Adotada Pela Loucura
Capítulo 49- Passado
Não vou te incomodar dessa vez, só vim de passagem mesmo. Eu apenas incomodo as pessoas pra ver elas felizes, porque se sentir triste, eu me sinto todo dia.
[...]
Eu fiquei olhando pelo vidro, enquanto o carro continuava em movimento. Virou um costume fazer isso, tradição. Aquele silêncio eu não sabia se ajudava ou piorava no clima.
" Que família mais quieta!"
" Hum? Helena, você tá acordada?"
" Sim, e quase morta. Você fez a cirurgia e eu quase perdi meu rim junto!"
" Como assim?!"
" Lembra que eu disse que eu sou você só que, um pouco mais adiantada? Então, já perdi."
" Eu estou sem um..."
" Yep. Mas isso não importa agora."
Ela se sentou no banco com uma caixa de suco na mão.
– De...- Sussurrei. Eu coloquei a minha mão na cabeça.- Onde diabos você tirou essa caixa?!
– DAAR, Da minha dimensão genia!
– Fala baixo o Jeff não pode te ouvir!- Eu disse, e quando olhei pra frente, ele estava paralisado, boquiaberto, apenas continuando a dirigir.
– Oi tio Jeff.
– Ai, meu Zalgo.
– Nossa, é assim que você trata uma velha amiga? Brigada, também senti sua falta. Cabeção...
Jeff começou a balançar a cabeça de leve, e olhar pra todos os cantos.
– Tá bem, estou alucinando.
– Nah, sou eu mesmo. Quer suco? - Lena disse erguendo a caixa e eu bati minha cabeça no banco.
" Lena fica quieta, eu resolvo."
" Mi-mi-mi. Tá bem, vou ir dormir."
– É Jeff, você tá alucinando. Ignore essa pessoa atrás do banco e continue. Beleza?
– Nunca mais tomo chá na minha vida...- Ele disse baixo com os olhos arregalados.
– Pode tomar. Só não tome remédios pesados.
– E não use drogas...- Lena disse baixo, com a cara apoiada nas mãos.
– AH!- Jeff gritou.- Tá bem, respira, não tem nada ali... Mentira, tem sim. Eu estou tentando me enganar?!
– Tosco. Já fiz isso, não funciona não Tio Jeff.
– LENA!
– Tá,tá, tô dormindo.
Jeff estava completamente sem ar. Ele não parava de apertar as mãos, e olhar pra trás do banco.
– Jeff... em casa eu te explico. Mas antes, acho melhor você ignorar e tentar relaxar.- Eu disse me encolhendo.
– Tá... posso tentar. Acho.
Ele apenas continuou, e eu fiquei olhando. Faltava bem pouco pra chegar em casa. Continuava igual.
Depois da crise, ele ficou olhando apenas pra um ângulo, fixo.
Bateu a porta com força, e Lena se espreguiçou,coçando a cabeça. Eu peguei minha mochila e vi Jeff cair de cara na grama.
Corri até ele, que estava esticado nela.
– JEFF!
–...- Ele estava respirando normal, e estava grunhindo. Ele apertou os punhos, e colocou perto da cabeça.- MERDA, MERDA,MERDA,MERDA,MERDA,MERDA,MERDA.
–... O que?- Eu disse puxando a mochila para as costas.
– Ele bugou. É saudades demais...- Disse Lena do meu lado.
Ele levantou, mas continuou sentado e olhou pra ela.
– Como você... Eu morri? O que eu fiz? Ah merda, esqueci da promessa!
– Primeiramente, BOA TARDE JEFF! COMO VAI VELHO AMIGO?!- Disse Lena abrindo um sorriso forçado, e o ajudando a levantar. Ela desmanchou ele depois de o ajudar a levantar.- Segundo. Eu vim atrás do que é meu, porque você, babaca, me deixou, pra TRÁS!
Ela o empurrou a cada pausa, e eu fiquei parada.
– O que eu fiz?!
– ESQUECEU DA PROMESSA, DROGA!
– NÃO É CULPA MINHA SE EU ESTAVA QUASE MORRENDO POR CULPA SUA.
– NÃO É MINHA CULPA, SE MEUS PAIS ME FIZERAM ME MUDAR DE CIDADE!- Ela gritou colocando o dedo na cara dele.
