After Ever After-Interativa

Chapter XVI-Sobre Festas e O'Crowns


Rosemarie Marjorie Montgomery

Richard estava estranhamente calado naquela manhã. Quero dizer, claro que meu irmão é o membro menos falante dessa família, mas nem ele consegue falar tão pouco.

Obviamente, Charlotte reparou isso nos primeiros cinco segundos de almoço e resolveu se dedicar a encher o saco dele.

Mais tarde, entretanto, eu descobri que ele estava somente ansioso por causa da festa. Mas não ansioso no meu sentido de ansiosa, ansioso no sentido de nervoso. No sentido de não saber o que fazer e estar perdido. No sentido de que ele precisava de mim.

— Calma, Rick! - eu disse, sorrindo, enquanto segurava seu braço - Não é o fim do mundo!

— É sim, Rosie! - meu irmão devolveu - Eu não sei o que fazer!

— Isso obviamente significa que você precisa de distração - devolvo, franzindo as sobrancelhas - Precisamos achar algo pra você fazer.

— Eu ouvi distração? - nossa irmã se intromete, enfiando a cabeça no quarto - Sorry, sis, essa é a minha especialidade.

— Charlie, eu não sei s-

— Sem essa, Rosie - minha irmã me interrompe - Distrações e afins são o meu ramo. Além do mais, mamãe disse que precisa de você no salão.

— Charlotte, você tem certeza disso? - pergunto, fazendo uma cara de dúvida para minha irmã. Que, como usual, revira os olhos.

— Rosemarie, se manda - ela brinca, sarcástica - Hoje o Rick é meu.

— Que seja - eu digo, saindo do quarto - Só tentem não destruir nada.

Ouço meus irmãos rirem enquanto caminho até o salão. As pessoas que vem à nossa casa costumam dizer que ela é grande demais, que temos muitos cômodos, que tem muita coisa desnecessária ali. De certa forma, eu concordo: um quarto para cada um de nós já estaria ótimo, nunca precisamos nem de metade disso tudo.

Às vezes chamam nossa casa de palacete. Nesses casos, é mais fácil só mandar a pessoa checar a casa da tia Branca: garantia de surpresa.

Enfim. Muitos cômodos e alguns minutos depois, entro no salão de baile- sem comentários -e encontro minha mãe de pé no centro, mirando as paredes com o cara da empresa de decoração ao seu lado. Sorrio e ando até eles.

— Ei, mãe! - chamo, acenando - Mandou me chamar?

— Rosie! - ela devolveu, dando um beijo em minha bochecha - Estava querendo sua opinião quanto à decoração, filha.

— Senhorita Rosemarie - o cara diz, estendendo a mão - Meu nome é Edward. É um prazer conhecê-la, ouvi falar muito da senhorita pela cidade.

— Bem ou mal?- eu brinco, apertando-a -O prazer é todo meu, Edward. Agora, me diga, qual é o impasse da vez?

— Bom, é bem simples- ele diz, depois de engolir em seco -Sua mãe me contou que será uma ocasião chique. Um baile de gala.

— De fato- confirmo.

— E, ainda assim, vocês pretendem colocar cortinados.

— Cortinados são como uma tradição- eu digo, e minha mãe me olha triunfante.

— Sim, mas não muito elegantes - ele diz - Minha sugestão para sua mãe fora deixar como está. As paredes do salão estão em perfeito estado e são belíssimas.

Miro as paredes, incertas. Sempre colocávamos cortinados, eles davam um clima de enfeites e de esforço à festa. Mas será que era isso que Richard queria?

— Deveríamos fazer o que meu irmão votar por - concluo - A festa é dele, afinal.

— Sabe que, se seu irmão tivesse um voto, não haveria nenhuma festa, Rosemarie. Richard nem mesmo quer tentar. Não poderemos contar com ele- minha mãe meio que me repreendeu.

— Certo - eu suspiro - Qual é a opção que deixaria a festa mais elegante mas, ainda assim, de uma maneira simples?

— Definitivamente sem o cortinado- ele não se demora a responder - Cortinados tendem a dar pompa ao ambiente, o que não quer dizer elegância mas também não quer dizer economia. Simples e elegante é o que essas paredes são.

— Então, mamãe, deixaremos assim.

— Tem certeza?

— Aurora, é a festa de Richard. Seu filho humilde que odeia festas- eu a seguro e olho em seus olhos - Ele escolheria a opção mais simples.

— Se ele tivesse interesse por essas coisas. Do contrário, ambas sabemos que sua escolha é um travesseiro de penas- minha mãe sorri - Então está bem. Muito obrigada, Rosie. Eu e Edward assumimos daqui.

