After Ever After-Interativa

Chapter XVII-Novas Amigas e Mães Estranhas


Anastácia Daphne Queen

Quando eu acordei naquela manhã, Ahren ainda estava na cama e mamae já tinha saído pra trabalhar. Decidi que faria o que eu não conseguia desde o tempo em que morávamos em Wonderland- comeria o resto do meu cereal favorito e assistiria America’s Next Top Model – antes que Ahren acordasse. Meu irmão parecia ter mudado um pouco desde então, mas, ainda assim, era uma das pessoas mais fenomenalmente mal-humoradas e irritadiças que já pisaram na face da Terra.

Digamos, em outras palavras, que ele puxou a mamãe.

Lá pelo meio dia, meu irmão chega na sala de TV, a cara amassada pelo travesseiro e o cabelo preto extremamente desarrumado. Não me surpreendo nem um pouquinho quando meu irmão se joga no sofá, me fazendo pular um pouco, e derrama um pouco da pipoca em meu colo.

–Bom dia pra você também, Ahren- eu digo, ainda prestando atenção na TV.

–Bom dia. Hmph- ele resmunga, e esfrega os olhos –Tá assistindo isso de novo?

–Isso é o reality show mais assistido no Mundo Encantado inteiro- eu devolve –É claro que eu tô assistindo.

–Quantas temporadas esse troço tem?- pergunta, colocando um pouco de pipoca na boca –Parece infinito.

–E você parece exagerado. Ah, calma: você é- brinco –Vamos ficar mofando aqui dentro ou quer fazer alguma coisa?

–Você me conhece, Anya- meu irmão diz, de boca cheia –Se for pra eu escolher, vou ficar nesse sofá lendo, desenhando, praticando ou mexendo com Jinx o dia inteiro.

–Eu realmente te conheço- confirmo –E por isso comprei duas entradas pra Esquadrão Suicida. Às duas.

MEu irmão se levanta de supetão.

–Você tá brincando- ele joga.

–Não, não estou.

–Anya, você é demais.

–É, você diz isso agora. Daqui meia hora vai ser Anya, para de encher.

–Não é culpa minha se o munda dá voltas, maninha- ele dá de ombros, e eu suspiro. Embora Ahren às vezes seja duro e me trate mal, eu ainda amo muito meu irmão –Você realmente comprou os ingressos?

–Se não acredita, eu achamo o vizinho pra ir comigo.

–Tá que o vizinho vai querer sair com a filha da Rainha Má.

–Eu não sous ó a filha da Rainha Má.

–Não, você é minha irmã- ele diz, e então muda para um tom cético –Opa, calma, eu sou filho da Rainha Má. Aceita que dói menos, Anya.

–Nós somos mais que a mamãe, Ahren- eu afirmo, tirando o balde de pipoca(agora vazio) de meu colo para poder me pôr de pé –E, a essa altura, a mamãe é mais do que todos pensam que ela é.

–Mas eles não sabem disso- ele afirma –Onde vai?

–Tomar uma ducha. Caso tenha se esquecido, não temos um carro ainda, o que significa andar até o shopping local. Que, por acaso, nós nem sabemos onde fica.

–Podemos só usar um feitiço de teleporte.

–Como quer ser tratado como igual se age diferente?

–Eu nunca disse que queria ser tratado como igual.

–Que seja- devolve, subindo as escadas –Nós vamos ter de almoçar lá, então é melhor você ficar pronto também.

–Você manda, maninha- ouço ele dizer, depois de suspirar alto –Você manda.

–x-x-x-

No final, Ahren acabou se atrasando- sob a péssima desculpa de que a água estava fria -e nós tivemos de usar o teleporte para chegar a tempo do filme. Depois de assistir e adorar, Ahren estava farto do ar livre e queria voltar pra casa.

–Nada disso- eu digo, o arrastando pelo shopping -Eu assisti a esse filme violento e cheio de piadas sujas contigo. Hora de você fazer alguma coisa por mim.

–Você não quer ir na loja de roupas, quer?- ele me perguntou, alarmado -Porque eu não vou entrar naquele lugar.

Eu faço uma cara triste. Era exatamente o que eu pretendia.

–Uma pena. Ouvi dizer que eles têm uma ótima por aqui.

–Anya...

–E vi no site que têm aquela bolsa cinza que eu quero desde meus quinze anos.

–Mas, Anastácia...

–E os cardigãs. Que fizeram falta ano passado- lamento -Mas, enfim, é a vida.

Meu irmão suspira e põe as mãos no bolso.

–Por qual lado?

Sorrio e bato palminhas.

–Prometo não ficar muito- digo, o arrastando novamente, agora na direção da tão dita loja.

–O que obviamente quer dizer que você vai me fazer esperar por uma hora.

–Não pode ser tão ruim assim- eu replico.

–Não- Ahren concorda -É pior.

Passo algum tempo olhando as roupas, perguntando ao meu irmão o que ele acha de cada uma(todas as suas respostas são 'uhum', mas eu ainda pergunto). Algo como meia hora depois, entro na fila do provador.