– Am... Gente, eu ainda estou aqui.- Disse sorrindo e acenando. Eles me olharam e se arrumaram.
– Desculpe.
– É, não estou acostumado com, - Ele olhou pra Lena.- VISITAS.
Lena começou a imitar ele, e revirou os olhos.
– Eu salvei ela, sabia?!
– Mentira, porque eu perdi meu rim, boa parte da minha consciência, e pior, tenho uma cara bugada que nem a do Jeff, mas tudo bem, vida nova, tô bem.- Eu sussurrei.
– Eu ouvi. Olha o bom, não te matei.
– Você não pode, é só meu subconsciente.
Ela deu um passo a frente e me olhou. Comecei a sentir dor, e minhas pernas ficarem bambas.
– Eu posso, e eu vou fazer isso se você não esfriar a cabeça. Malennie.
– Tá bem, pode parar, já entendi.- Eu disse rouca. Ela voltou ao normal e abriu um sorriso.
– Bom mesmo... Tome cuidado comido de noite... Posso te matar.
– Você podia ter feito isso a anos.- Eu dei de ombros.- Não fez? Nah. Alguém sabe porque? Nope.
– Enfim, Jeff. Depois de você me abandonar, eu vim pra sua dimensão, soube das suas coisas. E vim saber se você, se lembrava de mim.
– Lembro. E como não, lembraria?- Ela retirou um colar com um pingente de coração, daqueles que você guarda foto, do bolso.
Lena abaixou a cabeça e sorriu.
– Que bom que pelo menos, guarda isso.- Ela tirou o colar de seu pescoço e segurou.
Eu fiquei parada, olhando os dois.
– Gente, vocês têm muita treta pra resolver né?
– Pode se dizer.- Lena colocou de volta.- Mas não vim brigar. Vim apenas fazer uma visita pra você. E pra Malennie... ESPERA.
–...
–...
Ela entrou correndo na casa e pulou no sofá. Eu e Jeff nos olhamos e entramos.
– MEU DEUS, VOCÊ AINDA TÁ VIVO, EU SENTI SUA FALTA. CUIDARAM BEM DE VOCÊ?
Ela estava segurando Smile no colo, que estava abanando o rabo sem parar.
– Vocês já se conhecem?- Eu disse.
– Smile é meu cachorro, Herp Derp.
– Que?
– Longa história.- Disse Jeff se sentando no sofá. Olhei pra Jane, sentada no sofá, com a boca meio arqueada.
– Jeff, o que te disse sobre ter mais uma criança?
– Hurgh, essa é Lena. Minha Melhor Amiga.
– Queeeee?!
Lena deixou Smile e ficou encarando Jane. Ela apontou pra ela e olhou pra mim.
– É de estimação?
– Não.- Jane retrucou e se levantou.- Tanto faz, você não pode ficar aqui, é mundana.
– Pfff, quem disse isso?
– Jane, Lena não é mundana.
– Então que porra ela é?!
Jeff colocou a mão no rosto.
– Imaginação. Pode se dizer.
– Assim você me magoa.
– Você me deixou pra baixo quando me deixou.
– Olha, você que não apareceu atrás do espelho!
– PORQUE A POLICIA TAVA ATRÁS DE MIM!- Jeff gritou levantando e colocou e dedo no pescoço dela. Ela o retirou e o abraçou.
– Você pode estar grande, gordo, feio e escroto. Mas é você.
– Também senti sua falta Lena. Tá mas porque você tá com essa idade mesmo?- Jeff disse sentando, do lado dela.
– Bem, basicamente, depois de você esquecer eu atrás do espelho...
– Já te expliquei que eu...
– NÃO ME ATRAPALHA! Então, aí meu mundo basicamente se repartiu do seu. Se você, tivesse me encontrado, e me levado com você, provavelmente a Malennie não existiria, Você não estaria feio pra cacete, e nem o bicho de estimação de vocês existiria.
– Obrigada de novo. Lena.
– De nada Jane.
–...
– Elas nunca se deram bem. Principalmente a Lena, que parcialmente, quase tentou matar ela.
– Ok.. acho que vou ir dormir algo, ou dar uma volta... Não sei.
– Malennie, provavelmente você está se sentindo estranha por eu estar quase roubando seu lugar como filha, mas só estou de passagem. Preciso fazer isso. Por favor.