Me despeço e saio do salão, a governanta surgindo à minha frente assim que piso de fora. Dona Tereza me conta que um dos O'Crown está a minha espera nos jardins- ele havia insistido em não entrar, segundo ela -mas ela não conseguira fazer a distinção. Novamente. Rio baixinho.

— É simples, Dona - eu digo, enquanto andamos para a porta dos fundos, que daria nos jardins -Se ele foi mal-educado e possivelmente frio, é Max. Se ele foi doce e cortês, é Will.

— Sabe que nunca me lembro disso, Marjorie- ela brinca.

— Como ele era?

— Bom, ele usou tantas palavras de boa índole na frase que eu pensei que fosse um príncipe- ela revelou - Até eu me lembrar que ele é filho de um.

Sorrio. Era bom que Will tivesse vindo e não o irmão, eu não estava no clima pra Max naquela manhã. Agradeço à Tereza mais uma vez e nos separamos nos fundos, quando eu sigo pelo labirinto do jardim até o lugar onde sei que o O'Crown estará.

E, bom, Will não me decepciona. Ele está sentado no banco suspenso, balançando-se de leve, quando entro no cubículo cercado por cerca viva. Ele sorri abertamente, um sorriso verdadeiro e terno, e eu me senti ao seu lado.

— Hey - digo, ajudando-o a nos balançar.

— Hey - ele devolve, mirando os próprios pés.

— O que faz aqui? - pergunto.

— Queria te ver - ele dá de ombros.

— Aconteceu algo demais?

— O de sempre - mais uma vez - Max foi para a casa dos Snow e Festus saiu para correr. Royal acordou rouca e de mau-humor, o que definitivamente é um sinal para manter distância.

— E aí você decidiu vir aqui- eu o completo.

— Você fala como se fosse algum tipo de surpresa - Will devolve - Eu sempre venho aqui, Rosie. Quase moro nesse lugar.

— E eu nunca entenderei porquê- concluo -Não pode ser ruim assim na sua casa.

— Nós nos amamos. De verdade- ele considera - Mas digamos que nossas personalidades divergem demais para que nos demos bem de verdade.

— Pare de falar de Max como se estivesse falando de todos os três- eu o repreendo, brincando -Eu sei bem que você e Festus se adoram; e você pode até não adorar Royal, mas já se divertiu com ela. Seu problema é Max, Will.

— E eu sou o dele - ele coloca as mãos atrás da cabeça - Eu queria não ter um irmão gêmeo.

— Sabe que 85% das crianças e adolescentes falam o contrário, né?

— A grama do vizinho é sempre mais verde, Rosie - Will vira o rosto para mim, e sorri - Mas o que você estava fazendo? Dona Tereza disse que estava ocupada.

— Festa do Richard - eu explico - Sou a encarregada de fazer com que isso não seja um baile de debutantes, basicamente.

Ele ri alto.

— Sua mãe queria os cortinados?

— Como o inferno. A convenci do contrário, felizmente.

— É, você é fenomenal nisso - o O'Crown ri mais uma vez, baixinho. Depois de alguns segundos de silêncio seu telefone treme, e ele o pega rapidamente - Ah, não.

— O quê? - pergunto, tentando ler.

— É a Royal - meu amigo explica, se pondo de pé - Parece que mamãe concluiu que ele pegou uma gripe e acabou o analgésico de casa. Ela pediu pra eu ir buscar mais.

— Eu vou contigo- digo, determinada, e ele sorri ao olhar para mim - Aposto que você nem sabe qual é o analgésico.

— Rosie, eu só me pareço fisicamente com Max - ele brinca - Sei me virar bem. Além do mais, você já tem bastante o que fazer.

— Will, eu quero sair daqui. Ando enfurnada em casa e, quando não estou aqui, estou na loja. Anda, me leva junto.

— Teimosa. Eu não vou te levar, Rosie.

— Mas, Will!

— Rosemarie, não dá. Seu pai me fez prometer que não te tiraria de casa hoje! - Will me dá um sussurro gritado - Eles precisam de tu.

— E eu preciso de sair.

— Seja como for, eu tenho de ir- ele simplifica, e traçamos caminho de volta para minha casa - Te vejo depois?

— Com certeza - digo, apesar de meio chateada, e estalo meus lábios em sua bochecha - Até mais, Will.

Depois de ele ir embora, entro em meu quarto e me deito para pensar. A cada dia que se passava, um dia mais perto meu casamento estava. A promessa que me atava à um dos gêmeos começava a pesar em meus ombros. E cabia só a mim escolher qual dos dois ganharia tudo e qual dos dois ficaria com nada. Eu amava demais Will e Max para decidir. Eu amava meus amigos demais. Meus companheiros, desde pequenos, inseparáveis. Como eu faria aquilo?

Parece que só cabia a mim descobrir.