Agape

I. Start of time


I

"Não era assim que eu esperava ter que voltar para casa." Caitlin disse enquanto misturava o creme no seu café, Cisco a sua frente lhe lançou um olhar vago antes de se voltar para sua própria bebida. Embora o Jitters estivesse relativamente agitado para uma manhã de quinta-feira, Caitlin sabia que aquela agitação não iria contagiar ninguém daquela mesa, pois menos de uma hora atrás eles estavam enterrando a filha de Barry e Iris, a pequena Nora que não havia sobrevivido ao parto.

Caitlin não conseguia imaginar como era a dor de perder um filho, principalmente uma filha que era tão esperada e desejada, e que ironicamente havia sido perdida duas vezes. Nora West-Allen havia nascido no dia 23 de março às 23:46 em uma noite relativamente fria, Caitlin estava em Chicago quando recebeu a mensagem de Barry, mas como não havia voos naquela hora da noite, Caitlin teve que esperar até o dia seguinte. Porém antes que seu despertador pudesse ser ativado, uma mensagem a acordou. Eles a perderam, fora a única coisa que Cisco havia escrito, Caitlin demorou um pouco para associar o que ele queria dizer com aquilo, por fim ligou para ele e acabou recebendo uma das piores notícias de sua vida enquanto se preparava para pegar o vôo que a levaria para o que seria possivelmente um dos melhores dias de sua vida. Nora West-Allen havia morrido sete horas após compilações médicas.

Agora Caitlin estava ali, sentada em uma mesa fingindo tomar seu café, mas sem conseguir digerir nada já que seu estômago estava embrulhado e sua garganta estava se fechando lentamente, simbolizando uma nova onda de lágrimas. Cisco tinha os olhos tão inchados quanto os dela, mas assim como ela, ele os escondia por baixo de um par de óculos escuros. Perder Nora havia afetado a todos, obviamente que Iris e Barry estavam em uma situação muito pior, mas Caitlin sabia que todos na família estavam despedaçados, porque todos esperavam ver a pequena Nora crescer da maneira que ela merecia, cercada por pessoas que a amavam e apenas queriam seu bem. Mas obviamente a vida tinha outros planos, planos ruins que faziam Caitlin querer enfiar uma estaca de gelo em seu coração.

Ela remexeu novamente a xícara antes de empurrá-la para longe. Não que ela não estivesse com fome, apenas estava cansada demais para pensar em comida, precisava apenas de sua cama ou de uma máquina do tempo.

"Vocês precisam comer alguma coisa. - Kamila afirmou empurrando um prato com bolinhos para ela." Barry e Iris precisam do apoio vocês nesse momento difícil, então se alimente.

"Não me leve a mal, Kamila. Mas eu realmente não quero lidar com essa pressão agora." Cisco falou à sua noiva e Caitlin a viu arquear minimamente a sobrancelha em descrença.

"Pois irá, porque eles são seus amigos e ela era sua afilhada, o que você declarou milhares de vezes ser a pessoa mais importante de sua vida. Não estou dizendo que você não pode sofrer, óbvio que todos sessão sofrendo, mas vocês dois sempre foram os melhores amigos de Barry e Iris, vocês quatro sempre se apoiaram e agora eles precisam de vocês mais do que nunca.Então por favor, comam alguma coisa e tentem se manter saudáveis porque não quero ir em um hospital tão cedo novamente."

Caitlin suspirou e trocou um rápido olhar com Cisco. Kamila estava certa, eles não podiam deixar Barry e Iris de lado. Fazendo esforço Caitlin pegou novamente a xícara de café e tomou um gole, frio e amargo.

"Que horas é o seu vôo sai?" Cisco indagou.

"Mudei meu vôo para daqui a dois dias. Seria indelicado viajar no mesmo dia… disso."

Kamila e Cisco assentiram e voltaram a tomar suas bebidas. Caitlin pensou em sua mãe que estaria em Londres dali a três dias, elas não se viam há pelos menos seis meses desde que Caitlin havia se mudado para Chicago, projeto da ARGUS ultra-secreto pedido de John que ela não podia negar. Caitlin sentia falta de Central City e de sua família, mas sabia que aquela chance não iria aparecer novamente, era uma chance de crescimento pessoal e profissional.

Mas algumas vezes ela não sabia se havia sido uma boa escolha ou não, se ela tivesse por perto talvez pudesse mudar o rumo da história. Porém ela havia aprendido que não se pode mudar nada sem trazer grandes consequências.

[●●●]

Estava chovendo forte naquela noite, Caitlin estava dirigindo devagar pelas ruas da cidade em direção ao hotel que sua mãe estava hospedada, Carla havia decidido pegar o avião em Central City para que assim pudesse passar mais tempo com a filha, Caitlin ficava imensamente agradecida por isso já que precisava passar mais tempo com os amigos.

"Não dirija rápido demais, Caitlin. Não quero que tenha um acidente." Carla alertou sua voz cortada pela chuva que batia contra o carro. Caitlin deu leve sorriso pela preocupação da mãe.

