After Ever After-Interativa

Chapter VIII-Entre Irmãs e Aliens


Finn Haddock

Acordei cedo naquela manhã, ao som da irritante e fina voz de Alanna no quarto ao lado. Apesar de estar sonolento demais para distinguir as palavras, seu tom denunciava que estava -de novo- conversando -de novo-com -de novo- Uriah Bezerra. Eles já não se desgrudavam nem mesmo durante o horário de dormir.

Ouvi, ainda deitado e com a cabeça enfiada no travesseiro, a porta do quarto de Azaleh se abrindo (oh-oh). Tive consciência de que minha irmã mais velha marchava em direção ao quarto da outra- que ainda tagarelava em alto volume.

Azaleh escancarou a raiva, e, do quarto ao lado, eu senti sua raiva no ar.

– Alanna, cale a boca! - A morena gritou – São sete da manhã, última semana de férias e eu quero DORMIR!

– Eu te ligo - ela murmurou ao telefone e desligou. Em seguida exclamou mais alto do que deveria - É, mas voltamos de viagem faz poucos dias, e eu quero passar um tempo com Uriah!

– Vocês conversaram as férias inteiras! E, de qualquer modo, não é como se esperar até às nove fosse te matar! - eu pude sentir o dedo de Azaleh se levantando contra Lanna, e me perguntei como elas gritavam tão alto àquela hora. Eu sempre acordo rouco.

– Idiota! - Lanna bateu a porta contra nossa irmã, que começou a esmurrá-la como uma doida.

– Alanna Sif Haddock, abre já a maldita porta!

– Não vou abrir!

– Abre, Alanna!

– Não!

Me pus de pé. Aquilo não acabaria bem se mamãe acordasse.

Andei até o corredor, sentindo a madeira sob meus pés descalços. Olhei fixamente para Azaleh, recostado na parede.

Ela, não me dando qualquer tipo de importância soltou:

– Por que você tem que ser tão imbecil?! – de seguida umas quantas batidas na porta.

– Eu já ia te perguntar o mesmo! - Alanna, meio abafada pela madeira.

Segurei Azaleh com minhas mãos, impedindo-a de continuar batendo. Ela podia ser a mais velha, mas eu já a havia ultrapassado em tamanho e largura fazia algum tempo. Ela esbracejou como uma criancinha.

– Azzie, para com isso - eu disse, firme, mas ela continuou – Quantos anos você tem?

– 17, seu cabeçudo! Agora me larga! - Rosnou.

– Azaleh, corta essa! – Disse eu, desta vez com mais firmeza, e continuando a segurá-la – Mamãe vai acordar!

Minha irmã parou na hora. Eu a soltei, e contornei-a. A próxima era Alanna.

Bati na porta.

– Sif, abre - eu disse, de leve, e minha irmã mais nova se desencostou.

– Finn? - Ela abriu – Eu te acordei? – O tom de voz já mais controlado.

– Deve ter acordado até o Toothless. E vocês sabem como ele gosta de dormir até mais tarde nos domingos - Azaleh acusou.

– Ei! Não foi você que passou as férias inteiras longe do seu único amigo! - Alanna devolveu, a face da cor dos cabelos.

E elas começaram a gritaria de novo. Eu pedia que elas parassem e impedia que chegassem muito perto, mas não conseguia evitar nada. Sabia que, a qualquer momento, mamãe acordaria. E, então...

– Meninas! - papai bradou, com um grito sussurrado, entrando no corredor e fechando cuidadosamente a porta. A perna de metal mal colocada fazia com que ele mancasse um pouco, mas Lanna e Azzie o fitaram - Sua mãe vai acordar!

Elas meio que o ignoraram, voltando a discutir. Eu queria sair de entre elas, mas sabia que iriam acabar se batendo e causando ainda mais briga.

– Boa tentativa, pai - eu admiti, meneando a cabeça - Mas eu já tentei isso.

Algo como cinco minutos mais tarde, a porta do quarto dos meus pais foi aberta lentamente. O rangido fez com que minhas irmãs calassem a boca, e nós quatro sabíamos o que estava por vir.

A cabeleira ruiva de minha mãe saiu do quarto junto com os olhos azuis que faiscavam de raiva. Ela fuzilou minhas irmãs duramente antes de falar qualquer coisa. Quando falou, sua voz saiu como um trovão:

– Azaleh Lyra Haddock e Alanna Sif Haddock, eu quero ver as duas de volta na cama agora! - gritou, e minhas irmãs bateram as portas de seus quartos. Mais alto, para que ainda ouvissem: - E nem meia palavra até, no mínimo, às nove! Não se esqueçam, seus primos virão hoje e só podem sair quando vovó chegar!

