Pov Jesse

“Preciso da sua ajuda!”- Rachel entra de supetão no meu quarto. Estou debruçado sobre meu livro de história, meus pais saíram para comprar as coisas da sua viagem de segunda de mel, que está chegando, e eu estou estudando para a prova da semana que vem, quando ela entra correndo. Obviamente usou a chave de emergência novamente. É melhor eu me conformar com o fato de que, para ela, ela simplesmente tem uma chave da minha casa, e vai usar sempre que achar necessário. Não que isso seja um problema.

“Fala, Rach.” – digo, girando a cadeira para olhar pra ela, que está sentada na minha cama, com um ar envergonhado no rosto.

Nós estamos bem, apesar de tudo. Às vezes sinto que o clima fica um pouco tenso entre nós dois, mas continuamos tão amigos quanto antes, ou pelo menos é isso que eu espero. Nunca mais falamos nada sobre os beijos.

“Quero que você me ensine tudo o que sabe sobre sexo.” – ela joga uma bomba na minha direção.

“COMOÉQUEÉ?” – chego a gritar, de surpresa – “Tá maluca, Rachel?”

“Não. Eu, eu sei que isso é estranho, mas eu preciso conversar com alguém em que eu confie, e esse alguém é você.” – Ela me olha com o seu olhar que consegue arrancar qualquer coisa de mim.

Eu nunca pensei que fosse passar por isso. Bom, pelo menos não antes de ser pai, e de minha filha estar com pelo menos uns 15 anos de idade, quando eu certamente também não saberei como reagir.

“Rach, o que foi que houve? O Finn fez alguma coisa com você?” – me sento ao lado dela. Estou tentando entender de onde raios saiu essa pergunta.

“Não. Sim. Quer dizer, não. Não sei!” – ela fala – “É só que... estamos pensando em, você sabe, fazer...” – ela sussurra a última parte, embora estejamos sozinhos em casa.

Quero matar o Hudson. Quero pegar todas as facas, tesouras e estiletes que estiverem nessa casa e arremessar contra ele. E embora eu realmente queira cortar qualquer parte dele fora nesse momento, algumas em especifico, eu me mantenho frio por fora. Meu lado racional precisa entender que Rachel não é minha, que está crescendo, e que é natural que esses desejos surjam nela, também. Eles são namorados, é natural que sintam isso. Que hipócrita eu estaria sendo se deletasse da minha memória o fato de que também desejei minha namorada de algum tempo atrás, e que fui até o fim com ela assim que a oportunidade apareceu.

“Estão pensando ou ele está pensando?” – pergunto a ela. Estou tentando assumir a posição de pai ou irmão mais velho, ambas figuras que Rachel não tem.

“Faz diferença?” – ela está encarando os pés agora.

“Claro que faz, Rach! Essa decisão tem que ser de vocês dois. A primeira vez, não é algo que a gente esqueça facilmente.” – sei que será a primeira vez dela, não só pelo nervosismo em vir conversar comigo sobre todas essas coisas, mas também porque tenho certeza que ela me contaria se tivesse acontecido no Canadá.

“O Finn é especial, eu o amo e...” – ela olha para mim, e parecesse se lembrar que eu gosto dela.

“Tá tudo ok, Rach.” – eu sorrio sem humor algum.

Ela se joga para trás na minha cama, ficando deitada, e eu me jogo também. Estamos olhando um pro outro.

“Eu tenho medo.” – ela sussurra baixinho – “De que doa. De não gostar.”.

Passam-se alguns segundos antes de ela falar novamente.

“Como foi para a Quinn? Você sabe me dizer?”

“Eu... Rach, eu não quero falar sobre isso, mas, a Quinn não... não era mais, sabe? Então acho que foi diferente .”.

Ela balança a cabeça, concordando.

“Droga, eu não posso perguntar essas coisas pra minha mãe, sabe? Ela vai me passar um sermão sobre gravidez na adolescência, que eu preciso tomar o exemplo do que aconteceu com ela e tal.” – Ela está realmente nervosa. Eu toco no seu rosto, e o acaricio.

Ela encaixa sua cabeça no meu peito.

“Estou com vergonha.” – ela diz.

“Eu também. A gente conversa sobre tudo, mas é diferente falar desse tipo de coisa.”

