After Ever After-Interativa
Chapter IX-Sobre Pizzas e Dragões
Quando Mei acordou, naquela manhã, eu já estava praticando arco-e-flecha fazia algum tempo. Mamãe e papai haviam saído para resolver algo na rua, e eu e minha irmã estaríamos sozinhos até a hora do almoço - agora não tão distante. Preguiçosa e de pijama, ela veio ter comigo ao jardim e se encostou em meu ombro.
– Bom dia, Lin - eu disse, abaixando o instrumento.
– Bom dia, Shun - ela devolveu, sonolenta - Eu dormi muito?
– São dez horas. Diga-me você.
– Ah, é o normal. E estamos na última semana de férias, me deixa ser feliz. - Eu deixo - digo, e mexo o ombro de leve
– Mas dá pra desencostar do ombro? Eu estou a tentar praticar.
– Claro - minha irmã respondeu, fazendo o que eu lhe indicara - Vou tomar café, e então venho cá lhe mostrar como realmente se atira.
– Sempre me surpreendo com sua modéstia - rio, enquanto minha irmã entra.
Atiro pelo que me parecem quinze minutos, e quando paro já não há flechas na aljava. Passo pelos alvos, recolhendo-as e colocando-as no recipiente feito à mão por mim. Quando acabo, coloco o arco e a aljava cheia dentro de casa pela janela de meu quarto, e busco a casa na procura por Mei Lin. Encontro-a na sala de TV, assistindo algo em nosso laptop. Sento-me ao seu lado.
– O que vê? - pergunto.
– O vídeo novo de Alanna e Uriah - ela responde, simplesmente. Alanna e Uri eram dois conhecidos nossos que viviam grudados um no outro, e tinham esse canal no Youtube. Eu e Mei, como várias outras pessoas mundo afora, seguíamos o canal - Dessa vez, fizeram Lucky, da Colbie Caillat com o Jason Mraz.
– Bem pra eles, né?
– Uhum. Mas nem pensa em dizer isso pra Alanna - ela brincou, e nós rimos juntos - Onde estão mamãe e papai?
– Na rua, resolvendo alguma coisa. Mamãe disse que iria na academia de Kung Fu para ver algo sobre o campeonato, mas papai não falou nada. Mas disseram que estariam aqui para o almoço.
– Certo. A casa é nossa até lá?
– É, eu acho.
– Ótimo. Poderíamos- Minha irmã foi interrompida por uma mini-bomba de fumaça vermelha que explodiu à nossa frente, fechando o computador.
– Pense duas vezes antes de falar, Lin - o pequeno dragão saído da fumaça disse - Seus pais estão fora, mas me deixaram aqui para vigiar os dois.
– Ah, Mushu, é você - eu digo.
– Assustei vocês?
– Não, claro que não - Mei ironiza - Porque a cada cinco minutos uma bomba de fumaça vermelha explode do nada à nossa frente.
Mushu põe língua.
– Espero pelo dia em que descobrirei porque teus pais lhe nomearam Jade, Mei Lin, já que és tão delicada como uma pedra! - ele se exaspera - Preferiria falar com alguém mais civilizado, por hora. Syaoran?
Olho para Mei, que faz uma cara travessa para mim. Sorrio para ela, e nós dois olhamos para Mushu novamente.
– Syaoran?
– Estávamos pensando em jogar baseball, Mushu. O que acha, ó grande e poderoso protetor dos Li? - eu respondo, com uma falsa adoração.
– Pra começar, garoto, eu protejo os Fa. Os Li, como você - ele me aponta - e você - aponta Mei - são adendos desde que sua mãe uniu os templos.
– Foco, Mushu. Podemos jogar baseball?
– Acho que sim, mas se se machucarem direi que fizeram sem permissão.
– Não nos machucaremos - Mei garante - Quer jogar conosco?
Ele sorri sombriamente.
–Vou acabar com vocês.
***
– Como assim vocês usaram Mushu de bola? - minha mãe nos pergunta quando Mushu acaba de falar, parecendo duvidosa.
– Hilário! Como nunca pensei nisso? – meu pai pergunta retoricamente, achando demasiada graça ao assunto para desgosto da minha mãe.
– Shang, você não está ajudando.
– Ah, Mulan, dê uma folga. Os gemêos só estavam a fazer graça.
Faço a melhor cara de inocente que tenho, assim como Mei, quando minha mãe nos olha para decidir se temos culpa ou não. Ela parece comprar, e eu suspiro internamente.
– Mas é bom que não se repita – meu pai tentando soar sério, enquanto eu e Mei fazemos um hi-5 escondido – E peçam desculpas ao Mushu.
– Shèmiǎn, Mushu - eu e Mei nos desculpamos, em coro, e o dragão sai marchando e resmungando. Minha mãe suspira, esfregando as têmporas, mas senta-se ao meu lado no sofá já de volta ao seu bom humor.
– Estarei no quintal se precisarem de mim – meu pai diz, saindo da sala. Assim que a porta se fecha, nós três desatamos a rir.