Olhou-me em busca de respostas.

– Alanna queria ter com Uriah e acabou nos acordando, daí Azaleh veio tirar satisfação - sintetizei, e minha mãe apertou suas têmporas.

– Eu disse que devíamos ter parado no segundo – disse com um falso olhar de desgosto para o meu pai - Cama para você, mocinho. Vai, vai, vai.

Entrei no meu quarto, cansado, mas meus pais ainda ficaram no corredor.

– Elas me lembram as Pelekai - mamãe disse, a voz abafada pela madeira. Papai soltou uma risada cansada.

– Até as Pelekai brigavam menos - disse ele, e a porta deles se fechou.

***

Bom, nós não poderíamos sair mais tarde. Vovó Elinor ficaria olhando nossos primos, verdade. Mas, hoje haveria uma feira de usados no centro. E um bom DunBroch Haddock sempre vai à uma feira de usados.

Eu, papai e Azaleh colocávamos as caixas lotadas de itens raros cuidadosamente na carroceria da picape, enquanto mamãe e Alanna discutiam -mais um pouco- na sala de estar. Quando acabamos, sentamo-nos na borda da carroceria. Toothless veio para perto, e meu pai se pôs a fazer carinho nele.

– Pai? - Perguntei, e ele virou a cabeça, me encorajando a falar – Hoje de manhã, você falou das Pelekai. Você quis dizer as amigas de aliens?

Ele assentiu.

– Não as chame assim. Lilo e Nani são mais que isso. - disse, num tom de calma repreensão. Estranhamente, este tom de voz é, na maioria das vezes, pior que uma repreensão gritada pela minha mãe.

– Mas elas são amigas de aliens - Azaleh reforçou – Me disseram que alguns até vivem com elas.

– E nós vivemos com alguns dragões e pessoas que já foram ursos, Azaleh - ele retrucou, ainda calmo. Touché, pensei – As Pelekai são velhas amigas. Mas já não as vejo há muito tempo. Nem conheço a filha de Lilo ainda…

– Ouvi dizer que elas vivem a meia hora da Estrada nacional - comentei – O que não é muito longe daqui.

– Lilo vive. Nani se mudou para a beira da praia assim que se casou - papai disse, sábio. Ele ainda fazia carinho em Toothless.

– Mais cedo, o senhor disse que elas brigavam muito - joguei, para fazer ele falar.

– E se brigavam - comentou – Teve essa vez em que a Lilo chegou em casa e pregou todas as portas, menos a portinhola do cachorro. Aí, quando Nani chegou, ela se recusou a abrir. Nani foi tirando os pregos pela portinhola, até que o cara da assistência social chegou. E aí, bom… Digamos que as coisas correram mal. O cara quase decidiu levar a Lilo embora.

– Quantos anos ela tinha? - Perguntei incrédulo.

Ele riu antes de responder.

– Cinco.

Eu e Azaleh arregalámos os olhos, mas antes que pudéssemos falar mais alguma coisa, Lanna saiu de casa, seguida por mamãe com um ar triunfante. Por outro lado, Alanna parecia prestes a matar alguém.

– Entrem na picape, crianças! - Papai disse, se pondo de pé – Temos uma feira para ir.

Algum tempo depois, chegamos ao lugar. É um espaço aberto, e vejo bancas e mesinhas de venda por todo lado. Lanna mal nos ajuda a levar as caixas para nosso canto: sai andando rápido e falando ao telefone que nem uma doida. Presumo que Uriah deve estar ali em algum lugar. Eu e Azzie ajudamos mamãe e papai com tudo, e, então, abrimos a tampa da carroceria para nos sentarmos. Ficamos calados por cinco minutos até ela resolver que tem algo a falar.

– Hey Finn.

– Hey Azzie.

– O que vamos dar para o Montgomery? - ela pergunta, e eu dou de ombros.

– Como é que eu vou saber? Não o conheço, lembras?

– Ah, pois...- ela desenha algo com o dedo - Sabes que serás da classe dele, certo?

– De algumas classes - a corrijo - E não é como se eu não o conhecesse no sentido de não ser seu amigo por opção. É mais no sentido de: quem é esse cara?

– Eu sei. Vai ser tudo assim na escola nova. – Diz suspirando.

– Nem me fale. Para que mudar, hm? Estávamos bem na escola do tio Perna de Peixe - resmungo, chutando uma pedra.