“É” – ela diz, e posso ouvir o nervosismo em sua voz.

Respiro fundo.

“A primeira coisa que você precisa fazer é ter certeza absoluta de que quer isso. Uma vez que a gente começa, as coisas mudam, sabe? Então você precisa estar pronta de verdade, e isso não é o Finn, nem ninguém mais que vai dizer, só você. “ – ela está olhando nos meus olhos agora.

“E como é que a gente sabe essas coisas, Jess?”

“Você só... sabe. Olha, eu sou um cara, eu não sei se o que eu posso dizer vai ter alguma utilidade pra você, porque essas coisas são um pouco diferentes pra mim.”

“Você é meu melhor amigo, tudo o que você diz é útil pra mim.”

“Você sabe que está pronto quando está seguro, tranquilo. Quando parece a coisa certa a se fazer, e no momento certo.”

“Eu tenho um pouco de medo.” – ela confessa.

“Não precisa. A pessoa certa vai te tratar da forma certa.”

Ela parece satisfeita com a minha resposta. Encosta a cabeça no meu peito outra vez, e permanecemos assim, juntos, eu ignorando completamente o meu livro de história, jogado na mesa do computador.

Pov Kurt

Não acredito que estou mesmo participando disso. Estou sentado na sala do coral, embora hoje não seja quarta, pois Blaine Anderson me mandou uma mensagem dizendo que queria ensaiar a canção que separou para o nosso dueto, antes de a apresentarmos para o pessoal do coral. Eu nem sabia que ele tinha meu telefone.

As aulas já acabaram, e estou aqui, sentado numa das cadeiras, olhando o relógio e me perguntando o quão masoquista eu sou.

A questão é que eu vi algo de diferente nos olhos dele quando cantou aquela canção. E no dia em que foi me pedir desculpas, também. Embora Rachel ache que estou colocando muita fé em alguém que não merece, eu acho que ele realmente pode estar arrependido de tudo o que fez comigo, e talvez só queira que sejamos amigos, agora. É por isso que não contei à Rachel que estou aqui (embora eu dramaticamente tenha deixado uma carta no travesseiro de Finn contando onde e com quem estive pela ultima vez, caso eu não volte), porque ela certamente não permitiria que eu viesse, e muito menos sozinho, como Blaine pediu. Eu realmente quero descobrir o motivo de tudo isso, e o que ele tem em mente.

Estou quase desistindo de esperar, quando a sala do coral se abre, e ele entra. Está usando roupas normais, nunca mais usou o uniforme do futebol outra vez.

Eu permaneço sentado na minha cadeira.

“Desculpe o atraso.” – ele diz, sem olhar direito na minha direção.

“Tudo bem. Podemos começar?” – realmente não estou entendendo qual o problema dele. Pra que me chamar pra fazer um dueto, me mandar uma mensagem marcando um ensaio extra-oficial, só para aparecer super atrasado e nem olhar na minha direção. Se esse garoto está planejando algum tipo de palhaçada, não vou permitir!

Ele coloca a música no rádio, e eu me levanto da cadeira, pois o ar sai melhor do diafragma quando estamos de pé.

“Qual a música?” – pergunto.

“Candles, do Hey Monday.” – ele fala, enquanto arruma o cd no rádio.

“Um clássico.” – digo, em tom de surpresa.

“Algum problema?” – ele parece estar meio arredio, embora o assustado dessa história devesse ser eu.

“Não. É só que você geralmente usa músicas de sucesso do momento.”

Ele olha nos meus olhos antes de responder.

“Tem muita coisa que as pessoas não sabem sobre mim, Kurt.” – e ele se vira para dar play no cd.

A música começa a tocar, e ele indica que eu devo cantar primeiro.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Vapz9t0QAFM

KURT

Acabou a luz

E eu estou sozinho

Mas não ligo, na verdade

Não vou atender o meu telefone

Continuo no meu canto, ele do outro lado da sala. Ele começa a cantar a sua parte da canção.

