Afterlife

Uma nova onda de choques...


Acordei sentindo minha cabeça doer e rodar.

O gosto amargo ainda era notável em minha boca e sem pensar muito, corri para o banheiro e coloquei tudo para fora. Tinha certeza de que não tinha mais sonhado com aquele indivíduo, mas também sabia que mais cedo ou mais tarde ele voltaria para me atormenta.

Escovei os dentes e tomei um bom banho demorado. Já passava das dez da manhã. Aproveitando que meu pai não estaria em casa por causa da viagem, resolvi não ir à escola.

Saí do banheiro enrolada na toalha e levei um susto ao ver aquele ser sentado na poltrona perto da janela do meu quarto.

– Por Deus, o que ‘tá fazendo aqui? – perguntei, tentando cobrir o resto do corpo com as mãos.

Não que eu estivesse pelada, mas nunca fiquei apenas de toalha na frente de garoto nenhum, imagina de um homem.

“– Então você nunca ficou apenas de biquíni na vida? Toma banho de piscina de roupa, por acaso?”

Revirei os olhos e rumei para o guarda-roupa sem fita-lo, talvez se eu fingisse que ele não existia ou que eu não o via, ele fosse embora.

“– Ainda estou aqui. E não vou embora.”

Rumei para o banheiro rezando para que ele não fosse um espírito tarado e me espiasse mudando de roupa. Assim que terminei de me vestir, ainda podia ouvir sua risada no outro cômodo cessar ao poucos.

“– O que vamos fazer hoje?” – perguntou, batendo as mãos uma na outra. – “– Correr atrás de patos ou roubar bebidas?”

O olhei indignada. Com toda certeza eu não faria nenhum e nem outro.

Ele fez uma careta de descontente.

“– Ah... esqueci que você é toda certinha.”

Desci as escadas ainda ignorando aquele ser e fui direto à cozinha preparar alguma coisa decente para comer.

“– Olha, eu não sei se você me entendeu, mas posso ler seus pensamentos.” – ele falou, assim que entrei na cozinha e levei um susto com ele sentado no balcão da pia. “– E eu também sei que não sou tão feio assim pra você viver se assustando.”

– Mas é um fantasma! – disse, enquanto preparava um sanduíche enorme de presunto e salada.

“– Humf! Tanto faz...”

Ele desceu do balcão e atravessou à parede da cozinha, o que me fez engasgar com minha coca cola. Talvez eu tivesse sido rude, mas por Deus! Eu só queria paz ao menos um dia, e não um espírito me perseguindo aonde quer que eu fosse.

Já estava quase dormindo no sofá quando senti alguém soprar meu rosto. A principio tentei ignorar mantendo meus olhos fechados, talvez ele me deixasse em paz. Mas logo alguém conseguiu me derrubar do sofá.

– Porra Lizz! – eu disse irritada ao ver a garota rindo na minha frente. Pelo menos era alguém vivo.

Voltei a me sentar no sofá e logo uma loira com cara assustada veio da cozinha com uma coca na mão. Sorri ao ver Paris ali, isso significava que ela havia perdoado meu surto.

– O que foi? – perguntei ainda sorrindo ao vê-lá se sentar no sofá.

– Sei lá... Senti alguém soprando no meu pescoço... Estranho.

Olhei para Lizz, que parecia levemente animada com aquilo, mas eu me senti mais preocupada. Não queria que Paris me achasse louca e muito menos achasse minha casa mal-assombrada.

– Deve ter sido apenas uma brisa. – falei fazendo careta.

– É... – falou Lizz, percebendo meu desconforto.

– Mas então, por que você faltou hoje? – perguntou Paris, coçando a cabeça, sinal de que ela queria se desculpar por alguma coisa.

– Isso mesmo senhorita. Você nunca faltou, por que justo hoje? – Lizz me olhou desconfiada e ajeitou os óculos.

– Sei lá. Acho que não estava no clima.

Paris soltou uma gargalhada, dizendo que iria para o inferno por finalmente conseguir me influenciar.

Já estávamos deitadas no chão da sala e comendo besteiras, enquanto assistíamos a uma maratona de clipes na MTV. Hora ou outra tocava uma musica conhecida e cantávamos juntas.

– Hei, hei! Olha, é a banda que eu falei. A banda que o Peter ama. – disse Paris, assim que vários morcegos voavam na tela.

