Finalmente a sexta-feira havia chegado.

Nesses poucos dias, Jimmy simplesmente havia desaparecido e tudo o que eu queria perguntar sobre o que deveria esperar em Huntington, eu não podia fazê-lo.

Lizz ainda tentou me convencer de que não seria uma boa idéia, mas no fundo, assim como Paris, eu também achava que precisava de um pouco de diversão e distração.

A única coisa que eu não esperava, era saber que além de nós três, mais uma pessoa iria conosco.

Olhei meu quarto e joguei a mochila nas minhas costas. Já havia avisado meu pai que iria dormi esse fim de semana na casa de Paris, o que ajudou, caso ele ligasse para casa e ninguém atendesse. Também descobri que ele iria passar bem mais do que essa semana em NY. Ele iria ficar mais duas.

Avistei Lizz assim que saí de casa e tranquei a porta, guardando as chaves. Era certo irmos de ônibus, mas Paris como sempre não estava muito a fim de enfrentar essa aventura.

Lizz levava sua mochila colorida nas costas e não parecia animada.

– Cadê a Paris? – ela perguntou emburrada.

Eu iria dizer não saber, quando um Dodge preto parou ao nosso lado.

O ar me faltou no momento em que um garoto com óculos Ray Ban e cabelos levemente bagunçados, abaixou o vidro.

– Peter? – ele apenas sorriu de lado.

– Hei, cambada! –disse Paris aparecendo na janela, quase esmagando seu irmão – Vamos logo.

– Sai daqui sua louca! – falou Peter, empurrando a irmã de volta ao banco de passageiros.

Eu sinceramente não acreditava que a carona que ela queria dizer era ele.

Depois de Peter abrir o porta-malas para colocarmos nossas mochilas e já estarmos dentro do carro, Lizz não agüentou e soltou a pergunta que eu estava preste a fazer.

– Por acaso você também vai a Huntington, Peter?

– É o jeito. Sou maior de idade e minha irmãzinha aqui me obrigou... E ainda quero visitar um local. – deu de ombros sorrindo.

– Vocês acreditam que ele vai visitar o túmulo daquele baterista que eu falei para vocês? – algo dentro de mim se agitou.

– Cala a boca, Paris! – disse Peter, parecendo envergonhado e irritado.

– Sério? Será que eu posso ir com você? – perguntei sem saber de onde vinha aquela coragem.

Lizz me olhou indignada e Paris soltou uma gargalhada como se eu contasse uma piada.

– Você é fã da banda por acaso? – perguntou Peter e eu senti meu rosto corar.

– Digamos que eu escuto... Algumas músicas.

Peter sorriu e eu abaixei minha cabeça sentindo meu rosto corar ainda mais.

Logo ele colocou um CD, avisando que eu iria gostar das musicas.

– Por que você disse isso? – perguntou Lizz, enquanto tocava Beast and the Harlot. Eu apenas dei de ombros.

Nos últimos dias eu estava ficando obcecada por cada assunto que envolvia a banda Avenged Sevenfold, incluindo suas musicas, que agora faziam parte na minha playlist. Acabei descobrindo que em algumas músicas, Jimmy era um dos backing vocals, e o mais incrível disso era que sua voz não me assustava mais, pelo contrario, eu me sentia entorpecida por cada grito ou letra que ele cantava. E de alguma forma eu sentia falta dele.

Sorri pensando que aquele cara estranho e cheio de tatuagens havia se tornado um pouco mais do que uma simples pessoa que passa na rua e lhe lança apenas um sorriso. Eu sabia que ele era apenas uma pessoa que se foi, e que eu poderia apenas estar louca, mas mesmo assim eu queria tentar saber a verdade.

Senti meus olhos pesados com a viagem, que duraria algumas horas, e sem conseguir agüentar mais, o sono me pegou, assim como os sonhos, mas dessa vez havia algo diferente. Dessa vez era eu.

“Tudo ao redor tinha um ar pesado, e o lugar não era bem uma praça alegre como muitas existente, era um lugar conhecido. Talvez fizesse parte dos meus pesadelos mais pesados e profundos.

– Hey princess.

Olhei ao redor, mas não havia ninguém, a não ser algumas árvores mortas e secas, e cadeiras de ferro que estavam vazias.

– Olhe com atenção.

Olhei mais adiante, perto de uma pequena ponte que dividia o parque, e lá estava ele.

Suas roupas como sempre eram escuras e no rosto ele tinha um sorriso sapeca.

Corri até onde ele estava, e como se eu tivesse feito um grande esforço, senti o ar faltando nos pulmões. Hesitei se deveria ou não sentar ali ao seu lado, mas logo ele sorriu mostrando as fileiras de dentes perfeitos e brancos, batendo a mão no chão ao seu lado.

