Dois dias haviam se passado, e a perícia não conseguia descobrir absolutamente nada sobre a explosão, a causa dela e como N havia sido levado embora. Isso deixava todos nervosos, querendo fazer algo. Lógico que o Manager proibiu os cinco integrantes de tentarem ir atrás sozinhos ou se envolverem com algo perigoso.

—Eu sei que fomos proibidos, mas... Não acho justo. Se eu tivesse sido levado, N-hyung não iria parar até me achar.

Todos concordaram com Hyuk. Ele faria aquilo, por cada um deles. Então deveriam fazer o mesmo.

—Certo, mas por onde começaríamos? Não temos pista alguma de onde ele possa estar ou quem o levou…

HongBin mal terminou de falar isso, Leo se levantou e pegou a carta esquecida, colocando a na frente de todos.

—Eu acho... Que isso é um motivo. - Apontou para a carta.

—O que você quer dizer com isso? Não era apenas uma brincadeira? - Ravi encarou o mais velho.

—Não, espera, mas faz sentido. Afinal, por mais que pareça uma brincadeira, é uma ameaça... E o que aconteceu aqui está longe de ser uma brincadeira. - Ken intervém, juntando as peças.

HongBin e Ravi engoliram em seco. Então era uma carta de ameaça de verdade.

—Certo, vamos pensar. A pessoa assinou com o título de uma das nossas músicas. O que a letra diz que poderíamos tirar proveito? - Hyuk se adiantou, cantarolando o ritmo de After Dark.

—A letra não diz nada. Fala sobre uma pessoa triste que está sozinha e sobre escuro, lua cheia. Nada disso faz sentido. - Ravi cruzou os braços.

Mesmo assim, Hyuk ficou cantando a música para si mesmo, enquanto os outros encaravam o teto, frustrados que mesmo com toda vontade de ir ajudar N, não tinham nenhuma pista. E então, HongBin pareceu se lembrar de algo, indo até seu quarto e pegando a caixa de presentes das fãs.

Jogou todas as cartas na mesa, olhando uma por uma até achar duas que tinham letras parecidas com a de ameaça.

—Eu recebi essa no ano passado, e essa uma das vezes que ganhamos com Love Equation.

Eles começaram a analisar tanto o conteúdo quanto a letra. Apenas a de Love Equation era quase idêntica a carta de ameaça. O fato de isso aproximar o suspeito de uma fã fez eles se sentirem ainda pior. Com isso, os outros integrantes pegaram suas cartas também, para ver se achavam mais pistas.

E no total, havia quatro cartas com a mesma letra. Uma delas, assinada com um A.D no final, fazendo-os pensar na assinatura de After Dark.

—Das quatro cartas, três são de quando ganhamos alguma apresentação. Essa outra eu não consegui identificar a ocasião. - Ken desistiu de tentar lembrar, passando para Ravi.

Ravi pegou a carta, desinteressado. Aquilo já estava muito além de uma brincadeira ou pegadinha de mau gosto. Ele só queria que N voltasse, rindo do desespero deles e revelando algo como uma piada de algum programa de variedade. Qualquer coisa que tirassem eles daquela situação.

Porém, foi só olhar com um pouco de interesse para a carta, que se lembrou imediatamente dela.

—Hey, eu me lembro desta! Foi daquele fansign que fizemos, ahn... acho que faz dois anos. É naquela cidade que tem uma floresta na fronteira!

Aos poucos os integrantes lembravam-se do dia e da cidade, discutindo tudo que haviam conseguido até agora. As chances de N estar na cidade não eram as mais altas, mas era a única coisa que eles tinham naquele momento. Começaram a formular um plano de resgate, ao mesmo tempo em que pensavam em uma mentira para que o Manager não suspeitasse deles.

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Os cinco integrantes fingiram uma situação onde, o desespero por não ter notícia de Hakyeon e não poder ajudar, era tão grande, que decidiram acampar. Precisavam olhar para o céu à noite, respirar um ar diferente, e tentar pensar em coisas positivas. O manager até pensou em suspeitar daquilo tão de repente, mas que mal havia deixá-los acampar um pouco?