Sem pensar muito, me sentei no chão e olhei para a TV com certa curiosidade. Podia sentir os olhos de Lizz em mim, enquanto Paris babava no vocalista, que era realmente bonito, mas extremamente assustador pelo tamanho.

Logo várias imagens do grupo foram passando em meio ao fogo, assim como outras pessoas que se jogavam em um buraco em chamas.

A música deles era simplesmente animadora e viciante. Não demorou para que nós três cantássemos como verdadeiras fãs.

– I’m not insane, I’m not insane....

Meus olhos estavam presos em cada imagem que Jimmy aparecia, assim como as do rapaz de chapéu que eu conhecia muito bem pelo meu sonho na praia.

Eu tinha certeza de que depois de hoje, eu iria começar a ouvir um estilo, digamos, diferente do meu. Não que eu não conhecesse bandas de rock ou heavy metal, mas eu preferia músicas com batidas mais dançantes.

Depois que a música cessou com uma garota se jogando no buraco, onde era o olho de uma caveira com asas, uma lágrima desceu pelo meu rosto, mas eu tratei de enxuga - lá, me perguntando que tipo de sensação eufórica era aquela, que parecia querer me levar para outro lugar. Era uma sensação de falta, de perda. De algo que eu precisava recuperar.

– Loui... Você ‘tá bem? – ultimamente eu estava ouvindo tanto aquela pergunta, que já estava me irritando.

“– Manda ela se foder.”

Sorri ao ouvir aquela voz tão familiar, mas logo depois balancei a cabeça tentando afastar esses novos sentimentos que pareciam me apossar. Era como se eu sentisse falta dele.

“– Eu sei que sou inesquecível.” – revirei os olhos com suas palavras e Lizz me olhava com as sobrancelhas arqueadas em desentendimento.

– ‘To sim. – respondi a Lizz, que pareceu não acreditar. – Cadê a Paris? – perguntei tratando de levantar do chão.

– Bem, ela esta no seu quarto... Disse que não agüentava mais ouvir a mesma música, mesmo que os caras sejam lindos e blá, blá, blá! – ela disse fazendo careta.

– Como assim? – perguntei confusa, já que só ouvimos a música uma vez.

– Aff... Você deve estar vendo esse clipe a mais de uma hora e sei lá quantas vezes. – respondeu ela fazendo outra careta.

– ‘Tá de brincadeira, né?! – ela apenas negou com cabeça – Eu devo estar ficando louca mesmo.

“– Entre na fila dos loucos e não roube minha vez, pois eu já estou lá há muito tempo.”

Sorri mais uma vez e Lizz também. Por sorte ela não percebeu que eu estava me comunicando com Jimmy.

– Hey! Vamos sair? – perguntou Paris, fuçando meu computador.

– Sinceramente, não ‘to muito afim não. – eu disse me jogando na cama.

– Ah, qual é? Seu pai viajou. Vamos para outra cidade.

– Caso você não se lembre, temos aula amanha, Paris. – disse Lizz ironicamente.

Paris revirou os olhos e bufou.

– Quando seu pai volta, Loui? – ela perguntou, agora mexendo na minha mochila.

– Segunda-feira que vem. Isso se não houver nenhum tipo de mudança.

Um sorriso se formou em seus lábios e eu já sabia o que poderia vir por aí.

– Poderíamos faltar sexta feira e viajar, sei lá... Pra algum lugar por perto.

Logo Lizz questionava a falta de irresponsabilidade de Paris e de que eu não era assim.

“– Que tal começar a me escutar e ir para Huntington?”

Sorri sem saber exatamente o motivo, mas dentro de mim, uma batalha interna do que eu realmente deveria fazer começava , e sem pensar as palavras saíram, deixando ambas as garotas assustadas.

– Vamos para Huntington Beach!

– Como assim? – perguntou Lizz, sem entender e um sorriso se formou no rosto de Paris.

– Simples. Apenas vamos e pronto.

Depois de muito discutirmos, acabou que duas contra uma era a maior vantagem. Então Lizz teve que aceitar ou aceitar.

Fechei a porta e encostei-me a ela.

– É... Huntington Beach, nos veremos de novo.

Um calafrio passou pelo corpo, assim que a voz rouca atingiu meus ouvidos.

“– Huntington... Lar doce lar.”