"Eu estou indo devagar, mas terei que parar para abastecer. Então vou demorar um pouco." ela avisou já se aproximando do posto de gasolina. "Quer alguma coisa?"

"Não acho que comida de loja de conveniência possa ser adequada."

Caitlin riu do comentário quase soberbo de sua mãe. Carla era, para qualquer definição, uma mulher de classe.

"Pois está bem, vou colocar gasolina para devolver o carro amanhã e comprar um pote de sorvete para nós."

"Faça o que quiser, mas apenas chegue bem."

"Eu vou mamãe, eu sempre tenho cuidado." Caitlin desligou a ligação e parou o carro perto da bomba de gasolina. Soltou do veículo sentindo o cheiro forte da chuva e os respingou contra seu rosto por conta do vento que assolava o pequeno estabelecimento. Pegou uma das mangueiras e caminhou de volta para o carro, mas parou quando ouviu um barulho parecido com um choro de criança, Caitlin colocou a mangueira de volta na bomba e então seguiu o choro até um amontoado de caixas que ficava ao lado da última, Caitlin se inclinou para frente e puxou uma das caixas, seu coração deu um salto ao notar o bebê se mexendo furiosamente dentro de uma caixa de papelão. O bebê tinha pele escura e usava um macacão típico para sua idade, ele erguia as mãos contra o ar desesperadamente. Caitlin não hesitou em pegá-lo no colo dando um pouco de calor humano e consequentemente fazendo-o se acalmar.

Caitlin olhou para o bebê, toquinha rosa e luvas amarelas, era novo demais para estar naquele lugar frio. Ela o observou com o olhar analítico de uma médica e chegou a conclusão que o bebê mal tinha uma semana de vida. Caitlin olhou ao redor tentar achar qualquer pessoa que pudesse lhe dar um pouco de luz sobre aquela situação, mas não havia ninguém por perto. Seguiu até a loja de conveniência desejando um pouco de calor para ela e o bebê, porém no havia ninguém na loja, mas barulhos vindos do fundos a fazia perceber que as pessoas estavam ocupadas.

"Eu vou cuidar de você, eu prometo." ela sussurrou ao bebê e então voltou para seu carro. Caitlin sabia que tinha que levá-lo ao hospital ou a delegacia, mas estava frio demais e estava chovendo forte o bastante para causar um novo dilúvio. Optou por ir direto para o hotel de sua mãe, além de ser extremamente mais perto, Caitlin sabia que sua mãe conseguiria lidar com a situação.

Demorou pouco mais de cinco minutos para ela chegar até lá, estacionou na frente do prédio e usou o casaco para proteger a bebê em seu colo. Subiu até o andar de sua mãe e bateu na porta 263, Carla imediatamente abriu e com apenas um olhar começou a analisar Caitlin da cabeça aos pés, mas parou quando notou o pequeno embrulho em seus braços coberto pelo seu casaco.

"Oh céus, não me diga que você trouxe outro gato." Carla resmungou lembrando de todas as vezes que ela havia trazido animais para casa, Caitlin apenas revirou os olhos enquanto entrava no quarto. "Eu não vou adotar mais nenhum animal."

"Não é um animal, mamãe." Caitlin ergueu o casaco e revelou o bebê que agora mais calmo apenas as encarava. Carla se aproximou dela com agitação e a guiou até o sofá, então correu para até seu armário e pegou roupas e mantas. Caitlin a observou amontoar mantas sobre mantas formando uma cama quentinha, ela colocou o bebê sobre as mantas e começou a tirar suas roupas molhadas. "Olha, é uma menina."

"Onde você a encontrou?" Carla indagou ao colocar uma toalha sobre os ombros de Caitlin e pegar outra para secar seus cabelos molhados.

"Em um posto de gasolina dentro de uma caixa, se eu não tivesse parado para abastecer a pobrizinha teria morrido de frio."

"Sim, ela teve sorte. Mas por que você a trouxe para cá? Por que não a levou para o hospital ou a delegacia?"

"Porque está chovendo muito forte e eu não tenho uma cadeirinha, seria arriscado demais correr por aí com uma bebê nos meus braços." Caitlin explicou, passou a mão sobre a barriga dela sentindo-a roncar, a bebê rapidamente começou a chorar. "Ela está com fome, mas não acho que possa beber leite industrializado, ela é muito nova."

"Estimo que ela tenha pelo menos três dias de vida ou menos."

"Menos?" Caitlin olhou para a mãe por cima do ombro, mas Carla já estava com o celular na mão.

"Não se preocupe, vou arranjar comida para ela e para você." Carla assegurou e se afastou já falando ao celular com seu tom sério.

Caitlin olhou para a bebê que ainda chorava e a pegou em seu colo da maneira mais apropriada, a bebê suspirou e se acalmou, apenas o contato parecia ser suficiente para que ela se sentisse melhor.

"Eu vou cuidar de você, eu prometo." Caitlin sussurrou beijando a cabecinha dela. A bebê se mexeu novamente soltando o que parecia ser um gemido de concordância. Ela sabia que ficaria bem.