BLAINE

Todos os jogos que você jogou

As promessas que você fez

Nunca terminava o que começava

Somente a escuridão permaneceu


AMBOS

Perdeu a visão

Não conseguia ver

Quando éramos só eu e você

Apague as velas

Parece que vai ser um solo essa noite

Estou começando a ver a luz

Apague as velas

Parece que vai ser um solo essa noite

Mas acho que vou ficar bem

Não posso negar que nossas vozes combinam muito bem juntas. Eu começo a cantar a segunda parte da canção, e Blaine se aproxima mais de onde eu estou.


KURT

Já estive machucado antes

Não há necessidade de explicar

Eu não sou insensível

Ouvir tudo de novo é um grande desperdício

Você está invisível

Invisível para mim

Meu desejo está se tornando realidade

Vou apagar a lembrança do seu rosto

Estamos frente a frente quando começamos a cantar juntos outra vez.


AMBOS

Perdeu a visão

Não conseguia ver

Quando éramos só eu e você



Apague as velas

Parece que vai ser um solo essa noite

Estou começando a ver a luz

Apague as velas

Parece que vai ser um solo essa noite

Mas acho que vou ficar bem



Um dia você vai acordar

Com nada além de "suas desculpas"

E um dia você terá de volta

Tudo o que você me deu



Apague as velas

Parece que vai ser um solo essa noite

Estou começando a ver a luz

Apague as velas

Parece que vai ser um solo essa noite

Mas acho que vou ficar bem

A música termina, e estou sorrindo, porque estou feliz com o resultado dela, nossas vozes combinam muito bem juntas. Ele está olhando pra mim, e eu continuo sorrindo, e acho que um minuto completo se passa desse jeito. E quando eu estou prestes a sair dessa posição, ele se inclina na minha direção e me beija.

Eu esqueço que é Blaine Anderson, o cara que me atormentou durante anos. Eu esqueço do lugar onde estamos, qual o dia da semana, qual o meu nome, e eu retribuo o beijo. É meu primeiro beijo de verdade, daqueles que contam.

O beijo termina, e quando abro meus olhos, o mundo volta ao normal, e eu me lembro de quem eu sou, e de quem ele é.

E eu dou um tapa em seu rosto.

“Acho que mereço isso.” – ele diz, com a mão no maxilar. Estou chocado demais para compreender ou falar qualquer coisa, então cambaleio até o outro lado da sala, e me sento na cadeira. Ele vai atrás de mim, e se senta ao meu lado.

“É coisa demais pra minha cabeça, cara!” – ele fala, e está com a cabeça abaixada, as mãos no rosto.

“Pra minha, então.” – digo, e ele olha pra mim – “Blaine, você me persegue há anos, e agora me beija, o que você...”

“Eu gosto de você, Kurt. Merda, eu gosto de você, isso é uma porcaria, eu gosto de você... desse jeito!”

“Eu não sou uma porcaria, Blaine.” – digo, e estou me levantando, quando ele segura meu braço.

“Não, não quis dizer isso, é só que...” – ele está olhando nos meus olhos, e eu vejo verdade neles – “Eu sou assim desde que eu me lembro, eu acho. Eu só nunca contei a ninguém. Meu irmão, ele vai surtar, tá legal? Acabar com a minha vida! Então eu tenho que viver a porcaria da minha vida como se estivesse tudo bem e eu estivesse super feliz, e dai aparece você, todo feliz, alegre e orgulhoso de quem você é, e com um pai que te apoia... Eu me senti uma droga! Eu senti uma inveja, uma raiva, tudo o que eu queria fazer era socar a sua cara!”

“E socou.” – digo, me lembrando de tudo que Blaine já fez comigo.

“É. Me desculpe por tudo isso. É só que, a raiva não passou, sabe? E eu pensei que precisava continuar te socando até que a raiva passasse, e acho que eu só não conseguia ver que toda a minha obsessão em acabar com a sua vida era simplesmente porque eu queria estar mais perto de você.” – ele segura minhas mãos – “Ouvir você cantando ‘Black Bird’ naquele dia, aquele foi o momento em que eu percebi ‘caramba, ai está você. Eu estive te procurando todo esse tempo’.”

Não sei o que dizer. Estou mudo, e me sinto no meio de uma tragicomédia: o meu maior perseguidor acaba de se revelar apaixonado por mim. E eu que sempre pensei que a atração que eu sentia pelo hétero Blaine Anderson fosse um puro caso de sadomasoquismo mental. Mas não é. Existe algo ai, algo nesse momento, que quer dizer tudo.

