Adotada Pela Loucura

Capítulo 48- Diferente, porém bonito


Hum... oi. Eu não tenho nada pra falar. Pode ficar feliz. Não tenho uma frase geniosa, ou que defina a sua vida. Não sou um prodígio, mas posso te ajudar com frases certas.

( Acho que acabei de fazer uma.)

[...]

Eu acabei pegando em um sono pesado. Acordei com uma xícara na minha cabeça. Eu olhei pra Malennie, e ela estava dormindo, com a cara toda rabiscada, inclusive um bigode.

Me levantei não sentindo direito minhas pernas, tinha ficado muito tempo sentado.

– Ok, se eu acordar da próxima vez, com essa xícara na cabeça, e com a Malennie com um bigode super lindo, eu vou saber que provavelmente tomei algum remédio.

Senti minha cabeça apertar um pouco e a fiquei segurando.

– De qualquer forma, bom dia, Malennie.- Eu disse.- Hum... provavelmente você precisa de soro. Você tá pior que eu em dia de segunda-feira.

Eu me virei e fui mexer na mala dela, acabei pegando o fichário dela. Olhei pra ela de novo desconfiado.

– Acho que você não se importaria de eu ver, certo?- Eu disse ouvindo o silêncio da sala. Suspirei.- Porque eu continuo tentando falar com alguém assim?

O coloquei embaixo do braço e sentei na cama dela. Abri ele com cuidado, e vi várias folhas. Uma das bilhares iguais, me chamou um pouco da atenção.

Tinha letras recortadas de revistas, formando palavras.

" Eu vou esperar você sorrir, pra finalmente ficar no topo do mundo."

" Qual é a diferença de todos, se somos sempre iguais? Opiniões, Cores, formas, jeitos e Culturas, não importam. O que importa é a sua felicidade, o seu topo do mundo."

–... Não sabia que você escrevia coisas tão... Escrotas.

Ela se mexeu na cama.

Peguei mais algumas das folhas, que estavam coladas, formando um livro praticamente.

" 21 de Julho de 2013

Eu finalmente decidi escrever o básico do básico. Provavelmente alguém vai roubar essa página, e querer me matar por escrever coisas tão sinceras, hipócritas e esquisitas. Mas tudo bem...

Bem, eu basicamente não faço nada. Aqui é uma prisão. Não importa o dia, ou instante. Não importa se é seu aniversário, eles não comemoram.

Eles basicamente te odeiam, não falam com você, te olham como se fosse um demônio, como se fosse só uma coisa imprestável na terra. Eu odeio eles por isso. Me dá raiva de escrever.

Por exemplo hoje, eu não queria levantar depois de ontem, quase ser pega saindo do Orfanato " Um pedaço do Inferno", -Como apelidei carinhosamente-, sem permissão. Eles não gostam que você saia, nem pre respirar. " O ar daqui já é o bastante". Saí pra não matar a Stephany. Se eu visse aquela imbecil novamente estaria em risco de provavelmente, ficar trancada no porão.

Mas voltando, eu não queria levantar. Porque é um SACO, você ter que levantar durante dia de SEMANA, e ainda ter que ficar em um refeitório olhando pra cara daquelas meninas, e meninos. E ainda aquela tiazinha com uma cara de batata.

Lá vem, a coisa me acordar.

– MALENNIE CLEMENTIN, LEVANTE-SE!

– Não quero.

– VAI LEVANTAR, OU EU NÃO TE DOU O ALMOÇO!

– Tudo bem, já passei tantas vezes fome nesse orfanato, não vai ser mais uma que irá me matar.

– Ora sua mal agradecida, você terá depois que rezar pra Deus salvar sua alma, ouviu?!

– Se ele realmente existe...- Eu levantei e olhei pra ela, colocando a mão na porta.- Porque ele não me tira desse inferno?

Eu bati a porta e me tranquei. Estou aqui desde cedinho, mais ou menos as 4h da manhã. É, eles nos acordam 4h da manhã, apenas para nos exercitar... EU, NÃO SOU GORDA. Claro, não tenho nem um preconceito, mas se eu me exercitar, acho que paro de existir! Se eu virar pro lado você só vê um risco, que é suposto de ser meu corpo.

Isso não importa, descobri que ainda terei um pouco de tempo, o suficiente, para "rezar", e pedir pra esse Deus, que uma família me tire daqui. Descobri graças a um papel, que uma das voluntárias estava levando pra secretaria e eu, sortuda, peguei e vi quando teríamos a próxima visita de algumas famílias, ou talvez só uma, pra escolher um de nós.

