12-Setembro-2000

O dia estava nublado, normal. A família Tuan, estava se mudando, pela milionésima vez, pelo menos, pelas contas de Mark. Se não fosse pelo trabalho dos pais, poderiam continuar morando em sua casa na América, mas não, os dois jornalistas aceitaram um emprego, do outro lado do mundo, na Coréia. Apesar de saber de sua descendência asiática, nunca pensou ou considerou realmente morar lá, onde seus avós nasceram. E se sofresse bullying por ser estrangeiro? E se rissem do seu sotaque? E se...? Eram as únicas duas palavras que faziam parte do vocabulário do pequeno, que possuía apenas sete anos nessa época.

Desde os três anos de idade, os pais Tuan, “rodaram” os Estados Unidos, chegando a morar em três estados por ano, o que fazia o mais novo, ter aulas particulares, sempre. Agora estava nervoso, pois seria a primeira escola, de verdade, que iria frequentar.

Ao chegarem na casa, Mark se assustou com o tamanho, na verdade, se assustou com o fato de ser realmente uma casa, não um apartamento apertado, lotado de caixas que sua mãe nunca desfazia. Por ser filho único, e estar acostumado a ficar sozinho, o mais novo realmente não se importava com o tamanho da casa, por que sabia, que ficaria sozinho.

Faziam oito dias desde seu aniversário de sete anos, ganhou um videogame novo e uma bicicleta, junto com a notícia de que estavam se mudando. Muitas crianças, brigariam com os pais, por não serem inclusas em decisões tão importantes, mas, como Mark não possuía amigos, tudo ficou mais fácil.

—Querido, venha pegar algumas caixas! –A mãe Tuan gritou para o pequeno, que estava parado no caminho que levava até a porta, no meio do pequeno gramado.

Moravam em New York, em um pequeno apartamento no centro, e só havia visto casas iguais aquelas no subúrbio, em outras palavras, em New Jersey. A construção em si, era um pouco estranha. Não era como casas americanas, feitas de madeira e dry wall, e sim, feita com cimento e bambu, o que foi algo totalmente inovador para uma criança de sete anos, que não fazia a mínima ideia de como sua casa estava em pé.

O pequenino foi até o carro, pegando uma caixa com a denominação “cozinha”, logo a deixando na varanda. Estava com medo de entrar na casa nova, na verdade, estava com medo de não gostar da casa nova, não que isso fosse mudar algo, já que, aquele seria seu lar, até que seus pais tivessem que se mudar novamente. A casa, por dentro, era tão encantadora quanto por fora. Ao ir para a cozinha, feita praticamente de aço inox, o pequeno Mark ficou encantado, sempre gostara de cozinhar, apesar de ser jovem, a maioria de suas babás sempre lhe ensinaram, desde que era bem criança. Depois de deixar a caixa em um lugar qualquer, e voltou para o lado de fora, a procura de mais alguma forma de poder ajudar seus pais, que seria, ajudando com as caixas.

Quando parou do lado de sua mãe, querendo pegar uma embalagem que estava no porta-malas do carro, olhou para o jardim vizinho, onde estava um menino, com mais ou menos a idade de Mark, olhando curiosamente para todo o movimento que estava acontecendo na casa ao lado.

O garotinho, que na verdade, era dois anos mais velho que Mark, estava curioso quanto ao novo menino que estava ali, estava acostumado a ser o único menino de nove anos na rua, também estava acostumado a ficar brincando sozinho, mas quando descobriu que havia outro garoto na rua, a felicidade era evidente em seu olhar.

A família Wang, morava naquele pequeno subúrbio, desde quando o senhor Wang, decidiu se aposentar da vida de atleta e se dedicar totalmente para sua família. O pequeno Jackson Wang, filho caçula e único menino entres quatro filhos, tinha nove anos, cabelo lisos e escuros, um rosto simétrico e uma expressão sapeca que, quase sempre, estava estampada em seu rostinho, que só dava lugar a paz, quando ia dormir.

—Omma, quando nós iremos falar com os vizinhos novos? -O menininho olhava ansioso para o jardim ao lado, focando no outro garotinho, que se esforçava para carregar uma caixa, por pouco, quase maior que ele mesmo.