– Eu concordo! - Papai se expressa, guardando um pouco de dinheiro no bolso.

– Por favor – exclama minha mãe, que empacota um vaso - Já tivemos essa conversa. Ever After é uma ótima escolar e tudo o mais. Porque não são como Lanna e não reclamam?

– Ah, claro.... Deve ser porque nossos melhores amigos não vão para lá junto conosco - Azzie comentou, ironicamente - Qual é, gente? Sabemos que ela só não reclama porque Uriah vai também!

– Sabemos disso - a ruiva diz - Mas, veja pelo lado bom, Moony estará lá também.

– Pelo menos Moony - comento baixinho, mas Azzie não reage. Não é como se ela não gostasse de Moony, mas ela também não gosta muito. Uma relação normal sem afetividade.

– E eu? Como me saio nessa? - Ela pergunta.

– Como a loba solitária - brinco - A ômega que vai morrer sozinha.

Ela me dá uma cotovelada, e eu rio.

– Bobo.

– Que foi? Nós todos sabemos que ninguém nunca vai te querer mesmo.

Azaleh revira-me os olhos e atira-me a pedra em que eu mexia antes. Se não me tivesse desviado rapidamente, por esta hora teria já um olho negro. Minha irmã tem uma pontaria demasiado boa.

– Vocês dois - papai diz - Por que não dão uma volta por aí?

– E para quê? – Azzie pergunta desinteressada.

– Vejam se acham um presente para o filho de Aurora - mamãe disse.

– Mãe! Não podemos dar algo de segunda mão! - A repreendo, mas ela me ignora.

– Finn está certo - ela também ignora papai.

–Tente os travesseiros de mil fios árabes. Tenho certeza que ele vai gostar- diz, nos despachando, enquanto enfia uma nota de cinquenta na mão de minha irmã.

Bufei antes de sair andando ao lado de Azzie. Não planejava comprar nada de grife para o garoto, claro, mas segunda mão? Definitivamente estava fora dos planos.

Acabamos sem comprar, no final. Eu e Azzie rodamos o lugar todo, mas parecia que Aladdin e Jasmine ainda não haviam chego. No final, ela comprou um kit de pincéis chineses seminovos e eu arranjei uma aljava cheia de flechas estranhamente bonitas. Voltamos, então, à nossa bancada.

Lanna estava ali por perto, se despedindo de Uriah – que pelos vistos, tinha mesmo aparecido. Conseguia vê-los por cima do ombro de Azaleh, que falava com papai sobre os pincéis. Reparei que outro garoto, bem parecido com o Bezerra, se aproximou de Lanna e seu amigo, juntando-se à conversa, e reconheci-o: James Bezerra, o irmão mais velho do melhor amigo de Alanna. E, bom, ele estava conversando com minha irmã mais nova enquanto olhava para minha irmã mais velha. E de um jeito que eu não achava nada adequado.

Endureci minha postura, como que para me fazer parecer maior e para que ele me notasse sem que eu tivesse de acenar. Já havia conversado com James antes, nas vezes em que eu tive de ir à casa de Uriah para ajuda-los com o ‘‘Keep Magic’’, e ele era uma boa pessoa. Mas eu não deixaria nem a melhor pessoa do mundo secar a minha irmã.

Funcionou. Ele transferiu seu olhar para mim, e me esforcei para passar a mensagem de que estava na hora de parar. Ele franziu as sobrancelhas e voltou a conversar e olhar para Lanna.

Momentos depois, ele voltou seu olhar para Azaleh. E estava começando a me irritar profundamente. Minha cara só se fechava mais e mais, eu sentia, até que Azaleh se virou para mim.

Ela fez uma careta.

– Que cara é essa?

– A única que eu tenho.

– Não - ela devolveu - Você está com cara de quem comeu e não gostou.

– Eu não estou.

– Está.

– Não estou.

– Está.

Você também estaria se estivesse no meu lugar. Na verdade, já teria descido a mão em James. Pensei.

– Não. Estou. Azaleh - afirmei com veemência - Me deixa em paz.

Olhei por cima do ombro dela enquanto ela manifestava sua descrença. Ele ainda olhava. Agora, eu também podia ver um dos amigos dele andando até ele preocupado.

Lanna estranhou a falta de atenção de seu interlocutor, e (nada discretamente) seguiu seu olhar até as costas de Azaleh. Sua expressão mudou, e em uma fração de segundo, ela levantou a mãozinha fina e a pousou com força no rosto de James. A cabeça dele virou, e sua bochecha ficou vermelha. Uriah observou a cena meio espantado, meio divertido e enquanto isso Lanna marchou até nós.