– Crianças, isso foi genial - mamãe admite -Como conseguiram fazer dele uma esfera?
– Enrolando - Mei dá de ombros.
– Como se ele fosse um fio - eu completo.
– E como ele reagiu quando viu o que fariam?
– Ele tentou amaldiçoar nossa família novamente, mas eu já estava o lançando para Mei - confessei, e rimos mais um pouco.
– Bom, parabéns aos dois - ela diz, colocando sua bolsa no sofá - E, aliás, o campeonato de Kung Fu começa duas semanas após as aulas. Vão participar?
– Temos escolha?
– Não- ela admite, ligando a TV - Vocês são perto de os melhores lutadores que temos. Precisamos que-
– SAKURA CARDS CAPTORS! - Mei grita do nada, arrancando o controle da mão de minha mãe e voltando dois canais.
– Au...- eu digo, esfregando os ouvidos.
– Mei Lin, sem escândalo - minha mãe a repreende.
– Já conversamos sobre isso - meu pai grita lá de fora.
– Mas, gente, esse anime é ótimo - ela reclama - Uns personagens principais até tem o mesmo nome que eu e o Sy.
– Você e Syaoran ganharam um laptop justamente para assistir esses animes ótimos - minha mãe devolve, tentando arrancar o controle da mão de Mei -Eu quase não paro em casa, Mei. Me deixa usar a TV.
– Mas, mãe! - ela diz, se escondendo atrás de mim enquanto minha mãe tenta alcançá-la com ambas as mãos - Esse é o episódio em que o Syaoran conta pra Sakura que ele tá apaixonado por ela!
– Syaoran? - ela me mira por um segundo.
– É o par romântico da principal - eu explico.
– Vocês realmente não ouvem nada do que eu falo? - Mei pergunta, meio indignada.
– Mais ou menos - minha mãe admite, finalmente pegando o controle e mudando de canal.
– Mãe! - eu rio.
– Estou brincando, Mei, é claro que te ouvimos - Mulan sorri para minha irmã - Mas, durante o sono, o cérebro humano descarta as informações que seu corpo não precisa, Mei Lin. Como esta.
– Mãe, me deixa assistir! – implora minha irmã mais uma vez.
– Não, Mei Lin. Basta de televisão para vocês dois por hora.
– Wow, wow, wow, calma lá. Onde foi que eu entrei na história?- pergunto, mas ela me ignora.
– A demais, já passa da hora de se arrumarem para que possamos ir almoçar na casa dos Ali.
– Nahan vai estar lá? - eu e Mei perguntamos em coro, já mais animados.
– É a casa dele. É bem provável - minha mãe faz uma careta de: ‘‘Óbvio!’’ - Assim como Azaleh, Finn e Alanna.
– Então é um banquete, não um almoço - Mei diz, na expectativa de ter dito algo muito engraçado.
– Mei, só põe uma roupa - eu rio, a empurrando até o seu quarto sob mais piadinhas ruins.
***
Quando Jasmine anuncia que o almoço vai ser servido, Nahan puxa eu, minha irmã e os três Haddock para a sala de estar; onde duas pizzas tamanho familiar nos esperam em cima da pequena mesa de madeira no centro. Ele diz que vai pegar um pouco de taboulleh e pão sírio para si, mas que deveríamos nos servir de pizza, e Azaleh pega a faca para partir a primeira.
– Então, Mei e Shun - Finn puxa conversa, enquanto a irmã lhe estende um pedaço de calabresa - Onde passaram as férias?
– Em casa, na maior parte do tempo - dou de ombros, cruzando as pernas.
– Mas passamos uma semana com nossos avós na China - Mei completa -Calabresa, por favor. – pede a Azaleh - Eles nunca se mudaram de lá, e nossos pais morrem se passarem mais de seis meses sem visitá-los.
– Eu prefiro mozarela, obrigado - digo, recusando o pedaço que a morena me estende - E vocês?
– Nada demais - Alanna, a mais nova, disse depois de engolir um pedaço de sua fatia - Visitamos Berk de novo, já que a vovó Valka insiste em não se mudar pra cá.
– Berk é nada demais? - Mei pergunta, num tom exasperado - Ouvi dizer que as pessoas montam dragões regularmente por lá. Nós só temos o Mushu, e esmagamos ele se tentarmos montar.
– É bem verdade - Azaleh confirma - Mas como não moramos lá como os outros, não temos dragões totalmente nossos.
– Pois é. Daí usamos os da vovó - Finn adiciona - Eu gosto do Vendaval. Ele é o que chamamos de Typhoonmerang, então pode voar em rotação e criar tornados e tufões.
– Bem maneiro - admito - E vocês duas?
– O meu favorito é o Pouso Leve, um Deadly Nadder. Eles são um pouco menores e bastante espinhentos, mas voam bastante rápido - Azaleh diz, gesticulando enquanto fala.