—Jackie, deixe eles terminarem com as coisas deles, mais tarde nós iremos lá, sim? -A senhora Wang sorriu para seu caçula, causando uma careta no pequeno, que estava mais que com vontade de ir lá, conversar com o menino novo.

Depois de pelo menos quatro horas, a família Tuan, finalmente, conseguiu colocar todas as caixas, móveis e tralhas para dentro da casa nova. Quando foram se tocar, já passava das nove horas da noite, ou seja, muito tarde para fazer qualquer tipo de comida. A senhora Tuan, se sentou no sofá, recém montado, olhando todas as pilhas ao redor da imensa sala, suspirando apenas em pensar em desfazer todas aquelas caixas, sabendo que, em menos de seis meses, tudo aquilo iria acontecer novamente.

Quando pensou em gritar Mark para comerem qualquer besteira, enquanto esperavam o senhor Tuan voltar da empresa, cuja fora chamado para ver uma pesquisa que iria ao ar no dia seguinte, a campainha tocou.

—Sim? -A jornalista abriu a porta, se deparando com uma mulher loura, usando um belíssimo vestido e um menininho, que parecia que iria explodir a qualquer momento.

—Olá! Nós somos os Wang, moramos aqui do seu lado. -Um sorriso perfeito e totalmente branco veio da mãe Wang, que estava segurado uma travessa de comida, que cheirava muito bem. -Eu e Jackson, viemos lhes trazer algo para comer, já que, acabaram de se mudar, certo?

—Oh, muita gentileza de sua parte. -A senhora Tuan pegou a travessa da outra mulher. -Gostariam de entrar? Podemos tomar um café. -Lhe abriu um espaço, suficiente para os dois passarem, e a porta ser fechada.

As duas mulheres se dirigiram até a cozinha, com a casa sendo elogiada. O pequeno Mark, que estava sentado tentando montar seu PS1, quando Jackson passou pela sala, o procurando. Ao avista-lo, o pequeno Wang ficou extasiado, o rosto contorcido tentando entender o manual enquanto mordia seu lábio inferior, o vizinho novo realmente era muito bonito.

—Oi! -Mark levou um susto, pulando do sofá. O menino que havia visto mais cedo estava em sua casa.

—Oi... –Sua voz saiu baixa, como sempre.

Pelo fato de ser filho único, o pequeno Tuan não era muito chegado a falar, sempre ficou muito quieto em casa, ou cozinhando com música ou jogando videogames. Já, o pequeno Wang, estava acostumado a sempre estar falando alguma coisa com uma de suas irmãs, já que era o único menino, sempre fora muito paparicado.

—O que está fazendo? -O mais velho se sentiu ao lado do outro garotinho no sofá.

—Tentando montar... -Apontou para as peças em cima de uma mesinha de vidro.

—Ah! Precisa de ajuda? É bem fácil montar! -Jackson sorriu, o que deixava seus olhos parecendo dois risquinhos.

Antes que o americano pudesse responder, as mãos do outro já estavam nas pecinhas, logo as encaixando. Como havia dito, realmente era fácil, mas, a mudança de horários e toda a ação que tiveram durante o dia, “derreteram” o cérebro de Mark. Quando terminou de montar, o mais novo estava olhando chocado, estava ali fazia pelo menos uma hora enquanto o outro terminou em cinco minutos. Se levantou e foi até a televisão, encaixando alguns fios na mesma e no console, o deixando em cima no chão, ao lado dá TV. Procurou uma tomada para ligar os aparelhos, logo descobrindo que não havia nenhuma.

—Ahn... Não vai ficar aqui... -Mark disse timidamente, o vizinho não havia se apresentado, ou seja, não sabia como avisa-lo que o console iria ficar em outro lugar.

—Ah! -O menino estava totalmente constrangido, havia feito tudo sem consultar nada ao... Lembrou que não havia perguntando o nome do novo vizinho. -Esqueci de me apresentar! -Coçou a nuca. -Jackson Wang.

—Mark Tuan... -O mais novo levantou seu olhar para o outro, vendo um sorriso bobo.

Em apenas alguns meses, viraram melhor amigos, o pequeno Mark, já havia se acostumado com a matraca de Jackson, e outro já havia se acostumado com o jeito quieto.