Sentei-me e ele fitava a corrente de água que passava de modo violento debaixo da ponte, abaixo dos nossos pés. Apoiei meus braços na grade e acho que ficamos um bom tempo em silêncio.

– Eu odeio sonhar com você. – ele disse, me assustando com o tom sério em sua voz.

O olhei confusa e um pouco ofendida. No fundo eu estava me acostumando com ele e sonhar com ele, mesmo que não pudesse tocá-lo, ou muitas vezes não falar, ao menos eu o via. E ele dizer que odiava sonhar comigo, me deixou um pouco magoada por dentro.

– Ah... – foi à única coisa descente que saiu da minha boca.

– Eu não consigo ler seus pensamentos. – ele falou parecendo emburrado.

Virei meu rosto e vi um bico em seus lábios que me fez sorrir.

– Não é pra rir de mim sua idiota! – ele falou sério, mas logo depois sorriu.

Tentei disfarçar minha raiva por ele ter me chamado de idiota, mas por que eu queria tanto vê-lo?

– É um saco não ler seus pensamentos nos sonhos... – ele repetiu mais uma vez.

Ficamos mais uma vez em silêncio e ele suspirou forte, como se estivesse entediado.

– Você sabe que vai acordar logo, não é? – ele disse me fitando.

Por alguns segundos eu me perdi na imensidão daqueles olhos azuis e, por Deus! Homens bonitos como esse não deveriam morrer, na verdade, deveria existir uma lei contra isso. Eu sei que estava pecando, mas era verdade.

– Hu-rum. – balancei a cabeça positivamente um pouco demais, tentando disfarçar meu nervosismo.

– Cara, eu não entendo como você pode ser tão estúpida... – arregalei os olhos e a minha vontade era de perguntar se ele era idiota? – Fiquei esses dias tentando falar com você nos sonhos, mas você sempre fugia como uma pata assustada...

Eu me lembrava de que a semana toda eu tive pesadelos com ele, e que esse lugar era familiar nesses mesmos pesadelos. Admirava-me ele não perceber que lugares sombrios e estranhos, causam medo nas pessoas.

– Eu... Eu fiquei com medo...

Ele soltou uma gargalhada irônica e dessa vez não disfarcei minha raiva, fechando minha cara.

– Opa... Alguém se estressou aqui. – disse ainda sorrindo.

– Você é um idiota... Me trás para um lugar estranho e sombrio e pensa que é normal. Achou que eu iria correndo para os seus braços e dizer que aqui é lindo e divertido?

Ele também fechou a cara e voltou a fitar a água.

– Eu... Eu gosto daqui. – disse num sussurro.

Ficamos mais uma vez em silêncio. Eu apenas queria saber o que ele tanto queria comigo.

– Por quê?

– Por que o que? – ele perguntou me fitando.

– Por que gosta daqui? Isso é tão...

– Morto? – seu olhar ficob sombrio, e eu me senti triste por ele.

– É...

– Eu não sei se você percebeu, mas... Eu estou morto.

Voltei minha atenção ao lago abaixo de nós e suspirei pesadamente.

Ele estava certo, e eu simplesmente não parecia perceber isso.

Eu não poderia esperar um jardim cheio de flores, ele estava morto e vagando como um espírito. Era obvio que ele não estava feliz com tudo isso.

– Eu preciso da sua ajuda. – ele disse, voltando a me fitar. – Eu não vou ficar em paz se isso tudo não se resolver.

Suspirei pesado novamente.

Era isso que eu temia. Uma responsabilidade com um espírito que eu nem conhecia. O que quer que fosse que ele iria me pedir, eu teria que fazer... Ou então ele me atormentaria para sempre.

Era ate cômico pensar assim. Quem visse isso acharia que eu realmente estava ficando louca.

– E se eu não quiser ajudá-lo?

– Por favor, Loui... Por favor...

Eu sentia que ele se distanciava, como se a ponte ganhasse vida ou fosse ficando quilométrica, o fazendo se distanciar lentamente.

– O que você quer que eu faça? – perguntei me levantando, mas ele estava muito distante e o lugar sombrio ficava cada vez mais escuro... Como se tudo ao meu redor caísse na escuridão...”.

Senti alguém me balançar levemente.

Abri os olhos e me assustei com os olhos azuis que me fitavam tão de perto, que por um momento eu pensei que ainda estivesse sonhando com o Jimmy, quando percebi que era Peter ao meu lado, o que não diminuiu meu desconforto.

– Você adormeceu e as meninas não queriam te acordar... – ele disse sorrindo, o que fez meu coração pular no peito.

– Já chegamos? – perguntei me ajeitando no banco.

– Quase. – ele entrou no carro e em suas mãos havia um sanduíche e um refrigerante em lata.