– Você poderia até ser minha irmã, não me importaria. Sério, você é legal, então tudo bem.
– E se eu fosse o Philip?- Ela disse enrolando uma das mechas de cabelo.
– Ai você tava ferrada. Te matava na hora.
– Medo.- Ela respondeu.- Mas, não quer fazer nada? Tipo... Comer?
– Talvez. Mas quero me movimentar antes. Correr, sabe?
– Ah, tá bem, vem comigo no quintal?- Ela disse se aproximando.
Lena parou na minha frente aproximando o rosto e espremendo os olhos. Eu me afastei.
– Tá bem... O que você tá olhando?
– Seu tapa-olho. Me lembra o que Jeff me deu quando eu o conheci.
Eu me virei pra ele, e ele deu de ombros. Lena fez cara de séria e se virou pra ele.
– Jeffrey.
– TÁ BEM EU ME LEMBRO.- Jeff gritou tapando os ouvidos.
– Por que ele não gosta do nome dele?- Eu sussurrei.
– Coisa de infância.- Ela respondeu e se virou pra mim.- Um dia grite o nome dele, é tipo tortura... É divertido.
Ela sorriu e assoprou a mecha que estava tapando o seu olho.
– Tá... Mas então, o que a gente vai fazer?
– Procurar o meu esconderijo, dar um banho no Smile, e matar o Philip.- Ela disse correndo pro quintal.
– Não sei porque, mas gostei da última opção.- Eu disse. Caminhei até lá, e encontrei Lena chutando as tábuas que separavam as casas.
" O que ela está fazendo?" Smile disse chegando do meu lado.
" Nem eu sei."
Eu me aproximei dela e ela continuava chutando.
– Que droga!- Ela gritou de afastando e chutando com mais força.- Abre. Abre. Abre. ABRE!
– Você não quer... ajuda? Tipo, não só a minha, a de um pé-de- cabra, talvez.
Ela bateu a cabeça na madeira, e eu dei um pulo pra trás.
– Não é assim que as coisas funcionam...- Ela murmurou.
– Então como funcionam?- Eu coloquei minhas mãos no bolso, e vi ela se levantar.
Ela começou a caminhar, e entrou de volta na casa, ela pegou uma faca e sentou na grama.
– Algumas coisas na vida, nem a sabedoria resolve. E sim, a força.- Ela disse cravando a faca no pequeno espaço das tábuas. A tábua acabou caindo, e abriu espaço pro outro quintal. Ela se agachou, e passou no mísero espaço.
Pegou a faca, a limpou, e colocou dentro da blusa. Ela fez um gesto para que eu entrasse, e eu passei.
" Toma cuidado." Smile disse.
" Claro, e... se eu não aparecer, chame Jeff. Eu não conheço essa garota, e eu realmente tenho medo de a conhecer."
Ela caminhou um pouco e retirou uma chave enferrujada do bolso do shorts. Destrancou a porta da casa abandonada, que por acaso fez um barulho horrível.
– Porque vamos entrar em uma casa... Tão velha?
Ela não me respondeu, apenas jogou a chave no chão, e continuou a andar.
– Lena?
Eu continuei a seguir, e ela pegou de uma gaveta, um canivete, fita, uma agulha, e isqueiro. Depois de coletar tudo bateu a gaveta com força, e virou-se pra mim.
– Essa era a casa da minha avó. Bem antes de Jeff se mudar pro outro lado do país.
– Então... sua avó morava aqui? Cadê ela?
– Você não é tão esperta assim. Certo? Minha avó faleceu a anos. Pra ser mais exata, um dia antes de meu aniversário.- Ela disse sem esboçar sentimento algum. Fria.
– Nossa. Tá mas, então... porque estamos aqui?
– Só vim pegar mais lembranças minhas, e as remontar com as de Jeff... E apagar algumas.- Ela disse andando pra fora da casa e eu a segui.
O céu estava se fechando, e ela foi pra parte dos fundos da casa. Ela se agachou e começou a bater na parede da casa. De repente parou, e cravou a faca na madeira, abrindo uma passagem.
– Pode entrar.- Ela disse. O lugar era escuro, abafado, e tinha cheiro de mofo e algo que, me lembrava Jeff.
Comecei a tossir, o lugar era muito ruim pra qualquer pessoa. Senti claridade bater em meus olhos, e olhei pra Lena, que tinha acendido a luz.