O mais engraçado, é que eles fazem como se fossemos coisas de fábrica, montados, aperfeiçoados, e finalmente embalados pra consumo humano. Eu adoro essas coisas estranhas da vida... É engraçado refletir pelas coisas mais estranhas da vida. (N/a: Lena lispector :v)

Mas então, dia 21 de Agosto, irei ( provavelmente não.), ser adotada. Espero que sim..."

A nota acabava, e as outras estavam com tintas e rabiscos ao em vez de escritas. Várias letras de músicas compostas por ela, mensagens de incentivo, rabiscos.

Uma foto minha e Jane apareceu no fichário.

– Como diabos você pegou essa foto?!

A guardei no bolso e fechei o fichário. O joguei na poltrona e a encarei.

– As vezes realmente parece que você me ouve e quer me responder, mas... Eu sei lá. Eu vou chamar alguma enfermeira, e pegar algo pra eu comer. Já volto.

Eu estava saindo da sala quando ouvi Malennie gemer. Logo seguido de uma tosse seca.

– Ai meu Zalgo... Ela está...

Ela se levantou bruscamente e tossiu mais forte, um pouco de sangue saiu enquanto ela tossia.

– AI MINHA GARGANTA! AH!

Eu corri pra perto dela que apertou os olhos.

– AI MERDA!- Ela gritou e colocou a mão no olho enfaixado.- Oque... Eu, não...

Ela olhou pra mim, e sorriu.

– Malennie?

– Quem é você?- Ela disse abrindo mais o sorriso.

– Você não me engana.- Eu disse chegando perto da cama dela e ela se encolheu.

– Não estou entendendo... Sinceramente, quem é você?

Eu fechei o sorriso.

– Você... realmente não se lembra.

– Bem...- Ela parou e me encarou.- É. Jeff, certo?

– Sim. Seu pai.

– Ah, tá me lembrei, foi mal imbecil. Tá o que diabos aconteceu mesmo?

Eu a abracei e a balancei com força.

– EU ACHEI QUE VOCÊ IRIA FICAR EM COMA!

– Que mentira. Tô vivinha.

– Eu disse em coma, não morta.- A encarei abrindo mais meu sorriso.

– Tanto faz.- Ela pulou da cama, a camisola até os joelhos, o olho enfaixado e descalça.- Mas, e aí, nasceu meu irmão? Mataram o tio Zalgo? E eu, tô feia? Quer dizer, pior do que antes? Dormi por quantos anos? Fiz alguma cirurgia? E...

– Dá pra ficar quieta? Eu também acabei de acordar. E pior, parece que estou de ressaca.

Ela parou e me olhou serrando os olhos.

– Você bebe?

– Não, mas já tive a experiência.

– Ah... MAS ENTÃO, responde todas as minhas perguntas aí, que eu tô com fome.

– Tá.- Respirei fundo.- Seu irmão não nasceu ainda porque não faço a mínima ideia de quando ele vai nascer, Não ligo, Tá a mesma bosta, 3 Dias, Sim.

Ela estava parada na minha frente boquiaberta. Fiquei esperando ela dizer algo.

– Você não vai... falar nada?

– Não, só tô tentando arrotar. Cara, sabe como é ruim ficar três dias sem arrotar?

– Você é nojenta.- Eu disse.

– Eu não tenho uma rolha tapando minha goela.

– Tanto faz, suas roupas estão ali naquele banco de madeira, depois eu chamo uma enfermeira pra te ajudar, e te dar algo pra comer.

– Perfeito.- Ela disse batendo as mãos e indo para o banco.

– Ah, e eu mexi no seu fichário.

– Tudo bem eu...-Ela parou no meio do caminho e virou o seu corpo, de forma dura.- Você OQUE?!

– Não sabia que você escrevia coisas tão...Tão...

– Você pegou algo?

–Am... N-não.

– Jeffrey, Jeffrey.

– Tá, peguei a foto que você ROUBOU.

– Não roubei! Peguei emprestado.

– Super emprestado, nem avisa.

Ela iria falar algo pois levantou o dedo e abriu a boca, mas logo depois se virou e pegou uma muda de roupa. Ela entrou em uma parte que tinha uma cortina e se trocou, ela puxou e estava com calça jeans, All Star, e uma camiseta cinza.

– Tá bom, agora, eu preciso de um espelho.

– Acho melhor antes você lavar seu rosto... Sei lá, só acho.- Eu disse passando a mão na nuca.

– Jeff o que você fez com a minha cara?

– Eu estava DESACORDADO!

– Não estava não, se tiver algo muito escroto na minha cara, eu te bugo pior do que você já é.

