizarro, estranho e totalmente inapropriado dada a promessa que acabamos de fazer, mas eu levanto o cobertor, pego sua mão e coloco bem em cima da minha ereção.

“Bastante.” - digo, e ela permanece com a mão ali.

“Eu achava que era bem diferente. Fica tão…”

“Não.fala!” - Peço, olhando nos seus olhos e tirando sua mão do meu corpo. Mesmo quando eu a mostro, ela não faz ideia do que me faz sentir.

“Isso é muito injusto, sabia? Nós transamos 3 vezes e você teve 3 orgasmos, mas eu só tive 1.”

“Uhum…” - digo, apertando o encosto do sofá e tentando pensar em qualquer outro assunto além desse.

“Você faz uma cara engraçada, quando tá…”

“RACHEL, EU VOU… Muda de assunto! Você não sabe mesmo como faz eu me sentir?” - Digo, e ela dá um sorrisinho tímido.

“Sei.”

A ficha finalmente me cai.

“Está fazendo isso de propósito?”

“Estou” - ela responde, e parece envergonhada - “Mais ou menos. Mas não sei como fazer isso direito. Não sei ter conversas sexies.”.

“A gente acabou de prometer, 4 semanas, você quer me matar nessas 4 semanas?” - Digo, e ela me olha nos olhos.

“Mas… tecnicamente, a gente já quebrou o acordo hoje, né?”.

Sei ao que ela se refere. E eu poderia argumentar que não quebramos o acordo porque não tínhamos feito ele ainda, mas estou mandando a lógica pro espaço porque eu sei o que ela quer, eu posso ver em seus olhos, e eu quero isso tanto quanto ela.

“Já…” Digo, e nossos rostos se aproximam involuntariamente.

“Então…” - Ela diz, e suas mãos estão deslizando por baixo da minha camisa, brincando com o cós da minha calça - “Poderíamos começar o acordo só amanhã, não é?” - Seus dedos roçam por baixo do elástico da minha cueca, e estou suando frio.

“Poderíamos.” - Digo.

Ficamos em silêncio, nos olhando por alguns segundos.

“Posso te levar pra minha cama?” - Pergunto.

“Sempre.” - Ela me diz, olhando nos meus olhos.

E a estou carregando no colo, em direção ao meu quarto.