Pov Jesse

“Abre a porta, Rach!” – estou batendo na porta da casa dela. Estou tão nervoso que esqueci que ela tem uma campainha. Ela me mandou uma mensagem pelo celular que dizia ‘preciso de você AGORA!’, e eu sai correndo de casa e vim vê-la, só tive tempo de dizer aos meus pais, que estavam sentados no sofá, que estava indo ‘ali’.

Ela abre a porta com uma cara de desespero.

“Rach, o que foi?” – pergunto, segurando o seu rosto. Ela fecha a porta, e me arrasta até o seu quarto. Estou parado perto da porta, esperando. Ela olha pra mim, ainda com o mesmo olhar no rosto.

“Eu nunca vou fazer sexo na minha vida!” – ela diz isso, e se joga na cama, de costas.

“É isso? Me chamou aqui pra isso?” – estou rindo, e me sento na cadeira da sua penteadeira. Ela joga um travesseiro na minha direção, do qual eu me esgueiro a tempo.

“Não que eu seja contra o celibato, mas porque isso?” – pergunto. Ela continua com o olhar desesperado no rosto.

“Eu... vi umas coisas... na internet... umas coisas bem... nojentas.”

Eu me levanto e sento ao lado dela na cama.

“Rach, não, porque você fez isso?”.

“Eu queria saber como era, Jesse. Não por aulas de ciência, eu queria saber como é na prática. Mas não foi uma boa ideia. Eu estou me sentindo tão... arg, porque as garotas fazem algumas daquelas coisas?” – ela deita a cabeça no meu colo, e eu estou acariciando o cabelo dela.

“Rach, não é assim, não sempre. Olha, aquilo é feito pra uma audiência específica, é tudo exagerado, coreografado. Quando você estiver com alguém que te ame, não vai ser assim que vai acontecer.” – ela ergue os olhos na minha direção – “Quando você estiver pronta, e o Finn ou seja lá quem for estiver pronto também, tenho certeza que as coisas vão ser do jeito que você sonha. Esquece essa ideia de saber como é, você vai entender quando chegar a hora.” – estou enrolado, mas acho que ela entendeu o que eu quis dizer. Rachel sempre foi a menininha protegida de Shelby, e apesar do corpo de mulher, ela é apenas uma adolescente inocente, curiosa e assustada.

“Mas eu não quero mais ser assim, idiotinha e boba com esses assuntos, sabe? Quer dizer, eu sinto atrações, algumas coisas...” – Não quero ouvir, não quero ouvir! – “E eu sei a teoria, eu sei biologia e sei o que a tv nos diz, mas... eu queria entender por mim mesma, sabe? Quer dizer, como posso interpretar personagens sexualmente experientes na Broadway quando eu sou uma boba nesses assuntos?” – ai está a minha Rachel, preocupada com Broadway e interpretações. Eu rio outra vez, e penso em algo que posso fazer para que ela se sinta melhor.

“Acho que existe um jeito de eu te mostrar algumas coisas.” – digo, e ela se levanta da cama e me olha, curiosa.

Pov Rachel

“Já ouviu falar de um pequeno show chamado ‘A chorus line’?” – Jesse fala, com um sorriso travesso no rosto.

“Claro! Teve milhares de apresentações na Broadway!” – digo, e ele já se levantou e tirou o celular do bolso. Meu cabo usb está na minha penteadeira, junto com o meu rádio, e ele o conecta ali, e seleciona uma canção que está apenas no instrumental. Reconheço a melodia na hora, e vou até onde ele está.

“Que tal um dueto?” – ele pergunta. É óbvio que minha resposta é sim.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=0QrLL1-9XS8

Olá Doze, Treze Olá, Olá amor
Mudanças, Oh! Lá em baixo, lá em cima...

Tempo para duvida, Para romper

É uma bagunça. (É uma bagunça.)
Hora de crescer, tempo de ir para a adolescência (adolescência)

Estamos cantando e andando pelo meu quarto, girando, rindo como malucos. Ele pega uma das minhas escovas de cabelo da penteadeira e a usa como microfone, e eu faço o mesmo.