Minha irmã mais nova mal conseguia respirar regularmente, a descarga de adrenalina a deixou tremendo. Minha irmã mais velha ficou vermelha de raiva e vergonha depois de se ter virado e apercebido do que acontecera, e as duas vieram para trás de mim.

James levantou a cabeça para nós três, e achou um eu com uma postura que o encorajava a deixar o ambiente. Seu amigo, provavelmente o garoto Ali, me olhou também, com o que me pareceu um olhar agradecido e lvou James para longe.

– O que acabou de acontecer aqui? - Azaleh perguntou, mas eu e Lanna não respondemos. Fizemos um hi-5.

– Ruiva, você é demais - eu disse.

– Não melhor que você, bro- ela devolveu.

***

Algum tempo depois, subimos de novo na picape para voltar a casa. Havíamos vendido a maior parte das coisas, o que significava que as caixas estavam muito mais leves e em menor quantidade; então Azaleh e Lanna concordaram em me deixar voltar de pé. Eram mais de sete horas, mas, como estávamos no horário de verão, o sol só começava a se pôr. Felizmente, seguíamos na direção contrária do astro, e eu pude manter ambas minhas mãos na grade.

Conseguia ouvir Lanna sussurrando uma melodia, mas o vento estava alto demais para qualquer distinção. De ambos os lados só se via mato, já que estávamos no meio do nada. A estrada estava, como sempre, vazia, e raramente passava algum outro carro.

Depois de fazer uma curva, pude ver uma garota na estrada. Assim que a picape entrou em seu campo de visão ela começou a acenar freneticamente, e eu dei uma risadinha. Papai foi diminuindo o ritmo até parar ao seu lado. Baixou o vidro, e nós cinco a observávamos meio que descaradamente.

Era morena e tinha os cabelos pretos. Suas bochechas eram um bocado salientes, e ela usava uma saia florida com uma jaqueta jeans. Era bonita, de um jeito singular. Ao seu lado, uma criaturinha rosa com antenas caminhava, de peito estufado.

–Eu...Desculpe incomodar - diz, parecendo receosa. Uma graça. Sua timidez e desajeito quase me fazem rir, mas isso seria especialmente mal-educado de minha parte - Eu e a minha tia voltávamos há pouco da feira de antiguidades, mas tivemos um furo no pneu, e não tínhamos bateria no celular há alguma chance de nos poderem ajudar?

– E o teu nome é? - papai não perde tempo em perguntar.

– Oh, ah... desculpe vossa alteza - diz atrapalhada. Olho para Azaleh, que esconde a risada sob a palma da mão. Nenhum de nós três presta mais atenção, tentando parar de rir, mas percebo que ela diz seu nome em seguida. Quando voltamos a olhar, a garota desastradamente se dobra em uma reverência.

No momento em que minha mãe começa a rir, nós três paramos de nos esforçar também. Ela não podia nos castigar por fazer algo que ela fazia, e sempre que chamavam papai e mamãe de alteza as coisas se tornavam especialmente hilárias. A pele morena da menina não permitia que víssemos o rubor, mas sua expressão me denunciou sua vergonha.

Mamãe desce do carro, tirando o cabelo dos olhos, e -duh- abraça a menina.

– Merida DunBroch - se apresenta. Ela nunca havia mudado seu nome, o que considero mais uma prova do seu espírito independente - E quem é esta criaturinha?

– Angel - responde, e minha mãe esmaga a coisinha rosa e estufada que agora suponho ser uma alien. Vejo Azaleh tapar a boca e o nariz de Lanna para que finalmente pare de rir.

– Talvez tenhamos algo que vos possa ajudar - mamãe encolhe os ombros -Onde está o carro?

– Acho que um ou dois quilômetros à frente.

– Okay, então. Finn! - Ela olha para a carroceria, ao passo de que eu realmente me viro para onde ela estão. A garota parece me estudar, mas desligo minha atenção - Ajude Kailani e Angel a subir.

Assinto e sorrio enquanto minha mãe dá a volta para entrar novamente. Kailani, a garota, se aproxima da traseira. Como antes eu fazia com Azaleh - antes da crise do ‘‘Para com isso eu sou a mais velha!’’–, coloco as duas mãos em volta da cintura dela e a iço. Ela se senta meio desengonçada na traseira, encostada na tampa. Lanna rapidamente toma a sua amiguinha de seus braços, e estende a mão para a garota.