Mesmo hesitante, liberou os meninos, que com suas malas e colchões de acampamento foram até o local de ‘acampar’ combinado com o Manager, de carro com um staff.

Foi apenas o tempo de se despedirem e o staff se distanciar, eles rapidamente caminharam para a estação mais próxima e compraram suas passagens para a cidade. Esperavam que estivessem certo, e pudessem encontrar N e tudo voltasse ao normal.

Demoraram três horas de viagem, mais uma hora comprando comida e água na loja de conveniência e então chegando à entrada da floresta. Acamparam logo no começo, onde ainda dava para ver prédios e a estrada. Hongbin havia feito uma pesquisa, e uma lua cheia e brilhante sempre iluminava aquela floresta, fazendo com que a referência a After Dark os levasse até ela como o ‘cativeiro’ de Hakyeon. Iriam descansar por aquela noite e começar a explorar no dia seguinte.

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N não aguentava mais tossir. Quando achava que o efeito da fumaça iria passar, o local era tão frio e úmido, que podia apostar que estava até mesmo ficando com febre. Respirar não era a tarefa mais fácil do mundo, e teve que aprender naqueles três dias de cativeiro a administrar o que recebia.

Apenas duas vezes por dia - pelo o que poderia considerar, sem noção de tempo ou claridade do lado de fora - recebia água e arroz. Aprendeu que não podia tomar a água toda de uma vez, mesmo que a sede estivesse alta, para que conseguisse se hidratar até a próxima entrega. O arroz já estava ficando indigesto, e seu estômago parecia corroer, implorando por uma alimentação decente.

Ao que parecia, a pessoa por trás de tudo não queria que ele tivesse energias para pensar ou fugir com algum descuido. Porém, ele mal esperava que mesmo passando necessidades, N já havia estudado cada centímetro daquele quarto, e até mesmo conseguido empilhar os poucos objetos e móveis ali para alcançar a janela. Sabia muito bem que estava próximo a uma floresta.

Não é como se em um momento de desespero seu corpo não ativasse adrenalina, mesmo estando mal tratado, e não conseguisse fugir. O ranger da porta, já familiar, se fez presente e mais uma vez a bandeja de água e arroz. Sentiu um nó na garganta ao ver o pote de comida. Talvez naquele momento ele pudesse se privar um pouco dela, enjoado.

E estranhou que a pessoa ainda estava presente mesmo depois de deixar o objeto. Ergueu o rosto, mesmo sabendo que era inútil procurar reconhecer a pessoa. Ela usava uma roupa preta que cobria todo seu corpo, e uma máscara para esconder o rosto.

—Já entendeu o que esta acontecendo, Cha Hakyeon?

N franziu o cenho. Nunca ouviu a voz da pessoa, e agora ela fazia uma pergunta dessa?

—Se você quer que eu comece a entender, mais fácil começar a dar umas pistas hun? - Deu um sorriso cínico.

—Pare de fingir que não se lembra de mim! - Alterou a voz, mas ainda era difícil para N decifrar se era mulher ou homem.

—Talvez eu até lembre, mas você me dá tão pouca água e comida, que meu cérebro não está funcionando. - Podia ganhar duas coisas com suas alfinetadas ácidas e cínicas. Um chute e ficar um dia inteiro privado de qualquer coisa, ou talvez a pessoa se apiedasse e lhe desse mais água. Só isso que queria.

Só escutou a porta fechar com tanta força apesar de enferrujada, que quase concluiu que era um homem para tanta força. Ela foi aberta novamente, uma jarra de água sendo deixada. E antes que pudesse agradecer ou ele se retirar novamente, um alarme tocou. Viu a pessoa procurar algo com a porta ainda aberta, e soltar um grunhido por trás da máscara.

—Parece que seus amigos descobriram onde estamos Hakyeon. Mas vamos ver quanto tempo eles aguentam.

—Espera! - A porta mais uma vez se fechava. N agarrou-se a ela, tentando chamar a atenção novamente. -NÃO OS ENVOLVA! PARE AGORA! NÃO ELES!

Passou os dedos em sua franja, se perguntando se suava pela febre, ou pelo desespero em saber que seus dongsaengs iriam virar alvo daquele psicopata.

—Droga!