Jovem demais para ir atrás disso

Velho demais para ignorar
Gee, estou quase pronto, mas para quê?
Há muito, eu não estou certo de que
Olá Doze, Treze Olá, Olá amor

Adeus Doze, Treze Adeus, Olá amor

(Robert Goulet, Robert Goulet,
Minha nossa, Robert Goulet!)


Tudo, abaixo e em cima

(Brincando de médico com a Evelyn)

Lalala (Eu te mostro o meu, você me mostra o seu)

(O papai está pelado!)


Tempo para crescer, hora de ir, La la la

(Mamãe e papai estavam fazendo aquilo)

Ele se senta na cadeira da minha penteadeira. Estamos fazendo uma verdadeira performance musical. Ele faz o gesto de “mamãe e papai estavam fazendo aquilo”, e eu estou rindo, e estou ofegando também, porque caramba, isso é tão sexy!

Ele é tão sexy.

Há muito, eu não estou certo de que

Ele está caminhando na minha direção, e eu estou andando de costas, até que a parede está atrás de mim e não tenho para onde me mexer. Ele está na minha frente, estamos cantando juntos, e seu olhar tem uma força que está chamando minha atenção. Não quero ir a lugar algum.


Olá Doze, Treze Olá, Olá amor

Olá Doze, Treze Olá, Olá amor!

Estamos respirando, ofegando, a música foi intensa. Ele me olha como se eu fosse desejável, ele me olha de um jeito que é profundo e assustador e sensual e que me atrai, e eu sei o que ele vai fazer, e eu poderia impedi-lo agora se eu quisesse, mas eu não quero. Eu quero que ele me beije. E é o que ele faz.

Ele me beija, primeiro devagar e calmo, e sei que ele está se deixando levar pela adrenalina da música, e pela sua letra, e por toda a energia que está fluindo entre nós agora, e eu estou gostando do beijo, e da forma como seus lábios se movimentam nos meus, e eu o estou retribuindo, e eu ainda não tive o bastante quando ele subitamente se afasta de mim.

Ele está me olhando com o seu olhar arrependido. Finalmente percebeu o que fez, e está se preparando para dizer algo, quando eu estico meu rosto e o beijo, porque eu ainda não tive o bastante, e eu quero aprender a mover os meus lábios em conjunto com os dele, e eu quero tocar o céu de sua boca com a minha língua, e eu ignoro o mundo ao meu redor, e tudo o que resta, e eu quero sentir o sabor das balas de menta favoritas dele mescladas com o meu gloss labial, e acho que é perfeito, que esse é o melhor beijo que já tive na vida. Ele me aperta na parede, e seus braços estão em minha cintura, e meus braços estão em seu pescoço, e sinto que o corpo dele está reagindo. Essa sensação me assusta um pouco, e eu paro de beijá-lo. Ele afasta o corpo do meu.

Eu olho para o volume na calça dele. Eu vejo o desejo queimando nos seus olhos. Estamos parados no mesmo lugar, e nossos corpos estão afastados, e eu estou respirando, e ele está se sentindo culpado pela forma como o seu corpo está reagindo, e esse momento não tem nome, não tem tempo e nem lugar no espaço, e eu estou sentindo uma corrente elétrica que passa pelo meu corpo e chega até a ponta dos meus dedos.

Eu coloco minhas mãos em sua cintura, e a puxo para colá-la à minha.

Ele está olhando no meu rosto. Eu sinto seu corpo, quente por baixo da calça, ativo pelo desejo que está estampado nos seus olhos. Essa parte do seu corpo está tocando o meu corpo, e nossas cinturas estão coladas, e ainda que hajam camadas e camadas de roupas entre nós, estou pegando fogo. Eu gosto do que sinto, gosto de onde ele está, de como ele está.

Ele perde o controle outra vez, e me beija, e é feroz, é intenso, e ele está me imprensando na parede de uma forma que eu poderia atravessá-la, e eu me sinto como se fosse feita de manteiga e fosse derreter, e acho que perdi todo o controle de mim mesma, mas a verdade é que estou ciente de cada respiração, e de cada centímetro de nossas peles que se tocam, e isso é bom, isso é único.

Ele se afasta de mim, e se apoia na parede. Está respirando fundo, está ofegante, e parece estar se acalmando. Eu estou encostada na parede, e minhas pernas estão moles.