– Tá bem, desculpa. Desenhei um bigode na sua cara.

–...

– Foi mal. Malennie?

– Preciso ir no espelho.- Ela abaixou a cabeça e colocou o polegar na boca e o mordiscou. Ela depois sorriu e correu até lá pulando metade das coisas da sala.

Ela abriu a porta e eu corri, pulando a poltrona, desviando de uma prateleira de remédios e outra de livros.

Quando cheguei ela estava parada na frente do espelho tocando na faixa enrolada em seu olho e tocando com um dos dedos, na atadura que tapava seu canto da boca.

– Annie...

Ela começou a passar a mão na parte de trás do cabelo retirando a fita que segurava a faixa, ela foi retirando cuidadosamente. Quando terminou jogou a faixa no chão, o olho ainda fechado.

Tocou nele, que estava acinzentado e meio queimado. Ela o abriu com certa dificuldade.

O olho estava completamente negro, parecido com o de Jane. Ela gritou, e depois tapou a boca.

Ela tirou agressivamente a atadura com as duas mãos, e viu sua boca costurada. Tentou sorrir, e os pontos foram rasgando, e sangrando.

Pegou os dedos e começou a abrir os pontos, cada vez mais, a boca se abrindo.

Uma parte do rosto dela estava normal, olhos castanhos, boca normal. E outra completamente diferente. O sangue pingava na roupa dela.

Começou a criar uma expressão de desespero e passar a mão cada vez mais no sangue, o espalhando pelo mesmo lugar que escorria.

Ela parou, e tapou uma parte de sua face, a deixando normal. Quando ela tapou a normal, começou a automaticamente chorar.

– Eu...

– Malennie, eu sei o que está sentindo.

Ela me abraçou.

– Eu estou bugada que nem você!

– Ha-ha, bom pra você. Agora me larga, tá calor.

– Cadê todo mundo?! Preciso mostrar pra todos minha face perfeita!

– Eles estão em casa, sabe que horas são? Seis da matina, quem vai acordar a essa hora?!

– Sei lá. Podemos ir pra casa?!

– Agora não. E ninguém vai querer ver você agora, e assim. Vai precisar esconder isso.

– Droga.

" Oque eu poderia fazer, se ela simplesmente descosturou tudo?!"

– Que tal um tapa-olho?- Eu disse.

– Pode ser... Espera aí, você têm um tapa-olho?

– Creppypastas tem tudo.

– Uau.

Eu corri pra mochila dela, e peguei um tapa-olho preto costurado. Voltei pra ela.

– Toma.- Eu disse dando pra ela.

Ela retirou uma toalha de uma prateleira, e enxogou os olhos e boca. Colocou o tapa-olho e o ajeitou.

– Me sinto diferente.

– Sei como é, agora preciso colocar uma nova atadura na sua cara.- Eu disse e ouvi ela suspirar.- O que ouve?

– Tudo está acontecendo igual com Helena... Jeff. Jane não vai ter o bebê.

– Hum... tá bem, eu acho... NÃO PERA, HELENA?!

– Am... Pff, Helena? Quem disse Helena?

– Você.- Eu disse sério.

–... Em casa eu converso sobre isso.

– Tá... deixa eu fazer logo essa atadura e vamos pra casa!

Ela sentou na cama, e eu peguei as coisas e refiz tudo de um jeito mais fácil.

– Espero que não tenha ficado escroto.

– PARA DE FALAR ASSIM!

– Desculpa. Mimimi.

– Tá... Eu vou falar com uma enfermeira e a gente vai pra casa, porque eu ainda não estou sentindo minhas pernas.

– O.k...

– Me espera aí. Vai arrumando as coisas...

Ela pulou da cama e correu pra mala.

Eu conversei com uma enfermeira, e ela deu alta, mas perguntou se nada tinha acontecido de estranho, tive que responder que não.

– Bem, se é assim, podem pegar a ficha médica e ir. Ah, mas depois ela vai ter que ir em um Oculista provavelmente.

– Está bem...- Eu disse pegando a ficha e entrando de novo no quarto, Malennie já estava com a mochila nas costas e com o fichário no braço.

– Vamos?! TÔ COM FOME!

– TÁ,TÁ.

Eu peguei as chaves do carro, e vi ela descer feito uma maluca. As pessoas olhando assustadas.

– Tchau Malennie!

– TCHAU!

Quando eu cheguei ela estava me olhando de cima a baixo.

– Achei que você era mais... Rápido.

– Não enche. Entra aí.

Ela jogou as coisas dentro do carro e fez o mesmo e eu entrei.

[...]