Afterlife

Um Pacto do Além.


Por sorte ou pelo fato de Lizz não parar de falar, conseguimos voltar a tempo de encontrar Peter emburrado e encostado no carro.

– Seria pedir muito um pouco de pontualidade? – ele falou irritado e entrou no carro. – Por pouco não fui embora.

– Ai, deixa de drama maninho.

– Drama? Se fosse você esperando por quase duas horas, tenho certeza de que teria colocado a cidade abaixo.

Sorri junto de Lizz ao saber que, com toda certeza se fosse Paris, o mundo tinha acabado.

– Desculpe Peter... – disse Lizz ao moreno, que agora dirigia o carro menos irritado.

– Tudo bem, Lizz. Você eu desculpo... – não gostei de seu tom de voz, principalmente quando vi Lizz corar ao meu lado, o que me irritou um pouco mais. – Por sorte, a demora de vocês me ajudou a encontrar um bom lugar para dormirmos.

– Mas, já vamos dormir? – perguntou Paris decepcionada.

– Olha, eu posso ser chato e tudo mais... Mas, estamos em Huntington Beach, onde nasceram várias bandas fodelasticas e uma eu amo de coração...

– E isso que dizer o que? – interrompeu Paris, já irritada pela enrolação do irmão.

– Que vamos nos divertir! – Paris deu um gritinho. – Mas só depois que formos a um lugar.

Eu fico imaginando se a vida de Paris é só festa mesmo. Ainda a pouco ela bebeu horrores e se divertiu, enquanto eu e Lizz mofávamos na praia, o que não foi ruim, me ajudou a relaxar.

Não demoramos a chegar a um pequeno hotel. Era simples, mas bem no estilo familiar, nada no estilo vulgar. Não que HB fosse assim, mas na Califórnia você vê de tudo um pouco.

No fim, ficamos as três no mesmo quarto e Peter ficou com um quarto só para si. Paris ficou irritada por ter que dividir a enorme cama de casal.

– Fala sério! Eu não quero dividir isso aqui. – falou a loira enquanto se jogava na cama, ocupando todo o espaço. – Não cabem três pessoas aqui.

– Tudo bem, Paris. Eu vou dormir no sofá.

– De jeito nenhum. Ai mesmo que eu não durmo na cama... A Lizz ronca!

– Olha quem fala... Você é bem pior... Peida!

Quase me engasguei de tanto rir das duas, mas no fim não aconteceu nenhuma Terceira Guerra Mundial por causa delas.

Olhei o quarto e sorri ao perceber que não era tão ruim assim. Era bem espaçoso. Tinha uma pequena varanda, de onde dava para ver a movimentação da rua, e o bom era que o quarto ficava no sexto andar, por isso a vista privilegiada da praia ao longe. O sofá era pequeno, mas confortável. Tinha um banheiro grande, e para a infelicidade de Paris, não tinha banheira.

Acabou que Lizz, Paris e Peter, saíram para não sei bem aonde e me deixaram. Na verdade, eu resolvi ficar. Não me sentia disposta e isso parecia estar virando rotina. Ainda bem que Lizz não insistiu muito, no fim, ela sabia o motivo desse cansaço todo, e mesmo não gostando, aceitava.

Deitei no sofá e fitei a noite lá fora pela varanda. Um vento frio soprou, me fazendo encolher nas cobertas.

“– Boa noite pequena gnoma.”

Quase caí do sofá ao fitar aquele homem em pé atrás da porta de vidro, coberto pela escuridão do ambiente. Eu deveria estar acostumada, mas tinha certeza de que nem uma vida inteira me faria acostumar com aquela presença.

“– Obrigado.” – ele disse sorrindo levemente e saindo da escuridão.

Senti o ar faltar ao vê-lo sem blusa, mostrando suas inúmeras tatuagens.

– Pelo o que? – perguntei, tentando espantar pensamentos estranhos demais para uma pessoa como eu.

Ele soltou uma pequena gargalhada.

“– Deixa pra lá.”

Ele veio em minha direção e se eu não tivesse encolhido as pernas, ele teria se jogado em cima delas.

“– Então, o que temos de bom hoje?”

Olhei para ele com minha melhor cara de bunda e percebi que ele me fitava da mesma forma.

“– Já passou pela sua cabeça que eu leio... l-e-i-o seus pensamentos?”