“Eu acho que eu devo ir embora agora.” – Jesse diz, passando a mão no cabelo, que é o que ele faz quando está nervoso. Eu estou congelada no mesmo lugar, ainda estou sentindo o meu corpo reagindo ao dele, e eu não consigo dizer nada. Ele sai do meu quarto, e eu escorrego até o chão.

Me levanto e vou ao banheiro do meu quarto, preciso constatar algo que estou sentindo. Tiro minhas roupas, e me observo no espelho. Meus seios estão rígidos e sensíveis, como se eu estivesse com frio, embora tudo o que eu sinto no momento é um calor que não parece que vá passar. Estou tentando identificar o que pode haver no meu corpo para deixar Jesse assim, para despertar nele alguma espécie de desejo por mim, e sou atingida pela culpa quando me lembro de Finn, de que ele também me deseja.

Me toco e sinto o quanto o meu corpo reagiu a esse momento, a tudo o que isso significa, e acho que finalmente entendi esse bloqueio de pensamentos que ao mesmo tempo é tão racional, e que leva alguém a desejar tanto uma coisa, como se todo o sangue no seu corpo convergisse para um ponto específico, uma vontade que chega a doer. E entendo o que as pessoas dizem sobre o corpo estar pronto, não só pelos sinais físicos que o meu corpo claramente me deu, mas por tudo o que eu sinto agora. Eu quero sentir tudo isso outra vez.

Esse é o momento em que se está pronto. E eu espero que quando eu me sentir assim outra vez, eu esteja ao lado da pessoa certa.

Pov Jesse

Já se passou uma semana desde que tudo aconteceu entre mim e Rachel, e meu corpo ainda reage a qualquer menção do nome dela. Nós voltamos à nossa política de fingir que nada aconteceu e que não há uma faísca pairando entre nós dois, mas a verdade é que só nos vimos na escola desde então, e eu não sei como a nossa amizade pode ter sido abalada depois de tudo. Meu corpo pegou fogo quando ela colou minha cintura na sua. Eu nunca fui esse tipo de cara que usa o instinto masculino como desculpa pra fazer o que bem entende, mas lá estava o momento em que eu perdi o controle, em que meu corpo era meu guia, e só o que importava era o calor que imanava do seu corpo e a pressão que eu sentia sob o meu, em lugares que eu nunca pensei sentir o corpo dela me tocar. E eu estava perdendo a noção, e desaprendi a respirar, e não faço a menor ideia do que estava passando pela minha cabeça naquele momento, mas felizmente eu tive um pouco de controle para parar o meu corpo e religar a minha mente antes que eu constrangesse a mim mesmo por algo pelo qual eu certamente teria que me desculpar com ela.

É sexta, estou de férias do meu trabalho à uma semana, e meus pais estão terminando de arrumar as malas para a viagem de segunda lua de mel que farão, para aproveitar o feriadão de terça-feira, que será emendado com a segunda. Estão planejando-a a séculos.

O celular vibra na minha mão. Estou deitado na cama, olhando para o teto, e vejo o celular piscando o nome de Rachel. Atendo.

“Oi.” – digo, com a voz um pouco trêmula.

“Oi.” – ela faz um pausa, antes de falar outra vez – “Olha, eu queria te contar uma coisa, mas você precisa prometer que não vai me julgar, está bem?”

“Claro.”

“Eu vou à casa do Finn hoje à noite. E... eu espero que aconteça. Eu decidi que estou pronta.”

Sei ao que ela se refere. Quero socar meu travesseiro, jogar meu celular na parede, mas não posso deixar que o homem que a deseja fale mais alto do que o melhor amigo que a entende e apoia.

“Ok...” – é tudo que consigo dizer.

“Eu só queria te contar. Eu sempre te conto tudo.” – mas uma longa pausa – “Desculpe.”.

“Tudo bem.”.

Ficamos em silêncio por um longo minuto. Não há nada a ser dito.

“Eu vou desligar agora, tá bem?” – ela fala.

“Tá bem.”

“Tchau, Jesse. Beijo.”

“Tchau, Rachel.”

Jogo meu celular no chão e afundo a cabeça no travesseiro, desejando que o ar pare subitamente de circular pelos meus pulmões.