Não recusei quando ele me ofereceu com um sorriso maior nos lábios. Comecei a comer e ele ficou a me olhar, algo que não era nenhum pouco confortável.

– Então... Você é fã do Avenged Sevenfold? – perguntou, se ajeitando no banco ao meu lado.

Eu apenas acenei com a cabeça, já que me ocupava em devorar meu lanche.

– Vai mesmo comigo ao cemitério? – percebi ele estalar os dedos parecendo nervoso.

Engoli o resto do sanduíche e levei um bom gole de coca na boca antes de responder-lhe.

– Eu preciso. – ele me olhou confuso.

Agradeci quando as meninas chegaram e tivemos que seguir viagem. Sabia que não teria um motivo melhor para ir, do que dizer o obvio. Que eu era uma fã deles e sofri com a perda do baterista. Mas por que pensar em mentir para ele me incomodava tanto? Era quase como se eu cometesse um crime ou coisa do tipo.

Chegamos a Huntington no fim da tarde e parecia que algo dentro de mim se enchia de lembranças. Algumas familiares e outras totalmente desconhecidas. Era quase como se eu sempre tivesse vivido ali e voltasse de uma longa viagem. Era estranho sentir isso, claro que havia um motivo, mas eu sentia as mesmas coisas de quase um mês atrás, quando vim para cá pela primeira vez.

– Então, o que vamos fazer? – perguntou Lizz animada no banco da frente.

Balancei a cabeça espantando aquelas lembranças.

– Eu pensei que você tivesse feito um cronograma completo da cidade, Paris. – disse Lizz só para irritar a loira, que pareceu não se importar.

– E eu fiz... Mas meu querido irmão disse que conhecia bem a cidade e que não precisaríamos ir a nenhum lugar afeminado. – ela disse desanimada, mas logo voltando a sorrir.

Pelo retrovisor, vi Peter revirar os olhos. Agradeci por ele tirar aqueles benditos óculos depois da nossa primeira parada. De alguma forma aquilo já estava me irritando.

“– Aconselho o Central Parque, é muito bom para fumar...”

Revirei os olhos e tentei imaginar onde Jimmy estava no carro, mas preferi me manter quieta.

“– É sério. É um bom lugar para se divertir.”

Percebi que ele falava a verdade, então por que não?

– Que tal o Central Parque?

Lizz me olhou confusa e Paris bufou.

– Você está falando sério? Não tem um lugar melhor? Mais agitado? – perguntou Paris ironicamente.

– Eu estava pensando nisso. – disse Peter sorrindo.

Senti meu rosto esquentar com seu olhar direcionado a mim pelo retrovisor e resolvi ignorar os pitis de Paris, olhando a movimentação da cidade.

– Ainda acho que deveríamos ir atrás de um lugar para passar a noite. – disse Lizz pela décima vez enquanto descíamos do carro.

O lugar era limpo, lindo e tinha bastantes árvores. Era um bom lugar para se divertir e fumar tranquilamente sem ser pego ou coisa do tipo.

Assustei-me com meu próprio pensamento.

– Que saber... Eu vou fazer coisa melhor. – disse Paris indo em direção a um pequeno quiosque.

Acabamos ficando eu e Lizz, enquanto Peter desapareceu falando para nos encontrarmos no carro as 19:00 horas. E Paris parecia entretida com suas compras.

– Me diz uma coisa... Que historia é essa de ir ao cemitério? Ainda mais para visitar o tal lá?

– Eu não entendo Lizz... Você fica toda animada quando é sobre essas coisas sobrenaturais e agora, quando eu tento descobri um pouco mais... Você dá para trás.

– Eu não sei se é certo, Louise. E se alguma coisa der errada? E se por causa dele alguma coisa acontecer com você? – ela parecia preocupada, mas eu não me importei.

– Chega de besteira, Eliza. Não vai acontecer nada.

– Hey, vamos à praia? – perguntou Paris quando chegou com duas sacolas em mãos.

– Não acho certo. – disse Lizz, fazendo Paris ficar emburrada. – Peter falou para nós encontramos com ele, e a praia é distante.

– Ai Lizz, deixa de ser rabugenta. Vamos nos divertir! – a loira levantou as mãos para o alto, mostrando as sacolas.

Já estávamos rodando a praia a cerca de quase uma hora, Lizz olhava o celular preocupada, enquanto Paris conversava com alguns garotos estranhos. Mantive-me apenas sentada na areia olhando o Mar e pensando que talvez tudo tenha passado de uma besteira. Ir até H.B. não parecia tão legal assim.

Suspirei e fechei meus olhos fortemente. Tinha que descobrir se isso era realmente real ou se eu estava ficando louca, porque essa dúvida já estava me matando e me irritando.