– Bem-vinda, a minhas memórias.- Ela disse sorrindo, e quando olhei em volta existiam pessoas mortas.
" Era esse o cheiro que me lembrava Jeff. Carne Podre."
– Tá... Duas perguntas, oque diabos é esse lugar, e porque a dos corpos?
– Gente que eu matei, e... Meu esconderijo. É basicamente o lugar que eu vinha pra torturar pessoas, e as vezes, conversar com Jeff. Ele vinha aqui... Mas tudo mudou de uma hora pra outra. Ele parou de falar comigo, ainda acho que é culpa de Jane. Ela mudou a cabeça dele.
– Preciso fazer mais perguntas.- Suspirei.- Se você é de outra dimensão, como diabos veio pra essa dimensão, e como sua avó veio? Outra, sua avó não suspeitava de nada?
– Ah, que perguntas. Lembra do espelho? Pois é, é pra isso que ele presta. Minha avó eu também não sei, vai ver ela descobriu o espelho antes que eu. Ela não suspeitava porque não entrava aqui. E ainda mais que pra ela eu era a "Neta boazinha, meiga,inofensiva e nada suspeita.".
– Você é uma genia... A polícia nunca descobriu?- Eu disse me aproximando pra tocar em um dos corpos.
– Não toque nisso. Bem, pra fazer isso usava uma máscara e luvas. Além de nunca deixar um rastro meu pra polícia. Hoje em dia os outros não pensam assim. É só matar, ser prezo, fugir, e matar. Que ridículo...
– Você nunca foi presa?- Disse me afastando.
– Nunca. E pretendo nunca ser...
– Alguém te ajuda?
Ela começou a rir.
– Trabalho sozinha, querida. Mas se quiser fazer parte da minha equipe, estou de braços abertos.
– Não, obrigada.- Eu respondi.- Você pode me contar um pouco sobre sua história e a de Jeff?
– Ah, que coisa mais tediosa. Pare de perguntas!
– Se você me responder, posso parar de questionários.- Ela bufou e fez um gesto pra eu me sentar.
– Por onde começar? Me mudei pra pequena cidade onde ele morava a muitos anos, e...
– Mas, você não tem só treze anos?
– Quem disse que tenho "só treze anos"?- Ela respondeu rindo.- Tenho muito mais do que pode imaginar. E acredite, você só está me vendo assim agora, mas se for pra minha dimensão estou bem maior... Mas, voltando. E eu estava sentada na calçada vendo meus pais tirarem todas as coisas do caminhão de mudanças. Até o Jeff chegar revirando os olhos pra mim. Ele me disse que a mãe dele obrigou ele a falar comigo e fazer amizades, e blá-blá-blá. Depois de um tempo já estávamos até que conversando bastante. Tive que convidar ele pra conhecer minha casa, e depois desse dia já estávamos... Colegas. Ele tinha a janela do quarto praticamente colada com a minha, então as vezes ele conversava comigo. Tivemos várias conversas, e passeios, juntos. Fizemos até um juramento. Mas isso, só vou te contar quando estiver com muito saco. Então, depois de muito tempo, soube que iria me mudar. Blá-blá-blá, briga, blá-blá-blá, me mudei, blá-blá-blá, via ele pelo espelho porque tinha mudado de dimensão, blá-blá-blá, fiz a promessa que iria o re-encontrar, mas ele sumiu do mapa. Me distanciei da minha família, peguei jornais, e já sabia onde ele estava. Mas, o babaca, esqueceu o juramento, e me abandonou na outra dimensão. Então basicamente eu "perdi" a mesma idade que ele. Descobri sobre você, e fiquei com tanto ódio dele, que achei Zalgo, e prometi minha lealdade a ele se pudesse o re-encontrar Jeff. E aqui estou. No dia em que Jeff assumir que sente minha falta, vou parar de ser seu Subconsciente, e virar novamente, a amiga dele.
– Tenho mais perguntas...- Disse.- Espera, então esse tempo todo, o amuleto não era nada? Você, é minha força?!
– Não. Minha alma está guardada naquele amuleto, e se você, por acaso ficar sem força, eu vou ficar basicamente presa no amuleto. Em coma, pra ser mais exata.
– Okay... então... quantos anos você têm?
– Sou um ano mais velha que Jeff.- Respondeu.
