Alinhamento Astral.

Capítulo 15 - Não me ignore.


Capítulo 15 - Não me ignore.

CHARLIE

Eu já estava sentindo como se esse passeio não valesse de nada. Eu não me sentia nem um pouco confortável em estar no mesmo iate que Nico. E por quê eu estaria, quando eu não quero que ele me ame por causa de uma droga de profecia ou por eu usar meu "dom" para seduzi-lo?! Por isso eu tentava ficar o mais longe possível de Nico e nos últimos dois dias em que ficamos naquele iate, eu o ignorei completamente. Era meio difícil, porque eu sempre sentia a necessidade de ficar perto dele, de poder conversar com ele, como se ele fosse meu porto seguro. Na verdade, desde que ele me defendera de Will, ele realmente passou a ser meu porto seguro.

Mas não valeria a pena tê-lo comigo apenas por mero capricho da magia. E desde que eu descobrira que eu o amava - e talvez ele me amasse - apenas porque uma profecia dizia que seria assim, eu decidira me afastar dele. Mas não estava sendo nada fácil, pois minha vontade de passar cada segundo do meu dia com ele simplesmente aumentava consideravelmente. Era quase impossível de resistir, mas eu estava tentando fazer o meu máximo, colocando outros pensamentos em minha mente. E o mar me ajudava. Posso nunca me sentir parte do mar como uma filha de Poseidon se sentiria, mas eu me sinto bem nele.

E estando agora na proa do iate, apoiada nas barras de metal de segurança que havia em toda a lateral do iate, eu me sentia mais livre do que me senti nos últimos dois dias. O vento batendo em meu rosto, o cheiro da maresia atingindo meu olfato, meus cabelos presos em um rabo de cavalo batendo apenas levemente contra a pele do meu pescoço, e a sensação de voar que o mar me trazia simplesmente me deixava mais animada. A liberdade que o mar me trazia era incrível. E assim todas as preocupações sumiam da minha mente e eu me sentia imponente.

– Oi, Charlie. - ouvi a voz dele ao meu lado, justo a única voz que eu não queria ouvir enquanto estivéssemos no iate.

– Oi. - respondi secamente, fechando os olhos e tentando ignorar sua presença ali.

Eu ainda sentia parte da liberdade que a maresia trazia, mas ainda assim senti todo o meu corpo ficando tenso quando Nico parou bem ao meu. Eu o sentia ali com todas as células do meu ser, como se uma corrente elétrica passasse de um para o outro.

– O que está acontecendo, bruxinha? - meu corpo inteiro se arrepiou quando ele me chamou de bruxinha. Eu sentia cada pequeno espaço do meu corpo reconhecendo a vibração que esse apelido exercia sobre mim toda vez que era dito por ele. Mas eu podia sentir também que eu o rejeitava, pois me fazia lembrar o que eu podia fazer quando estava no mar. E era justamente disso que eu estava fugindo naquele momento.

– Eu vou procurar a Lua pra ela me ajudar no feitiço para controlar o iate. - eu disse rapidamente e me virei, sem olhar em seus olhos.

Mas eu apenas quase consegui sair dali. Porque antes que eu pudesse andar mais do que três passos, Nico segurou meu pulso e eu senti todo o "charme oceânico" dando-me um choque intenso no local onde ele manteve contato com minha pele. Eu rapidamente soltei meu braço de seu aperto leve, tentando evitar que ele sentisse o mesmo. Mas ainda assim evitei também qualquer contato visual com ele.

– Charlie, é sério. - ele disse seriamente e eu pude perceber que ele não me deixaria sair dali tão cedo. Talvez fosse a hora de lhe dizer tudo. Tudo o que eu sentia e tudo o que eu pensava sobre essa profecia e essa minha habilidade no mar. - O que está acontecendo? - ele repetiu.

Eu mexi na ponta do rabo de cavalo meio nervosamente. - Ahn, não é nada.

– Então por que está me ignorando? - ele perguntou, mas desta vez eu nem mesmo tentei mentir. Não adiantaria nada, afinal. - Hey!

Nico então segurou meu pulso com uma mão e levantou meu queixo com a outra, obrigando-me a fazer justamente o que eu mais receava naquele momento: olhar bem em seus olhos negros profundos. E naquele momento, suas íris quase se confundiam com as pupilas e eu já podia sentir que ele estava quase tão hipnotizado em meu olhar quanto eu no seu. Pisquei rapidamente meus olhos, impedindo que ele ficasse sobre o efeito do feitiço de sedução.

– Charlotte. - ele disse meu nome inteiro, mas eu simplesmente não consegui ficar com raiva. Sabia que ele queria me chamar mais a atenção. E conseguira. - Por favor, me diga.

Cada nervo do meu corpo sentia que ele estava mais perto de mim. Uma aproximação perigosa, tanto para os batimentos regulares do meu coração, quanto para o nervoso de não querer usar o feitiço de sedução natural que eu tinha no mar. E aqueles poucos centímetros que nos separavam já era o suficiente para que eu pudesse imaginar como seria beijá-lo. Eu podia simplesmente me sustentar na ponta dos meu pés e colar meus lábios aos dele, mas ainda haveria muita coisa que eu não saberia. Ele iria retribuir? Ele gostaria do meu beijo? Ele ao menos saberia que esse seria meu primeiro beijo? E então a portadora das más notícias resolveu se manifestar: a realidade.

– Sabe que pode confiar em mim, Charlie. - ele disse delicadamente quando eu estava perdida demais em meus próprios pensamentos. E eu me vi subitamente fora dos meus devaneios, sendo obrigada a olhá-lo tão próximo de mim.