2001

No ano seguinte, na festa de aniversário de Jackson, Mark havia sido a primeira pessoa a ser convidada, já que, eram melhor amigos, e não poderia faltar. Na sua festa de 10 anos, o Wang Puppy, apelido dado por Mark, pediu para o amigo nunca ir embora, promessa de dedinho. Quando chegou o aniversário de Mark, Jackson foi a primeira pessoa que ele chamou, como haviam feito uma promessa na do Wang, queriam concretiza-la.

Depois que todos os convidados foram embora, Mark e Jackson subiram para o quarto do mais novo, se escondendo dentro de uma cabana, que haviam montado juntos.

—Jackie... -Mark foi até sua gaveta, tirando uma caixinha com um grande laço. Logo voltou para dentro dá cabana, sentando na frente do amigo.

Entregou o presente para ele, esperando que fosse aberto, louco para ver a expressão do mesmo. Ao abrir, o Wang ficou extremamente surpreso, sabia que o Tuan não costumava usar nada de adorno em si, mas, lá dentro, haviam duas correntes, uma com a inicial “M” e a outra com um “J”.

—A com “J” é minha... –Ele pegou a respectiva corrente, ficando de costas para que Jackson pudesse colocar em seu pescoço.

O mais velho fez o mesmo, ao coloca-la, segurou entre dois dedos, sentindo a letra, sorriu para o melhor amigo e o abraçou. Depois de ficarem algumas horas conversando sobre qualquer coisa que lhes aparecia na mente, finalmente, decidiram ir dormir. Como não haviam determinado que Jackson iria dormir lá, a senhora Tuan não havia pego uma cama a mais, ou seja, os dois dormiram juntos. O pensamento de ambos era tão puro, que dormiram abraçados, se sentindo em casa, nos braços um do outro.

2002

Quando Mark, finalmente, já havia se acostumado a ir a escola e também, aceitado o fato de Jackson não ser dá mesma sala que ele, as pessoas começaram a “zoar” o estrangeiro. Quando o melhor amigo soube disso, começou a ser mais protetor ainda dentro dá escola, não deixando Mark sozinho, apenas quando estavam em aula.

Os garotos que estavam praticando o bullying, estavam apenas esperando o Wang vacilar, pois sabiam que, se fosse tentar fazer qualquer coisa contra ele, iriam se dar muito mal.

Jackson sempre fora o cara popular, desde que havia entrado na escola, era o sonho de toda menina e alguns meninos, não só pela aparência exterior, mas sim, pelo jeito fofo e atencioso. Todos tinham inveja de toda a atenção que Wang dedicava para Mark, já que, ambos sempre estavam juntos.

Um dia, quando o mais velho estava doente e acabou faltando, alguns meninos mais velhos, se juntaram para bater em no americano. Quando chegou em casa, com seu nariz sangrando, se surpreendeu ao encontrar Jackson em seu quarto. Sentou ao lado de amigo e chorou, sentindo as mãos em seu cabelo, no momento, não se importou com o sangue em sua camisa, e sentiu um ódio crescendo dentro do peito.

No dia em que voltou a escola, entrou de mãos dadas com o pequeno Tuan, olhando feio para toda e qualquer pessoa que ousasse entrar em seu caminho. Ainda haviam pequenas marcas no rosto, como pequenas cicatrizes. O mais novo, não queria dizer para o mais velho quem havia lhe agredido, mas como sabia que ele iria lhe vingar, preferiu não dizer.

No intervalo, quando Mark estava indo até a mesa de Jackson, os meninos começaram a rir, perguntando se ele estava querendo um segundo round, nessa hora, Wang entendeu, se levantou e acertou um soco no queixo do garoto, que foi direto para o chão. Apesar de seus onze anos, o menino sabia como bater em alguém, graças as aulas de box que tinha com seu pai.

Acabou sendo suspenso por três dias e ficou de castigo por uma semana. Mark pulou a janela e conseguiu ir para o quarto do amigo, que, ficava no segundo andar. Ao entrar, viu ele jogado na cama, olhando para o teto, quando se deitou ao lado dele. O Tuan, se deitou no peito do amigo, que, colocou os braços ao seu redor.