" Vinte anos e qualquer coisa..." Disse.
– Ah, está bem... Então... porque não força Jeff a admitir?
– Têm que ser verdadeiro, se ele falar obrigado a isso, seria desfeito o contrato.- Ela disse.- Mas isso não importa, preciso de um caderno, uma caixa de música e uma foto minha, dele e de Liu.
– Quem é Liu?
– Irmão dele.- Ela riu.- Que pensam estar morto.
– Ele está vivo? Você não deveria dizer isso?!
– Não, posso usar isso contra ele.
– Eu realmente preciso contar isso pra ele.- Disse.- Seria a mesma coisa que retirassem algo de você, por direito.
Lena colocou a faca no meu pescoço.
– Você não vai estragar meu planos, Malennie. Eu estou tentando te ajudar, e não piorar a situação. Então, colabore.- Ela disse e depois soltou.- Então, será que pode me ajudar?!
– Claro.- Respondi seca.
Comecei a mexer nas prateleiras e Lena revirar as gavetas e tudo.
Todos os livros eram estranhos, quer dizer, pra qualquer pessoa seria.
" Ciência humana, Psicologia, Memórias... Espera, oque?" Eu disse.
Lena virou pra mim.
– Era isso que eu procurava.- Ela se posicionou do meu lado, e pegou o livro. Começou a folhear ele sem parar. Era um espécie de diário. Ela sorriu e fechou o livro.- Esse é meu diário. Quer dizer, o que eu basicamente achava que deveria gravar pra sempre. Dias, semanas, e cada passo que eu dava estão aqui.
– Então... É isso que você vai usar?- Perguntei.
– Basicamente. Jeff se lembra desse caderno. Ele mesmo escrevia nele, também.- Ela suspirou.- De qualquer forma, me ajude a encontrar o resto, ficarei grata.
Eu me virei pra prateleira, e peguei algumas das caixas e ás abri.
Umas aviam brinquedos, de todos os tipos. Armas, bonecos, carros, cordas.
A outra aviam apenas roupas, provavelmente pra doação. E outra vários papéis. Recortes de jornais, fotos, frases escritas a mão e etc. Eu comecei a mexer na terceira caixa e achei várias fotos, amarradas por uma fita vermelha.
– Você tem certeza que quer ver isso?- Lena disse sem olhar pra mim.
– Tenho. O que têm demais?
– Passado. É algo que você não deveria adentrar demais.- Ela respondeu.
– Hum... E esse diário?- Falei guardando as fotos no bolso.
– O que têm?
– Eu posso o ler?
– Você já sabe o que vou responder.- Ela fez uma pausa e me entregou ele.- Mas, se quer tanto. Só pra lembrar, depois o quero de volta.
– Claro.- Respondi e vi ela pegar a caixa de música.- Que bom que já encontrou...
– É. Essa caixa é especial pra mim.
– Por?
– Ganhei de aniversário dele. O meu primeiro presente vindo dele, sinceramente.
– Ele... não era muito amigável certo?- Ela me olhou com um sorriso bobo na cara.
– Ele ERA amigável com todos os que o entendiam.- Ela respondeu.- Mas tudo mudou.
– Tá, tá, já entendi.- Respondi passando a mão no braço. Ela parecia ser bem apegada a ele quando eles eram menores. De repente, uma das fotos caiu do meu bolso.
Era ela, o Jeff, e Liu. Todos fazendo careta, em um grupo.
– Acho que encontrou.- Ela sorriu e pegou a foto.- Bem... obrigada. Vamos voltar?
– Sim.- Respondi saindo do lugar. Ela veio atrás e colocou a madeira de volta.
Chegamos em casa, com Jeff olhando Helena com raiva.
– Onde você levou Malennie?- Ele disse sério.
– Do que importaria, se você, não gosta de realmente entender porque estou aqui?
– Eu sei porque você está aqui, não precisa fazer esse joguinho.
– Não estou fazendo nem um joguinho.- Ela disse se aproximando dele.- Eu apenas estou movendo as minhas peças, pra não perder.
Ela entrou, e vi ela subindo a escada correndo.
– O que vocês fizeram?
– É melhor VOCÊ, saber o que está fazendo com ela.- Eu respondi batendo no ombros dele.
Eu fui me afastando, procurar onde Lena estava, e ouvi Jeff resmungar.