– Eu sou mais radical - Lanna fala com um sorriso convencido mas brincalhão, e acaba de engolir sob um 'Alanna, modos', de seu irmão - Meu preferido é o Pulo Azul, um Stormcutter imenso. Todos os Stormcutters tem quatro asas em vez de só duas, e giram a cabeça como corujas. E são muito inteligentes.
– A Lanna se sente uma deles por causa da curiosidade - Finn brincou.
– Ei! Eu tô bem do seu lado, esperto!
– É verdade - a mais velha confirmou - Lanna sempre fica fuçando tudo em Berk, e o Pulo Azul tá sempre na cola dela.
– Não é bem assim! - a ruiva protestou, sob risadas nossas e de seus irmãos.
– Realmente, é pior! - Soluço gritou da sala de jantar, e nós rimos ainda mais alto. Lanna protestava e gritava conosco tentando desmentir os irmãos, mas nós só ríamos mais e mais até Nahan chegar.
– O que está havendo? - o árabe perguntou, tirando legumes triturados de uma tigela.
– Os Haddock - Mei disse, tentando parar de rir – Eles estavam nos contando sobre dragões.
– Eu só conheço o Toothless mesmo - Nahan devolveu, se sentando.
–Todo mundo conhece o Toothless – Finn franze as sobrancelhas.
– E todo mundo ama o Toothless - Azaleh completa - Aquele dragão é uma relíquia. E muito divertido.
– Vocês já moraram em Berk? - Mei pergunta, do nada.
– Não - Alanna responde, na lata - Nascemos na casa que moramos agora, nunca nos mudamos de verdade.
– Então, sempre estudaram por aqui? - continuo a perguntar.
– Não exatamente - Finn diz, limpando as mãos - Eu estudei no internato de Merlin por um ano, e minhas irmãs estudaram por um semestre no das filhas de Tritão.
– Tritão? Ouvi dizer que é um lugar horrível - Nahan comenta.
– E se é. Aquelas mulheres não param um segundo, sempre nos dando tarefas - Alanna diz, visivelmente exagerando.
– Foi tudo por insistência da Vó Elinor. Ela queria que fôssemos damas. – Explica Azaleh, revirando os olhos à última frase.
– No caso de Lanna, como vocês vêm, o tiro saiu pela culatra - Finn joga como quem não quer nada, e nós rimos novamente. Alanna nos ignora.
– Eu passei este último ano em Ever After, fomos da mesma classe de História Mágica e Geografia - ela apontou sua pizza para mim e Mei, ao que eu concordei - Azzie e Finn estudaram na escola de nosso tio Perna de Peixe.
– Eu diria que todos que não são Ever After ou internatos são desconhecidos pela maioria do pessoal, inclusive eu e minha irmã - comento - A franquia é muito grande.
– E eles vão abrir o Ensino Médio agora - Nahan acaricia um papagaio em seu ombro, Said.
– Suponho que também vão se mudar? - Finn pergunta.
– Pode apostar. Shun conseguiu uma bolsa de estudos, nerd como é - Mei devolve, e me dá um tapinha na cabeça -, e conseguiram um desconto de segundo filho para mim.
Azaleh ri.
– Os descontos são a única parte boa de ter família grande - comenta a mais velha dos Haddock, plantando a intriga.
– Nem me fala - eu jogo lenha - Não sei nem como aguentei dividir o útero com a Mei Lin, que direi dos últimos catorze anos.
– Eu sei como se sente, Shun - Finn sorri - Me pergunto toda manhã como a casa continua em pé com Alanna dentro dela por quinze anos.
– Ai. Meu. Thor.- Alanna fecha os olhos e respira fundo, vermelha como seu cabelo - Hoje é o Dia-Do-Bullying-Com-A-Lanna e eu me esqueci, Finnie?
– Talvez - ele deu de ombros, e ela xingou mais um pouco.
Ri. Seria bom ter Alanna em minha sala - pelo menos, quando tudo estivesse tedioso, eu teria alguém para encher.
– Mas falando da festa do momento – começa Nahan. Parece que essa é realmente a pauta do momento. – Vocês vão ao aniversário do Montgomery?
Há uma concordância geral e Finn diz:
– Não que esteja com muita vontade. Se for igual ao Baile de Inverno, duvido que aguente mais de trinta minutos.
– Duvido – diz Azaleh trincando a pizza e continuando de seguida – o Rick é fixe, não me parece que vá permitir que todos os convidados apanhem uma seca desgraçada. Ou pelo menos eu espero que não.
– De qualquer modo, o Uri vai estar lá, por duvido muito que vá ser tempo mal gasto – diz Alanna.
– Ui, já cá faltava o Uri! –diz Finn imitando horrivelmente a voz da irmã ruiva.
– Eu não falo assim seu idiota – resmunga baixinho, e ficando vermelha de vergonha.
A tarde continuou entre xingamentos e fatias de pizza voadoras, e eu não estaria a mentir se dissesse que fiquei aliviado.
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