Ele não soltou meu pulso, mas a mão que estava sustentando meu queixo levantado deslizou até a lateral do meu rosto e mexeu numa mecha vermelha que se soltara do prendedor. Mas ao invés de colocá-la atrás da minha orelha, como eu pensei que faria, Nico simplesmente enroscara seu dedo nela, brincando com o cacho. E então eu já nem sabia mais como respirar direito.

Suspirei derrotadamente, sabendo que não poderia ignorá-lo para sempre. - É que eu não queria correr o risco.

– Risco de quê? - ele perguntou, realmente curioso, e sua expressão não podia ser mais fofa.

– Eu disse que herdei de Hécate o poder de seduzir os homens enquanto estivesse no mar. - olhei para seu rosto, mas evitei seus olhos, sabendo que seria mais difícil de desfazer o encanto caso eu me afundasse na negritude deles. - E eu disse a você que não queria usar isso em você.

– E eu pensei ter dito que você não precisou do mar para me encantar.

Se eu não estivesse analisando sua expressão enquanto ele dizia abertamente, poderia jurar que era outra invenção da minha mente. Mas sua expressão permanecia séria e minha mente era mais criativa o suficiente para não me mandar ilusões repetidas. E o pior: ele realmente me dissera o que eu queria ouvir, mas agora eu não tinha a menor ideia do que fazer, ou falar. Então eu fiquei calada, sentindo meus neurônios quase explodirem procurando por alguma coisa para quebrar a tensão que estabelecera.

– Só não me ignore mais, por favor. - Nico pediu com uma voz tão macia e calma que eu simplesmente não aguentei.

– Nunca mais. - murmurei, antes de me jogar em seus braços.

De início ele me pareceu meio surpreso, mas eu logo envolveu meus ombros e deitou a bochecha sobre meus cabelos, abraçando-me fortemente. E eu me senti em casa, com a mesma sensação de liberdade que eu senti quando o vento bateu sobre meu corpo.

~*~

– Charlie, minha querida, agora que não estamos mais naquela situação de virgens imortais, tenho um assunto sério para conversar com você.

Agora que eu não ignorava mais Nico terminantemente - mesmo que eu evitasse olhar em seus olhos para não enfeitiçá-lo -, Lua me carregou até a sala comum que havia a bombordo do iate. Estávamos nós duas sentadas em um sofá, enquanto os garotos estavam esparramados preguiçosa e desordeiramente no outro à nossa frente. Pareciam exaustos apenas em estar em auto-mar, mas eu nem ligava. Apenas ficava preocupada a cada vez que Nico conseguia uma coloração esverdeada quando uma onda nos atingia com um pouco de mais força. Um filho de Hades em território de Poseidon não deveria ser algo muito agradável, mas ao menos no momento ele estava mais relaxado.

Mas minha atenção estava virada para outra pessoa. Para Luali; e eu tentava imaginar sobre o que exatamente ela estava falando, mesmo que eu tivesse uma leve ideia.

– Que foi, Lua? - perguntei, recostando a cabeça nas costas do sofá de modo que eu ficasse de frente para ela, mas observando a reação dos garotos pela visão periférica. Se fosse o assunto que eu imaginava, eu não iria querer perder a reação dos dois. Certeza de que seria, no mínimo, hilária.

– Qual ator você acha mais lindo e gostoso? - ela perguntou em expectativa, mas pude perceber que ela também esperava alguma reação vinda dos meninos. E não ficou muito tempo em espera, pois Leo logo torceu a boca em uma careta ao perceber o entusiasmo de Lua. Não consegui segurar uma gargalhada.

– Cara, ainda estou em dúvida cruel entre Paul Walker e Jensen Ackles. - eu respondi e reprimi o riso quando Nico de repente se sentou ereto no sofá, olhando-nos atentamente e com o cenho franzido. Chegava a ser até uma expressão muito fofa nele, se não fosse o olhar quase assassino.

– Para mim nenhum supera Ian Somerhalder, mas dos mais novos eu prefiro Jake Abel, e você? - Lua continuou provocando, com um olhar meio malicioso, meio divertido no olhar. Minha amiga era uma figura.

– Nem mesmo o Jake supera Skandar Keynes ou Dylan O'Brien, sinto muito! - eu exclamei alto, vendo a carranca piorar na expressão de Nico. Os garotos agora estavam prestando bastante atenção na nossa conversa.

– Mas você tem que concordar que Josh Hutcherson também é maravilhoso. - ela deu um tapinha no meu braço, e eu fingi uma cara de culpada.

– Você sabe que eu tenho uma queda por morenos. - eu falei rindo, mas não precisei olhar para o outro sofá para saber que Nico estava no auge da impaciência. Eu podia sentir sua aura se escurecendo ainda mais do lugar em que estava.

– Cara, ficou quente aqui de repente! - Lua se abanou com a palma da mão dramaticamente e eu ouvi Leo bufando indignado.

Mais um ponto para nós, mas eu não queria apenas ganhar a partida, queria virar de lavada. Me aproximei mais de Lua, como se fosse contar-lhe um segredo, e ela se inclinou para frente, como que para evitar que os garotos escutassem. Mas não era bem essa a minha intenção.

– Espera que eu vou ver se o Leo não botou fogo em nada! - eu exclamei alto o suficiente para eles ouvirem.

E segundos depois eu e Luali gargalhávamos sem parar enquanto Nico e Leo se recostavam no sofá, de braços cruzados e formando uma carranca irritada quase sincronizadamente.