– Eu sou Alanna Haddock - sorri, os dentes brancos aparecendo - E estes são Azaleh e Finn, como já deves ter percebido - ela corre os olhos castanhos por mim e por Azzie, e nós sorrimos. Sinto que ela está novamente me estudando antes de reparar que a pele dela contrasta tanto com a nossa que é como se eu e meus irmãos fôssemos MJ branco e ela o original. Estranha comparação, Finn.

– Kailani Pelekai - ela diz, parecendo mais confortável, e eu constato que ela é filha de Lilo. Eu e Azaleh compartilhamos um sorriso, nos lembrando da manhã daquele dia.

Assim que papai arranca, eu paro de ouvir qualquer coisa que elas tenham falado. É minha vez de ir em pé na grade, e eu não desperdiçaria aquilo nem que, sei lá, a Branca de Neve em pessoa estivesse na nossa carroceria. Um ou dois quilômetros depois, como ela havia dito, avisto o jipe. Uma mulher de pele mais morena como a de Kailani estava sentada numa cadeira de praia com um bichinho em seu colo - que eu venho a descobrir ser um alien quando nos aproximamos. Concluo que, por causa dos fios brancos meio excessivos, a mulher não deve ser a mãe de Kailani mas sim Nani, sua tia. Quando estacionamos, ela deixa a criatura cair no chão, e começa a chorar como um bebê. Ela rapidamente a pega novamente e coloca uma chupeta em sua boca. Me impeço de rir.

Vejo meus pais descerem e minha mãe lhe dar um abraço apertado. Papai rapidamente põe as mãos na massa, consertando o pneu; e Alanna já está com a criaturazinha no colo, a ninando. Kailani e Azzie desceram da picape, mas eu me recline contra uma das paredes, de modo a ver todos.

– Então – começa minha irmã, em clara tentativa de quebrar o gelo - soubeste da festa de aniversário que os Montgomery vão dar?

– Sim – sorri, os dentes claros contrastando com a pele escura - Recebi o convite há uns dias. Mas achei estranho já que não conheço um único elemento daquela família.

– Pelo menos sabemos que não somos os únicos – digo, e ela parece surpresa a over que eu prestava atenção no que diziam - A minha mãe é a única que conhece Aurora, e acho que nem se dão muito bem.

– Só espero que não seja como aqueles bailes chatos, tipo o Baile anual de Inverno dos Snow - resmunga Alanna - Os meus ouvidos doem só de pensar que tivemos de ouvir as cantorias da Destiny uma noite inteira.

– Não pode ser assim tão mau – defende Kailani. Provavelmente nunca conheceu Destiny. É a única razão plausível que uma garota teria para defendê-la.

Normalmente, as meninas a odeiam e os meninos a querem. Por ser minoria em casa, eu sofri uma descarada lavagem cerebral e agora não sinto nada em relação a ela. Quer dizer, ela é bonita. Só um cego diria o contrário, mas já me convenci que sorrisos bonitos no Reino Encantado não são necessariamente sinónimos de bom caráter.

– E não é – devolve Azaleh - Lanna só está com dor de cotovelo porque não a deixaram cantar quando ela pediu.

Alanna faz uma cara de indignada e parece estar pronta para contestar, mas é interrompida por mamãe:

– Hora de ir! – Exclama, me assustando um pouco. - Pneu trocado, jantar atrasado!

Mamãe abraça Nani, que parece nunca se fartar de agradecer, e depois Kailani. Desço da picape, e copio seu gesto depois de papai e antes de minhas irmãs.

– Agora a sério, avó Elinor vai matar-me se nos atrasarmos mais que meia hora apara o jantar de domingo - insiste minha mãe, dirigindo-se rapidamente para dentro a picape, desta vez para o lugar do condutor. Rio, imaginando o que passa na cabeça de papai.

– Querida, o que estás...

– Nem comeces! Pareces a Mama Odie a conduzir. Agora é a minha vez! - duh, mãe, ele tem uma perna de metal. É claro que vai dirigir de um jeito que deixa a desejar.

Volto a subir para o veículo, e so seguido por Azaleh e Allana. Antes de me por de pé e segurar na grade, me recosto no vidro e observe o jipe, cada vez mais longe. Podíamos ter seguido caminhos diferentes por agora - bom, literalmente, já que ela se virava para a esquerda e nós para a direita - mas eu tinha a impressão que em breve voltaríamos a ver Kailani. Muito em breve.