Irritei-me com sua explicação, como seu eu fosse uma criança. Eu iria me levantar do sofá, mas senti meu braço queimar por um instante e voltei a sentar quando ele me puxou bruscamente.

Passei a mão no meu braço direito e vi cindo dedos se formarem ali, o que com toda certeza pela manhã estaria bem pior.

“– Me desculpe...” – olhei para ele e vi dor em seus olhos, o que pareceu me pegar desprevenida. “– Eu não queria... machuca-la.”

Apenas assenti. Mas era estranho ver aquele olhar. Lembrei-me do sonho que tive mais cedo e ele tinha o mesmo olhar triste...vazio.

“– Para com isso!”

Meu corpo todo tremeu com sua voz seca e rude.

“– Você é tão patética, que eu tenho vontade de rir!”

Afundei-me no sofá ao vê-lo se aproximar de forma ameaçadora. Ele soltou uma risada baixa e se aproximou ainda mais.

“– O que é preciso para você ser menos irritante?”

– O mesmo para você ser menos idiota!

Como em um passe de mágica, ele soltou uma gargalhada, se jogando no chão e rolando como um cachorro.

Eu sinceramente não sei onde estava com a cabeça para escutar um espírito como James Sullivan.

“– Hei! Você tem que se soltar. Parece que vive uma vida cronometrada e certinha... Precisa explodir uma hora.”

Ele me fitava de uma forma acolhedora, mas ainda mantinha aquele sorriso sapeca no rosto. É, talvez ele esteja certo.

“– Eu estou certo, criança.” – disse se levantando e tocando o dedo no meu nariz. “–Agora levanta essa bunda branca daí e vamos resolver algumas coisas importantes.”

– Como assim?

“– Eu já disse que preciso da sua ajuda, Loui”

– Olha, sinceramente... Eu estou cansada. Você anda consumindo toda a minha energia e... – ele revirou os olhos e me interrompeu.

“– Cara... você é realmente irritante. Presta bastante atenção... Eu.Preciso.Da.Sua.Ajuda!” – Ele disse pausadamente, parecendo irritado.

– E o que eu ganho com isso, além de anos em um manicômio? Porque sinceramente, eu estou começando a achar que estou ficando louca e daqui para a insanidade, é um pulo só.

Despejei as palavras afiadas sem perceber que estava sendo rude.

“– ALELUIA!”

Ele gritou, me fazendo pular do sofá. Por um instante eu pensei que ele fosse me estrangular pelo meu ataque, mas ele sorria ainda mais.

“– Eu até quero te estrangular, mas estou feliz por você finalmente agir e ser menos covarde.”

Sorri, percebendo que no fundo ele estava certo, mas não iria admitir isso em voz alta.

Ele revirou os olhos e sentou ao meu lado.

“– Olha, sobre o que você ganha... Digamos que se você me ajudar, eu prometo não te perturbar.”

– Nunca mais?

“– Nunca mais! Você me ajuda e estamos quites. E eu sumo para sempre...”

Para sempre?

Essa palavra era forte demais até mesmo para alguém como ele.

Ele sorria e eu apenas resolvi aceitar, mesmo que no fundo eu não o quisesse longe.

“– Eu sei disso.”

Ele sorriu malicioso e eu apenas revirei os olhos. Teria que controlar meus pensamentos, até mesmo os mais pecaminosos. Vi o sorriso dele aumentar ainda mais e sem perceber, acertei um soco em seu ombro, que fez doer bastante a minha mão. Mas uma dúvida me atormentava... Como ele era sólido, se era um fantasma?

“– Não é tão fácil como parece... às vezes eu consigo, mas nem sempre. Requer muita energia... E digamos que você é como uma bateria sempre fraca.”

– Então é por sua culpa todo esse meu cansaço... Já tinha uma séria desconfiança sobre isso.

Ele bufou impaciente e despejou suas palavras para mim.

“– E então, vai me ajudar?”

Era agora que eu decidiria os próximos passos da minha vida, era o momento em que eu deveria não aceitar e voltar a minha vida normal para sempre... Ou não.

Ele sorriu e a única resposta que saiu da minha boca foi... “Sim, eu aceito.”

“– Agora vem a melhor parte...” – disse ele, esfregando as mãos animado.

– E qual seria?

“– Sangue!”

Arregalei os olhos assustada. Ele só podia estar brincando, senão eu iria desfazer esse trato agora mesmo.