– Mulheres.
– Garotas!- Eu gritei e vi ele mostrar o dedo do meio.- De nada!
Eu entrei no meu quarto e Lena estava tentando abrir a caixa de música. Ouvi o barulho de algo destrancar e ela se jogou no chão.
– FINALMENTE!
–...
–... Oi. Não vi você aí.- Ela disse se levantando e me mostrando a caixa.- Tá vendo isso? Não é bonito?
Quando ela deu corda, a música parecia algo de filmes de terror. Ela fechou ela e colocou em cima da minha cama.
– Como vai convencer, Jeff? Quero dizer... Ele está bem afetado com a usa vinda.
– Simples. Lembranças. Não sei se sabe mas, o ponto fraco dele é, Um, Jeffrey, Dois, Lembranças, e Três, comida.
–... Comida?- Eu disse rindo.
– É. Ele pode ser magrelo, mas come pra caramba.- Ela respondeu e desceu.
– É, se eu estiver em uma briga com ele vou me lembrar disso. Comida.
Eu a segui. Ela desabou no sofá e eu sentei do lado dela.
– Então...- Jane disse.
– Então?- Eu respondi.
– Sei lá, a casa já é quieta e estranha, a Helena apareceu... Fudeu.
– Também te adoro.- Ela respondeu.- Eu só vim ganhar a minha forma normal, minha vida, e um pouco das memórias do Jeff.
– Se depender de mim não vai ganhar.- Jeff respondeu com um copo de água na mão.
Lena arqueou o lábio e ficou parada por um tempo.
– Olha, das coisas mais bizarras que eu já vi na minha vida, mas mais bizarra, vai ser você bebendo água.
– Como assim?
– A boca dele não é cortada?!
– Ah não...- Eu e Jane respondemos em coro.
– Existe outra camada de carne que impede que tudo saia e...
– É MUITA COISA PRA MINHA CABEÇA!- Ela começou a jogar uma almofada nele.
– Vishe.
– LENA!- Ele gritou.
– JEFF!
Ele pegou uma e começou a jogar nela também.
– É suporto da gente sair daqui?- Jane sussurrou pra mim.
– Nah, quero ver essa briga terminando.
Ela chutou ele e começou a bater nele com a almofada.
– Não.Ouse.Tocar.Em.MIM!
– TÁ, JÁ ENTENDI CARAMBA!
Ele empurrou ela, e começou a rir.
– Eu fazia isso toda vez que ia na sua casa.
– É, eu sei.- Ela respondeu.- Tô ficando cansada.
– Do que?
– Tédio. Acho que... vou dar uma volta.
– Vou junto.- Eu me espreguicei e Jeff se levantou.
– Então eu também vou.- Todos nós olhamos pra Jane.
– Bah, tá também vou. Droga.
Ela se levantou e foi pra porta.
Todos nós começamos a caminhar, todo mundo quieto.
– Então... passeio em família?
– A Helena não é dá família.
– Ai meu coração...- (N/a: AI MEU LITTLE RATO!)
– Mentira, ela é da família.- Ele disse e Lena olhou pra ele sorrindo.
– Você é bipolar.
– Não, só estou tentando me acostumar que você voltou, simples.
Ela o abraçou.
– Isso foi fofo... e retardado, gay, escroto e tudo mais.
– Tô acostumado.- Ele respondeu.
Jane olhava pra eles segurando o riso.
– Só observo.- Jane disse serrando os olhos.
– Jane!- Os dois disseram em coro.
– Ah, o que?- Ela disse.
– Me sinto tão por fora quando o assunto são vocês três.
Todos eles olharam pra mim.
– Que gay.
– Que fofo.
– Que...Estranho.
– Não é culpa minha se vocês não me contam as coisas!
– Relaxa... depois a gente te conta.- Jeff disse bagunçando meu cabelo.- Mas enfim, ALGUÉM QUER SORVETE?!
– SORVETE!
– Flocos!- Eu gritei.
– Limão!- Jane.
– Blue Ice!- Lena.
– Chocolate!- Jeff.
A gente ficou andando até achar algum lugar pra parar e comprar. A Lena ficou tentando escalar um muro e Jane e Jeff conversando.
Só espero que ela não estrague a família que eu finalmente consegui, refrescando a memória de Jeff. Espero...
[...]
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