–Olha o tamanho disso, Anastácia- meu irmão reclamou -Você nem vai comprar tudo o que tá na sua mão.

–Só vou descobrir provando- dou de ombros, sem sair da fila.

–Anya, vai demorar um século.

–Ah, eu já vi pior- a menina à minha frente responde, se virando -Devia ver quando essa loja inaugurou. Era gente pra todo lado.

–Imagino- respondo, embora eu não consiga imaginar.

–São irmãos?- ela devolve.

–Gêmeos- confirmo, ao que Ahren me cutuca -Mas não parecidos, obviamente. Ele não aguenta nem dez segundos aqui, e eu poderia ficar aqui pra sempre.

–Eu entendo- a garota responde, arregalando os olhos -Meu irmão, graças ao bom Deus, veio com uns amigos.

–Somos novos por aqui- explico.

–Eu sei. Me lembraria de seu rosto- ela devolve, e então estreita os olhos -Pera. Eu conheço você?

–Não que eu me lembre- troco a sacola com as roupas de mão, sem ver a cara de alarme de meu irmão -Qual é o seu nome?

–Eu sou Apple Sweet Snow- ela diz, e estende a mão -Você?

–Anastácia Queen- estendo de volta, e ele parece desconfiada ao apertar.

–Queen como em... Evil Queen?- Apple me pergunta, e eu assinto -Ah! Já sei de onde conheço você!

–Sabe?- eu devolvo, confusa. Principalmente pela filha da Branca de Neve não ter se afastado de mim no instante em que descobriu quem eu sou, mas por vários motivos -De onde?

–Jantar de confraternização. Foi há dez anos atrás, antes de vocês se mudarem daqui pela primeira vez- ela disse, e a memória começou a surgir em minha mente -Eu tinha seis anos.

–E nós sete- devolvo -Foi a última vez que nossa mãe viu a Branca, né? Ela fala sobre isso sempre. Morre de saudades.

–Então é bom que vocês tenham voltado- Apple sorri -Minha mãe sente a falta de Regina o tempo todo. Depois que elas se resolveram, é como se fossem...

–Melhores amigas- eu a completo, e sinto meu celular tremer. Ahren também leva a mão ao celular, o que só pode querer dizer uma coisa: mamãe -O que houve, Ahren?

Meu irmão suspira antes de responder.

–Mamãe nos quer em casa agora- ele explica -Parece que temos uma festa mais tarde e não podemos atrasar.

–Mas ainda são três e meia- Apple argumenta -O aniversário é só às oito.

–Nossa mãe tem um relógio biológico meio distorcido- Ahren diz -Em todos os casos, nós deveríamos ir, Anya.

–Certo- eu digo, lamentando não poder experimentar as roupas -Pera. Hoje é sábado?

–Sim- minha nova amiga responde -Por quê?

Eu e Ahren suspiramos em conjunto. Sábado é dia de reunião de família.

–Não é nada- ele responde, no entanto -Vamos, Anastácia.

–Já vou, já vou- deixo a sacola com um atendente e me volto para Apple -Foi um prazer te conhecer.

–O prazer é todo meu- ela sorri, sincera, diferente de todos os outros -A gente se vê mais tarde?

–Com certeza- a abraço antes de ir.

Meu irmão pega sua varinha à medida que nos aproximamos de um lugar mais reservado(uma cabine de banheiro. Ótima escolha, Ahren). Eu pego a minha, no fundo da bolsa, assim que entramos, e ele me encara.

–Pense em casa.

–Eu não sou idiota- devolvo, e estendo minha varinha de quartzo transparente para perto da dele.

–Eu bem sei- ele replica, e encosta sua varinha de obsidiana na minha. E, assim que eu pisco, estamos em casa.

Olho em volta, vendo que chegamos bem no meio da sala. Nossa mãe está em sua poltrona vermelha, olhando as unhas.

–Estão atrasados.

–Realmente vamos fazer reunião hoje, mãe?- Ahren pergunta, o que eu vejo que a enerva.

–Entenda, Ahren- ela diz, e se põe de pé –Vocês podem crescer, sair de casa, e se casarem; mas as reuniões de sábado? São eternas.

Suspiramos e começamos a andar na direção de seu escritório. Ela anda atrás de nós, mas ainda percebemos quando ela pega seu cellular e checa uma mensagem.

–Ah, não- nossa mãe murmura, legitimamente preocupada –Cancelada por hoje, crianças. Que horas é a festa mesmo?

–Às oito- eu respondi, estranhando. Mamãe nunca adiava reuniões de sábado –O que houve?

–Certo. Eu estarei de volta às sete, não conte comigo para a maquiagem- ela diz, e põe sua bolsa no ombro.

–Mãe- Ahren chama, firme –O que houve?

–Ah, hm- ela ajeita seu paletó, embora esteja calor –Problemas da escola.

Nos entreolhamos.

–Tem algo errado- digo.

–E se tem- meu irmão responde.

–Vamos descobrir o que é?

–Com certeza.